Amnésia escrita por Silvia Moura


Capítulo 19
Capítulo 19




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Silvia estava deitada sobre o peito de Loki e ele acariciava-lhe os cabelos, amorosamente. Estavam felizes, estavam juntos e ninguém os separaria. Mas Silvia agora tinha muitas perguntas a serem feitas e Loki sabia disso, estava disposto a responder a cada uma delas.

– Quem é aquele que foi atrás de você no restaurante?

– Thor. Meu irmão mais velho. Adotivo.

– Adotivo?

– É... é uma história complicada... Eu quero te contar, mas... esse é o momento?

Ela ergue o olhar até os olhos dele.

– Eu não quero te forçar a nada, mas eu quero saber quem você foi, quero conhecer sua vida.

– Tudo bem, então vai ser agora mesmo. Vai ser melhor se eu falar de uma vez.

– Estou ouvindo.

Loki suspira fundo e começa sua história:

– Eu venho de um outro mundo, Silvia. Asgard. Um mundo de seres poderosos, com mais longevidade, e, como é naturalmente visto, mais superiores que vocês, da Terra. Essas características fazem com que os humanos nos tomem por deuses.

– Espera. Por isso você me chamou de “mortal” lá no restaurante?

– Isso.

– Então vocês... não morrem?

– Morremos. Mas chamamos vocês de mortais porque nosso tempo de vida é muito, mas muito, maior do que o tempo de vida de vocês. Se um mortal e um asgardiano nascem no mesmo momento, o humano vive cerca de 90 anos e o asgardiano vive 3. Você não imagina quanta coisa eu já vi acontecer no seu mundo, Silvia. Já ouviu falar dos vikings, né?

– Claro.

– O meu povo é a mitologia deles, assim como o Olimpo é a mitologia dos gregos e romanos.

– Você tá me dizendo que esses deuses, todos eles, existem? Tipo, Odin e Zeus?

– Exato. Só que Zeus não interfere no caminho de Odin e vice-versa. A esfera de poder de Zeus é a mesma do meu irmão, Thor. Mas gregos são gregos, nórdicos são nórdicos. Não interferimos em nada e eles não nos atrapalham também. Mas isso não tem a ver com a minha história. Vamos voltar.

– Claro.

– Eu vivi minha vida toda toda me sentindo inferiorizado. Desde sempre eu sentia que tinha que me esforçar demais pra conseguir chegar aos pés da grandeza que meu irmão tinha sob os olhos dos meus pais e de todos em Asgard. Sabe, o Thor sempre foi o herdeiro, o digno de atenção, o bonito... enfim, eu nunca fiz muito sucesso.

– O que, sinceramente não dá pra entender, porque você é lindo. Mas é melhor assim, você é meu e só meu agora – ela brinca.

– Sim, só seu – ele sorri e a beija apaixonadamente. – Eu nunca liguei muito pra isso, na verdade. Thor é que se aproveitava das conquistas, eu sempre fui mais racional, mas planejador. E eu gastei todo o meu tempo tentando me provar valoroso aos olhos, principalmente, do meu pai, mas eu nunca conseguia. Era sempre o que Thor fazia, o que Thor dizia... Foi, contando no seu tempo cronológico, a mais ou menos um ano e meio atrás que tudo fez sentido na minha cabeça. Meu irmão inconsequente resolveu ir a Jotunheim, mundo dos gigantes de gelo, retaliar (contra a vontade de meu pai) uma invasão a Asgard, uma quebra no acordo entre meu pai e o líder de gelo, Laufey. Essa invasão aconteceu no dia em que Thor seria nomeado o novo rei, em sucessão a Odin, então ele queria mais uma vingança pessoal do que justiça. Eu não podia deixar isso acontecer.

– Entendo. Você contou ao seu pai, não foi?

– Foi. E ele baniu Thor para a Terra, sem poderes, para que ele aprendesse a ser humilde e obediente. O banimento não era minha intenção, eu só queria fazer o certo. Mas antes disso acontecer, lá em Jotunheim ainda, um gigante de gelo tocou meu braço. Eu devia ter sido queimado, mas meu braço ficou azul, exatamente a mesma cor dos jotuns.

– Você é um gigante de gelo?

– Sou.

– Fala sério, não tão gigante assim né? – Silvia não resistiu à brincadeira.

– Isso não teve graça, tá? – Loki respondeu, mas sem conseguir esconder um sorriso.

– Desculpe, continue.

– Enfim, enfrentei meu pai e ele me contou a verdade. Eu era filho de Laufey. Eu sou filho de Laufey. Eu fiquei tão enfurecido. Ele devia ter me contado antes, devia ter contado que eu era filho do arqui-inimigo dele. Tudo fez sentido. Depois disso muita coisa aconteceu. Você com certeza soube daquela confusão em Nova Iorque há alguns meses, não soube?

– Claro, robôs do espaço... Não é difícil acreditar em você por causa daquela confusão.

– Bom... aquilo foi culpa minha. Os Vingadores, os heróis, lutaram contra mim naquele dia.

– E cá estou eu, “dormindo com o inimigo”, é isso? – ela pergunta, sorrindo.

– Exato, sua terráquea traidora que eu amo demais – ele responde com um beijo.

– Eu também de amo, seu criador de confusão!

– Depois de tudo isso, eu fui levado de volta a Asgard, pra ser julgado. Mas eles não puderam me prender. Um novo e desconhecido exército resolveu atacar Asgard e... bom... eu sempre fui o melhor planejador que eles tinham, apesar de nunca reconhecerem. Propus a meu pai, que agora você sabe ser adotivo, que me deixasse me redimir ajudando-os a derrotar esse novo exército. Ele permitiu. Foi o erro dele.

– O que foi que você aprontou?

– Eu sou o deus das trapaças, Silvia. Ninguém me engana, mas eu engano qualquer um. Menos você, eu juro. Bom, foi fácil me fazer de bonzinho, mas enquanto eu traçava estratégias para o ataque, também criava meu próprio plano de dominação. Eu nunca quis fazer mal a Odin, o considero um verdadeiro pai, mas depois de tudo... todos continuaram me tratando com indiferença, como se eu fosse algo que só serve pra criar planos e nada mais. Isso me encheu de ódio. Silvia, eu fiz longas pesquisas, muito, muito longas. Eu descobri a fraqueza de cada reino existente e anotei tudo codificado em pergaminhos.

– Era desses pergaminhos que Thor falava quando te encontrou no restaurante?

– Exatamente. Eu estava prestes começar a execução do meu plano, o primeiro reino derrotado seria aquele que estava em guerra com Asgard, mas algo deu errado. Ou... – ele sorriu – deu muito certo.

– O que houve?

– O mundo deles era cheio de crateras. Verdadeiros abismos escuros que ninguém sabia onde poderia dar. Só restava eu em luta, estava muito ferido, principalmente com um corte gigante nas costas.

– O corte que eu...

– Que você tratou. Eu derrotei meu oponente, mas caí numa cratera. Caí rapidamente, o vento sendo cortado por mim...

– Espera! Os físicos humanos dizem que no espaço não há gravidade, como você caiu?

– Já ouvi falar disso. Vou te contar um segredinho: eles não fazem ideia do que estão falando. Todos os mundos estão ligados pelos galhos de Yggdrasil, a árvore dos mundos, ou da vida. É uma ligação física, ela existe. Existe uma atração entre os mundos, e foi por essa atração que eu caí. E bendita seja essa atração, que me fez cair bem na sua casa. O resto você já sabe.

– Sagrada atração de Yggdrasil – ela o beija, apaixonada – Mas tem mais uma coisa: quem é aquele doido queixudo que destriu minha casa, Loki?

– Ah, aquele. É Thanos, líder dos chitauris, os “robôs alienígenas” que eu trouxe pra Terra e os Vingadores derrotaram. Ele veio atrás de vingança porque eu devia levar algo pra ele. O Tesseract, um cubo cósmico extremamente poderoso, jóia da sala de espólios de Odin, que tinha caído na Terra havia muito tempo.

– Ele te descobriu aqui e veio atrás de você. Está correndo perigo, Loki.

– E infelizmente você também.

– Nem ouse me mandar me afastar. Ficarei com você até o fim.

– Obrigado, meu amor. Muito obrigado mesmo, por querer ficar ao meu lado, por confiar em mim – ele a beija carinhosamente outra vez e ela deita novamente a cabeça sobre o peito dele e fecha os olhos. Silvia conhecia a história de Loki e mesmo assim acreditava nele. Ela sentia que ele não faria mal a ela, sabia que não. Loki estava completamente apaixonado por ela. Honestamente, nem ligava mais para planos, tronos, sequer para seus poderes, ele só queria estar com ela. Pra sempre.

Os dois trocam mais alguns beijos e carícias e adormecem, abraçados. Já era alta madrugada e tudo parecia estar calmo e feliz, como se eles dois dominassem o mundo.


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