Lucius- http://fanfiction.com.br/userfiles/A/6/5/F/avatar_160x213_249761_1355511298.jpg

–Mãe- a menina Chloe Belby berrou como se uma teleguiada a picasse- Craig e Lucius estão fazendo aquilo outra vez.

–Meninos- advertiu a mãe, ajeitando os cabelos e empurrando os garotos para a cozinha- Por que não deixam sua irmã em paz? Andem, comam.

Lucius e Craig trocaram olhares cúmplices. Seu passatempo favorito era atormentar a irmã, todo o tempo, principalmente quando esta estava trancada no quarto. Isso é normal. Garotos de doze anos criados com garotas tendem a ser impossíveis. E no caso de Lucius, era criado rodeado de mulheres: sua mãe, sua tia Bell e sua avó, salvo seu irmão gêmeo, Craig.

Os dois eram idênticos. Ambos possuíam um cabelo muito liso e negro, olhos muito acinzentados e eram tão baixinhos quanto os garotos de nove anos do distrito. A mãe nunca sabia qual gêmeo era qual, eles adoravam trocar de papel. Por isso ela os chamava de numero 1 e numero 2, não importando qual fosse.

–Chloe, minha filha, desça ou vai se atrasar para a colheita- a mãe gritou fervorosamente- Ela sempre faz isso.

–Ela está se arrumando para o Gareth- diz Craig e Lucius balança a cabeça.

–Grande coisa- o outro gêmeo completa- Se for selecionada para os jogos, não importa se seu cabelo esta arrumado...

–E quando é que ele esta?- Craig diz e os dois batem na mão um do outro, como se a brincadeira fosse costumeira.

–Não repitam isso- a mãe censurou, preocupada- Ninguém nessa casa vai para os jogos- a voz da mulher tremeu um pouco, mas ela precisava se acalmar. Era o primeiro ano dos filhos mais novos, não queria passar medo para eles.

Craig até tremeu um pouco. Ele tinha medo. Mas Lucius não estava nem ai. Era a primeira vez que seu nome estaria no globo, só uma vez, mas conhecia um garoto que o nome estaria disponível 28 vezes.

–Tome querido, coma isso- a mãe estendeu um prato com algo verde para o gêmeo mais medroso, que ela acreditava ser Craig, pois raramente via Lucius com medo de algo- É para enjoo. Não quer passar mal perto de todo mundo, ou quer?

–É Craig, não seja uma mariquinha.

–Não chame seu irmão de mariquinha, Lucius- disse a matriarca, severa.

–E você deixe de se fazer de durão. Duvido que durasse dois dias nos jogos com essa marra toda.

–Eu durava sim, você é que não passava do banho de sangue.

–Lucius!- disse a mãe, firme, mas os garotos não escutaram.

–Você acabaria morto envenenado, doze anos crescendo aqui e não sabe o que é veneno!- continuou Lucius, maldoso.

–E você teria os olhos arrancados por um carreirista...

–Chega!- gritou a mãe, assustada- Nunca mais quero ver esse tipo de discussão de vocês dentro dessa casa- as mãos da mulher tremiam e sua voz falhava- Onde já se viu.

–Desculpe, mãe- disseram os dois em coro, então Lucius completou- Estávamos brincando- e Craig disse em seguida- É mãe, jamais desejaria isso ao meu irmão.

Glenn Olen é responsável pelo sorteio do distrito cinco há anos. Todos conheciam a peça: Bonita, mas excêntrica. Charmosa, mas burra. Divertida, porem lenta. Nesse ano, seu cabelo azul estava repleto de algum tipo de gel do Capitol que o fazia girar em espiral para todos os lados, combinando com seu vestido maluco e suas sapatilhas de mola.

A menina Belby, de 15 anos, andava de mãos dadas com o namorado por todo o caminho até a praça principal, rindo e conversando como se não corressem perigo algum. Os gêmeos também não estavam totalmente silenciosos, isso eles não conseguiam fazer. Andavam de mãos dadas imitando a irmã e o namorado dela.

A mãe e a tia dos garotos vinham logo atrás, a tia dando risadinhas enquanto a mãe, com um sorriso irônico, os censurava. Querendo ou não, aqueles dois eram a alegria da familia, motivo de quase todos os risos. Glenn começou a falar um monte de coisas sobre o Capitol e o prefeito falou pelo que pareciam horas. Então Glenn foi sortear o nome masculino primeiro.

–Lucius Belby- o menino, que estava rindo até então, fechou a cara. Olhou para o lado, para o irmão, mas este continuava a olhar para frente, como se estivesse paralisado- Lucius, querido. Venha meu bem. Ah, está ai. Venha aqui em cima, queridinho.

Lucius largou o irmão e deu alguns passos vacilantes em direção ao palco onde Glenn estava, junto com Leone, o mentor do distrito 5. Aquilo não foi medo, impedindo o garoto de subir mais rápido. Estava se separando do irmão. Ele nunca se separava do irmão fora de casa.

–Oh, meu bem. Você é...- Glenn falaria algo de errado, por isso se interrompeu- Está bem?

Lucius deu uma risada muito contagiante. Pretendia dizer um dos seus melhores sarcasmos, mas ignorou Glenn completamente e preferiu rir, nervoso. Então ele acenou para o distrito quando Glenn pediu palmas.

[...]

O menino abraçou a mãe e a irmã. Brigava com esta ultima todos os dias. Mas sabia que sentiria falta das brigas inocentes com a irmã quando tivesse que enfrentar brigas de verdade na arena. Mas a despedida mais difícil foi a de Craig.

O menino entrou na sala, choroso, e pulou em cima do irmão.

–Eu estava mentindo, Luzzi- ele disse, choroso, errando o nome do irmão sem querer- Estava mentindo. Não quero que vá para os jogos. Não quero que morra.

–Não seja bobo, Craig.- Lucius tentou acalma-lo- Eu não vou morrer lá. Sou mais esperto que aqueles carreiristas. Vou passar por tudo brincando, entendo das coisas. Eu vou me dar bem- Lucius não tinha essa certeza, mas não podia ver o irmão chorando por sua causa.

–Eu não acho que eles vão arrancar seus olhos. Eu estava só brincando... Não achei que...

–Relaxa- Lucius chacoalhou o irmão gêmeo- Quero que faça uma coisa: não deixe Chloe em paz nem por um segundo. Atormente ela por você e por mim, ok? Pode fazer isso?

–Você vai voltar, não vai?

–É claro que eu vou. Vou voltar sim. Não existe um gêmeo sozinho, Craig. Vamos ser dois, sempre, ok? Você e eu.