Céu de Lítio escrita por geezinha


Capítulo 19
Capítulo 19




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Gerard abriu a porta. Não, ele não podia acreditar que aquele ser encolhido no canto da cela fosse Mikey. Ele estava sentado, um tornozelo preso ao chão por uma argola, a cabeça apoiada nos joelhos, aos quais abraçava. Seu cabelo havia crescido, agora tão longo quanto o do próprio Gerard, emagrecera alguns quilos. Certo. Duas semanas. Podia imaginar que estar preso por tantos dias seria uma experiência que minava a saúde física e psicológica de qualquer um, mesmo assim não estava pronto para encarar a face desolado do irmão. Sem pensar, adentrou a cela, um braço estendido como se fosse tocá-lo.

Mikey ergueu os olhos. Seus glóbulos pareciam dois simples objetos perdidos nos buracos negros de suas olheiras profundas, de tantas noites mal-dormidas. Podia imaginar o pavor e o pânico constantes, as provações de se estar em um local hostil e totalmente calculado, como se fosse uma simples cobaia. Uma experiência.

-Micke...

-Gee... - seu semblante iluminou-se, para novamente desmoronar, quando um pensamento assaltou-lhe. Gerard não soube que pensamento era esse, privou-se de examinar a mente confusa do irmão. - Culpa sua... - grunhiu levemente, tocando uma contusão arroxeada no tornozelo.

-Como? O que você quis dizer?

-Eu vivia muito bem Gerard, culpa sua!

-Gee... É melhor irmos logo... - apressou Frank, que vigiava o corredor.

-Mas... Eu vim te buscar, Micke... Vai ficar tudo bem. - Gerard ajoelhou-se ao lado do irmão, que esbofeteou-lhe.

-Seu hipócrita!

Frank grunhiu em aviso, Gerard acalmouo-o com um gesto.

-Explique-se, Mikey, rápido, não temos muito tempo.

-Se você não fosse essa aberração... Eu nunca descobriria que também tenho poderes, eu nunca teria sido raptado, eu nunca... - lágrimas escorreram de seus olhos. - Você não sabe o que eu vivi nessas últimas semanas, acreditava que você estivesse morto há tempos, e agora te vejo aqui... Um fantasma que veio pra me assombrar... Hipócrita sim! Não me disse que estavam atrás de você, que eu sou mutante... Teria me poupado tanto sofrimento... E agora, tudo o que eu quero, tudo o que eu espero e anseio, é que suma da minha frente... Você não é meu irmão! Irmãos não fazem isso uns com os outros! Eu dividi até o útero com você, te protegi de tudo, e é assim que me paga?

-Eu não sabia, Micke... Me desculpa...

-Desculpa?! - interferiu Frank, sarcástico. - Ele não teve culpa de nada, Mikey, podíamos fugir sem te ajudar, mas aqui estamos, por que Gerard é um bom irmão... Agora eu aconselho que vocês se entendam mais tarde, antes que descubram que conseguimos sair da cela. - quebrou a argola que prendia Mikey ao chão como se fosse apenas uma linha.

 -Quem é você? - indagou Mikey.

-Meu nome é Frank Iero, quem eu sou você vai saber depois, agora vamos.

Frank ajudou Gerard a levantar e os dois foram na frente, seguidos por um Mikey temeroso e hesitante. Porém, logo ele deixou o medo de lado e emparelhou-se aos outros. Fazia tempo que não via a luz do sol, que não comia um hamburger, ia à uma festa... Que saudades do mundo lá fora! Da namorada, dos pais, dos amigos... E, mesmo que relutante, do irmão.

-Gee... - sussurrou, chamando-o. Gerard atendeu-o, virando-se de frente para ele. - Eu senti sua falta... - Mikey abraçou-o.

-Eu também senti sua falta... Agora vamos, temos muito que fazer ainda. - Gerard desvencilhou-se do abraço e postou-se ao lado de Frank, que abraçou-o pela cintura, suavemente, enquanto dirigiam-se ao elevador.

Novamente Frank esmagou o botão do elevador.

-Quer que fiquemos presos, Fran? Sei que está nervoso, mas precisa descontar no botão? - ironizou Gerard.

-Desculpa... Prometo que vou ser bonzinho com as máquinas, a partir de agora... É que eu odeio a tecnologia.

-Vai ter de me explicar por que, mais tarde...

A porta abriu-se para o primeiro andar térreo, Frank e Gerard fingiram escoltar Mikey, segurando-o pelos braços, Mikey resistiu ao impulso de gargalhar, os dois eram muito menores que ele, embora Frank fosse milhares de vezes mais forte. Ao contrário dos outros andares, esse era apinhado de pessoas, como no saguão de entrada de um hospital ou hotel, o sangue pulasava, correndo alucinadamente pelas veias de Gerard, e o coração cavalgava quase dolorosamente entre suas costelas contundidas. Havia esquecido por um instante disso, mas a dor o lembrava novamente. Viu Bob, sentado em um banquinho, talvez espernado seu julgamento, lendo um jornal. Este fitou-os, alarmado, entretanto não disse nada, apenas levantou-se, seguindo para fora calmamente, como se não houvesse vínculo algum entre seus movimentos e os do trio.

-Vocês são doidos mesmo. - comentou, já do lado de fora. O ar noturno atingiu-os, fresco, Mikey sugou uma grande quantidade dele. Cheirava a liberdade. Um olor suave e sutil. - Para onde vão, agora?

-Para nossas casas. - respondeu Gerard. - Obviamente.

-Piraram?! É o primeiro lugar em que vão procurá-los, é "óbvio" demais.

-Então pra onde? - sobressaltou-se Frank.

-Os nossos pais adquiriram um chalé nas montanhas, recentemente, é longe, mas não é impossível... - Gerard olhou o mapa, demoradamente. - Ainda há uma barreira que precisamos transpor, o portão de entrada. Vem conosco, Bob?

-Não... Mas eu desejo boa-sorte, eu preciso rever minha filha...

-Claro. - Gerard trocou um aperto de mãos com Bob. - Foi bom te conhecer, espero que consiga salvar sua filha, talvez possa nos procurar, futuramente.

-Sim, se eu sobreviver...

-Certo, boa-sorte...

Bob sumiu, provavelmente havia se teletransportado para dentro do centro de pesquisas, novamente.... 

 


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Notas finais do capítulo

Rumo ao portão final... O que será que eles irão encontrar lá? Juro que não é o que estão pensando... Reviews?



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