-Portanto, o sistema nervoso humano possui, basicamente, duas subdivisões... Sistema nervoso central e periférico.Alguém saberia me dizer alguns componentes do encéfalo?

Gerard ergueu a mão.

De novo...!-Fale senhor Way.

-Telencéfalo, meninges, córtex cerebral, cérebro, cerebelo...

-Okay, okay! - cortou o senhor Sprouts. - Já tivemos bastante por hoje...

-O que? Bastante por hoje? O senhor a cabou de começar a falar!

-Está duvidando do meu potencial de ensino?

-Não... Só do seu método falho em impor respeito.

-O que?

-Sim, nós...

-Detenção.

-O que?

-Isso mesmo que o senhor ouviu, hoje, após a aula.

-Mas...

-Nada de "mas".

O sinal do intervalo tocou, berrando como uma sirene para sobrepor-se ao barulho do estouro da massa estudantil. O professor nem olhou para Gerard.

-Hi Hi, se ferrô!- Frank ajeitou-se na carteira, diante de um Gerard atônito.

-Mas... O que eu fiz?

-Nada... Por isso, você é diferente dos outros. - explicou-lhe o rapaz.

Diferente.... Frank não fazia idéia do quanto essa mera palavra podia ferir Gerard. Ele não queria ser "diferente". Lágrimas rolaram por suas maçãs alvas, fios de prata brilhantes e salgados, deixando rastros tênues em sua pele. Frank não sabia o que havia feito de errado. Um soluço acanhado escapou dos lábios do mais novo. Os dois encontravam-se agora em uma situação embaraçosa.

-Não há problema algum em ser diferente... Olha só pra mim, eu tenho um escorpião no pescoço! Você nem é tão anormal assim. - remediou, coçando a cabeça.

-Obrigado... Mas você não entenderia.

-O que?

-Nada... Absolutamente nada. Não há nada pra entender! - defendeu-se.

-Sei... - Frank fitou o corredor vazio e depois o rapaz à sua frente. - Vamos. Eu não posso te deixar aqui chorando. Você tem um irmão, não é? Vou te levar ao banheiro para lavar o rosto e depois você fala com ele.

-Eu? Sozinho... Por que não vem comigo?

-Por que haveria de ir?

-Somos amigos... Por favor... - Trinou suavemente.

-Hã...? - suspirou Frank. Mais essa agora, o garoto era um daqueles que conseguiam tudo o que queriam. - Qual  era a pergunta?

-Vem comigo, conhecer meu irmão. Ele é legal, você vai ver! - qualquer vestígio dos choramingos passados havia sumido completamente.

-Você é bipolar por acaso?

-Não...

-Ah... Tá... Tudo bem, eu vou com você. Vem, vou te mostrar onde é o banheiro.

Gerard levantou-se, já sorridente, e seguiu Frank.

-Então, Gee, quem é seu novo amigo? - Mikey ocupou o lugar vago na mesa de formica.

Gerard trazia o olhar perdido, fixo no mar de abundantes pinheiros diante do pátio escolar. Não observava nada em particular, apenas gostara do formato das árvores, tudo parecia tão mais natural longe de casa! Era como uma criança, mesmo que parcialmente, descobrindo pela primeira vez os aspectos fora do ninho de casa.

-Sinistro... - murmurou Frank. - E, a propósito, eu sei falar, viu, meu nome é Frank!

-Humpf! - Mikey torceu o nariz. - Devia aprender a falar só quando solicitado.

-Você quer briga, vareta ambulante? Então vem!

-Gente... Não briguem... - Gerard saiu de seu estupor momentâneo, sorrindo angelicalmente. - Seremos amigos!

-Ah não, Gee, ele me chamou de vareta. - tateou o bolso enquanto estertorava frenéticamente. - Viu o que ele fez!

-O que eu fiz? To boiando.

-O Mikey tem asma, é assim quando fica nervoso. 

Mikey levou a bombinha aos lábios. Estava sucetível, nos últimos dias, o que estava acontecendo! E agora, com aquele marginalzinho diante de si. Como Gerard conseguia fazer tais amizades?

-Já vi que não sou querido por aqui, se me dá licença, Gerard, vou voltar a dormir lá na sala, sei que vou ficar de dentenção hoje mesmo, como sempre. Mais duas horas pro meu sono.

Gerard até ia responder, mas Frank já havia saído da mesa, cruzando a passos rápidos a distância entre o pátio e a lanchonete.