Reminiscências De Natal escrita por Daijo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Primeira vez que escrevo com esse casal, então não sei que consegui escrever algo bom com eles rs.
A Mika-chan, espero que aprecie a história, apesar da minha falta de habilidade em desenvolver algo melhor com o casal. Feliz Natal!
Desculpem os possíveis erros ao longo do texto, sem beta atualmente.
Os textos em "itálico" indicam as lembranças do Gaara.
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/309227/chapter/1

“Olha Gaara-kun, é uma estrela cadente! Rápido, faça um pedido!”

O jovem de dezesseis anos olhou para o rosto da garota, enxergando a expectativa em seus orbes azuis claros. Ele esboçou um leve sorriso em concordância e viu-a cerrar os olhos para fazer seu próprio pedido.

Mesmo livre de crenças como aquela, ele decidiu que não lhe faria mal ceder pelo menos uma vez, já que era natal. O ruivo mirou o astro que já ia desaparecendo no infinito escuro que era o céu e mentalizou o que mais desejava naquele momento. Quando seu rosto voltou a posição original, Gaara deparou-se novamente com os olhos da criança sobre si.

“O que você pediu?”, ela lhe indagara, enquanto levantava-se do banco de madeira em que ambos estavam sentados.

“Isso é um segredo”, respondeu-lhe, sorrindo internamente quando ela fizera um bico.

“Não vou contar o meu também!”, Hinata exclamara, logo após mostrar a língua.

Gaara observou-a correr para longe de si, vendo os cabelos longos dela dançarem sobre as costas. Ouviu-a chamar por seu nome, enquanto ia em direção a casa. Ele levantou-se do banco, caminhando até ela... Sua única companheira.


O homem conferiu seu relógio de pulso, constatando que eram 22h:30min. O ruivo aconchegou o cachecol sobre seu pescoço, enquanto descia do táxi em uma das ruas movimentadas de Tóquio. Os prédios luminosos daquele bairro obscuro eram uma agressão para seus olhos e sua conduta. Mas apesar de manter-se durante o ano todo longe daquele ambiente, no dia de natal, ele fazia um esforço em visitá-lo.


Silenciosamente, ele pagou a corrida ao taxista. Enquanto o carro desaparecia no final da rua, o ruivo já havia começado o trajeto em meio a multidão que avançava por entre o pisca-pisca dos letreiros de restaurantes e lojas. Gaara caminhava com cuidado, desviando-se hora ou outra das pessoas apressadas.


Faltava mais alguns passos e um virar de esquina para que ele entrasse no verdadeiro inferno. Era assim que gostava de denominar a rua ilegal anexada àquele bairro. Drogas, prostituição, as piores sujeiras que pudessem ser encontradas na Terra. Em sua frente enxergava uma mistura de pessoas ricas e pobres, que ao colocar os pés naquele antro finalmente tinham algo em comum... Todas em busca de algum pecado.


Ele entrou naquela atmosfera mórbida, sabendo que também viera ali por um pecado particular. Não exatamente a procura de um, mas pelo qual já havia cometido no passado. As lembranças que o atormentavam em seu dia-dia, agridoces, que lhe proporcionavam nostalgia ao mesmo tempo que um profundo vazio no peito.


Apesar do horário, o homem tirou do interior de seu casaco um par de óculos escuros. Cobriu seus olhos tão característicos, escondendo-se parcialmente das figuras mal intencionadas. Depois de um tempo andado por eles, tentando ignorar suas ações, finalmente o ruivo parou ante a construção menos iluminada daquele local. Um suspiro pesado escapou por seus lábios, enquanto ele entrava no prédio com formas tradicionais.


Logo que entrou no Kyabakura*, Gaara foi atendido. Uma hostess loira veio até si, reconhecendo-o como um dos clientes da casa. Com uma leve mesura, a jovem o guiou pelos corredores da construção, sabendo exatamente o que ele viera procurar ali. Durante o caminho, o homem observou as lanternas que adornavam a parede, seu brilho sendo ofuscado pelo dégradé escuro de seus óculos.


“Ela sempre para embaixo do poste que fica de frente para o orfanato. Olha para o alto e estica os braços, tentando alcançar o ponto luminoso que está muito distante de si. Toda vez que a vejo fazer isso, sinto como se ela estivesse, na verdade, tentando alcançar seus sonhos”.

A loira abriu a porta do cômodo, movendo-se para que o convidado entrasse. Com um pequeno agradecimento, o ruivo passou pelo portal notando que alguém já lhe esperava. Ele tirou os óculos escuros assim que escutou a porta ser fechada as suas costas. Ainda de pé, encarou a mulher sentada diante de si, sentindo uma pontada de contrariedade ao ver o sorriso malicioso com o qual ela lhe saudava.


– Por um momento achei que não viesse esse ano, Promotor.


A mulher sorriu de lado. Enquanto observava o perfil taciturno de seu cliente, ela cruzou as pernas em um movimento sedutor, deixando parte de sua pele amostra pela abertura do kimono. O traje vermelho, tal como a cor de seus lábios pintados, tinha seus adornos dourados refulgindo sobre as luzes das lanternas tradicionais. Hina, como era chamada ali, escondeu uma mecha dos cabelos azulados atrás da orelha, revelando com mais clareza sua pele clara.


– Não vai se sentar? – ela indagou, enquanto preparava o tokkuri com sake. – O que faremos esse ano? Quer que eu cante para você? Quer me contar como vai seu trabalho... Ou como em todos os anos, você vai apenas beber enquanto me escuta...


– Vamos sair daqui. – a voz rouca dele ecoou pelo cômodo, cortando-a.


A mulher sentiu-se um pouco atordoada diante de suas palavras. Apesar do tom suave, aquela frase pareceu intimidá-la. Talvez porque há muitos anos não experimentava aquilo... Apesar de ele requisitar seus serviços todos os anos, suas palavras nunca soavam tão decididas como naquele momento... Como quando ainda eram melhores amigos.


– Você sabe que não me é permitido... – Hinata explicou, ao recuperar-se daquela sensação. A mulher voltou a manejar o ochoko, como se o ruivo não tivesse abalado seus sentidos. – Vamos beber.


Como o homem de poucas palavras que era, o promotor não hesitou ao andar até a mulher e puxá-la pelo pulso. Ela ofegou ao ser erguida com a impetuosidade dele, exclamando um impaciente: “O que você está fazendo?”.

– Vamos dar um passeio. – ele respondeu de maneira simples, guiando-a para o fora da sala.


Gaara levou-a pelos corredores que há poucos minutos ele havia percorrido. Algumas pessoas cochichavam a sua passagem, fazendo a hostess se constranger. Ciente que ainda estava em seu local de trabalho, Hinata mordeu os lábios para conter muxoxos de indignação que queriam escapar por seus lábios. Enquanto seu acompanhante lhe puxava em direção a saída, sua mão livre agarrou-se na parte de trás do casaco do ruivo, fazendo com que um leve sorriso despontasse nos lábios dele.


“Quando ela fica com medo ou preocupada, segura firmemente em minha camisa até que possa se acalmar. Nesses momentos eu realmente me sinto útil... É como se eu me tornasse seu apoio”.


Quando a agitação da rua surgiu novamente no campo de visão de ambos, a mulher não perdeu tempo em desfazer-se do contato com o ruivo. Com um olhar duro para o homem, Hinata tragou o ar frio da noite, tentando colocar seus pensamentos em ordem.


– Você está louco? Eu disse que não podia sair... Nós poderíamos ter chamado mais atenção do que fizemos! – Ela desabafou enquanto o outro virava para encará-la. Desolada, a mulher deixou transparecer em sua face a preocupação que a tomara. – Você é um promotor! O que faria se fosse pego comigo?! O que fará se formos vistos juntos?

– É um problema que posso resolver. – Gaara tomou posse novamente de sua mão, sendo impelido prontamente.

– E se sua família descobrir?


Aquelas palavras soltaram-se amargas dos lábios de Hinata, atingindo o ruivo com intensidade. Como uma rocha, deslizaram com peso pelo interior do promotor, deixando-o ainda mais impassível do que era normalmente.


– Isso é um problema meu.


Era um problema somente dele e a hostess sabia disso. Havia se passado muito tempo desde a última vez que ela pudera considerar que algo a respeito dele tivesse a possibilidade de ser resolvido com a ajuda dela. Muitas vezes ela o culpara por isso, e em tantas outras se arrependera por pensar assim. Não era culpa de nenhum dos dois, no final... O destino quisera que seus caminhos seguissem assim.


Sem nenhuma palavra, Hinata contornou seus dedos na mão fria do companheiro. Ele entendeu o que ela queria lhe dizer com aquele gesto, então recomeçou o caminho com a permissão dela.


Distantes da rua que ele considerava como o inferno, os dois pegaram um táxi, mantendo um silêncio sepulcral por toda a viagem. Durante o trajeto, Hinata observava a paisagem do outro lado da janela. Depois de algum tempo, ela percebeu com alegria que começara a nevar. Absorta com a novidade, não percebeu que homem sentado ao seu lado a observava.


“Quando neva, ela gosta de observar o horizonte enquanto os flocos caem. Como se não existisse mais nada em que prestar atenção, depois de um tempo observando, ela fecha os olhos como se tentasse escutar o som deles aterrissando no chão”.


Apesar de distraída com os flocos de neve, em certo momento da viagem os prédios e ruas começaram a ficar familiares para si. E quando chegaram ao endereço que o ruivo indicara, ela pode confirmar suas suspeitas.


Eles caminharam silenciosamente por uma ruela vazia, após descer do carro. Hinata olhou para a ladeira que estava diante de si, observando com nostalgia os postes que adornavam o caminho tortuoso. Gaara parou embaixo de um deles, elevando seu rosto no rumo da luz. A mulher sorriu e puxou-o em direção a casa que ficava naquela calçada. O velho orfanato em que eles haviam sido criados.


Abandonada, a velha construção ainda parecia cheia de lembrança para ambos. O ruivo abriu o portão mal trancado, abrindo com ele uma passagem para que as recordações tomassem o pensamento de ambos.


Eles caminharam até os fundos do terreno, encontrando um jardim tomado pelo mato e ervas daninha. Encontraram também o banco de madeira que eles costumavam se sentar a noite, para observar as estrelas.


– Isso é nostálgico. – Hinata comentou, enquanto sentava-se no velho, porém resistente móvel. Ela olhou para o céu, um pouco desapontada por não poder ver as estrelas. – Ah, não veremos uma estrela cadente!


A hostess virou-se para o homem, notando que ele a observava atentamente. – Por que você ainda vem até mim? – deixou a pergunta que anos estava presa, saísse acompanhada por um sorriso melancólico – Nossos caminhos separaram-se há tanto tempo.


Ele tinha ciência que ainda havia uma pontada de ressentimento em Hinata. Pela maneira como eles haviam se separado anos atrás... Quando ela ainda era uma criança, mas ele já era quase um adulto. A jovem não ficara triste por ele ter sido adotado, enquanto ela não. Nem mesmo porque ele se mudara para uma casa longe da dela.


O problema é que, apesar de querer manter contato, um tempo depois Gaara foi mandado ao exterior pelos seus novos pais, para estudar. Ele estudou direito como eles queriam. E quando voltou para seu país natal, ansioso por encontrar sua melhor amiga, ela já não estava mais lá... Nem o orfanato. Seus pais, famosos advogados de Tóquio, haviam garantido que seu filho seguisse seus passos... Sem manchar sua boa reputação.


– Se víssemos uma estrela cadente... Eu faria um pedido. – Gaara ignorou a pergunta da companheira, despertando com seu comentário a curiosidade dela.

– E o que você pediria? – Hinata perguntou, sentindo-se como a criança que fora antigamente. – É um segredo?


O ruivo sorriu enviesado, enquanto desviava os olhos para os flocos de neve que caiam diante de si. Hinata esperou alguns segundos, até que ele voltou a se pronunciar.


– Eu faria o mesmo pedido de antes... Meu desejo é passar todos os meus natais com você.


A mulher sentiu o coração falhar sob aquela frase e o olhar intenso dele sobre si. Seus olhos encheram-se de lágrimas, que rolaram por seu rosto livremente. A mão fria dele tocou em sua face pálida, secando-as.


Sim, ele queria passar todos os natais na companhia dela, como quando ainda eram jovens. Não somente os natais, mas todos os dias. Estava disposto em fazê-la sua companheira novamente. Apesar dos anos em que fora apenas visitá-la no Kyabakura, segurando-se para não levá-la dali, agora que estava estável financeiramente e longe do controle dos pais, poderia oferecer-lhe uma vida feliz ao seu lado.


– Por que está chorando? – ele perguntou com sua voz profunda, fazendo-a estremecer enquanto aproximava seu rosto do dela.


Gaara encostou seus lábios nos de Hinata, sentido um resquício do gosto das lágrimas que haviam chegado até ali. Ele cerrou os olhos enquanto ela permaneceu com os olhos arregalados, atordoada demais para saber como agir. Sem aprofundar o beijo, o ruivo afastou-se parcialmente sua face e mirou a expressão da mulher.

As maçãs do rosto de Hinata haviam tomado uma coloração avermelhada. Gaara abaixou os olhos e viu que as mãos dela movimentavam-se nervosamente sobre seu colo.


– Quando ela está constrangida, seu rosto fica vermelho e suas mãos começam a mexer como se não soubesse o que fazer com elas. Ela abaixa seu rosto, mirando o chão, como se pudesse encontrar ali algo que a deixe invisível.


Diante das palavras de seu companheiro, os lábios de Hinata tremeram ao desenhar um sorriso emocionado. Os anos e dias que passaram separados pareceram não existir mais. Porque de alguma maneira, ela teve a certeza, que vivera nas lembranças dele, assim como ele vivera nas dela... Juntos.


A mulher esqueceu-se do constrangimento momentâneo e diminui ainda mais a distância entre eles. Com beijo cheio de amor e paixão, sentimentos há muito contidos, ambos fizeram um pedido à lembrança daquela antiga estrela cadente.


Que os próximos natais fossem tão felizes como aquele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Kyabakura - um tipo de clube hostess
**Tokkuri e Ochoko - conjunto para servir saquê.
Espero que tenha ficado bom. Gostaria de ter explorado melhor o enredo, mas enfim...
Feliz Natal para todos!