A Estranha Da Floresta escrita por Jiggle Juice


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Na minha estória, quando Rumpelstiltskin deixa com que Belle saia de seu castelo, ela realmente se vai e não há encontros com Regina.
Uma tentativa de fluffy (já que meu açúcar é meio limitado), eu espero que vocês gostem :)
Feliz natal à todos e aproveite xx



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A imagem do corpo em pedaços de Peter não saia da cabeça de Red e ela se odiava por ter feito aquilo. Odiava-se por ter feito aquilo com o garoto que amava. Odiava aquela parte de si mesma. Tudo o que ela queria era ser uma pessoa normal. Não sabia como controlar o lobo e perdia a noção de tudo e de todos quando a transformação acontecia, e, quando acordava pela manhã jogada em um canto da floresta, as consequências da fera que se tornava vinham a tona como uma adaga no coração, pronta para ferir Red. Ela só queria ser normal porque assim nenhum inocente poderia morrer. Mas aquilo era algo que estava completamente fora de seu alcance. Aquilo fazia parte dela e sempre faria. Não havia nada que pudesse fazer.

A lua minguante brilhava poderosamente no céu escuro; com a ausência de qualquer estrela, era a única coisa que poderia iluminar a floresta, mergulhada nas travas da noite. Red estava sentada no pé de uma grande árvore, observando a metade da lua. Agradeceu mentalmente por não se transformar em todas as noites. A lua cheia só chegaria depois de duas luas e então poderia aproveitar as noites na floresta sem machucar ninguém.

Quando ouviu o barulho de galhos secos se partindo, os pensamentos de Red foram mandados para longe e uma arrepio gelado percorreu sua espinha ao saber que não estava sozinha ali. Por um tolo momento, pensou ser o tão terrível lobo, mas rapidamente se lembrou que ela era o lobo e xingou-se mentalmente por sua estupidez; ainda não estava exatamente acostumada com “sua outra face”.

Muitas possibilidades de quem estaria na floresta passaram por sua cabeça. Assassinos de aluguel que matam tudo o que veem pela frente, a Rainha e seus cavaleiros, algum espírito maligno, os homens de Rei George procurando por Snow – que havia partido naquela manhã –, algum animal selvagem… Naquele momento desejou mais que tudo que a lua cheia estivesse sobre sua cabeça e que seu lobo estaria ali para se defender de quem quer que fosse, mas aquele lobo parecia realmente não gostar dela e não estava lá nos momentos em que precisava.

Maldito lobo.

E quando Red estava pronta para correr para qualquer buraco que encontrasse e se esconder, a pessoa que havia feito o barulho saiu em meio às arvores, vestindo um vestido azul e um manto cinzento com o capuz sobre seus cabelos.

Quando a pessoa finalmente levantou a cabeça e Red pode ver quem era, sentiu o ar fugir de seus pulmões.

Sua pele era alva e seus olhos eram de um azul brilhante que podiam ofuscar a luz da lua. Os lábios eram vermelhos e os cabelos longos e escuros. Era uma garota simplesmente linda, mas ela parecia assustada. E Red não queria que ela tivesse medo, então decidiu que precisava dizer algo para acalmar a menina:

—Hey. V-Você… Você não precisava ficar assustada. Eu não sou ruim, eu te prometo. Está tudo bem – Pausou, esperando alguma resposta, mas a garota parecia paralisada – Eu sou Red.

Red se aproximou cautelosamente para perto da garota e estendeu sua mão. Quando os olhos azuis suavizaram e ela apertou sua mão, Red resfolegou. A sensação de poder tocá-la era incrivelmente boa.

—Eu sou Belle – Sua voz era doce e macia e Red não pode evitar um sorriso de pura adoração.

—É um prazer conhece-la, Belle – Responde com a voz baixa, não querendo assustá-la novamente – Está com frio? – Perguntou ao perceber que ela tremia levemente.

—Sim, um pouco. O manto não parece ser o suficiente para me manter aquecida.

Red não hesitou em tirar sua capa vermelha e oferecer à garota.

—Não é muito quente, mas é tudo o que eu tenho e talvez possa ajudar.

—Não. Não vou deixar que me dê sua capa. Você ficará com frio – Empurrou gentilmente a mão de Red que lhe estendia o tecido escarlate.

—Eu não me importo. Eu moro perto da floresta e estou acostumada com essa temperatura baixa. Não será um problema.

Belle estava pronta para recusar novamente, mas um vento gelado passou cortante por seu corpo, o que a fez se encolher e morder o lábio inferior para conter o gemido que tentou escapar de sua garganta.

Red soltou um risinho carinhoso e se aproximou de Belle, a cobrindo com a capa vermelha por cima de seu manto acinzentado. Sorriu embelezada quando o capuz cobriu sua cabeça.

—Obrigada – Belle agradeceu baixinho, um pouco envergonhada.

—Sem problemas – Disse animada – Você ficou muito bem de vermelho.

Red voltou até o pé da árvore e sentou-se novamente. Sentia um pouco de frio, mas não se importava, pois ajudar Belle parecia ser muito mais importante do que a si mesma.

—O que você está fazendo aqui? – Belle perguntou depois de um tempo observando Red. Se aproximou um pouco mais e hesitante, sentou-se ao lado da garota.

—Só pensando. Eu não conseguiria dormir então vim para cá – Pausou – Você sabe, clarear as ideias para tentar solucionar os problemas da vida.

—Entendo – Respondeu compreensiva.

—E você? O que faz aqui?

—Bem… Eu fui liberta.

—Liberta? – Perguntou com curiosidade, buscando os olhos da garota.

—Sim – Respondeu depois de um suspiro – Eu fui liberta a esta manhã e passei o dia inteiro vagando pela floresta tentando achar algum lugar para ficar ou alguém que pudesse me ajudar, mas não achei. Até agora, é claro – Finalizou com um sorriso.

Red sorriu feliz, orgulhosa de si mesma.

—E quem a mantinha como prisioneira?

—Eu não era exatamente uma prisioneira…

—Não? – Indagou curiosa.

—Acho que não. Quer dizer, eu trabalhava para ele. Limpava, arrumava, cozinhava… Esse tipo de coisa.

—Mas você recebia algum pagamento por isso?

—Moradia e comida contam como pagamento?

—Não exatamente.

—Bom… Então talvez eu fosse uma prisioneira.

—Mas quem a mantinha lá?

—Rumpelstiltskin.

—O Senhor das Trevas? – Surpreendeu-se.

—Sim – Disse num suspiro sentido.

—E por que ele a deixou partir?

—Ele não é tão ruim quanto parece. Só procura pela felicidade, como todos nós.

—Mas ele arranca felicidade de muitas pessoas.

—Ele só não sabe onde procurar e acaba indo pelos meios errados.

Red percebe a melancolia com que Belle fala de Rumpelstiltskin e teve certeza que alguma coisa havia acontecido para que ela não tivesse aversão à ele como todos os outros.

Foi então que a possível resposta apareceu como um estalo em sua mente, e entristeceu-se ao pensar na possibilidade de ser o que ela estava pensando.

—Você não está apaixonada por ele, está? – Perguntou temerosa, uma careta de desgosto tomando conta de sua face.

—Não. Eu só me sinto mal por ele. Pelo que eu pude perceber ele já perdeu muita coisa, coisas que ama. É por isso que ele é desse jeito. Não existe mais amor em sua vida. Ele tem uma alma perdida.

—Você tem certeza que é só isso?

—Claro que sim – Respondeu firme – Mas porque tanto interesse?

—Oh, não é nada demais. Eu só quero te conhecer.

—E está funcionando? – Perguntou com um sorriso divertido.

—Creio que sim. Posso ver que é uma boa pessoa e que tem o coração puro.

—Fico feliz que tenha essa imagem sobre mim – Sorriu – E você, Red? Conte-me sobre sua história, já que agora sabe um pouco da minha.

—Certo, vejamos… – Pensou brevemente – Eu moro com minha avó em uma pequena casa aqui perto da floresta, meus pais foram mortos por caçadores e… – Hesitou – É isso.

—É isso? – Belle arqueou uma sobrancelha e Red assentiu – Por que sinto que tem mais alguma coisa que você não quer me contar?

—Porque talvez tenha… – Murmurou abaixando olhar.

—Você não precisa me contar, se não quiser – Belle se apressou em dizer – Não quero lhe deixar desconfortável. Sei que acabamos de nos conhecer e que talvez você não queria compartilhar de sua história. É totalmente compreensível.

—Não é isso, é que…

Red queria contar para Belle sobre o lobo, mas não sabia se ela se assustaria a ponto de fugir dela. Não queria que Belle a temesse, pois gostaria de se aproximar mais da garota. Sabia que, se contasse para ela seu segredo, ela não iria contar a ninguém que pudesse tentar executá-la, mas havia o risco de Belle sentir medo dela e isso era o que Red absolutamente não queria.

—Como eu disse, você não precisa me contar se não quiser – Belle disse docemente, tocando no braço de Red de maneira gentil, tentando lhe passar algum conforto.

—É só que… Hum… Eu não quero que você se assuste.

—Por que eu me assustaria?

—Eu… Eu não sou e-exatamente humana.

Belle franziu a testa e Red achou que era a coisa mais adorável que já havia visto.

—O que isso significa?

—Significa que… – Respirou profundamente, tomando coragem para dizer – Nas noites de lua cheia eu me transformo em um lobo — Falou rapidamente, fechando os olhos apertados, esperando que Belle saísse correndo ou a chamasse de aberração.

Infinitos segundos se passaram e tudo que Red pode ouvir eram os sons da floresta. Abriu vagamente um olho e depois o outro. Belle a olhava curiosamente.

—Está tudo bem?

—Por que não está correndo ou gritando ou me chamando de aberração? – Red perguntou um pouco alterada.

—Por que eu faria isso? – Perguntou confusa.

—Eu acabei de dizer que sou um lobo. Deveria sentir medo de mim!

—Nem tudo que deveria ser realmente é – Disse despreocupadamente.

—Não está com medo de mim? – Sua voz era incrédula.

—Claro que não. O fato de você se transformar em um lobo não significa que você é alguém ruim.

—Mas, Belle, eu já matei alguém enquanto estava na minha forma de lobo – Disse num sussurro, como se dizer aquelas palavras fosse um terrível crime – Quando eu me transformo em lobo, eu não tenho controle de mim mesma e não sei o que faço e acabo por… Fazer coisas ruins a pessoas inocentes.

Belle piscou algumas vezes e abriu um sorriso.

Red a olhou confusamente.

—Você diz que perde o controle e que não sabe o que faz. Isso não significa que você é ruim, pois não fez intencionalmente. Esse lobo faz parte de você, mas ao mesmo tempo, não faz.

—O que isso quer dizer?

—Quer dizer que, mesmo que você seja o lobo, você não é o lobo. É como uma parte paralela de você, quase como se você e o lobo fossem criaturas diferentes. Na verdade, vocês são diferentes – Red a olhava sem entender. Belle riu levemente e tentou deixar as coisas mais claras – O lobo pode ser mau, mas você, a Red, não é. Se você fosse uma má pessoa, não estaria temendo que eu sentisse medo de você e não se lamentaria pelo alguém que o lobo matou – Tomou a mão da outra garota entre as suas e acariciou o dorso levemente – Você tem um coração muito bonito, Red. Eu posso sentir.

Os olhos verdes de Red brilhavam com as lágrimas que lutava para não cair, e, sem pensar, os braços de Red rodearam o corpo de Belle, num agradecimento mudo por toda a sua doçura e compreensão.

—Obrigada, muito obrigada – Disse entre os cabelos macios de Belle, sua voz carregada de emoção.

—Está tudo bem – Belle respondeu com delicadeza – Eu só disse o que vi. Só disse a verdade.

O interior de Red se encheu de ternura. Snow havia dito palavras semelhantes àquelas, mas nem de longe foram capazes de atingi-la como Belle o fez. Não que Snow não fosse importante para ela, mas nesses poucos minutos que Belle estava junto a ela, à fez se sentir melhor como nunca antes. Era como se Belle fosse um ponto de calmaria, algo que lhe conseguia trazer paz, um ponto de luz reconfortante e carinhoso num mar de escuridão.

Enterrou seu rosto na curva do pescoço de Belle e inalou profundamente o odor suave e delicioso que se desprendia de sua pele. Red podia sentir o cheiro de chá de ervas, madeira e flores silvestres. Seu olfato de lobo fazia com que o aroma se tornasse muito mais intenso e pensou que nunca havia sentido uma fragrância tão boa quanto aquela. Quando Belle beijou o topo de sua cabeça da forma mais doce possível, Red percebeu que lhe seria mais do que agradável sentir o cheiro gostoso de Belle pelo resto de seus dias.

Os dedos de Belle enterraram-se por entre os cabelos castanhos de Red de forma gentil. Ela puxou os fios levemente, fazendo com que Red levantasse sua cabeça e buscasse olhar para seu rosto.

Íris verdes encontraram-se com as azuis e alguns segundos depois os lábios se tocavam amorosamente. Durantes alguns instantes, era como se o mundo tivesse parado. Nada podia ser ouvido, nem mesmo os sons da natureza, e tudo que os ouvidos das duas podiam identificar eram o som de seus corações batendo em sincronia, como se estivessem esperando há muito tempo para que pudessem fazer sua música juntos.

Red não pode mais suportar. Precisava de mais contato, precisava sentir mais, precisava de Belle. Por isso, levou sua mão até a nuca da outra garota e a puxou para mais perto. Com todo o desejo que tinha no corpo, arriscou passar a língua sobre os lábios vermelhos de Belle, que não tardou em entreabrir os lábios e deixar com que a língua afoita de Red conhecesse seu sabor.

Prazerosos minutos se passaram no mais absolutamente silencio. Suas bocas não se desgrudaram por um minuto, mas agora o ar se mostrava necessário, e, relutantes, as garotas se afastaram minimamente, não a ponto de perderem o toque uma da outra, mas o suficiente para que um pouco de oxigênio pudesse alimentar seus pulmões.

O nariz de Red se esfregou no de Belle de forma branda, o que a fez sorrir e deslizar sua mão até a bochecha de Red, acariciando lentamente.

—Você tem onde ficar? – Red perguntou docemente.

—Não – A resposta veio em um suspiro.

—Bom, eu tenho certeza que vovó não se importaria se você ficasse na minha casa.

Belle a olhou surpresa.

—Mesmo?

—Mesmo. Eu não vou deixar você a esmo na floresta. Pode ser perigoso. Os homens da Rainha sempre passam por aqui e eles não hesitariam em captura-la.

—Você tem certeza?

—Absoluta – Respondeu sem pestanejar – Você vem comigo.

—Obrigada – Belle disse em voz baixa, seus olhos brilhando intensamente.

Red sorriu e beijou seus lábios com todo o amor que tinha dentro de si.

—Não, eu agradeço.

Assim que ficou de pé, Red ajudou Belle a se erguer também. Beijou rapidamente sua testa e entrelaçou seus dedos, puxando-a gentilmente para o caminho que as levariam para casa. Belle apertou-se contra a lateral do corpo da garota e em resposta o braço de Red rodeava sua cintura e a abraçou protetoramente. Belle sorriu feliz; fazia tempo que não recebia carinho.

Enquanto caminhavam para a casa de Granny em meio a um silencio confortável, Red agradeceu seu lobo mentalmente. Se não fosse por ele, ela não estaria na floresta pensando nos problemas de sua vida e nunca teria encontrado Belle. Ela estava grata que pela primeira vez sua outra parte de si havia a ajudado em algo, mesmo não diretamente.

Tinha certeza que o beijo que compartilharam havia sido o beijo de amor verdadeiro que Snow tanto falava. Red não acreditava que aquilo poderia ser tão bom quanto sua amiga havia lhe dito, mas comprovara que Snow estava mais do que certa em lutar tão bravamente por Charming; não conseguia mais imaginar sua vida sem os lábios de Belle, e, se precisasse, faria o mesmo que Snow havia feito grande parte de sua vida: lutaria por seu amor, não importasse as circunstancias.

Agradeceu ao lobo mais uma vez. Estava tão feliz por estar na floresta justamente quando Belle precisava. Talvez seu lobo não fosse tão ruim, talvez ele não a odiasse tanto quanto imaginava, porque, afinal, se não fosse por ele, nunca teria encontrado com a estranha da floresta.



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Notas finais do capítulo

Não que vocês vão se importar, mas essa é minha primeira fanfic com o título em português e :)
@GirlPeen e mizzdlovato.tumblr.com



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