Caixa Postal escrita por Evangeline


Capítulo 28
Capítulo 28: Pedro


Notas iniciais do capítulo

Sem homicios, please. ^^
Desculpem a demora. :/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/307709/chapter/28


–----------- POV Davi ON ---------------




Férias? Bem, começaram na sexta-feira, é verdade. Mas até agora a melhor parte das férias foi quando elas ainda não tinham começado.
Minhas férias até agora se resumiram em Comer, dormir, piano, computador e ficar olhando para a janela fechada da Juliana. Eu soube que ela viajou com aquelas duas amigas dela para um Lago. O pai dela não foi, e provavelmente a familia tambem não, óbvio. Então ela deve ter ido só... O que me preocupa.
Hoje é quarta-feira e eu estou em casa mais uma vez vendo o sol subir e descer no céu enquanto a tv fica ligada no mute e eu fico na varanda olhando os carros passando lá embaixo.


Geralmente nas férias eu vou visitar o meu primo, o Pedro. Ele mora duas cidades depois daqui e é o meu melhor amigo. Bem, digamos que ele é problematico como eu... Na verdade é muito mais problemático do que eu o que me faz tentar ajudá-lo.

A verdade é que o Pedro tem um tipo de problema mental que tem um nome complicado mas que eu costumo chamar de AEHSF, Aversão ao Excesso de Hormônios Sexuais Femininos”. Sim, ele não chega nem perto de garotas, e não, ele não é gay. Pelo menos não até agora. Se ele fosse eu ficaria muito mais relaxado, mas ele se apaixona. Morou por três anos num hospital para dontes mentais, e quando saiu passou a ficar confinado dentro de casa. Tudo começou quando garotas da turma começaram a entrar na puberdade, foi quando ele teve os primeiros ataques de fúria. Quando ele sente (acho que o cheiro) o hormônio sexual feminino ele se torna agressivo e muitas vezes bate na garota com o objeto mais próximo.

Fora isso, ele é o garoto mais compreensivo e legal que já conheci. Bem, garoto não, ele já tem 20 anos. Nunca nammorou, sequer beijou, é claro. É incrivelmente inteligente, nerd, gamer e todas essas coisa de alguem que não pode sair de casa é.


Eu saí de casa na quinta de manhã indo para a casa dele de ônibus, e quando cheguei, a Tia Dulce me olhou com uma expressão triste que eu sabia que significava que ele estava deprimido. Fui lentamente até o quarto dele onde o encontrei ajoelhado na cama, encolhido e com as mãos nas orelhas apertando forte os cabelos daquela região. Eu logo vi que ele tinha dado mais um ataque de fúria. O quarto estava uma bagunça, diferente do normal, e seu violino estava no chão, quebrado ao meio. Claro que a familia não teria problemas para comprar outro, mas geralmente ele nunca quebrava objetos grandes, só coisas pequenas e de vidro. Ele parecia tremer um pouco e vi que estava com os dentes cerrados. Ver meu amigo, meu primo, meu irmão, naquela situação me fazia sentir um profundo vazio. “Passe pra mim, Senhor, por favor. Tire de meu filho, ele não mereçe, passe para mim!” Pedia sempre a Tia Dulce quando via aquela cena dele deprimido.

Me aproximei dele lentamente e vi que haviam cortes em suas mãos e braços. Ele estava com uma bermuda escura e sem camisa, vi arranhões nas suas costas, daquele tipo que se consegue quando bate as costas numa parede com espinhos. Olhei para a Tia Dulce que estava na porta espremida e agarrada com o portal. Suspirei silenciosamente e virei-me para meu mais novo desafio.

Coloquei as mãos nos ombros de meu primo virando-o lentamente para mim. Pude ver seu rosto com cortes e muito molhado, ainda chorava de olhos apertados.

– Pedro... – Sussurrei e ele apenas apertou mais forte os dentes. Ele nunca levantou uma mão para mim. Em suas crises, já bateu na mãe, no pai, nas empregadas, nos médicos, mas nunca em mim.

Eu o ajudei a se levantar e segui o caminho até o banheiro. Quando estávamos lá eu fechei a porta sem trancar e o despi. Havia mais cortes que o normal, e eu encontrei uma farpa de madeira em sua mão. Sentei-o dentro da banheira. Eles estava com o olhar morto, frio, negro.

Começei a encher a banheira com algua um pouco morna e peguei uma pinça ali no armário do banheiro. Fui tirar a farpa de sua mão e depois fiquei sentado no chão com o braço apoiado na banheira e o observando. Ele levantou o olhar para mim.

– Davi. – Disse abrindo um sorriso fraco, mas mantendo aquele olhar.

– Oi. – Eu disse rindo um pouco.

– Desculpa. – Sussurrou.

– O que houve? – Perguntei no mesmo tom que o dele esperando uma resposta.

– Ouvi a minha mãe falar com a Aninha... dizendo que ela não pode vir aqui. – Ele disse deixando mais lágrimas cairem e cerrando os dentes. – A culpa é minha. – Chorou. – Minha própria irmão não pode voltar em casa por minha culpa. – Formulou a frase com dificuldade em meio a soluços. Por um momento eu queria que aquilo fosse em mim, assim como a Tia Dulce semrpe pedia.

– Não Pedro, não é por culpa sua. – Eu falei seriamente. – Logo a Ana vai ter uma idade suficiente e vocês vou estar juntos de novo. – Tentei animá-lo.

– Minha irmã vai perder a adolescencia dela por causa de mim, Davi. – Sussurrou frio. Eu suspirei.

– Não é sua culpa nada disso, Pedro. Nada disso. Você só precisa se controlar, controlar o seu corpo. Todos sabemos como você ama a sua irmã, e ela também sabe. – Eu falei fazendo-o me olhar. – Acha que ela te culpa por algo? Ninguem te culpa. Todos são cientes da situação e sua irmã te ama assim como você a ama. – Eu continuei. – Vocês conversam por telefone não é? Pela internet... Em algum momento ela fez parecer que não nem gostava um pouquinho de você? – Perguntei deixando a pergunta pairar no ar.

– Desculpa. – Sussurrou. Eu detestava essa mania dele de pedir desculpa por tudo.

– Vamos, preciso cuidar desses cortes. Depois vamos fazer algo legal. – Eu disse sorrindo.

– Mais uma vez um pirralho cuidando de mim... – Ele brincou.

– Se quiser eu vou embo...

– NÃO SE ATREVA. – Quase gritou e ambos caímos na gargalhada.

Eu saí do banheiro para deixar que ele tomasse banho então fui arrumar o quarto dele.

– Obrigada. – Sussurrou a Tia Dulce quando eu estava terminando. Eu sorri para ela e continuei a arrumação aproveitando para quardar as minhas roupas.


Quando Pedro voltou do banho eu já tinha arrumado tudo e era hora do almoço. Passamos a tarde no Playstation 3 dele jogando mais um de seus amados jogos de tiro. Ele é invencível, então jogar na equipe dele é ótimo. Depois do jantar passamos um longo tempo conversando.

Contei a ele tudo sobre a Juliana desde quando eu a conheci. Há muito tempo eu não hesito em conversar com ele sobre garotas. Na verdade eu acho que é bom pra ele saber como as garotas agem... Quem sabe não ajude em algo com a AEHSF...

Passei a semana inteira na casa dele. Não teve mais ataques nem depressão. A Tia Dulce semrpe gosta quando eu estou lá e eu semrpe agradeco por não ser uma garota... Se eu fosse eu não teria meu melhor amigo.

Estava sentado na frente da tv. Estava de noite e passava o jornal diário, então coloquei no mute e começei a jogar um joguinho no celular. Pedro estava no banho e a Tia Dulce fazendo o jantar. Ainda bem que ela não está na puberdade...

– E aí cara? – Perguntou Pedro ao lado do sofá com uma bermuda e com uma toalha ao redor do pescoço.

– Iiish, mais um acidente de ônibus? – Ele disse sentando ao meu lado e tirando a tv do mute. Estava passando uma matéria ao-vivo sobre um acidente de ônibus numa br. – Não é longe não cara... – Ele falou baixinho. O ônibus tinha capotado e explodido o tanque. Realmente, não era lá bonito de se ver. A ambulância estava lá e pelo visto foram os habitantes dali de perto que tiraram as pessoas do ônibus.

– Um cara desse não devia dirigir nem carrinho de brinquedo... – Comentei um pouco chocado com as queimaduras e ferimentos das pessoas ali.

A câmera estava focada no ônibus e na porta da ambulancia que estava tirando algumas pessoas em estado terminal dali e colocando em macas.

“Haviam em torno de dezessete pessoas no ônibus, entre elas um idoso, três crianças e cinco adolescentes e sete adultos. As crianças e os adolescentes estão sendo levados ao hospital de emergencia mais próximo e infelizmente o idoso não aguentou o calor.”

Fiquei observando o fogo ali e a câmera filmou o corpo do idoso corberto por um pano grosso. As crianças e adolescentes estavam sendo levados em macas e eu via aquilo pasmo.

Até que meu coração parou.







Vi numa maca aqueles cachos.


Já não sentia meu coração palpitando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

UI JESUS.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Caixa Postal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.