De joelhos ela arrumava as caixas com suas coisas, a mudança era mais do que necessária naquele momento, ao menos era o que Nami pensava. Ela estava deixando a casa, a cidade, seus sonhos e um pedaço de seu coração naquele lugar junto com o rapaz do chapéu de palha, a vida que juntos haviam construído estava sendo agora dispensada, o tempo era necessário mais do que respirar.

    Na janela estava ali, ele parado apenas esperando mais um dia amanhecer, ela iria realmente embora naquela manhã que nasceria junto com o sol outra vez. Sentiu o peito contrair, ela estava realmente o deixando e talvez, só talvez para sempre...Para sempre... Afinal quanto tempo dura o pra sempre?

    A música tocava no rádio deixando a garota mais perturbada, como ela ficaria sem o seu eterno herói nas noites de trovão? O seu garoto nas tardes ensolaradas na praia? O que seria dela sem Luffy afinal de contas? Quando se mudou para a cidade ele a ajudou a conseguir a casa, o emprego e uma vaga na faculdade, e com o tempo se tornaram amigos foi então que o sentimento forte surgiu,deixando a sem sono, sem fala, sem ar...  

“Hello there,

The angel from my nightmare

The shadow in the background of the morgue

The unsuspecting victim of darkness in the valley

We can live like Jack and Sally if we want

Where you can always find me

And we'll have halloween on Christmas

And in the night we'll wish this never ends

We'll wish this never ends”

“Olá querida,

O anjo do meu pesadelo

A sombra no fundo do necrotério

A vítima inocente da escuridão no vale

Nós podemos viver como Jack e Sally, se quisermos

Aonde você pode sempre me encontrar

E teremos Halloween no Natal

E de noite desejaremos que isso nunca acabe

Desejaremos que isso nunca acabe”

    As palavras desconexas do dia em que ela se declarou ainda rondavam a mente perturbada do rapaz, aqueles olhos perdidos, as mãos suadas e os cabelos ao vento, tudo aquilo... Como tudo estava se esvaindo tão rápido de suas mãos, ela estava escapando-lhe dos dedos, sentiu a primeira lágrima grossa e dolorosa cair de seus olhos, ele estava perdendo a para outro mundo, ela iria atrás de seu sonho afinal? Então tudo que tiveram não tinha significado nada para ela? Era tão doloroso imaginar um lugar onde ela não estaria por perto, sem seus gritos, risos, ameaças, declarações e abraços calorosos, sem aquele bom e inebriante cheiro cítrico que apenas ela tinha. Sentiu-se fraco, inútil... Estava perdendo sem lutar, isso não era de seu feitio, nunca foi e nunca vai ser.

    Quando a ultima caixa fora devidamente selada ela relaxou, olhou para o teto para contar as lágrimas que tentavam a todo custo lhe cair dos olhos, queria tanto ficar naquele lugar, e só Deus sabe como ela queria permanecer ali, com ele pelo resto de seus dias. Ela precisava voltar a cidade natal, reencontrar a irmã e a mãe que se encontrava doente, queria levar Luffy com ela, mas não conseguiu nem ao menos perguntar se ele queria, afinal ele não deixaria tudo para ficar com ela... Deixaria? A garota não sabia responder. Sentada fitando o teto branco pôs-se a lembrar do outro, de seu sorriso largo e sincero, do seu abraço esmagador, de seu jeito extrovertido e despreocupado e do tão bom e inconfundível cheiro amadeirado, ele realmente era único.

    Mesmo próximos estavam distantes, perdidos e solitários, eles queriam um ao outro, desejavam um abraço, uma palavra confortante, um sorriso, ou até mesmo o silêncio aconchegante que por muitas vezes tiveram. Eles apenas precisavam um do outro, nada mais do que isso naquele momento.

“I miss you, miss you

I miss you, miss you”

“Eu sinto sua falta, sinto sua falta

Eu sinto sua falta, sinto sua falta”

    Na manhã a garota foi embora junto de suas lembranças, bagagens e coisas, deixando para trás a promessa de futuro, sonho e o amor. Conforme a paisagem do lugar ia se dissipando Nami sentia o coração bater cada vez mais fraco, mas sofrido, menos desmotivado. O nó que se formava em sua garganta a deixava inquieta, triste... Durante horas de viagem ela segurou as lágrimas que queria libertar tais dores, quando desceu sentiu tudo girar em torno de si, estava de volta ao ponto de partida de mala e cuia, aquilo era o fim?

    Na outra cidade Luffy estava sentado na areia da praia olhando o horizonte, segurava sem chapéu de palha em mãos, sentia-se perdido e solitário como nunca antes, nem mesmo quando seu irmão morreu em um acidente de carro ele se sentiu tão solitário assim, talvez porque naquela época a garota de cabelos alaranjados ainda estava do seu lado, essa era a única opção plausível. Olhando para o horizonte pode lembrar-se das brigas tolas e das reconciliações mais tolas ainda, sorriu, ele sentia falta daquilo afinal, dela e de tudo mais que passaram, afinal... Ela era a sua Nami com o seu Pra Sempre que não fora pra sempre.

    Conforme o tempo se passava Nami se sentia cada vez mais solitária, não sentia que tinha o motivo real para estar naquele lugar, faltava algo... No caso, Alguém. Olhou para a janela e pode ver duas crianças correndo brincando felizes, se lembrou dele e quando ele disse “Teremos um casal de gêmeos Nami! E eles ficarão sempre correndo brincando felizes no quintal perto do jardim que você tanto quer ter!” Sorriu, isso não seria possível, seria? Sentiu o peito doer, pegou o retrata do criado mudo, na foto estava os dois abraçados felizes, fora a primeira foto deles como namorados, fora tirada exatamente no dia em que começaram o relacionamento, deixou uma lágrima escorrer.

-Eu sinto tanto a sua falta Luffy... Se eu pudesse voltar ao passado eu nunca teria ido embora.

    Ele deitado na cama olhando o teto ficou pensando nela, como ela estaria afinal de contas? Virou-se e olhou para o retrato deles, sorriu tristonho, ele já não era o mesmo de uns tempos pra cá.

-Queria poder ver você outra vez Nami... Mas eu nem ao menos sei onde você está, eu sinto a sua falta!

“Where are you and I'm so sorry

I cannot sleep I cannot dream tonight

I need somebody and always

This sick strange darkness

Comes creeping on so haunting every time

And as I stared I counted

The webs from all the spiders

Catching things and eating their insides

Like indecision to call you

And hear your voice of treason

Will you come home and stop this pain tonight

Stop this pain tonight”

“Onde você está? E eu sinto muito

E não consigo dormir, eu não consigo sonhar esta noite

Eu preciso de alguém e sempre

Essa doente escuridão estranha

Vem se arrastando, me assombrando toda hora

E enquanto eu olhava, eu contava

As teias de todas as aranhas

Pegando coisas e as comendo por dentro

Como a indecisão de ligar pra você

E ouvir a sua voz de traição

Você virá para casa e acabará com essa dor esta noite?

Acabe com essa dor esta noite”

    Talvez o medo que ela sentia não permitia ir até ele e se ele brigasse com ela? E se ele falasse que ela deveria ter ficado onde estava e que o esquecesse?  Não ela não iria suportar isso!

    Ele também sentia medo, afinal ela não disse por que estava partindo, e se ele fosse até ela e a encontrasse e ela dissesse apenas que foi embora por não o suportar mais? Não ele não iria aguentar a dor que isso lhe proporcionaria!

    Não! Eles não iriam se encontrar... Pelo menos por agora! Fora isso que ambos pensaram.

“Don't waste your time on me you're already

The voice inside my head (I miss you, miss you)

Don't waste your time on me you're already

The voice inside my head (I miss you, miss you)”

“Não perca o seu tempo comigo, você já é

A voz dentro da minha cabeça (Eu sinto sua falta, sinto sua falta)

Não perca o seu tempo comigo, você já é

A voz dentro da minha cabeça (Eu sinto sua falta, sinto sua falta)”

    Quatro anos se passaram desde então, ela continuava apaixonada pelo garoto do chapéu de palha, e ele? Bem nada havia mudado, ela ainda a sua Nami. Mas os tempos eram outros, mas os sentimentos e a saudade eram as mesmas.

    Nami viu a irmã casar, construir uma família, viu a mãe se curar e conseguiu se formar na faculdade. Luffy também havia se formado na faculdade, tinha estava em um bom emprego e todas as noites pensava em Nami. Com o tempo o amor de ambos havia se intensificado, então como nada e nem ninguém poderia mudar isso o Destino resolveu brincar com eles. Nami em um acaso recebeu uma proposta irrecusável de emprego na antiga cidade, com receio – e esperança de reencontrá-lo – aceitou o emprego, Luffy por sua vez estava encarregado de ajudar a nova contratada a se estabilizar na empresa e a ajudar com o estágio.

    Quando os olhos se encontraram o choque e a alegria foi recíproca, Nami havia mudado, os cabelos ates curtos estavam longa, ela parecia mais madura. Luffy estava parecendo mais maduro e responsável agora. Um sorriso brotou nos lábios de ambos, o abraço e o beijo de reencontro foram inevitáveis, eles se amavam afinal! Quando o ar faltou e os pensamentos foram botados em ordem ambos disseram juntos.

“-Eu senti sua falta!”