Sem conseguir entender direito - acho que nem queria entender – fui em direção ao jardim, sentei-me no balanço de pneu pendurado a linda árvore que soltava flores amarelas durante o outono, e do outro lado da rua, sentado na escada que dava acesso ao terraço de sua casa estava Gabriel, ele me observava em prantos, não dizia nada, apenas me olhava, e eu sentia como se ele me entendesse. Tentei enxugar as lágrimas, um esforço bobo, pois elas teimavam em continuar a escorrer.

    Pude ver quando ele se levantou e veio em minha direção, vestia uma camiseta preta com uma bermuda bege, que cá entre nós, o deixava ainda mais lindo. Ao chegar, ele se abaixou, colocou suas mãos em meus joelhos e olhou em meus olhos, deu um sorriso confortante, e secou a lágrima que estava a escorrer por minha face. — Eu não pretendia ver você chorando desta forma Rafaela, minha intenção, era te mostrar algo bom. — Não se preocupe Gabriel, não é o que você me mostrou, o motivo de eu estar assim, é porque estou me sentindo completamente enganada, pra você ter noção, mamãe me contou desde sempre que meus avós moraram em outra cidade, e que eles haviam expulsado ela de casa por ter começado a gostar de meu pai, segundo ela, eles não aceitavam o casamento sobre nenhuma circunstancia e chegaram até a ameaça-lo de morte. Ai, de uma hora pra outra eu descubro que meus avós moravam a dez minutos de minha casa, e que a casa onde eles moraram, está, intacta, com todas as suas recordações presentes, e pelo que me parece, eles eram pessoas lindas. — Eu acredito que eram sim, mas, vamos fazer o seguinte, hoje a tarde nós nos encontramos lá, e vamos vasculhar o que antes não tivemos coragem, agora que sabemos que eles são de sua família, podemos olhar o conteúdo das gavetas, e tentar entender melhor esta história, combinado? Ele falou, e sorrio, então eu acenei de forma positiva e o abracei, Gabriel era dono do melhor abraço que possas imaginar, seu abraço transmitia segurança, e uma calma inexplicável, de certa forma, a cada dia, ele me surpreendia de maneiras diferentes.

     Entrei em casa, fui até a geladeira e peguei a primeira coisa que encontrei, subi até meu quarto e lá me escondi até o momento de encontrar-me com Gabriel. As horas se passavam lentamente, até que chegou a hora que marcamos, sequer importei-me em trocar de roupas ou algo do tipo, desci as escadas, minha mãe estava sentada no sofá assistindo o telejornal da tarde, olhou enquanto eu passava, mas, não me dirigiu nenhuma palavra. Caminhei lentamente, lembrando de tudo o que me havia acontecido desde que conheci Gabriel, e não sabia se minha vida havia piorado ou melhorado, mas, de uma coisa eu tinha certeza, Gabriel me fez sair do rumo que estava tomando.