Sinto a presença de Pach deitado meu lado, mas não abro os olhos. Deslizo a mão em seu abdômen torneado e sinto seu queixo pousar no topo da minha cabeça. Me permito desfrutar desse momento singelo ao máximo pois minha intuição me dizia que essa calmaria era passageira.

Estar assim tão perto dele é como estar num sonho... Não consigo conter o sorriso com esse pensamento. “Ora não seja ridícula Nora, você está sonhando!”

Com um suspiro desfaço nosso abraço e me levanto para encará-lo. Pach levanta os braços e os coloca atrás da nuca. Já chega de descanso é hora de encarar a verdade.

Não digo nada e o só o encaro. É a vez de Pach suspirar. Desce os braços e se coloca numa postura ereta quando começa a falar.

_ Eu realmente achei que pudesse convencê-los. Mas francamente acho que todos estão ansiando por essa guerra. O Cheshvan se aproxima, estão agitados.

_ Os Caídos querem a guerra?_ Perguntei perplexa. Pach confirma com o olhar e continua.

_ Não foi tão difícil assim achá-los. Na verdade acho que os líderes dos Caídos não têm medo nem um dos nefilins. Gastei um bom tempo com eles jogando sinuca e carteado preparando o terreno para tentar convencê-los de desistir dessa guerra. Fiz isso com os de Bar Harbor, Sanford, Presque Isle. Percorri toda Coldwater a procura deles. Mas já ficou evidente que eles querem por um fim na rebeldia dos seus brinquedinhos aqui da Terra. Quase me meti numa encrenca em Portland com um grupinho indignado com a possibilidade de desistir da guerra. Não sei por que mas todos os lideres e grupos pareciam estar ligados. Com as mesmas opiniões, informações, planos, objetivos... Estão sendo comandados por alguém.

Estremeço ao ouvir isso pois nunca me ocorrera que Hank era o comandante da rebelião nefilin, porque então não haveria um comandante da parte dos caídos? Se for o caso essa pessoa é meu inimigo direto visto que ocupamos o mesmo cargo nessa guerra. Começo a sentir uma ponta de raiva dos anjos caídos. São eles que possuem os corpos dos nefilins e fazem deles o que quiserem sem temer nem mesmo a morte de possuído.

Não me dou ao luxo de compartilhar esse pensamento com Pach. Ele é um anjo caído afinal de contas. Em vez disso lanço um olhar de interrogativa e Pach continua.

_ Não posso sequer imaginar quem possa ser. Deve ser um recém caído. São os mais rancorosos. De qualquer forma tenho que pensar na sua segurança Nora. Logo os nefilins vão exigir que você se apresente como líder e não vão aceitar um não como resposta.

_ Por que é que eu não digo que o cargo esta vago sei lá! Pach já te disse eu não pedi isso pra mim! Não quero liderar nada e ninguém. Qualquer nefilin que se preze adoraria estar no meu lugar. _ Pach não se altera com meu súbito ataque de histeria e prossegue com as palavras tão serenas quanto antes.

_ Você sabe que não é tão simples assim Nora. Mão Negra foi um ícone nefilin. Eles o respeitavam, o temiam. Você é filha dele. É uma honra servir a você._“Servir a mim? Se querem mesmo me servir tragam uma Coca Cola e caiam fora da minha vida!”_ Não vão simplesmente eleger um líder entre eles, isso causaria um conflito interno.

Suspiro. Isso tudo já fora discutido antes e foi assim que chegamos a conclusão que Pach deveria usar sua influência para convencer os caídos a não entrarem na guerra. Também concluímos na ocasião que se Pach fracassasse nessa missão eu não teria outra escolha do que a de me apresentar aos rebeldes nefilins como sua comandante.

Podem me chamar de tola, mas tenho pessoas que são importantes pra mim no Maine. Fugir daqui poderia expor-las e não posso fazer isso. Preciso protegê-las. Porem me sinto tão indefesas quanto elas. Um pensamento frustrante me percorre a cabeça quando lembro de Dabria, a ex maluca de Pach, quando ela me jogou contra uma parede de vidro com um simples empurrão.

_Pach quero que você me treine._ Digo determinada. Pach levanta as sobrancelhas e abre um sorriso misturado de surpresa e diversão.

_Anjo?

_Quero aprender a lutar, quero saber me defender quando for preciso e não depender só de você. Estamos em guerra Pach! Não posso ficar esperando você toda vez que um nefilin maluco ou um caído tente me matar!

Ele parece considerar minhas palavras por um instante. Depois desvia atenção para um cacho de cabelo rebelde prende delicadamente atrás da minha orelha direita.

_Você não tem noção do quanto é forte Nora. Está certo. Eu te pego todo dia depois das oito. Quando as aulas começarem te pegarei na escola.

Abro um sorriso. Pach me puxa pela cintura pra mais perto dele e esconde o rosto na dobra do meu ombro. Subitamente esqueço de tudo o que conversamos quando sinto seus lábios subindo devagar até minha boca. Só existe Pach aqui e agora, nada de rebeliões ou planos malucos. Ele me deita na cama e eu fecho os olhos. De repente não sinto mais o cheiro de sabonete ao meu lado e o quarto esta vazio quando torno a abri-los. Já esta claro lá fora.

Um segundo mais tarde ouso um toque na porta que me faz dar um salto pelo susto. Minha mãe aparece com um sorriso.

_Bom dia dorminhoca! Está um dia lindo e a Vee ligou._ Ela senta na beirada da cama e me abraça_ Mas quero aproveitar um pouquinho de você antes de sair_ Diz com a voz dengosa._Que camisola linda filha!

_ Já vou descer_ Digo com um sorriso sonolento.

Depois que minha mãe sai dou uma olhada no quarto como se esperasse que Pach sairia de baixo da cama ou do guarda roupas mas nada acontece. Sorrio e vou para o banheiro. Apanho a escova e levo um sustinho quando olho pro espelho rabiscado de batom rosa.

“Adorei a camisola”

Rio enquanto penso que tenho que parabenizar Vee pela aquisição pois fez grande sucesso. Pach odeia quando uso maquiagem mas quando Vee descobrir o que aconteceu com o seu Karol Beauty com certeza vai me matar!