Duelistas escrita por GustavoEscarlate


Capítulo 1
Ventania




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  Era uma noite nublada. Meu pai estava fazendo macarronada,sua especialidade. O cheiro do molho branco vinha até meu quarto e enchia as minhas narinas. Percebi que não estava com fome. Eu estava deitado na cama,escrevendo no meu diário. Sim,eu tinha um diário. Lá eu escrevia sobre pensamentos e anotações,não do tipo "Meu querido diário". Parecia mais um Grimoire,um diário de bruxo.

  As anotações continham,em maior parte,experiências feitas por mim: poções "mágicas" que nao deram certo,descobertas de animais fantásticos que no final sempre eram algo ridiculamente normal e também minha eterna busca de varinha mágica. Já deu para perceber que eu sempre quis ser um bruxo. Esse desejo veio de quando eu tinha 5 anos,quando minha mãe ainda era viva. Um dia eu tinha voltado da escola e meu pai tinha ido comprar um lanche. Eu resolvi explorar a casa,que era nova. Fui desvirando gavetas em busca de algo interessante,até que eu abri a gaveta do meu pai. Havia roupas,roupas,alguns papéis,roupas,o carregador de seu celular e...eu já falei roupas? Mas,no fundo,bem escondido,tinha uma caixa. Uma caixa azul-escuro. Ela parecia pedir para ser explorada. Eu peguei a caixa e abri-a com cuidado,para não ter perigo de meu pai me flagrar por amassados nas bordas. Lá dentro havia a coisa mais bela que eu já tinha visto: uma varinha cinza-azulada,com detalhes de ferro e um diamante no centro. Fiquei totalmente estonteado pela beleza da varinha,até que essa hipnose foi quebrada por uma voz:

– Daniel,o que você está segurando? Isso é... - Disse meu pai.

  Até que ele percebeu o que era. Seu rosto ficou escarlate e ele me deu a maior bronca que eu já havia recebido. Eu chorei muito e prometi que nunca mais iria tocar nas coisas dele. Mas dessa promessa,veio a curiosidade. E da curiosidade,o desejo. A partir deste dia meu maior desejo era ser bruxo.

– Filho,vem comer. - Gritou meu pai da cozinha.

Andei até a cozinha onde um prato fumegante de macarrão com molho branco me esperava.

– Então,me conte sobre seu dia. - Disse ele.

– Tudo normal. Tarefas fáceis,professores entediantes,colegas burros. - Disse eu.

– É nisso que dá ser inteligente. - Advertiu meu pai,de brincadeira.

– E o seu dia? - Perguntei - Como foi?

– Tudo normal. Mas eu acho que eu conheci alguém especial hoje. - Ele disse.

– Fala sério,pai. Toda mulher que você conhece é "alguém especial". - Disse com um sorriso amistoso.

– Não,mas é sério! Acho que essa eu tenho chance - Dissemos em coro. Esse discurso eu já sabia de cor.

Um barulho extremamente alto veio da sala e eu me levantei. Fui olhar o que era. A porta havia se fechado com o vento e o vidro tinha trincado.

– Uau! Tem vento forte vindo. - Alertei.

Fomos às janelas e as fechamos. Quando eu fui fechar a janela do meu quarto uma rajada de vento extremamente forte me acertou em cheio e eu cambaleei. Vento forte? O que estava vindo era um ciclone! Voltamos a cozinha e nos sentamos. Como a conversa acabara,pegamos nossos pratos e fomos para a sala,onde tinha a televisão.

– Tem alguma coisa boa passando? - Perguntei.

– Só jornal. - Ele sorriu,pois sabia que a coisa que mais me irritava era jornal.

Mas uma coisa me alertou: a música de emergência do jornal estava tocando.

– Vish,quem será que morreu? - Meu pai perguntou.

Quando a apresentadora apareceu ela parecia em total pânico. Aumentei o volume para poder ouvir melhor.

– Meteorologistas avisam que um fato quase impossível de se acontecer está acontecendo em Goiânia: um furacão está sendo formado! Casas estão sendo destruídas pela ventania e pessoas estão entrando em pânico pela surpresa.

Olhei para meu pai e vi em sua expressão mais do que pânico,vi determinação,como se a anos ele esperasse esse furacão.

– Pai o que a gente vai fazer? - Perguntei assustado.

– Arrume tudo que você puder levar em uma mochila. Vai Daniel! - Ele gritou.

Corri para o meu quarto e peguei minha mochila mais resistente. Saí pegando roupas,livros,celular,objetos de valor (pedras coloridas que eu não queria perder) e alguns frascos de "poção". Coloquei tudo na mochila e saí correndo para a sala.

– Está tudo aí? Venha,a gente tem que correr! - Meu pai disse,afobado.

Comecei a correr,até que percebi que esqueci a coisa que eu julgaria a mais importante: meu diário.

– Espera aí pai! - Gritei.

– Daniel VAI LOGO! - Meu pai gritava com uma fúria que eu nunca vi.

Corri até o meu quarto e abri minha gaveta.

– Cadê,cadê? - Eu disse,revirando minha gaveta. - Cadê você,diário? Cadê?

Quando finalmente achei meu diário,eu ouvi um assubio. Um assubio nem agudo nem grave,mas que dava medo. Parecia de um garoto de 13 ou 14 anos. Corri para o quintal onde meu pai estava segurando o objeto mais belo que eu já vira: sua varinha.

– Por que você tá levando isso? É inútil! - Adverti.

– Não,não é! E se você tivesse demorado mais um pouco eu ia mostrar como usá-la.

– Fala sério pai! Isso é só um peda... - Estava dizendo até que eu fui interrompido pelo assubio do garoto,de novo. Mas dessa vez, o assubio estava mais alto e parecia que algo estava me soprando. Me soprando fortemente. Eu e meu pai voamos até a parede com o pé de vento. Minha cabeça bateu na parede e eu caí no chão,estonteado.

– Daniel,você está bem? Daniel! - Meu pai dizia com uma lágrima nos olhos. - Eu não vou perder mais um ente! Não por aquele idiota!

Eu me perguntava sobre o que ele falava até que uma coisa muito incrível aconteceu: eu vi o furacão vindo em direção ao nosso quintal. Segurei um grito enquanto minha mente girava loucamente. Isso é impossível! Um furacão não pode estar vindo para cá!,pensei. Meu pai sussurrava palavras sem sentido enquanto apontava aquela varinha para nossos pés. Ele me levantou e eu me surpreendi,pois o furacão estava realmente vindo ao nosso quintal, e eu não estava sendo jogado pelos ventos. Era como se eu estivesse sendo sugado e expelido ao mesmo tempo. O furacão desceu e tocou no nosso gramado. As duas árvores que ficavam no quintal voaram e foram destroçadas dentro dos ventos. Os ventos rodavam sem parar e ele parecia vir em nossa direção.

– Pai o que é aquilo dentro do furacão?

– Matimpererê, o demoniozinho dos animais e das cozinheiras.

Olhei para ele sem entender o sentido da frase,mas com certeza que já tinha ouvido este nome. O furacão girava e girava,até que ele...explodiu. Os ventos pareceram ser expelidos de forma bruta e onde ficava o centro do furacão um garoto alto apareceu. Ele tinha pele negra,olhos vermelho-escarlate,a cor do seu gorro e de sua tanga. Tinha um sorriso travesso,com dentes afiados e amarelados. Ele fumava um tipo de cachimbo,por onde saía uma fumaça negra. E o mais impressionante de sua aparência: ele só tinha uma perna. Foi quando a verdade bateu na minha cara e eu entendi quem ele era.

Eu estava na frente do Saci-Pererê.


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