Quatro e meia da tarde. Rony já deveria ter chegado cerca de trinta minutos atrás. “Poderia ser o trânsito”. Pensou Justin erroneamente. A casa do amigo ficava bem próximo dali. Rony não apareceria, nem morto. Dez minutos depois ... mais dez minutos ... vinte ... Então Justin foi embora, desistiu de vez dessa coisa maluca. Justin tentou pensar na possibilidade da situação ser contrária. Rony não apareceria lá, acho que nem ele mesmo apareceria – se fosse o caso.

Rony observava a rua da janela de seu quarto, que ficava no segundo andar de sua casa com estilo colonial. Típicas casas americanas com pintura branca. Da janela dava para observar bem as pessoas passando pela sua rua e também a neve começando a cair, o que era normal naquela época de Natal. Havia crianças brincando próximo ao seu quintal de pega-pega, a neve ainda não era suficiente para brincarem de guerrinha de bola-de-neve, nem tampouco, construírem um boneco a partir da mesma.

Justin já não sabia mais no que pensar. Ora, achava que Rony estava com raiva dele; Ora, achava que houve um imprevisto e Rony não teve como ligar para ele – como todos os dias passados em que Justin encheu a caixa postal do celular de Rony de recados, assim como também a caixa de entrada com SMS’s.

Rony não conseguia esquecer sobre o que Justin havia lhe dito há mais ou menos dois dias atrás, aquilo tudo foi tão ... inesperado para ele. Talvez se Justin tivesse lhe contado que havia matado alguém alguma vez, a reação dele poderia ter sido menor do que ouvir o que havia ouvido do seu amigo. Foi algo inacreditável. Nada saía de sua cabeça, ficava girando, girando, girando ... como se ele tivesse formatado sua própria mente e aquele era o único arquivo no momento.

FLASHBACK #ON

“Será que você não consegue enxergar? Eu te amo! Entenda. Isso é difícil é pra mim. Você não sabe como é ouvir da boca da pessoa que você ama todos os dias o nome de outras. Eu tenho sentimentos. Eu quero ser mais do que um amigo pra você. Sabe, eu quero te abraçar quando você estiver triste. Quero te dar um beijo quando você estiver carente ... quero ... estar com você o tempo todo. Quero ... te chamar de meu ...”

Rony não sabia dizer qual foi a parte mais difícil: Se foi quando ele ficou pasmo, sem reação nenhuma ou quando Justin saiu correndo, chorando e ele não conseguiu ir atrás. Ele queria ir atrás, mas seus pés pareciam estar fixados no chão.

Naquele mesmo dia, Rony só conseguiu enviar um SMS para Rony. Uma tarefa fácil, mas que se tornou difícil naquele momento. Rony havia começado a chorar, se sentia culpado por alguma coisa, não sabia dizer o que era. Era tudo muito confuso. Até o momento atual, não soube de ontem tirou forças para enviar um SMS para Justin, apenas fez aquilo para ... saber se ele estava bem e para certificar-se de que o moreno não fosse fazer nenhum tipo de burrada.

RONY: “Você está bem?” – Foi o máximo que conseguiu dizer.

Rony enviou a mensagem não aguardando retorno, tinha quase perfeita certeza de que Justin não fosse responder. Ele não tinha culpa alguma. Se Rony estava se sentindo assim, então imagine como estava Justin.

JUSTIN: “Você me odeia?” – Justin enviou assim que havia pisado o pé no portão da sua casa. Havia chegado em casa tarde naquele dia por causa do trânsito. Porém, seu pai ainda estava no trabalho e sua mãe na cozinha. Isso o possibilitou a poder subir as escadas correndo e trancar-se em seu quarto. Escorou as costas na porta recém-trancada e deslizou seu corpo até alcançar o solo e sentar-se no chão, onde chorava e abafava os seus soluços.

RONY: “Não.”

JUSTIN: “Quero ver você olhar pros meus olhos e me dizer que não me odeia. Me encontre no domingo. Quatro horas da tarde, no local de sempre.”

FLASHBACK #OFF

Justin mudou o curso de trajetória que sempre utilizava para ir pra sua casa. Passou na frente da casa de Rony. Talvez ele ainda estava se arrumando, ou algo do tipo. Não queria aceitar o fato de que o garoto que ele gostava, estava com raiva dele.

Rony estava olhando para fora apenas por observar a rua mesmo, quando se depara com Justin passando na frente da sua residência. A vontade que Rony tinha era de deixar pra trás tudo que lhe estava impedindo de atender as ligações de Justin, de retornar os SMS’s dele, de ... acenar pela janela, caso ele olhasse.

Algo maior do que Rony lhe disse para ir lá fora falar com Justin. Algo maior do que o seu orgulho barato. Eram melhores amigos antes, não? E foi isso que ele fez. Não sabia dizer de onde tirou toda aquela determinação, nem como. Apenas ... desceu as escadas de sua residência e foi atrás de Justin que estava passando por ali com pequenos passos.

Justin se sentou em um banco localizado bem próximo da cada de Rony. Precisava acabar com tudo ali mesmo, naquele exato momento. Estava esperando o primeiro momento em que Rony aparecesse no lado externo da residência para lhe dizer algumas coisas. Era tudo ou nada.

Depois de exatos vinte minutos aguardando-o, eis o resultado: Avistou seu amigo – nem sabia mais o que ele era. Aliás, era para isso que estava ali, queria saber como seria a relação dos dois depois disso tudo. Rony vinha caminhando de mãos dadas com uma garota da qual Justin foi obrigado a escutar tudo a respeito. Aliás, eles eram amigos e ... Rony contava tudo para Justin, até as garotas da qual se interessou e vice-versa.

Essa garota loira, tinha os olhos da cor verde jade. Era líder de torcida. Uma das garotas mais populares da escola. Tinha altura e corpo ideal. Era uma versão de Megan Fox loira. Acho que era isso que a definia fisicamente.

Era difícil de acreditar na cena que havia acabado de ver. Em poucos segundos, os olhos de Justin começaram a marejar. Suas mãos começaram a tremer quando viu que ambos caminhavam em sua direção. A cada passo dado pelos dois, ele recebia como se fossem facadas. Seu coração estava se quebrando em pedaços. Não conseguia falar nada. Apenas ... ficou parado, pasmo, paralisado. Sua voz não saía, era como se estivesse sem ar, sem fôlego; Como se houvesse uma corda presa ao seu pescoço e a cada passo do que o casal dava, parecia apertar cada vez mais. Seu corpo não respondia aos comandos mentais. Ele queria correr, correr para bem longe. Queria.

— Justin... – Disse Rony de maneira fria. — Não vai cumprimentar minha nova namorada? – Ele sorriu de modo frio, seu rosto estava um pouco vermelho, como se também tivesse chorado anteriormente; Como se estivesse fazendo aquilo para afastar Justin de si. Seja por medo das conseqüências ou por algum motivo de força maior.

Um silêncio pairou no ar.

— Justin... você está bem, cara? – A voz de Rony saiu de maneira rouca, Justin o conhecia bem o bastante para saber que sua voz só saía daquele jeito quando ele havia chorado. Chorado muito recentemente. Apenas deu um beijo rápido na sua “namorada”.

Em um rápido e sofrido movimento, Justin conseguiu levantar-se e com frieza nos olhos, expressando um misto de nojo e rancor, sorriu e disse: — Tenho certeza que você também. Aliás, com uma garota dessas ao seu lado ... o que mais você precisaria ter para ser feliz?

O moreno deu as costas deixando um Rony sem palavras, sem reação. Justin até o exato momento não sabia como havia feito aquilo. O que o deixou forte e feliz naquele momento foi saber que Rony não estava feliz com aquela situação, que ele apenas estava usando aquela pobre garota para causar-lhe ciúmes. Ah, aquele seria um ótimo natal para ele. O melhor de sua vida.

— Feliz Natal. – Disse ele em uma distância significativa, sumindo atrás da neblina que encobrira a rua ao mesmo tempo em que a neve caía e conseguia ver ao longe o seu Rony “feliz”. Aliás, com uma garota daquelas ao lado ... o que mais ele precisaria para ser feliz?

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