Estava saindo da escola, sem a Jess que agora ia pra casa acompanhada do Sam, e lá estava ele. Olhos verdes meio amarelados, jaqueta de couro, encostado no seu Impala buscando no ar a chave que ele jogava pra cima. Ele não olhou nenhuma daquelas meninas fúteis, líderes de torcidas, estranhei isso.

–Ah, você... – o olhei com desprezo, segurando os livros pesados de biologia.

–Entra no carro! – exclamou autoritário.

–Não! Quem você pensa que você é?

–Entra no carro, quero ter uma conversa séria com você! – ele estava furioso, o que eu havia feito pra tanta rudeza da parte dele?

–Eu não a lugar algum, ter conversa nenhuma com você! – aumentei o tom de voz, não estava alto o bastante pra todo mundo perceber,.

–A mas você vai sim ou você quer que todo mundo escute o que eu tenho pra te dizer? – ele me pegou fazendo com que eu ficasse de ponta cabeça nos ombros dele e me levou, mesmo com a minha relutância, para o carro.

Todo mundo olhou, morri de vergonha. Bem que eu poderia morrer mesmo, eu amava o perfume dele que agora estava em toda a minha roupa. Isso é bom?

Ele ligou o carro e começou a dirigir, me levou pra fora da cidade e parou numa estrada vazia. Ele estava com um semblante sério e não dissemos uma palavra durante o caminho, só as minhas perguntas “Onde estamos indo?” “O que você vai fazer?”, perguntas essas que não obtiveram uma resposta.

Ele estacionou o carro, pensou um pouco olhando pra estrada, virou pra mim que estava com os olhos marejados e aflitos, e antes que ele falasse qualquer coisa eu comecei:

–Que cena foi aquela Dean, por que me trouxe até aqui? – disse não entendendo nada.

–Por que não atendeu meus telefonemas? Estava preocupada demais com o Adam, hein, pequena vadia? – ele me olhava furioso, era um Dean que eu não conhecia.

–Pequena vadia? Sério Dean? É o melhor que tem? – olhei confusa pra ele – Não é porque cometi o erro de sair com você, uma única vez, que me torno vadia. Vadia são aquelas putas que você pega em qualquer lugar, leva pro teu quarto e faz o que quer. Eu não sou assim Dean! – gritei.

–Erro? Tem certeza que pra você foi um erro?

–Foi, foi sim. Sabe por que? – olhei pra ele esperando sua atenção – Porque eu, fui burra demais pra acreditar que um cara da tua laia iria querer algo sério comigo, caramba Dean, eu realmente te amo, mas não vou ficar me iludindo. Conheço bem o teu tipinho. Garotas de uma noite só, não é?

–É, e você foi só mais uma, igual todas as outras, não significa nada pra mim! – como ele conseguia ser tão cara de pau? O olhei incrédula e dei uma risada do tipo “sério que você é assim?”.

–Então é assim, Dean, você vai lá, joga seu charminho, convence, mente um pouco, faz todo esforço que faz só pra garantir um nome a mais na sua listinha suja? – era uma pergunta retórica- nome esse que é da pessoa que você diz não se importar.

Falei esperando uma resposta, mas ele não a deu, continuei:

–Você é incrível – dei risada – não desses de se admirar, mas de ser tão cafajeste. Você não se apega a ninguém, faz seu joguinho, ilude as pessoas só pra dizer manter sua fama de garanhão. Isso é errado Dean, você fica com essa pose de durão, de popular entre as garotas, mas no fundo você é inseguro, acha que tendo todas vai ser melhor e não é bem assim. Seus pais deveriam ter te ensinado a não magoar as pessoas!

–Não fala dos meus pais – ele gritou – você não sabe nada deles e da minha vida!

–Pois é Dean, mas se você me contasse sobre eles e sobre sua vida eu poderia te ajudar de alguma forma. Você não passa de uma pessoa carente, que me dá pena, isso, pena. Eu te amo, mas isso não significa nada pra você, sentimentos de ninguém significa nada pra você, mas o que você significa pra alguém? – deixei com que ele respondesse

–Eu sou um herói, eu ajudo pessoas, significo muito pra elas, mesmo elas não sabendo – ele se virou, olhando pra mim com um olhar triste depois olhou para baixo.

–Mas que herói é esse, que machuca as pessoas como um vilão? – vi uma lágrima sua caindo – Dean, eu não quero te magoar, isso me magoaria também, mas alguém tinha que dizer a verdade pra você, dá uma chance pra alguém, que realmente te ama, te fazer feliz. Você não precisa guardar todo o peso do mundo sozinho – segurei seu rosto o virando pra mim e limpando sua lágrima – eu o seguro por você, só... deixa, eu fazer isso.

Dei um selinho em seus lábios e o abracei, ele retribuiu o abraço. Ele precisava daquilo, daquele choque, pra perceber que havia pessoas por ele, que ele não estava sozinho e não precisava estar.

–Vai me contar sobre você e sua família? – perguntei me sentando novamente na cama.

Ele assentiu e começou a me contar tudo. No começo me assustei, fiquei surpresa, mas não me dei ao luxo de sair correndo ao ouvir toda aquela história depois de ter falado tudo o que falei pra ele, seria hipocrisia da minha parte, não seria?

Ele me contou sobre demônios, anjos, criaturas sobrenaturais e fantasmas. Tudo aquilo existia mesmo? Foi meu primeiro pensamento. Contou que saía pra caçar com Sam, algumas vezes, já que Sam só queria estudar e não seguir o “negócio da família”, como o Dean orgulhosamente me disse. Seu pai estava caçando um demônio, Azrael... Azael... Azazel, é, Azazel é o nome desse demônio, ele matou a mãe do Dean e do Sam quando ele tinha quatro anos e Sam 6 meses. Dean disse que não contava isso a ninguém, porque cada pessoa que era próxima o bastante dele, morria de alguma forma, por isso ele sempre mudava de cidade, procurando alguma criatura pra caçar e esquecer as pessoas que conheceu em suas últimas visitas.

Já estava escuro, decidimos ir embora, mas quando ele ia ligar o carro, as luzes dos postes de iluminação da estrada começaram a piscar.

–Damn! – ele resmungou baixinho batendo no volante do carro.

–O que foi? – o olhei preocupada.

–Demônios! – ele disse olhando no retrovisor.