The Last Whisper escrita por Maria Clara


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Leiam com a música, por favor. Ela cria um clima diferente. Não se esqueçam para clicarem com o botão direito e selecionar para abrir em nova aba para vocês não sejam direcionados para fora da página. Boa Leitura!



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Take Me Away (Acústico) - Lifehouse

Yorkshire, Inglaterra. December 19, 1865.

Bella,

Bom dia meu amor.

Digo bom dia, pois sei que você sempre gostou de ler suas correspondências pela manhã. Aliás, sei que durante a maior parte das manhãs, você dedicava à leitura. Resumindo, e hipoteticamente falando, sei que você lerá isso pela manhã. Se é que existem marcas de tempo onde você está.

É difícil escrever agora, então se não entender minha caligrafia muito bem, faça um esforço. Está muito frio. A neve está acumulando entre meus dedos e a pena, que inclusive está congelada. Você deve estar se perguntando, porque não estou em casa. Escrevendo-te sentado de frente a lareira, esperando o frio esvair-se de meus dedos, até ficarem completamente aquecidos. Mas é que eu coloquei fogo em minha casa. Acalma-se, não se assuste. Foi apenas uma forma de afugentar algumas recordações desagradáveis. E, além disso, não irei precisar dela mais. Estou sentado em uma pedra grande, danificada pelo inverno rigoroso, assistindo-a queimando em meio a cinzas obscuras e assustadoras. Orgulhei-me de mim mesmo. Foi uma grande proeza de minha parte conseguir colocar fogo em uma casa recoberta por neve.

Não era você que sempre me dizia que era preciso algumas loucuras às vezes? Então, essa foi a minha.

Você também sempre dizia que eu era um péssimo escritor. Em partes é verdade. Olha só onde estou agora. Tentando te escrever uma carta e nem ao menos consigo demonstrar o verdadeiro sentido disso. Na realidade, não vejo nenhum motivo para te escrever. Eu apenas sinto a necessidade de te sentir próximo a mim uma última vez.

Mas não me importo de me machucar ainda mais fazendo isso. Espero apenas que me perdoe o que estou prestes a fazer.

Quero conversar um pouco agora. Distrair-me. Como vão as coisas por aí? É bonito? Vale realmente a pena como as pessoas dizem? Responda-me, por favor, assim que puder. Estou curioso. E espero também ir até aí, se tudo der certo como o planejado. Em breve nos encontraremos.

Olha aí, mas que droga! Se vires algum enrugado na folha, são apenas minhas estúpidas lágrimas. Sempre que penso em você elas insistem em saltar para fora. É tão natural, que até já me acostumei com esse fato.

Você falava que seria fácil. Falava que tudo se encaixaria como o planejado. Mas as promessas nem sempre são cumpridas. Dizia para segurar minhas lágrimas por mais tempo possível. Para gastá-las apenas quando fosse realmente necessário. E quando você se foi, todas elas saíam involuntariamente toda vez que me recordava de sua face, de seus dedos macios delineando toda a extensão de meu corpo, do seu andar único, de seu cheiro inebriante, e de sua doce voz sussurrando ao meu ouvido, dizendo que me amaria eternamente. Espero que essa teoria ainda esteja funcionando para você, porque continuo acreditando plenamente nela. E as lágrimas ainda não acabaram. Há ainda um grande reservatório delas.

Não quero prolongar muito o assunto, então serei breve.

Queria que soubesse que te amei muito. Como jamais amei alguém. Que ainda posso respirar o ar que tu algum dia já respirou. E que ainda sinto muito a tua falta.

Encontrarei-te em breve.

Te amo.

Edward.

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Take me away/I've got nothing left to say/Just take me away

(Leve-me embora/Não tenho mais nada a dizer/Apenas me leve embora)

Re-li a carta mais duas vezes.dobrei-a e coloquei-a no bolso mais interno de minha grande jaqueta. Vislumbrei mais uma vez a imagem de minha casa ardendo entre as chamas. As labaredas se chicoteando ao vento formavam algumas formas bonitas. Depois caminhei em direção à cidade.

Foi uma caminhada bem longa e cansativa, mas consegui chegar intacto algumas horas depois.

A neve havia parado de cair, porém olhando para o céu, dava pra perceber, que mais tarde, o chão de toda a cidade estaria completamente branco. A rala que havia caído mais cedo estava derretida no chão da velha Yorkshire, dando impressão de uma recente chuva.

Caminhei no meio da rua, entre os belos casarões da nobreza. Estava deserta, e mesmo se uma charrete passasse por ali agora, eu passaria despercebido.

Demorei mais exatamente cinco minutos para chegar ao meu destino. Cemitério. O único da cidade.

Atravessei o grande portão enferrujado sem nenhuma pressa. Pombas pousavam em alguns cantos vasculhando por algo de comer. Cheguei ao túmulo. Sabia o caminho de cor. Afinal, era recente. A cruz ainda estava intacta, livre da podridão. O nome, entalhado ali, me fez chorar novamente. Meu coração se retorceu.

“Aqui jaz Isabella Marie Swan”

08 – 22 – 1846 (vinte e dois de agosto de 1846)

12 – 05 – 1865 (cinco de dezembro de 1865)

Cavei uma cova de um palmo ao lado dela com minhas próprias unhas, retirei a carta de meu casaco e a enterrei.

I try, to make my way to you/But still I feel so lost

(Eu tento seguir meu caminho em direção a você/Mais ainda me sinto tão perdido)

Deitei-me ao seu lado, com meus olhos ardendo como nunca. Retirei o punhal também do casaco.

Fitei-o por breves instantes, admirando sua prata polida e brilhante.

Meu coração martelava. Senti a pulsação de meu sangue correr mais rápida. Suava frio. Chorava.

Levantei o punhal para a cima com minhas duas mãos, a fim de fazer uma cena dramática.

E com um impulso, enfiei-o em mim. Senti-o rasgando minha pele, músculos e enfim, meu coração. Soltei meus braços, e eles caíram sobre a grama que encobria a pessoa mais importante do mundo para mim.

Sentia a respiração descompassada, o coração parando lentamente, lutando em vão por mais uma chance de sobrevivência. Senti um floco de neve pousar levemente como uma pluma em meu nariz. As pombas agora voavam sobre mim a procura de um abrigo contra a neve. O sangue já encharcava completamente minha camisa e jaqueta. Dei um último suspiro, demorado. O vento soprava frio contra minha face, secando minhas lágrimas.

Toda a minha vida passou como flashback diante de meus olhos. E foi assim, que eu enfim tive a certeza que não iria ao mesmo lugar em que Bella estava. Mas agora já era tarde demais.

Don't give up on me yet/Don't forget who, i am/I know I'm not there yet/But don't let me stay here alone

(Não desista de mim ainda/Não esqueça quem sou/Eu sei que ainda não cheguei até lá/Mas não me deixe ficar sozinho aqui)

E ali mesmo, sem nenhuma ajuda, agonizando em dores duplas, balbuciei com muita dificuldade, entre engasgos e cuspes de sangue, o meu último sussurro.

“_ Você tinha razão. A morte não é tão dolorosa como imaginava. Você, na verdade, sempre teve razão em tudo. Perdoe-me. Eu te amo.”

Senti braços me puxando para baixo e línguas de fogo se arrastando sobre minha pele. E foi então que mergulhei na escuridão eterna.

Just take me away

(Apenas me leve embora)


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da one. Comentem, por favor. Críticas construtivas sempre são bem-vindas.



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