Jogos Vorazes por Cato escrita por AmndAndrade


Capítulo 1
Capítulo 1 - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, né HAUEHAUH espero que gostem do jeito do Cato =))



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Ruas cheias, olhos curiosos, tensão. São descrições certas para o Distrito 2 no dia de hoje. Apesar de muito tempo de treino, não consigo deixar de acordar algumas horas antes do necessário e perambular pela casa escura, cerrada por cortinas pesadas, protegendo de toda a claridade e ironicamente, obscuridade que vem de outros distritos hoje. O almoço não passa de um evento como outro qualquer e meus pais tratam o que está por vir como apenas uma viagem que farei por algumas semanas.

Confiança. Foi sob essa palavra que eu fui criado.

Apesar da curta distância, a Academia exige que você vá de carro até o local. Superioridade, poder. É tudo que me vem à cabeça quando atravesso a multidão a passos decididos até outros garotos de dezoito anos e reconheço alguns de determinadas aulas da Academia. Sinto seus músculos se retesarem quando me aproximo, alguns por exibição e outros por pura tensão. Sorrio. Se eles podem flexionar os músculos, por que eu não?

Confiança, Cato. É isso.

Do centro do palco montado em tons de dourado e chumbo vejo uma figura estranha subir. Estranha, mas familiar. Jocelie Madrine vai surgindo enquanto a plataforma central sobe. A primeira coisa que vejo é o cabelo escandalosamente colorido e as roupas que vagueiam entre pertencentes a extraterrestres ou vadias renovadas. Típico. Ao seu lado, um dos vencedores dos Jogos Vorazes de nosso distrito aparece, sorriso brilhante, cabelos bem penteados. Edwin Cooper, uma perfeita visão de mim no futuro.

E a baboseira recomeça.

Bla bla, Distrito 13, bla bla, vídeo deprimente, bla bla, Jocelie falando, septuagésima alguma coisa, bla bla, bolas de cristal com nomes, bla bla. Ops, bola de cristal com nomes. Hora de prestar atenção, Cato.

– Algum voluntário? – ela pergunta, referindo-se às meninas.

Praticamente sempre há voluntárias femininas, mas também há anos em que há a necessidade do sorteio. A Academia Feminina é um tanto menor, e não me surpreende que ela consiga manter-se com doze ou quinze alunos entre doze e dezoito anos. Eles cobram bem caro mesmo. Então, do meio da multidão feminina, uma mão se ergue. Não o tipo de mão que eu esperava ver. É branca, pequena e delicada, e não tem a aparência brutal das Carreiristas dos outros anos. O olhar é decidido e os músculos parecem bem trabalhados, mas o rosto lembra o de uma garota de quinze anos. Demoro um pouco para situá-la entre as garotas de dezoito anos, o que me surpreende um pouco. Que seja. Presa fácil.

– Como se chama, querida? – Jocelie diz com a voz estridente.
– Clove Woods.

– Suba aqui, Clove. Uma salva de palmas! – diz enquanto o público se explode em palmas. É o que eles querem, é o que eles gostam.
Ela anda em passos calmos, o queixo levemente erguido enquanto sobe no palco. Não esboça um sorriso sequer uma única vez, o que me intriga. Posso ter julgado mal.

– Agora os garotos! – ela diz, esbanjando alegria. – Algum voluntário? – prossegue, apesar de já saber a resposta.

Eu e mais dois garotos erguemos a mão, o que apesar de já prever, me irrita muito. Eu e outro garoto trocamos olhares com o segundo, ligeiramente mais fraco – apenas ligeiramente, embora eu odeie admitir. Ele persiste, o que me irrita um pouco mais. Digo meu nome em voz alta depois que Jocelie pergunta, após se gabar pelo Distrito 2. Como todo santo ano, suspiro. Mas agora é minha chance, só minha, e confio o suficiente para acreditar que o meu nome será sorteado

– Cato Estwalk! – Ela sorri, e eu sorrio. Uma onda de hesitação me toma enquanto me dirijo a passos largos, deixando para trás os dois otários. Vão ter que guardar mais palmas pra quando eu voltar da maldita arena.
A despedida não é bem uma despedida, assim como o almoço não foi. Minutos desperdiçados. Quanto antes eu for, sei que antes voltarei.
A conversa com Jocelie no caminho até a estação me deixa mais confortável, se é que isso é possível. Rimos por algumas horas enquanto a conversa fluía docemente entre nós.

Quando ela se dirigia a Clove, porém, as respostas vagavam entre sim e não. Ela não estava sendo grossa, e também não parecia chateada. Não sei bem qual o problema dela, na verdade, mas o que conheço dela é equivalente ao que eu conheceria se lesse seu histórico escolar. Mas dane-se.
No trem, a história se repete. Não quero criar laços com fracotes, mas segundo Edwin, Clove treina desde os doze anos de idade e é o que se pode chamar em expert das facas. Sentada sobre as duas pernas olhando a janela enquanto me espia por cima do cabelo escuro, ela parece bem mais forte do que percebi antes. Os músculos se desenham de um jeito feminino nas pernas e nos braços quando ela se move para um lado e outro, parecendo dispersa.
– Clove, certo? – Uso meu tom mais simpático. Sou pelo menos vinte centímetros mais alto que ela e não quero que ela pense que quero matá-la mesmo aqui. O que, segundo a minha aula sobre as regras, é expressamente proibido.
– Sim. – Ela vira rapidamente e volta a observar a janela.

– Sou Cato.

– Eu sei. – Ainda com os olhos no exterior, apesar de estarmos passando pelo que agora parece um túnel, uma vez que está escuro demais para enxergar qualquer coisa. Ela parece perceber e então senta com as duas pernas para frente, me observando enquanto pego um dos bolinhos de laranja e mastigo.

– Quer? – Ofereço, ao passo de que ela apenas balança a cabeça, ainda me examinando. Parece que está tentando ser discreta, mas não está tendo muito sucesso. Não é um olhar como as garotas do Distrito 2 lançam. É um olhar de curiosidade, de lembrança. – Olhe, – pareço tirá-la de seu transe – eu não sei bem o que você está olhando, mas já me certifiquei que não saí sem as calças ou com a camisa do avesso hoje. – Sorrio. E é a primeira vez que a vejo sorrir.

Tão brevemente que mal tenho tempo de registrar as covinhas em minha mente.

– Então, facas? Digo, girando uma faca de mesa que tem o símbolo da capital talhado em um dos lados do cabo.

– Não vai conseguir muita coisa com essa aí. – Ela ergue uma sobrancelha, e eu gosto disso. Quero ver mais vezes.

– Claro que consigo – respondo, observando se ela ficará curiosa ou não. Parece que sim. – Geléia. Manteiga.

Ela sorri por um tempo maior agora.

– Talvez possa me mostrar uma hora dessas.

– Uma hora dessas.

Prefiro encarar a resposta como o suficiente por agora e me aquieto enquanto o trem para sem resfolegar onde devemos descer. Jocelie e Edwin entram na saleta com sorrisos e nos conduzem para fora do trem até que enxergamos de fato a Capital.

Não sou de me impressionar, mas a magnificência do lugar me estonteia por alguns segundos. Estranham-me as roupas e os prédios altos e de formas diferentes fazem o Distrito 2 parecer completamente ultrapassado. Distrito 2, penso. Bichinho de estimação da Capital, embora jamais admitiria isso. E apesar de não sermos os camundongos da Capital – Distrito 10, 11 ou 12 – sinto que é tudo que somos. Bichinhos de estimação.



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