Meu Caminho, Minha Alma escrita por Beatriz Gallardo


Capítulo 24
Castelo de algodão




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Acabava de sair de mais uma briga. Odeio brigas. Não discuti, nem ao menos abri minha boca, sai correndo, me tranquei em meu quarto. Abri a janela e senti o frescor da liberdade de toda essa loucura. Não, meu quarto não era no térreo, tinha um telhado logo afora. Sai, fiquei sobre as telhas com cuidado por um momento. Olhei o céu estrelado e me sentei antes de ter a chance de escorregar e cair.

Mente perturbada. Mente perturbada. Ele diz que eu tenho a mente perturbada. Eu sou normal, sou... Ele diz que eu tenho problemas, quer que eu vá no psicólogo, não percebe que é isso que me deixa fraca e me faz querer desistir.

O celular vibra em meu bolso e uma mensagem sua esta na tela. "Ai esta você de novo não é? Suas lágrimas estão sempre ecoando na minha mente quando sinto que você não esta bem. Vem logo, estou te esperando no mesmo lugar de sempre".

Não pensei duas vezes, me escorei ainda no telhado, rente a parede. Desci pela parede que tem uma daquelas cercas vivas, aquelas paredes que parecem feitas ou mesmo possuídas por plantas. Sim, quebrei um monte de galhos, mas desci em segurança.

Andei devagar, tentando não fazer muito barulho enquanto pisava nas muitas folhas no chão, era outono. Pouco depois encontrei a arvore, subi pela escada de madeira e entrei pela portinhola da casa na arvore.

Um sorriso me esperando, o violão teu colo. A pergunta de sempre, qual musica eu desejava ouvir.

- Qualquer uma.

- Qualquer uma? Não, não e não. Escolha uma.

- Não tenho nada em mente. - Disse após um momento.

- Me diz como se sente e eu toco algo que te faça sentir o contrário. - Sorriu.

- Me sinto vazia, incapaz. - Suspirei e deitei no chão de barriga pra cima.

Você não respondeu, não tocou nada. Silencio. Um silêncio que nunca tinha ouvido antes, um que cortou minha alma. Tive medo de olhar pra você e não te ver, descobrir que era fruto da minha imaginação, descobrir que todos estão certos. Enfrentei o medo e lhe procurei com os olhos. Estava lá, rosto pálido, olhos vazios me observando.

- Isso dá medo. Não pode apenas tocar?

- Desculpe. - Disse em seguida. Olhou para baixo e sorriu por um momento. - Cante.

Minha boca ficou seca. O que você queria afinal? Vendo meu espanto você riu.

- Vamos, cante! - Pausou e falou mais uma vez, animadamente: - Cante!

Demorou pra me convencer, mas acabamos por passar a madrugada ali, criando, inventando, imaginando... Compondo.

Esta bem, não fizemos nada grandioso, apenas algo simples, e muito curto. Aliás, só conseguimos por causa dele, que entendia muito de musica, diferente de mim, que apenas ouvia quando ele tocava.

Me lembro perfeitamente do dia que apareceu no telhado sussurrando a letra pra mim. Uma despedida. "Adeus, honey". Você já devia ter ido naquela altura, mas voltou para me dar um beijo na testa.

Sei que você foi quem mais me ensinou, e foi com aquelas palavras que me fez levantar e seguir em frente. Foi com aquelas palavras que provei que não precisava de psicólogo algum. E até hoje quando sinto tua falta, quando sinto que preciso te procurar na casa da arvore, sussurro a letra da nossa canção e lembro das palavras que sussurrou no meu ouvido aquela noite: "Você é mais forte que tudo isso".


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