– Erza Scarlet...

A chuva fina caia sobre todos, mas não era a única razão dos vários rostos molhados. Era difícil de imaginar uma cena assim, diversos membros da guilda mais agitada do Reino de Fiore desse jeito.

– Seu coração era tão grande quanto o céu eterno. Sua espada brilhou nobremente para seus entes queridos...

Todos com expressões tristes, cabeças baixas e não costumeiras vestes escuras. Havia os que afundavam o rosto em ombros amigos e outros tentavam esconder com as próprias mãos ou com lenços. Também tinha os que deixavam as lágrimas rolarem sem nem perceber e os que olhavam fixamente para um ponto qualquer, mas todos estavam sem saber no que pensar.

– Sua figura era como a de uma fada. Era tão bela quanto a própria natureza...

Cada um chorava, até mesmo os que não tinham água nos olhos. Era um choro interno, uma angústia assombrosa que nunca teria fim. Afinal, era o fim dela, a grande Titânia nunca mais voltaria para eles e nem para qualquer um outro.

– O amor nos torna fortes e esse amor também nos torna fracos...

Quase todos os magos da Fairy Tail estavam ali, em frente àquele túmulo. Havia uma grande escultura de um cavaleiro montado em um cavalo que chegava a ser majestoso. Se fosse vivo, estaria relinchando e balançando suas patas dianteiras no ar, como um grito de vitória, uma glória para ele e seu amo. Mas não estava, era apenas uma estátua e ficaria parado naquela posição para sempre. O longo pedaço de pedra era lindo, chegava a brilhar e parecia luxuoso, mas era cinza e parecia sem vida. O que chamava atenção era o belo buquê de rosas vermelhas que o acompanhava, jogado sobre a superfície lisa.

Nada menos imprescindível para lembrá-la de maneira autêntica, a cor se parecia com a de suas lindas mechas escarlates, a delicadeza e firmeza das pétalas lembravam a sua forte personalidade. No conjunto, as flores se assemelhavam a ela, porém era completamente evidente e notável que nunca chegariam aos pés dela. Nada e nem ninguém nunca seria como ela foi.

– Eu...

As tantas palavras bonitas que ele nunca saberia de onde tirou não acabaram como o esperado. Em um momento assim, apesar de tudo, ele não queria chorar, mas acabou o fazendo por não aguentar suportar a profunda tristeza dentro de si mesmo. Não era orgulho e nem vergonha de chorar na frente de seus pirralhos, o que ele tinha era apenas a vontade de acordar desse horrível pesadelo ou de finalmente ver que tudo não passava de um terrível mal entendido.

Porém nunca se deixaria entregar, ele sabia que ela não permitiria ou esperaria por isso. Apertou suas mãos já consumidas pelo tempo e buscou as últimas forças que restavam em seu coração de Titão para dizer as últimas palavras.

– Ela era como uma filha para mim...

Alguns dos principais membros do Conselho chegaram e disseram certas palavras, algo sobre conceder uma das cadeiras e um lugar nos nomes dos dez magos santos, mas ninguém realmente prestou muita atenção a isso. A mente de todos estava em vários lugares, menos ali.

Entretanto, ela estava.

– Mestre...

Qualquer um que olhasse para cima veria um céu cinzento e chuvoso, mas ela estava ali, os observando. Não sabia o que fazer e, além disso, tudo estava sendo inesperado demais. Estranho demais.

Porque tanta tristeza, tanta dor, tanto sofrimento e desespero? Ela não conseguia entender, havia salvado todos, certo? Havia feito o que achou melhor pelo bem de todos. Pela felicidade de todos que amava.

– Não era isso que eu queria ver... Eu só queria... Só queria ver todos sorrindo... Eu... Não queria isso...

Ninguém perceberia seu sussurro, suas palavras nunca mais seriam ditas e nem escutadas novamente.

Além de sentir a dor de todos, ela também estava sentindo a dor de ter feito eles se sentirem assim. Ela podia sentir toda a angústia e sofrimento que os fizera sentir, mesmo nunca tendo desejado isso. A tão querida e célebre Rainha das Fadas só queria a alegria daqueles que estava deixando, mas não havia imaginado que eles eram como ela.

Ela não conseguiria nem pensar em um mundo sem seus amigos, e eles também eram assim. Erza Scarlet percebeu que ela e seus amigos eram iguais, mas já era tarde demais. Se tivesse outra chance, nunca mais faria algo assim.

Você não morre por seus amigos, você vive por eles. Contudo, já não adiantava pensar nisso naquele momento. Tudo o que restava era apenas o choro, por dentro e por fora, daqueles que ficaram e que vão sofrer eternamente por uma perda que nunca iriam esquecer.

E dela, que infelizmente não tinha como voltar atrás e amar novamente.