Mudança De Vida escrita por lovelikepercy


Capítulo 2
Uma lista


Notas iniciais do capítulo

Esse ficou um pouco grande, mas com o passar do tempo fica menor



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Uma lista. Tenho que começar a fazer uma lista. Uma lista das coisas que estão erradas comigo. Dificuldades, problemas que precisam ser resolvidos. Sabe, eu não vou a uma terapeuta, então me contento em escutar os conselhos de Simon. Eu ainda não entendo porque ele começou a andar comigo.

Simon é o garoto perfeito para a maioria das garotas: é alto, forte e tem dentes muito brilhantes. Sem falar na semelhança absurda que ele tem com o Johnny Depp mais novo. Um Johnny com um corpo mais definido e cabelos muito pretos. Fora isso, tem senso de humor e é esperto. Não posso deixar de fora o fato de ele saber que é bonito e mesmo assim não agir como um completo babaca.

De acordo com ele, se um cara com mãos artificiais é capaz de tocar piano, eu sou capaz de lidar com os meus problemas. Simon diz que para isso, antes de tudo, eu tenho que fazer uma lista e reavaliar a minha vida.

Como eu estou na aula de matemática, eu provavelmente não deveria estar fazendo isso, mas já estamos no fim de uma tarde de sexta-feira e eu já passei em matemática. Assim, eu pego um papel e começo a escrever.

Não consigo me concentrar nas aulas. Shannon é uma garota nojenta e metida que deveria ir fazer um passeio no inferno, que está me impedindo de crescer como pessoa. Acho que julgo demais as pessoas. Eu acho que estou ficando maluca. (isso não é necessariamente verdade, mas Simon diz que ver coisas “estranhas” não é sinal de sanidade mental, então achei bom colocar na lista). Minhas notas estão piores que nunca.

Vou falar de cada item da lista individualmente, como Simon disse que eu deveria fazer. Primeiro, vou começar com o item numero 1.

                Um ano atrás descobri que tenho DTDA. Para adolescentes do dia de hoje, isso é normal, como todos sabem. O que a maioria não sabe é que, para alguns, ter DTDA significa algo a mais. Alguns, como eu, são semideuses. Seu cérebro não consegue se focar em apenas uma coisa, porque está pronto para o combate.

                E, é claro, que seu cérebro não vai te ajudar nem um pouquinho durante as suas provas. E é por isso que temos que estudar mais que todos. Mas, adivinha só? Não temos tempo para estudar já que, em geral, estamos combatendo o mal que, vocês mortais, nem sabem que existe. Se não bastasse todo o dia apresentar um novo desafio: de que modo mostrar o boletim para seus pais? É simples:

- Que notas são essas? – sua mãe, ou pai, vai perguntar quando vir aquele boletim cheio de 1 e 0 (a menos que você seja filho de Atena, mas esse é um tópico para mais tarde).

- Ah, bem, as notas de alguém que, além de ter déficit de atenção, tem que se preocupar em salvar o mundo. – você vai responder.

                Bom, essa técnica não funciona com todos. Por exemplo, alguns dos pais mortais nem sabem que a mãe ou o pai de seus filhos é um deus grego de um milhão de anos. A minha mãe é um exemplo perfeito disso. Aparentemente meu papai estava ocupado demais para avisar para a minha mãe. Se bem que isso iria, provavelmente, interferir no acasalamento dos dois.

- Hm, oi. Sou um deus/deusa grego(a) que supostamente não deveria existir. Que tal a gente dar uns beijos e depois eu te entrego nosso(a) filha(o).

                Quer uma fala mais “corta clima” que essa? Quem sabe talvez essa consiga superar esse negócio de deus grego:

- Eu sou metade bode. Que tal a gente dar uns beijos?

                Isso sobre metade bode é um tópico que você logo, logo vai ouvir de novo, mas agora não é a hora certa. Como você pode ver, tenho muitos tópicos para discutir com você, mas vou ir com calma.

                Antes de eu me perder completamente na história de frases corta-clima, eu estava falando sobre o que mesmo? Ah, sim! Déficit de atenção. Hm, acredito que já tenha dito tudo que vocês precisam saber. Só falta um aviso em relação à esse tópico:

Se você tem déficit de atenção e vê coisas estranhas, você vai ter um grande problema. Quando você começar a se identificar com as coisas que eu digo, acho que é hora de você ter uma conversa com seu pai/mãe biológico e pedir algumas explicações em relação à sua origem.

                Então... Tópico dois!

                Shannon é a típica garota metida que toda escola tem. Acho que nunca vi ela repetir nenhuma roupa ou sapato. Além de ser bonita e ter estilo, ela consegue fazer todas as pessoas se sentirem um completo lixo. Quem precisa de diabo quando se tem uma Drew na vida?

                Simon me diz que eu exagero a seu respeito. Bom, talvez seja porque ela é a sua namorada. Pessoalmente, eu acho que Simon arranjaria melhor, se procurasse. E eu não estou dizendo que gostaria de ocupar o cargo de Drew. Talvez só um pouquinho.

                Depois de uma séria discussão, eu e Simon chegamos a uma conclusão que eu não concordo muito: eu julgo demais as pessoas. Vamos falar sério, pelo amor de Deus, quem nunca fez um ou dois comentários sobre uma pessoa? Quem é que pode resistir? Eu, pelo menos, não posso.

                Chega de falar sobre o tópico dois, já me cansei dele. Isso nos leva ao tópico 3: insanidade mental.

                Faz dois meses que eu tenho tido esse sentimento. Eu tenho tido muitos “dejavus” e visto muitas coisas estranhas. Quando comentei isso com Simon, tivemos o seguinte dialogo, logo depois na aula, na minha casa:

- Defina coisas estranhas. – ele pediu.

- Como assim definir coisas estranhas? Coisas estranhas são coisas estranhas, ué. – eu reclamei. Parecia bastante obvio para mim o que eram coisas estranhas. Mesmo assim, Simon continuou me encarando, esperando uma definição. – Ai, droga Simon. Será que eu tenho que te explicar tudo? – mais um momento de Simon me encarando. - Ontem, eu vi uma mulher com a metade inferior do corpo igual à calda de uma cobra. Ela tinha escamas.

- Mulher metade cobra? – Simon perguntou, sem conseguir disfarçar um sorriso maldoso. – Vamos lá Anya, você consegue inventar histórias melhores. Lembro quando você “viu” um urso dirigindo um taxi.

- Eu estou falando sério! – retruquei, dando um tapa em seu ombro. – E não faça piadas sobre o urso. Eu juro que vi.

- Ah, tenho certeza que viu. – ele respondeu, rindo.

- Como eu dizia... A mulher cobra estava me encarando. Era bem bonita na sua parte humana, apesar de parecer pronta para me atacar. Quando a vi, eu estava na Wall Street e...

- Calma, na Wall Street? – ele perguntou, me interrompendo.

- Sim, por quê?

- Ah, qual foi Anya? É claro que era alguém vestindo uma fantasia. Você estava na Wall Street. A rua das maluquices. – Simon falou, jogando um travesseiro na minha direção.

                Naquele momento eu parei para pensar: fazia sentido. As coisas mais estranhas que eu já tinha visto, havia sido na Wall Street. Mas então eu me lembrei dos olhos verdes e maldosos da mulher, me encarando, como se examinassem cada canto da minha alma. Peguei o travesseiro e joguei em Simon:

- Não era uma fantasia. – afirmei. Simon continuou com um olhar descrente, esperando que eu terminasse de contar a minha maluquice. – Eu tenho certeza que não era. Continuando... Ela me encarava como se dissesse “ei, eu vou te matar”. Ela começou a vir em minha direção, mas um ônibus passou na frente da mulher, a tirando da minha vista. E então, adivinha?

- A mulher magicamente desapareceu. – Simon adivinhou, rindo.

- A mulher magicamente desapareceu. – concordei, fazendo uma voz meio mística.

                Depois disso, Simon chegou à conclusão que eu andava muito estressada com as provas finais. Hoje eu paro e penso: como eu queria que Simon estivesse certa e tudo fosse culpa das provas finais. Acontece que nada na minha vida é tão simples assim.

                 Item 4: notas vermelhas. Olha, eu estou acostumada a receber o boletim e ter aquele mini ataque cardíaco, mas as minhas notas estão cada vez piores. Mesmo eu me esforçando nas aulas e tendo aulas de recuperação com Simon, nada parece funcionar.

                Eu recebi o boletim. Como eu sabia que minhas notas estavam horríveis, resolvi que queria ter apoio quando mostrasse para ela, então levei Simon junto, que por acaso minha mãe ama.

- Oi senhora Sarah. – Simon cumprimentou, com a voz mais educada que ele conseguiu. Como sempre, minha mãe bagunçou o cabelo de Simon e ofereceu biscoitos. – Não obrigada, acabei de comer.

- Mãe.... O Simon tem uma noticia para te dar. – anunciei, aproveitando que ela ainda estava sorrindo.

- Eu? – Simon perguntou, surpreso.

                Hora da confissão: assim que tirei o meu boletim da mochila e dei para Simon, eu saio correndo da cozinha onde estávamos. Olha, eu não queria deixar o Simon naquela situação, mas ele levava muito mais jeito com a minha mãe que eu. Quando eu disse que queria que ele fosse comigo, não disse que ele que iria dar o boletim, por isso, depois que sai da sala, Simon não soube muito bem o que fazer. Suspeito que a conversa dos dois tenha sido mais ou menos assim:

- Bom, Sarah... A sua filha meio que me deixou na mão, eu não sei muito bem o que dizer. Então... Bem, tome. – Simon iria falar e então entregar o boletim.

- Duvido que as notas dela tenham piorado tanto assim e... – e então ela iria abrir o boletim e soltar alguns palavrões.

                Depois disso, eu fui chamada para entrar na cozinha de novo. Pela primeira vez, minha mãe pediu para que Simon fosse embora. E eu tive uma briga com minha mãe.

- Anya, você pode me explicar isso? – ela perguntou, balançando o boletim.

- Bem, o conceito é simples: é um pedaço de papel onde as notas de todas as minhas provas estão escritas. Se chama boletim e... - eu comecei a explicar, evitando dar uma resposta séria, mas o olhar de total ódio da minha mãe me fez parar.

- O que você acha que seus professores vão falar se eu for até eles? – minha mãe perguntou, parecendo mais cansada que nunca.

- Tenho certeza que todos vão concordar que eu estou sempre lá, com um lápis e preparada para absorver conhecimento. – respondi, me sentando em uma das cadeiras.

- Eu estou falando sério, filha. – ela falou, sentando em uma cadeira na minha frente.

- Fala sério, mãe! O que essas notas estão definindo? – reclamei.

- Estão definindo se você vai sair com Simon esse fim de semana. – ela falou. Depois disso, olhou para o boletim, como se o examinasse: - E adivinhe só?

- Eu suspeito que eu não vá sair com Simon, certo?

- Você é tão esperta! – ela falou, fingindo uma voz orgulhosa. – Não sei como não tirou notas melhores.

- Já entendi.


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