Eu acho que em toda a minha vida eu nunca agradeci tanto por estar no escuro. Mesmo que eu meio que sempre tive
 medo desde criança.
         Depois que as luzes se apagaram, Liam se afastou e eu também. Na verdade eu não queria ter feito isso, como mencionei, não gosto muito do escuro.
        Estava muito corada e graças a Deus não tinha como ele ver isso.
 Ficamos em silêncio e ninguém falou nada. Nem tinha o que falar. Mas
 dava para ouvir sua respiração, assim como acho que ele também ouvia a minha. Que constrangedor. Até porque Liam é praticamente da família agora. Então, eu acho que foi bom a luz ter se apagado e ele se
 afastado. Não que eu ache que ia rolar algo. Ah, droga.

 […]

 As coisas estavam até ocorrendo bem, mas começou a chover. Bem forte.
         Tá aí o motivo de não ter mais energia elétrica. E bom, meus pais devem estar presos no trânsito, e com a chuva só complica.
         E então o vento começou a soprar forte e as janelas da sala se
 abriram. Vi alguém ir fechar, e com certeza era Liam.
 Eu já disse que não gosto do escuro?
      Dava para ouvir o barulho do vento, que soprava cada vez mais forte. Não gosto disso.
        Realmente não tem como piorar.
      E foi nesse mesmo instante que um barulho extremamente alto veio lá de cima.
        É, pode piorar. E eu estou com medo.

- Você está bem, Jenny? - perguntou Liam.

 - Porque não estaria? - rebati.

 Ficamos em silêncio de novo.

 - Está com medo, não é?

 É claro que eu estou com medo seu imbecil.
           Mas tudo que eu respondi foi: nada.
           Sim, eu sou teimosa.
           Quem se importa?

 - Ah, vem cá e para de ser teimosa - disse Liam me puxando para perto dele. - É claro que você está.

 Em um instante estava num canto no sofá ouvindo o vento soprar forte e ignorando um cara cujo eu não sei o motivo, e no outro estava nos braços dele. E é claro que eu não me afastei, não sou nem louca.
           Seu abraço é reconfortante.
       A chuva foi parando e em menos de uma hora a luz já tinha voltado. Só estava chuviscando agora. Meus pais já haviam chegado e Candice também. Não preciso nem mencionar que ela simplesmente ignorou todos e foi para o quarto. Meu pai só me olhava maliciosamente, como no carro. Já que quando eles chegaram ainda estava abraçada a Liam.
         Eu realmente não mereço isso.

 [...]

 No outro dia acordei cedo até. Que milagre. Desci as escadas para tomar café e a cena foi bem cômica. Candice não estava emburrada, meus pais estavam conversando alegremente e Liam estava rindo de alguma coisa que Candice disse. Coisa que não tive interesse em prestar atenção no que era.
         O fato é que finalmente parecíamos uma família. Liam não estava quieto como sempre, meus pais não estavam discutindo e Candice estava até sendo amigável com as pessoas. Eles estão felizes.
         Sorri com isso.
        Minha família nunca foi perfeita. E desde que Liam chegou, parece que trouxe uma luz. Por mais que ele tenha sido totalmente bipolar ele
 estava normal agora. Eu nunca imaginaria como uma pessoa pode mudar as coisas. Eu amo Danny. Sempre vou amar. E ele foi embora.
     Provavelmente nunca vou encontrar Lucas de novo. E mesmo assim eu não sinto falta de um amigo. Liam estava ali.

 - Finalmente a bela adormecida acordou! - disse meu pai.

 Todos olharam para mim sorrindo. Como conseguem ter bom humor de manhã?
           E eu ainda estava parecendo um zumbi.
           E sinceramente, eu não me importava.

 - Ainda são 8h da manhã pai - eu disse meio mal-humorada - belas adormecidas só acordam às 2h da tarde.

 - Ah deixa de ser chata, Jenny! - ele disse, enquanto Liam só ria.
 Babaca.

 - Ok ok - eu disse sentando e comecei a comer um pão de ótima aparência que estava à mesa.

 Depois disso comemos em silêncio, quando terminei, me levantei e voltei pro meu quarto.
          Deitei na cama, peguei meu notebook e comecei a ver How I Met Your Mother, pra ver se melhorava o meu humor, que não estava dos melhores, sabe como é.
         E deu certo, depois de 3 horas assistindo, eu já estava com um ótimo humor, de tanto rir.
         O dia estava lindo lá fora, então decidi fazer o que eu amava fazer
 quando estava aqui. Peguei meu violão e me dirigi para fora de casa.
         Respirei fundo, sentindo a ar puro.
         Fiquei um tempo apreciando a vista.
      A fazenda era realmente linda. À minha direita ficavam os estábulos, a horta e um pequeno riacho, onde eu costumava nadar quando era pequena. Era lindo de uma forma mais natural. À minha esquerda ficavam a piscina e as quadras. Era lindo também, de uma forma mais moderna.
          Decidi seguir em frente, onde era apenas gramado com algumas árvores.
          Mas mesmo assim, lindo.
          Me sentei à sombra de uma árvore.
      Me lembrei de Danny, e de tudo aquilo. Caramba, ele estava famoso.
 Pensando bem, realmente ele não ter me mencionado em uma simples
 entrevista à uma revista de fofoca, não era importante. Sem falar que
 ele sabia que se me mencionasse, eu seria assediada. É. Mas apesar de tudo, eu estava morrendo de saudades.
       Peguei o violão e comecei os primeiros acordes de I Can Wait Forever.
          Comecei a cantar. (ouçam essa música http://www.youtube.com/watch?v=8XhIq3XKn60  e se puderem vejam a tradução também)

Eu estava tão concentrada que nem percebi que alguém havia se
sentado a meu lado, só percebi quando essa pessoa começou a tocar junto comigo.
        Olhei tímida pro lado e vi Liam sorrindo pra mim enquanto cantava.
        Sorri de volta e continuamos a cantar.
      Quando terminamos, olhamos novamente um pro outro e sorrimos.

    - Você fica linda cantando - ele disse.

    Corei.

    - Obrigada - eu disse sem graça - você também canta muito - corei mais ainda.

    - Obrigado - ele disse - não sabia que você tocava.

   - Toco desde os 7 anos de idade - eu disse, sem querer me exibir.

    - Uau! - ele disse - então... Gosta de Simple Plan? - ele disse.

   - Eu amo! É uma das minhas bandas preferidas! Simple Plan e Coldplay! - eu disse, agora animada.

  - Eu também gosto! - ele disse, animado também - só as letras, que pra um cara, pode soar meio gay, emo, etc, mas a banda é boa.

  - Gay nada! - agora eu estava brava - as letras são lindas!

 - Se eu tentasse argumentar qualquer uma dessas coisas pros meus amigos eu ia ser xingado de viado até não poder mais! - ele ri.

 - Não deixe seus amigos decidirem por você - eu disse.

 - Eu não disse que não gosto da banda! - agora ele se defendeu.

    Eu ri.

- Mas então dona Jenny - ele disse - o que faz aqui tocando Simple Plan com uma cara meio triste e sozinha?

- Ah sei lá... Só estou com saudade de uma pessoa - eu digo.

- Eu te entendo - ele diz - mas quem seria essa pessoa?

E então eu pensei. Que mal tinha eu contar a ele sobre Danny? Afinal, mesmo se ele saísse contando pra todo mundo aí, Danny agora estava famoso, não teria problema. E Liam ali agora, sendo tão simpático e amigável. Quando me dei por mim já estava contando tudo a ele. Algumas lágrimas caím de meus olhos.
       Quando terminei, Liam secou minhas lágrimas com o polegar, olhou em meus olhos e disse:

- Eu te entendo mais que você imagina - havia certa tristeza em sua voz.

- Você sente falta dela. - foi uma afirmação.

- Você não faz idéia do quanto - ele disse, olhando pro nada - mas só me resta superar. Assim como você. Supere Danny. Você consegue, tenho certeza.

- Espero realmente que sim - eu disse, também fitando o nada - como era Nova Iorque? - eu disse, de repente, tentando mudar de assunto.

- Era maravilhosa - vi um certo brilho em seu olhar, ao falar de sua cidade. E então entramos numa profunda conversa sobre a vida dele em Nova Iorque, a minha vida aqui, o que gostávamos, o que não gostávamos, o que fazíamos...

Paramos pra almoçar e depois fomos pra piscina, pois estava muito calor. E que corpo esse sujeito tinha! Estou abismada!
      Continuamos a conversar, isso é, enquanto eu tentava desviar minha atenção de seu corpo perfeito.
         Ficamos lá a tarde inteira, quando vimos já eram 6h da tarde e
 decidimos sair de lá, pois já estava ficando frio.
         Estávamos nos dirigindo pra casa, quando eu perguntei:

- Por que decidiu falar comigo depois de tanto tempo?

- Ah sei lá... - ele disse, pensativo - só cansei de ignorar as
 pessoas. Isso é horrível!

- É mesmo - eu disse - então... Agora somos amigos? - eu disse,
 esperançosa, estendendo a mão.

Ele pareceu pensar um pouco e depois apertou minha mão.

- Amigos - repetiu.