Ele estava dormindo num galho, no meio de um parque. Aquele idiota me deixou sozinha. Tecnicamente, se ele caísse dali eu não teria como socorrê-lo, já todo mundo estava em seus horários de trabalho, adolescentes todos em suas respectivas escolas, e as crianças provavelmente em casa com suas babás.

Fiz então a unica coisa que me cabia fazer. Ficar olhando para ele.

Ele estava de perfil, com os cabelos caindo com a ajuda da gravidade, os olhos parcilmente fechados, uma mão pendendo e a outra em cima da barriga. A luz que batia no rosto dele era quase direta. As sombras bagunçadas das folhas da árvore traziam uma iluminação indireta, clara e muito mágica.

A Pele dele era clara, e em seu rosto algumas marcas que mostravam que ele tentara estourar alguma espinha, mas fora as marcas, sua pele parecia ser bem macia. Sua boca era bastante peculiar, o lábio inferior mais grosso que o superior, um tanto menos cor-de-pele e mais avermelhado, e o superior era mais comportado. No canto de sua boca havia uma coloração um pouco roxa, que fazia parecer que alguem havia mordido. Decidi optar por alguma garota que ele ficou ter mordido com força.

Quando esse pensamento me veio a mente, foi como uma lâmpada se acendendo. Ele devia ficar com muitas meninas, devia ter uma namorada. Na verdade, ele era a pessoa mais próxima de mim agora, já que não tenho ninguem. Mas logo ele teria que me deixar.

Pensando nisso, senti meu corpo estremecer e decidi desviar o olhar.

Fiquei fitando minhas mãos, enquanto girava no dedo um anel.

Senti uma brisa um pouco mais forte e suspirei. Pude ouví-lo acordar, até que aquele cochilo foi bem rápido. Continuei sem olhar para ele. Aquele silencio era bastante tenso, mas era melhor assim, eu não podia me apegar a ele.

POV Davi ON

Acordei daquele cochilo e me toquei da merda que fiz. Quem é idiota o bastante para dormir num galho? Ainda mais quando tem um acompanhante e o deixa esperando. Ou pior, A deixa esperando.

Olhei para ela para ver se estava com raiva ou algo assim, mas ela estava de cabeça baixa, e por um segundo pensei que ela estava chorando. Que droga.

– Ei... - Chamei enquanto descia da maldita árvore. Ela me olhou e deu um sorriso sem jeito. Eu sorri de volta um pouco hipnotisado por seu sorriso, era muito bonito.

Pude vê-la bocejar e ri um pouco, sentando-me ao seu lado.

– Não sou só eu com sono não é? - Brinquei. Ela riu mais um pouco, e eu tive mais uma "ideia brilhante". Me levantei e estiquei o braço, oferencendo minha mão a ela, imitando um típico mordomo. Ela riu um pouco e me deu a mão enquando eu a guiava pelo parque imitando sempre um mordomo, fazendo-lhe perguntas idiotas como "Gostaria de um chá?" E rindo um pouco, ajunal, parecia que ricos só tomavam chá.

Chegamos finalmente numa clareira, ali mesmo no parque, onde havia muita grama, muito espaço, e o sol não batia graças as árvores grandes. Eu me joguei no chão, deitando de braços abertos ali e olhando para ela brincando.

– Aqui dá pra dormir. - Eu disse sorrindo. Ela fez uma expressão meio que "WTH" e logo sentou ao meu lado, meio hesitante. Eu me sentei e dei um leve empurrão nela, fazendo a deitar e rir um pouco, junto comigo que me deitei e ri também.

Ela ficou deitada, com os braços abertos, barriga para cima, fitando o céu escondido por folhas, enquanto eu me controlava para fazer o mesmo. Ela era tão bonita...

Fechei os olhos parcilmente e bocejei, e pude ouví-la bocejar também. Embora eu estivesse morrendo de sono, afinal, não dormi esta noite, não conseguia dormir sabendo que ela estava logo ali ao meu lado.

Passaram se uns 10 minutos até que senti ela deitar-se sobre o meu peito, me abraçando. Abri os olhos rapidamente, surpreso e um pouco assustado, para então ver que ela estava dormindo.

Tinha a expressão serena. O aroma de seus cabelos invadia meus pulmões como um gás venenoso, viciante. Seus cachos carmesim eram parcialmente levados pela brisa fraca. Eu podia sentir seu coração, seu toque doce e macio. Ah, merda!

Eu não podia fazer aquilo...