O Feiticeiro Parte II - A Dimensão Z escrita por André Tornado


Capítulo 2
I.2 Pai contra filho.




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Bulma contava as estrelas para ver se o tempo passava mais depressa. Vegeta tinha saído havia uma eternidade atrás de Trunks e ainda não voltara. Deitara Bra e depois colara-se ao vidro da janela da sala-de-estar à espera de ver aparecer o Toyota vermelho.

Estava tudo a correr mal! Bulma apertou os punhos furiosa, deixou as unhas cravadas na palma das mãos. A máquina das dimensões estava atrasada, Vegeta andava implicativo e mal-humorado, Bra estava a ficar inquieta e rebelde.

E havia Trunks…

Pois, Trunks era o principal problema.

O filho mudara muito desde que tinham entrado naquela dimensão. Nos primeiros dois meses, levara uma vida de eremita. Raramente saía do quarto, não comia, não queria ver ninguém. Nem mesmo Maron que aparecera algumas vezes, mas que tinha deixado de vir ao ver o afastamento dele.

Depois, Trunks resolvera embarcar por um caminho perigoso de revolta e de contestação. Perigoso para ele e perigoso para todos, já que naquela embrulhada estavam todos ligados. O que um pudesse fazer, afetaria os demais. Trunks passara a sair de casa, de dia e de noite, conhecera um sem fim de gente, fizera amizades com rapazes nada agradáveis. No início, Vegeta entrara em pânico, porque ninguém sabia o que significava interagir e interagir era assunto proibido. Para cúmulo, Trunks fartava-se de anunciar que queria ficar ali para sempre, o que irritava seriamente o pai. Quando o assunto da máquina das dimensões vinha à baila, comentava que lhe era indiferente se a máquina ficasse concluída ou não. Para ele, no fim dos doze meses, a Dimensão Z seria apenas um sonho de uma outra vida.

Trunks queria ferir porque se sentia ferido.

Bulma recordou como tinha começado aquela noite.

A seguir ao jantar, Trunks agarrara nas chaves do automóvel. Vegeta aparecera atrás dele, braços cruzados e perguntara-lhe:

- Onde pensas que vais?

- Vou interagir.

Vegeta zangara-se.

- Isso não é resposta que se dê!

- Isso não é pergunta que se faça.

Bulma aparecera na sala, adivinhando uma nova discussão. Era sempre assim quando Trunks saía de casa.

- Tu precisas de uma boa lição, miúdo – dissera o príncipe com a voz afetada.

- Então porque é que não me dás essa lição que te fartas de prometer?

- Se estás tão ansioso, vamos já lá para fora.

- Vegeta! – Chamara Bulma.

- O que foi?

- Deixa-o ir embora.

- Nem pensar! Ele vai outra vez ter com os imbecis dos amigos dele desta dimensão.

- E depois?

Trunks olhara para ela com uma expressão cómica no rosto. Devia achar piada ver a mãe defendê-lo, quando lhe dizia que o comportamento dele era irracional, despropositado e infantil.

- Nós não podemos interagir com ninguém da Dimensão Real – respondera Vegeta agitado.

- Conviver com as pessoas da Dimensão Real não é interagir. Já descobrimos isso.

- Nós não sabemos o que é interagir.

- Precisamente.

- Como é que sabes que ele ainda não interagiu com algum deles? Neste momento, o feiticeiro poderá já ser um deus, imortal e invencível. E esse maldito será o dono do Universo e irá dar cabo de nós por causa deste palerma.

- Se Trunks tivesse interagido com alguém da Dimensão Real, nós não estaríamos aqui, mas na Dimensão Z.

Trunks bocejara, indiferente. A discussão perdera a emoção que prometia ter quando o pai desistira da luta. Era um frouxo, nas mãos da mãe. Dirigia-se para a porta quando Vegeta dissera:

- Foi por causa dele que nós viemos parar à Dimensão Real e será por causa dele que iremos ser derrotados pelo feiticeiro.

Trunks parara. Bulma sentira o coração disparar.

- Nani?

Vegeta mostrara um dos seus sorrisos vingativos.

- Não sabias? Nunca ninguém te disse que estamos na Dimensão Real por causa de ti?

- Não… Que parvoíce é essa? Foi Zephir que nos enviou para a Dimensão Real com um feitiço.

- E com um feitiço sobre quê?

Trunks ficara atrapalhado. Vegeta explicara:

- Não sabes? Com um feitiço sobre sangue de amizade. Sobre o sangue de Goten que tu derramaste.

- Não… Não é verdade.

- É verdade, sim. Pergunta a qualquer um dos que estiveram lá. Pergunta a Kakaroto, a Piccolo ou a Gohan. Pergunta-lhes e eles dir-te-ão isto: Zephir enviou-nos para a Dimensão Real ao enfeitiçar um tubo de ensaio cheio do sangue de Son Goten, obtido da ferida mortal que tu lhe fizeste.

Bulma vira como o rosto do filho se contorcera enjoado. Mas quando tentara dizer alguma coisa que amenizasse os estragos feitos, já ele tinha saído porta fora. Vegeta afastara-se a comentar:

- Ele estava a pedi-las…

A seguir, Bulma correra atrás de Vegeta a gritar-lhe se não tinha vergonha de atiçar ainda mais a fogueira, quando também ele se poderia queimar nela. Vegeta batera-lhe com a porta do quarto na cara. Bulma esmurrara e pontapeara a porta irritada com ele, com Trunks, com o mundo. Irritada com aquela situação ingrata e desesperante, onde não se via uma luz ao fundo do túnel. Quando se apercebera, Bra estava a olhar para ela, no cimo das escadas.

Refugiara-se na cozinha e aí vertera as suas lágrimas. Passado um tempo sem fim, ouvira Vegeta sair. Tinha ido atrás de Trunks. Não soubera então se deveria sentir-se aliviada, se preocupada. Sabia, isso sim, que se sentia infeliz.

***

Ouviu o roncar do motor de um automóvel a cortar o silêncio da noite. Colou a cara ao vidro da janela e descobriu o Toyota vermelho. Chegavam.

A porta da rua abriu-se. Vegeta empurrou Trunks que entrou em casa aos tropeções e a rir como um demente.

- Calma, ’tousan! Calma…

Vegeta bateu com a porta. Cruzou os braços e observou irritado o teatro que o filho fazia, simulando um andar cambaleante e uma alegria despropositada.

- Trunks, estás bem? – Perguntou ela ao reparar no sangue que o filho tinha no lábio inferior.

Trunks fez o “V” de vitória com os dedos.

- Tudo fixe!

- Fixe?

- Já chega! – Interrompeu Vegeta com brusquidão. – Vai para o quarto.

- Mas eu não tenho sono, ´tousan! E… Oh, ainda não te contei o que aconteceu hoje.

- Não me interessa! Para o…

- Hoje conheci uma loiraça muita boa chamada Dora e conheci a Ana, que não gosta nada de mim. Ah, mas tu conheces a Ana… Foi aquela que se meteu na tua frente, na praia. Ahn? O que me dizes àquilo? A gaja é doida para meter-se à tua frente. Não achas, saiya-jin?

A linguagem vulgar do filho chocou Bulma.

- Trunks!

Vegeta acercou-se ameaçador. Trunks largou uma gargalhada estridente e elevou os punhos.

- Queres lutar? Vamos lutar, ’tousan.

- Baka! Nem mereces o meu esforço – respondeu, medindo o filho da cabeça aos pés.

- Luta comigo, ’tousan. Vá! Parece-me que te devo um soco.

- Não. Deves-me dois socos.

- Dois?

Trunks apanhou com o punho do pai em cheio na boca. Perdeu o equilíbrio e estatelou-se no chão.

- Tens razão, ’tousan. São dois!

Levantou-se, chamou Vegeta com um aceno provocador.

- Vamos, ’tousan! Ataca… Agora já estou preparado

Bulma tentou interpor-se entre pai e filho.

- Não, espera…

Mas não foi a tempo. Vegeta investiu. Primeiro, uma cotovelada no estômago deixou Trunks sem ar. Depois derrubou-o com outro soco na cara, fazendo-o embater numa estante que caiu, espalhando livros e peças de decoração.

Vegeta ia continuar a bater em Trunks se Bulma não fosse mais rápida e lhe alcançasse um braço. Puxou-o.

- Não! Não vês que ele está a sofrer?

- Bah! Ele já apanhou com golpes muito piores do que estes e levantou-se sem nenhum problema. Ele é um saiya-jin!

- Por dentro, Vegeta – explicou Bulma triste. – Por dentro…

Trunks limpou o sangue que corria do nariz, levantou-se apoiando-se nas costas do sofá. Bulma quis abraçá-lo, dizer-lhe para soltar o sofrimento, pois só assim libertaria a alma e a lavava da culpa atroz que a carcomia. Mas Trunks ainda não estava preparado para a catarse, nem mesmo depois dos socos de Vegeta. Por isso, mandou-o embora.

- Vai-te deitar. Estás… Pareces cansado.

Quis parecer divertido, cobrindo a mágoa com a máscara que usava naquela dimensão. Trunks fez uma continência desajeitada, o corpo inseguro por causa do álcool e da sova.

- Hai, okaasan! Às tuas ordens!

Só quando ouviu a porta do quarto do filho fechar-se, no piso de cima, é que Bulma soltou o braço de Vegeta. Ele olhou-a irritado.

- Acaba o raio da máquina, Bulma! Acaba-a, senão enlouqueço!


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Adaptação.



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