Caffeine escrita por Livia Santana


Capítulo 1
Capítulo Único




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É tarde, tenho que dormir, eu já contei todas as ovelhas na minha cabeça

Eu tentei de tudo para dormir, até mesmo voltei para o banho

Devia ser a décima xícara de café naquela noite. O cheiro de cafeína exalava pela sala enquanto ele se encontrava cada vez menos sóbrio. O álcool já corria pelas suas veias desde o amanhecer, mas o café era realmente seu vício.

Não queria dormir, não queria pensar. Não queria lembrar-se daquele sorriso, daqueles olhos castanhos, ou de qualquer outra coisa dela. Estava convicto de que seu mundo não girava em torno de uma sangue-ruim.

Engraçado, fazia tempo que não a chamava daquela maneira.

Mas isso não mudava nada.

Eu continuo desenhando o seu rosto no telhado

E quando fecho meus olhos, o livro da nossa história terminada se abre

O vento que entrava pela janela era forte trazendo previsão de chuva. Draco ignorava até tal vento derrubar alguns objetos da escrivaninha.

“Alguém fecha essa maldita janela!”, o loiro gritou para o nada, esquecendo-se que estava sozinho em casa.

Deu-se por vencido, levantando-se do sofá para fechar a janela, e foi quando notou os porta-retratos que estavam lá perto, contendo fotos que transpiravam felicidade. Draco os fitou com desprezo e depois se direcionou para frente do enorme espelho da sala de estar. Não sentia mais saudade, sentia ódio. De si, dela, de tudo ao seu redor.

Talvez fosse efeito da cafeína.

Talvez fosse efeito dele mesmo.

Só sabia que agora havia sangue e cacos de vidro na sala. Quem quer que limpe aquilo amanhã, terá grande trabalho.

Por que você continua me incomodando mesmo depois que você foi embora?

Como eu acabei sendo atormentado dessa maneira?

Ela estava presa em um jogo malvado do qual ela não tinha escapatória. Se bem que fugir não era bem o que desejava.

Barbara queria fazer o que era preciso. Ela poderia sofrer, ela poderia chorar, contanto que valesse a pena. Draco realmente valeria?

Ele a fazia sofrer ao mesmo tempo em que a fazia precisar dele. Ele precisava igualmente dela? Afinal, era um Malfoy.

“O que eu quero, eu consigo.” Barbara resmungou imitando a voz do loiro.

Ela queria respostas, não dúvidas novas.

Barbara tinha uma certeza: sempre doía. Tanto faz se gostava de Draco, Dan ou quem seja. Mas quando começava a doer demais, era preciso tomar uma atitude.

O que aconteceu? O que eu fiz de errado?
Nem sei por que disse adeus

Tal atitude necessária foi o que levou Barbara a estar sozinha naquele hotel, no centro de Londres, com suas malas intactas. Não havia tido força ou vontade de desarrumá-las. Talvez parte dela dissesse que a situação iria mudar. Ela não queria acreditar nessa parte.

Ela não queria mais dúvidas.

Ela preferia acreditar em uma mentira.

Porque a verdade era que ela estava dependente de Malfoy. Porque o cheiro dele era um vício; ele por completo havia se transformado em uma necessidade. E, por mais que quisesse, não havia para onde correr. Aquilo estava enraizado.

Toda vez que eu respiro, eu sinto sua falta
Quando me dou conta de que estamos sob o mesmo céu

Eu fico louco

E assim, dessa forma, não posso deixar você ir

Precisava de ar. Não, melhor: precisava dela. Precisava gritar, precisava jogar aqueles mesmos jogos de sempre, precisava de todas as dificuldades que passou para ela estar ali.

E ela não estava.

Quem diria, um Malfoy necessitado.

Draco sempre foi acostumado a ter tudo, com todo o dinheiro que tinha. Amor nunca foi presente na sua vida conturbada; acreditar naquilo era mais difícil que acreditar nas historinhas que ouvia quando pequeno.

Um Malfoy não amava. Ou amava?

Tudo que sabia era que sentia falta dela. Mas não admitiria, e não se renderia. Pelo menos não até estar bêbado o suficiente.

Louco. Era uma boa palavra para defini-lo. Ela o deixava louco. Ele se transformava em um.

Lá, na frente da janela, você vê os casais brigando?

É como nosso passado, os olhos começam a se encher de lágrimas

Você aí, não seja assim e a conforte

Olhe para mim, olha como eu acabei

Como ela poderia ser forte? Iria arrumar uma maneira, de algum jeito.

Barbara jogara as cartas primeiro, então iria acatar com o resultado desse jogo. Esse jogo já havia a deixado doente o suficiente.

Mas ela queria.

Se fosse para tê-lo, ela seria doente. Sempre soube disso, mas nunca admitiu para si.

Os sinos a avisaram que era noite de véspera de Natal, e a chuva começou a cair. As gotas fortes poderiam ser confundidas com as lágrimas de Barbara, acaso ela estivesse lá fora.

Mas ela estava ali dentro, coberta e agarrada com um edredom. Não sentia tamanho frio, apenas queria abraçar algo.

E estava sozinha na noite de Natal.

Era mais frio do que parecia.

Você não pode me dar uma chance de esperar por você?

Não foi uma relação fácil que tinha que acabar tão rapidamente, certo?

Ou eu entendi mal desde o início?

Barulhos no corredor acordaram Barbara do pequeno cochilo que havia conseguido tirar. Era como uma briga, uma confusão, quase na porta do apartamento.

Deixou o edredom no sofá e caminhou lentamente até a porta, enquanto fechava o robe preto de seda. Duas das vozes eram dos seguranças do hotel que já conhecia. A outra...

Ela também conhecia.

“Ela é minha noiva, eu posso passar!”

“Senhor, a senhorita Bueno não permitiu nenhum tipo de visita e não nos foi informado da sua existência. Por favor, se retire, está incomodando os hóspedes.”

O que Draco fazia em um hotel trouxa? Como ele havia a achado? E... Ele estava bêbado? Podia perceber pela voz. Possuía mais perguntas, mas a pernas trêmulas lhe deixavam em dúvida sobre sair ou não.

Temia por Draco nas mãos daqueles seguranças.

Temia por si mesma nas mãos do loiro.

“O que está acontecendo aqui?”

“Senhorita Bueno, este senhor está fazendo baderna, querendo ir até o seu apartamento. Está alegando também que é seu noivo. O que tem a dizer sobre isso?”

Em outra situação, Barbara poderia rir da feição de Draco, que realmente controlava-se para não lançar um feitiço naquele segurança.

Mas naquela ela não pôde dizer nada. Seu corpo estava imóvel o suficiente para fitar aqueles olhos cinza e não ter reação.

Precisava pensar no que responderia, mas não possuiu tempo suficiente.

O segundo segurança lhe direcionava de volta à suíte, alegando que se livraria de todo o incômodo, enquanto o outro já entrava no elevador, levando o loiro a força. Queria relutar, mas não sabia o que dizer.

Não sabia se queria conhecer Draco ou se livrar daquilo de vez.

Mas estava enraizado, não era mesmo?

Só pode perceber sua decisão quando se encontrou correndo pelas escadas, tentando chegar ao térreo o mais rápido possível.

Parecia tarde quando chegou lá embaixo.

Mas nunca era tarde.

Porque é como cafeína, não posso dormir a noite toda

Meu coração ainda está batendo e de repente acaba te odiando

Encontrava-se no meio daquela chuva forte, na porta do hotel, tentando recuperar maior sobriedade. O sobretudo preto e seus cabelos loiros estavam encharcados, mas ele ainda queria voltar lá e mostrar para aquele segurança do que era capaz.

“Você vai ficar doente embaixo de toda essa chuva.”

Fitou surpreso quem apareceu atrás dele.

“Digo o mesmo para você, Bueno. Deveria arrumar alguém mais digno para se importar.”

“Acho que cuidar do meu noivo encaixa-se bem no que eu devo fazer agora.”

Draco a xingava pelo pensamento, por confundir sua cabeça daquela maneira.

“Isso não acabou, Barbara.”

“Isso nunca vai acabar. Mesmo quando você estiver errado. Mesmo quando eu estiver errada.”

Eles não possuíam para onde correr. Se possuírem, não queriam.

Como cafeína, quando eu tento manter a distância

Mesmo quando eu tento esquecer, como eu poderia? Eu não posso fazer nada

“Veio aqui para reclamar que seus seguranças não me deixaram longe o suficiente?” Ela ignorou.

“Você cheira a álcool. Embebedando-se em plena véspera de natal?”

“Eu estou em um hotel trouxa, no meio da chuva e procurando reconquistar alguém. Desde quando eu faria isso sóbrio?”

Aquela risada irônica.

“Deixar você foi a escolha mais inteligente do meu ano.”

“Querer você foi a maior burrice do meu ano.”

Era tudo verdade porque ele a odiava. O sentimento era recíproco.

Mas possuía um amor que só eles entenderiam. Um amor viciado, tão irregular quanto passar a meia noite de natal no meio da chuva.

Combinava com ambos.

“Deveríamos subir. Tem café lá em cima.”

“Isso significa que estamos bem de novo?”

“Não. Significa que tem café lá em cima.”

Ela estava certa. Precisavam de bem mais cafeína para superar tudo aquilo.

Alguma hora eles atingiriam o necessário.

Você é má para mim, tão má para mim, oh garota, você é como cafeína

Você é mau para mim, tão mau para mim, oh garoto, você é como cafeína


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Notas finais do capítulo

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