Premonição 6: Inferno escrita por Lerd


Capítulo 5
Purgatório


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 5 postado! Novamente um capítulo sem morte, mas ele está cheio de revelações e cenas importantes para o decorrer da trama. Depois dele a fic entrará numa sequência de capítulos cheios de ação e bem tensos :B Espero que entendam que não dá pra eu ficar fazendo todos os capítulos cheios de mortes e cenas de ação. Prometo que não vou decepcioná-los. Espero que gostem! ^^



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Havia nove pessoas naquele quarto de hotel. René, Jill, Hank, a tatuada ruiva, o rapaz negro de dreadlocks, o loiro de boné, Melissa, Pam e Brody. O garoto ruivo estava se sentindo sufocado com tantas pessoas ao seu redor, todas elas querendo ouvir algo dele. Alguma explicação, alguma resposta. Eu não sei nada, ele queria gritar. Me deixem em paz, eu não posso ajudá-los... Mas ele não podia fazer isso. Não seria certo.

— Deixa eu me apresentar. — A garota ruiva tatuada disse, levantando-se. O sagui no ombro dela fez um barulho. — Eu sou a Babe. Esse é o meu irmão, Zane. — Ela disse, apontando para o rapaz loiro de boné que mantinha o olhar fixo em um ponto qualquer.

O negro de dreadlocks então falou, com uma voz gutural:

— E eu sou o Quentin.

Pam, Brody e Melissa se apresentaram em seguida, embora não entendessem muito bem o que estava acontecendo. Hank percebeu a situação, e explicou:

— Eles também saíram das ruínas antes de o acidente acontecer. — O mágico disse. — Assim como vocês dois. — E apontou para Pam e Brody.

— Nós acreditamos no rapaz. — Babe disse, ajeitando sua camiseta. — Nós sabemos o que ele é.

O que ele é? — Pam repetiu incrédula.

— Sim. — Babe confirmou. — O René é um índigo.

Melissa então se sentou no chão, cansada. Ela sabia que aquela conversa iria durar muito tempo. Ela já ouvira sobre os índigos, da boca de Alice, mas não tinha muita certeza se acreditava naquela teoria. Ela preferia achar que Bobby, Kelsey e todos os outros eram apenas especiais, sem que houvesse um termo para classificá-los.

— Eles disseram que índigos são crianças especiais e que têm... Poderes.

— Poderes? Tipo mutantes? — Brody perguntou, tentando ao máximo não soar como se estivesse fazendo uma piada. Ele realmente estava perguntando aquilo a sério.

— Mutantes não existem. — Quentin rebateu.

— E nem videntes. — Brody respondeu prontamente. — Mesmo assim o rapaz previu o acidente e nos salvou.

Não havia como discordar daquilo. Babe então tomou as rédeas da conversa:

— Respondendo ao rapaz... Índigos não são mutantes. Eles são pessoas com uma sensibilidade maior do que os demais... Consegue compreender? Eles possuem uma espécie de... Sexto sentido... Uma intuição, algo que os torna especiais. Índigos podem, entre outras coisas, prever acontecimentos. Em geral eles não são tão claros como a visão de René, mas... — E a garota terminou a sua frase por aí.

Pam ainda estava confusa com várias coisas.

— Tudo bem, então nós sabemos... Quem... O que René é. Mas nós temos problemas maiores com os quais lidar.

Babe sorriu de canto de rosto, e o sagui pulou de seu ombro, caindo no colo de Zane. O rapaz riu largamente, e começou a brincar com o mascote da irmã.

— Problemas maiores? Você diz... A lista da morte? — A ruiva falou.

Pam definitivamente não esperava por aquilo.

— Pela sua expressão eu acho que acertei no palpite. E eu ouso dizer que o seu... Filho... — Babe arriscou. — E a garota...

— Melissa. — A loira respondeu.

— Melissa. — Babe concordou. — Ouso dizer que todos vocês já sabem sobre a lista. Estou certa?

Ninguém respondeu nada, e a tatuada soube que estava certa em seu palpite.

— Nós ainda não sabemos. — Hank falou. Jill concordou com um aceno, mantendo-se calada ao lado de René.

— Eu estava prestes a falar sobre isso quando eles chegaram. Bom, melhor assim. Assim vocês podem me corrigir se eu estiver errada em alguma informação.

E Babe começou a explicar. Pam e Melissa sabiam todas aquelas coisas, e foi deveras deprimente pra loira prestar atenção no rosto dos três enquanto a tatuada explicava sobre a lista da morte e todo o resto. Hank questionou-a por várias vezes, mas René e Jill mantiveram-se calados. O ruivo parecia estar confuso, alheio a tudo, em outro mundo. A namorada dele, porém, parecia ser apenas tímida. Melissa lembrava-se de quando tinha a idade dela. Fora a primeira vez que enfrentara a lista, quando Bobby previu que seu avião iria explodir na decolagem. Pensando melhor, não fazia tanto tempo que aquilo havia acontecido. Quatro anos, mas parecem quarenta. Melissa fora forçada a amadurecer mais rapidamente por conta das circunstâncias, e de muitas maneiras não achava aquilo errado.

— Mas eu não tenho ideia de quantas pessoas saíram das ruínas. — René falou, depois de ouvir toda a explicação de Babe. — Temos todos nós, com exceção da Jill. — A namorada não falou nada, então de certo ele já tinha contado a ela que a garota não morreria em sua visão. — E... Eu não me lembro da Melissa... — René arriscou, esperando estar falando o nome dela certo. — Não me lembro de a Melissa estar lá. Pelo menos não na minha visão.

— Eu não estava. — A loira garantiu, sem dar mais explicações.

— Então nós somos sete. — René continuou. — E eu me lembro daquele casal, do homem que me deu um soco. — Pam teve vontade de rir com a naturalidade com a qual o rapaz falou aquilo. Ele parecia não ter guardado mágoas ou dado importância ao ocorrido, mesmo tendo perdido um dente. — São nove. Tinha também o Aaron, a Cherry... E aquela garota da bicicleta.

— Chrissie. — Pam respondeu solene. Brody lhe contara o que vira, então ela sabia que a garota estava morta. — Essa garota... Faleceu.

— O quê?! — Hank exclamou perplexo.

— Eles encontraram-na morta no quarto essa manhã. O saguão estava um inferno, vocês não perceberam? Os bombeiros estiveram aqui para levar o corpo dela. — Brody explicou.

— Nós... Não... Fomos ao saguão. — René disse, tentando se desculpar.

Babe parecia apreensiva, como se estivesse pensando em algo. Zane balançava o corpo em movimentos ritmados, enquanto o sagui pulava do seu ombro para o da garota ruiva.

— Então ela era a primeira. — Babe falou. — Ela era a primeira da lista.

— Espera. — Pam pediu, antes que qualquer pessoa pudesse dizer algo. — Como vocês sabem tanto sobre a lista? Sobre as visões e todo o resto?

Quem respondeu não foi Babe, mas o rapaz negro de nome Quentin:

— Nós sabemos porque é o tema do nosso curta-metragem no festival de cinema. “As Crianças Índigo e os Dons Premonitórios”. Nós pesquisamos muito a respeito disso. Estamos muito bem informados. Digamos que é... Irônico... Que nós estejamos na lista.

Melissa então teve um estalo, e decidiu falar:

— Então vocês indiretamente conheceram o meu irmão.

Babe olhou para a garota com curiosidade.

— E quem é o seu irmão?

A outra garota então tomou fôlego antes de dizer:

Era. Meu irmão era o Bobby. Eu acredito que vocês devam conhecê-lo como Bimbo. O garoto...

— Do trem. — Babe completou, aparentemente fascinada. — Você é a irmã do Bimbo? Você está falando sério?

Melissa então tateou sua calça e retirou sua carteira. Abriu-a e pegou uma foto, estendendo para que Babe pudesse vê-la. Nela a garota estava abraçada com o irmão mais velho, e ambos sorriam. Melissa lembrava-se do dia que tirara aquela fotografia como se tivesse acontecido no dia anterior. Era o seu aniversário de treze anos, e Bobby a levara ao shopping enquanto os pais preparavam uma festa surpresa em casa. Os dois se divertiram muito naquele dia, e aquela era uma das melhores memórias que ela tinha do irmão.

— Eu não sei se existem fotos do Bobby na internet. Pelo menos antes do acidente. Eu espero que não. Mas é só isso que eu posso provar para vocês.

Babe continuava ensimesmada, como se tivesse descoberto a coisa mais fantástica do mundo. Foi Quentin quem decidiu tomar as rédeas da situação:

— Vamos voltar para a lista. A garota morreu, então ela era a primeira da lista. Quem é o próximo então, René?

O rapaz então se esforçou para pensar.

— Vocês me disseram que a lista leva as pessoas na exata ordem em que elas deveriam morrer na minha visão, certo? Se for assim... — E René franziu o cenho, uma demonstração física do esforço mental que estava fazendo. — A Chrissie morria junto do Aaron. Eu realmente não sei quem morria primeiro.

— Aparentemente ela. — Brody arriscou um comentário. — Então o próximo é esse Aaron.

Ninguém disse nada, então estava implícito que eles concordavam.

— E depois, René? Quem vinha depois? — Hank pediu.

— Nos dê a lista completa, por favor. — Babe falou.

— Eu estou tentando me lembrar! — René disse num rompante. — É muito pra minha cabeça, por favor... — E então o rapaz desmoronou em lágrimas. Ele aparentemente estava guardando aquilo dentro de si desde o momento em que todos invadiram o quarto dele com perguntas. — Eu... Eu estava de férias. Eu só queria curtir um festival de cinema... E daí do nada eu previ aquilo. Aquela catástrofe. Eu salvei vocês... Eu salvei vocês! E agora eu ouço que a morte está atrás de mim, e que eu coloquei vocês numa lista que vai tirar a vida de todo mundo... E... — E as lágrimas caíam com facilidade. — A garota da bicicleta morreu... E o Seu Vlad... Ele só queria se lembrar da esposa...

E estava claro para todos eles que René não teria mais condições de continuar a falar sobre aquele assunto naquele momento. Melissa foi a primeira a sair, após tocar levemente o ombro do rapaz, um sinal de apoio. Brody e Pam saíram em seguida, com a mulher dando um abraço forte no garoto. Quentin saiu sem se despedir, e Zane seguiu o rapaz, com o sagui no ombro. Apenas Babe ficou.

— Nós não temos muito tempo, René. — A ruiva falou. — A morte... Ela é rápida. Você terá o seu tempo para descansar e colocar a cabeça em ordem, enquanto nós procuramos o tal Aaron, mas nós precisamos saber a ordem da lista o mais rápido possível. Esse Aaron é o próximo, mas ele não é o último. Nós o encontraremos e o deixaremos alerta. Mas depois que a vez dele passar... — Babe deu uma pausa, e nenhuma respiração era audível. — Nós precisaremos saber. Saber da lista completa. É a única maneira.

E então a mulher saiu. Apenas Hank, René e Jill ficaram no quarto. A garota continuava sentada ao lado do namorado, com a cabeça em seu ombro, afagando seus cabelos acobreados. O amigo abaixou-se e abraçou o ruivo também, e os três ficaram assim por muito tempo.


x-x-x-x-x

Babe, Quentin e Zane estavam em seu quarto quando o telefone do rapaz negro tocou.

— Quem é? — Babe perguntou.

O rapaz olhou no visor do celular e respondeu:

— É a Amy.

E então entrou no banheiro para conversar a sós com a namorada. Amy, a namorada de Quentin, era mexicana e trabalhava em uma clínica de inseminação artificial que ficava próxima ao hotel onde o rapaz estava hospedado. Ela não sabia nada sobre a lista da morte, apenas que o namorado havia escapado do acidente nas ruínas por pouco. Ela achava-o a pessoa mais sortuda do mundo por isso.

— Eu não gosto dessa Amy. — Zane murmurou, enquanto brincava com o sagui da irmã. O bicho fazia uns barulhos estranhos, mas parecia estar feliz. Se a regra da lista se aplica também aos animais, ele também está marcado para morrer, Babe pensou. Pobre Sugar...

— Nem eu. — Babe confirmou.

O rapaz de boné mantinha os movimentos de vai e vem, enquanto brincava com os dedos das mãos. Para o rapaz era algo involuntário, e para Babe era algo com o que convivia desde que tinha idade para pensar. Zane era autista e, além disso, possuía certo nível de retardamento mental. Fora a irmã quem cuidara dele quase que a vida toda. A mãe dos dois eram uma viciada em drogas, e os abandonou na primeira oportunidade que teve. Babe e Zane então foram criados pelo avô paterno, que os espancava. Quando completou dezesseis anos, a garota assassinou o velho, após ele tentar estuprá-la na frente do irmão, na época com onze anos. Ela lembrava-se da expressão no rosto dele quando ela cortou a sua garganta. Ele era um porco desgraçado e maldito, a garota repetia para si mesma sempre que sentia remorso pelo ato. Eu estava me protegendo. Protegendo a mim e ao meu irmão.

— Nós vamos morrer? — Zane perguntou, de repente, tirando Babe de seus devaneios. Ele é inocente como uma criança de cinco anos.

— Eu não sei. — Ela respondeu. Ela jamais mentira para o irmão, e não começaria naquele momento. — Eu espero que não. Mas eu não posso te garantir isso, Z.

Quando Quentin saiu do banheiro, Babe tentou interceptá-lo com uma pergunta, mas o rapaz pediu que ela se calasse. Então falou:

— A Amy me disse que aconteceu um acidente de lancha nessa madrugada. Apareceu até na televisão e tudo mais. Parece que um rapaz estava fazendo um mergulho a noite, e sofreu um acidente fatal.

Babe fez uma expressão de irritação, e perguntou:

— E...? O que isso tem a ver conosco?

Quentin então respondeu, de maneira sombria:

— Adivinha qual o nome do rapaz?

Quem respondeu aquilo não foi Babe, mas Zane:

— Aaron. Aaron, Aaron, Aaron...


x-x-x-x-x

Em seu quarto, René esforçava-se para lembrar-se da ordem da lista. Ele precisava, era o seu dever. Havia pouco tempo disponível. Depois que Aaron estivesse morto, o próximo já deveria ser avisado para que pudesse se precaver. Eu preciso me lembrar. Pensa, René, pensa.

— Eu posso conversar com você? — Jill pediu, entrando cautelosamente no quarto.

Não Jill, me deixa em paz.

— Claro.

A garota então fechou a porta atrás de si e sentou-se ao lado do namorado. Ela trazia duas sacolas de fast-food em mãos, e entregou uma para René, dizendo:

— São hambúrgueres. A gente tinha combinado que aproveitaria o tempo longe dos pais pra comer todas as bobagens possíveis.

O ruivo sorriu fracamente, tentando demonstrar que estava bem, mesmo que minimamente. Jill não comprou aquela reação, ela conseguia ver além do que René mostrava. Enquanto desembrulhava o seu lanche, falou:

— Eu estou aqui pra te ajudar, bebê. Eu sei que a gente não conversa muito sobre os... Nossos sentimentos. Você não é muito emotivo, e eu também não. E a nossa relação funciona sem precisarmos discutir esse tipo de coisa. Mas eu queria que você soubesse que se precisar conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui. Eu te amo, e eu vou te apoiar não importa qual seja a situação.

E então a garota se levantou, preparando-se para sair. Mas René então tocou o braço dela, e disse:

— Fica.

Jill virou-se no mesmo instante, e voltou a se sentar.

— Eu também te amo. De verdade. Você é a garota mais doce que eu já conheci, e eu quero me casar com você.

A garota riu. Falou:

— Eu também quero me casar com você René.

Mas o rapaz não se deu por vencido.

— Não, eu quero dizer... Hoje. Agora.

— Como?! — Jill não entendeu.

— Olha, Jill. — René então segurou a mão da namorada entre as suas. A diferença dos tons de pele dos dois era bonita de se ver. A pele de René tinha uma tonalidade pálida, quase da cor de gesso. Já Jill tinha uma pele acobreada, um pouco mais escura. — Eu não sei quanto tempo de vida essa lista vai me deixar ter. E... Eu preciso começar a realizar algumas coisas. Alguns sonhos.

Ele está maluco, Jill pensou. Mas ela jamais poderia se recusar a embarcar naquela maluquice.

— Tudo bem então. Quando nos casamos?

— Daqui algumas noites. Depois que eu me lembrar de quem é o próximo.

— Fechado. E onde?

— Na capela. — René respondeu solene. Ele falava quase sussurrando, como se estivesse contando um segredo. — Ela fica há algumas quadras do hotel. Nós podemos sair escondidos e irmos para lá.

— Mas e o Hank? E a oficial Marina? Ela não vai nos deixar sair daqui.

René sorriu, e Jill se derreteu.

— Por isso mesmo eu disse que nós vamos sair escondidos. — E então suspirou. — Claro que eu preferia um casamento mais sofisticado. — Brincou. — Com muitos convidados, e arroz, e pombos. E você usaria um vestido belíssimo, e haveria holofotes e...

E então René ganhou um presente da memória. Com um click a palavra “holofotes” lembrou-o de quem era a próxima pessoa na lista depois de Aaron. Antes que o rapaz pudesse dizer aquilo para Jill, seu iPhone tocou. O ruivo parecia em transe, e não atendeu. A namorada fez isso por ele:

— Alô?

Jill, é você? — A voz do outro lado perguntou. — Aqui é a Babe. O Aaron está morto. Ele morreu durante a noite, eu acredito que ao mesmo tempo que a Chrissie. Já é a vez do próximo, nós precisamos saber quem é. Nós precisamos que René se lembre.

— Ele não... — Jill começou, mas foi interrompida por René, que tomou o celular da mão dela e disse:

— Subam aqui agora. Eu me lembrei de quem é o próximo.

Holofotes para uma atriz. Cherry.

x-x-x-x-x

Hank esperava impacientemente no bar do hotel. Ele havia combinado que traria René para conversar com Marsellus, mas com tudo o que estava acontecendo aquilo seria impossível. Foi então que o ruivo lhe deu uma ideia: ele aproveitaria o encontro e contaria ao homem e à Helena sobre a lista. Eles podiam ser céticos, o rapaz sabia, mas ele já estava armado: em seu iPad havia uma lista de sites relacionados com a lista da morte e as criança índigo. Um deles inclusive era administrado por Babe. Eles precisam acreditar.

— Sua mãe sabe que você está aqui? — Hank ouviu uma voz masculina dizer, e virou-se rapidamente. Era Marsellus.

O homem sorriu com a maneira assustada com que Hank reagiu. Ele estava vestido de maneira bastante informal, com uma camiseta listrada de vermelho e branco e cujas mangas iam até a metade do seu antebraço. Em suas pernas havia um par de calças cáqui que iam até um pouco antes do seu tornozelo, e em seus pés um par de Toms. Seu visual era completado com uma elegante boina marrom.

— Desculpe por assustá-lo. Não vai se repetir. — Marsellus garantiu.

Hank estava confuso. Ele lembrava-se claramente do homem, então tinha certeza que aquele era a mesma pessoa. Mas, por outro lado, a personalidade de Marsellus parecia estar completamente mudada. Nas ruínas ele reagira com fúria, como um animal. Ali no bar, por outro lado, parecia ser a pessoa mais doce do mundo.

— Posso lhe pagar um... Chá gelado? — O loiro arriscou.

— Pode ser. Embora eu preferisse uma caipirinha.

Marsellus surpreendeu-se, e ergueu uma sobrancelha. Disse:

— Caipirinha? Não sei nem se vendem esse tipo de coisa para garotos da sua idade.

Hank desafiou:

— Eu sou maior de idade.

O outro homem então deu com os ombros, e pediu:

— Tudo bem então. Duas caipirinhas. — E após alguns segundos: — E o outro rapaz? O ruivinho? Ele não vem?

— Então, sobre isso... — Hank respirou fundo. — Existem muitas coisas que eu preciso te contar.

Marsellus sorriu de modo debochado:

— Uau, isso parece sério. Eu esperava que nós conversássemos um pouco e eu combinasse de pagar o dente perdido do rapaz e seria isso. Mas, bom, parece que as coisas estão tomando um rumo muito mais interessante...

Hank sorriu de modo sem graça, sem ter certeza de como deveria reagir. Marsellus o deixava desconfortável, sem saber direito como reagir. Em geral o mágico era ótimo com as palavras, e tinha uma retórica incrível. Mas na presença daquele homem o rapaz parecia ter perdido completamente as habilidades de comunicação.

— Ah, as caipirinhas chegaram. — O loiro disse, quando o garçom trouxe as bebidas. — Só pra ter certeza... Quantos anos você tem mesmo?

— Dezoito. — Hank respondeu.

— Você não está mentindo, não é? — Marsellus insistiu, embora de modo doce.

— Não. — O mágico garantiu. — Por que eu faria isso?

Oh, rapaz, você não imagina os motivos que levam as pessoas a mentirem a sua idade.

— Por nada. — Marsellus falou. — Agora me conte: por que o ruivinho não está aqui, e qual é o assunto que você precisa tratar comigo.

— Tudo bem. — Hank tomou fôlego. — Mas seria melhor se a sua mulher estivesse junto...

Marsellus ergueu um dedo, pedindo licença para falar:

— Ela não é a minha mulher. E ela não está no hotel. A Helena foi procurar um jatinho particular que possa nos levar para casa, já que os aviões não estão querendo decolar com o furacão que está vindo. Mas eu posso repassar todas as informações para ela quando nós nos encontrarmos.

Isso é ruim. Hank sentir-se-ia mais confortável se pudesse contar sobre a lista e tudo mais na presença de Helena. Ele não conhecia a mulher, mas ela parecia ser calma e sensata. Fora ela que impedira que Marsellus espancasse René, e fora ela que tentara mediar a conversa entre os dois. Se as coisas saíssem do controle ali, e o homem resolvesse que a conversa de Hank sobre uma “lista da morte” merecia uns sopapos, só Helena poderia salvar o mágico. Marsellus era alto e forte, e, embora Hank não fosse fraco fisicamente, com certeza não seria páreo para o homem.

Hank suspirou uma última vez e então começou a contar à Marsellus tudo o que sabia sobre a visão de René e a lista da morte.


x-x-x-x-x

— O homem da recepção disse que não existe ninguém com o nome de “Cherry” hospedado aqui. — Babe garantiu.

O grupo havia se reunido no quarto de René mais uma vez, e só Hank e Zane não estavam ali. O mágico estava conversando com Marsellus, e o irmão de Babe estava em seu quarto de hotel brincando com Sugar.

— Você tem certeza que é esse o nome dela, René? — Pam perguntou. — Não pode ser um apelido?

O ruivo então falou:

— Provavelmente é um apelido sim. Na verdade um... Nome artístico.

— Nome artístico? Ela é uma atriz? — Brody ficou confuso.

René teve vontade de rir, mas então reparou na situação em que eles estavam e reprimiu o sorriso. Aquele não era o momento apropriado.

— Ela é uma atriz... Pornô. — O ruivo disse meio encabulado. — O nome artístico dela é Cherry Fox, mas eu não sei como ela se chama de verdade.

Ao contrário do que o rapaz esperava ninguém deu bola para a informação de que a garota era uma atriz pornô. Pam disse:

— E você tem certeza que ela está hospedada aqui?

René afirmou com a cabeça, mas então teve um estalo:

— Na verdade não. Ela disse para o Hank que ela mora aqui. Ela é cantora no bar do hotel.

Pam então teve um estalo:

— Bingo! Vamos para lá, algum dos garçons deve saber o nome verdadeiro dessa garota e onde ela está.

Todos concordaram, mas então Babe teve uma ideia melhor:

— Nós somos muitos. É inútil todo mundo ir atrás dessa Cherry. Não vai ajudar em nada. Deveríamos nos dividir e realizar tarefas que possam ser mais benéficas, que possam nos ajudar.

Pam foi a primeira a concordar:

— Perfeito.

Babe então começou a dar as coordenadas:

— Quentin, você pode levar o Zane ao parque? Eu queria que ele ficasse afastado de tudo isso.

O homem de dreadlocks concordou com um aceno, e então Jill ergueu a mão e perguntou:

— Eu... Posso ir junto? Eu preciso me distrair um pouco. Quer dizer, se você não se importar René.

O ruivo meneou a cabeça como a dizer que não tinha problema. Babe continuou:

— Então vocês três vão ao parque. Eu posso ir atrás de Cherry. Quem vem comigo?

Melissa e Brody levantaram a mão. Pam falou:

— Eu e o René ficamos. Eu vou ajudá-lo a se lembrar do restante da lista.

Aquele parecia um bom plano, especialmente para René. O que ele menos queria era ir atrás de Cherry e correr o risco de vê-la morrendo. Além disso, ele precisava se lembrar do restante da lista, e Pam parecia ser a pessoa mais indicada para ajudá-lo. Ela era doce e gentil, e o lembrava de sua mãe Dawn. Seria agradável passar algum tempo com ela, especialmente levando em conta que ele poderia ser útil pelo menos uma vez.

— Parece que nós temos um plano de jogo. — Babe confirmou. — Agora vamos agir.

E ela saiu do quarto com rapidez. Melissa a seguiu sem titubear, e Brody também. O rapaz abraçou fortemente a mãe antes de sair, e sussurrou:

— Eu te amo.

Aquela frase soou agourenta para Pam, e ela manteve o abraço por vários segundos. Disse:

— Eu também te amo muito. Mais do que tudo, meu amor.


x-x-x-x-x

— Uma festa?! — Babe repetiu, incrédula.

— Sim senhorita. É na mansão do Falcon, ela fica há poucos quilômetros daqui. Eu posso lhe dar o endereço se estiver interessada. — O rapaz do balcão garantiu.

Fora fácil descobrir quem Cherry era. Qual o seu nome real e onde ela estava. Aparentemente a garota tinha saído para ir até a festa de um sujeito chamado Falcon. Babe tinha um poder de persuasão absurdo, e o barman por coincidência era um bom amigo da tal Amanda Rojas. Melissa não pôde deixar de pensar que o nome real dela era muito mais bonito que o seu nome “artístico”.

— Nós não precisamos de convite para essa festa? — Brody perguntou.

— Sim. — O barman explicou. Mas então continuou, após algum gaguejo: — De qualquer forma vai ser fácil vocês entrarem sem convite, se realmente estiverem interessados. Os seguranças são bem liberais, sabe como é? Mas eu não sei se esse tipo de festa é pra vocês dois. — Ele terminou apontando para Melissa e Brody.

— Por quê? — Babe perguntou, temendo estar sendo ofendida.

O barman então sorriu maliciosamente e falou:

— É uma festa de atores pornôs.

Oh, Deus, por que eu não estou surpresa?

Babe bufou e pegou o endereço da mão do rapaz, agradecendo-o com um beijo no rosto. Os três seguiram pelo saguão do hotel, e a tatuada disse:

— Vamos no carro que eu aluguei.

Melissa e Brody não discordaram. A ruiva entrou no veículo e Melissa sentou-se ao lado dela, no banco do carona. Brody entrou atrás, e rapidamente colocou o cinto de segurança. Babe achou graça da cena, e riu. Disse:

— Eu não acho que na nossa situação um cinto de segurança vá ajudar.

O rapaz não deu muita bola pra ela, e ficou em silêncio. Melissa suspirou, e declarou:

— Então vamos lá. Deter a lista da morte uma pessoa de cada vez.

Babe concordou com um aceno, e deu a partida do carro.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo está quase todo escrito, então postarei em breve. Nele a trama do futuro volta a aparecer e teremos mais uma morte! (não necessariamente a de Amanda...). Abração e comentem :D