Era umas onze horas da manhã ainda. Estava um pouco frio. Tinha muitas árvores em volta deles, e também tinha um riachinho por perto. Podia escutar o barulho da água batendo nas pedras, em meio do silêncio. Bom, não estava tão silêncio assim. Jess continuava chorando.

–Ok, eu tenho que falar com você Je. É sério. - Se sentam um na frente do outro de novo – Vou ser bem breve.

“Antes de eu me tornar vampira, minha vó, que era uma bruxa, estava me fazendo sua aprendiza. Já sabia bastante sobre magia, mas meu conhecimento era um pouco vago ainda, foi aí que fui transformada em vampira. Eu fiquei confusa no início, as sensações eram muito diferentes, mas eu encontrei o Stuart. Ele começou a fazer minha cabeça, com várias coisas idiotas, e assim foi me moldando, aos poucos. Ele tinha um clã de vampiros que caçavam humanos para fazerem experiências com eles, ver até aonde os humanos aguentavam de dor, fome, torturavam, várias coisas horríveis. Eu fazia parte dos vampiros caçadores. Mas teve um dia em que conheci a Lisa. Ela me fez pensar em várias coisas, e conseguiu que eu parasse de caçar. Mas o Stuart não aceitou, então começou a me obrigar a fazer isso. Como eu não queria, fugi da casa dele com Elisabeth, mas ele continua me perseguindo, depois de todos esses anos. Depois que fugi dele fui para o sul da Nova Zelândia, lá ela me ajudou a controlar o desejo por sangue. E fiz braceletes pra gente. É uma magia antiga que nos deixa sair na luz do sol. Alguns vampiros tem algum objeto desse tipo. Depois da Nova Zelândia, nós viajamos muito, fugindo dele, mas também porque nós não gostamos de ficar muito tempo no mesmo lugar. Gostamos de ser livres. Nós sempre ficamos juntas, então resolvemos ir para Midway, então foi aí que te encontrei, e aconteceu tudo isso, até agora”.

Ele estava paralisado desde que ela começou a falar. Estava tentando compreender tudo o que estava acontecendo. Era muita informação em pouco tempo. Ficaram em silêncio por alguns minutos, ela de cabeça baixa e ele olhando para o nada.

–E você acha que o Stuart vai vir me pegar, para ter você de volta?

–Acho que sim. Me desculpa, por favor!

–Não estou bravo com você, só to pensando um pouco. Mas eu poderia te ajudar se você me transformasse. Me transforma.

–Jeremy, é mais difícil do que você pensa. É tudo novo, novas sensações, sem contar o desejo incontrolável por sangue.

–Me ensina, se eu me tornar vampiro posso te ajudar com o Stuart.

–Você pode me ajudar mesmo sendo humano.

–Mas eu sou mais fraco assim. Me transforma. Eu quero ser como você.

–Ah Je.

–Jessie, a coisa que eu mais desejo, é ser igual a você. Eu já pensei em tudo. A gente pode viajar pra bem longe. Você pode hipnotizar minha mãe, aí nós poderíamos levar ela com a gente. Mas a única coisa que eu te peço, é pra Elisabeth não ir com a gente. Naquele momento, só quero eu e você.

Eles ficam se encarando. Dá pra perceber que ela está começando a considerar a ideia.

Ela olha pra ele com uma cara desconfiada.

–Por favor, mô. (silêncio)

–Pra onde você tá pensando da gente ir?

–Eu quero ir para o Brasil.

Ele a agarra e começa a girar.

–Je para! Sério. Você sabe que isso é sério. Não quero que você faça nada sem pensar muito.

–Eu penso nisso desde que você falou que era uma vampira.

–Você tem que tomar cuidado. Ainda mais que agora o Stuart te viu.

–Eu vou tomar cuidado. E vou cuidar de você também.