Suppose escrita por Ms Lightwood


Capítulo 1
My eyes are screaming for the sight of you ...


Notas iniciais do capítulo

Link da música: http://www.youtube.com/watch?v=5XayEI_lBA4
Boa leitura! ♥



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Clove estava sentada encostada em uma parede de tijolos em um beco; escuro, frio, vazio e molhado. Essas palavras descreviam bem como ela estava se sentindo agora, completamente encharcada pela chuva que caía, a blusa preta grudando ao corpo de uma maneira irritante.

“É melhor nos afastarmos,” a voz dele voltou à sua mente acertando-a em cheio.

Isso era ridículo. Nem tinha algo realmente com ele para se afastarem ou se separarem, eram apenas... amigos? Não, óbvio que não. Colegas, não... Conhecidos. Sim, essa era a palavra certa. Eles se conheciam apenas pela academia do Distrito 2, e era só.

Levantou-se tentando afastar esses pensamentos, começando a correr para longe, longe o bastante para ninguém encontrá-la. Ela estava prestes a atravessar a rua e virar a esquina correndo quando alguém agarrou seu braço, virando-a.

― Clove. – sussurrou.

Ela piscou duas vezes, sem querer.

E lá estava ele. Os cabelos loiros completamente ensopados, colando a blusa também negra em seu corpo como as dela, os olhos de um azul tempestuoso encarando-a.

― Me solta. – falou saindo de seu transe ao vê-lo depois de um tempo que pareceu ser uma eternidade. – Me solta, Cato.

Balançou o braço com força para tentar escapar dele, mas ele nunca cedia.

― Não. Não até falar comigo. – ele disse rondando a rua com o olhar, depois pousando os olhos novamente nela. – Eu preciso falar com você.

Clove queria gritar não, mas antes que pudesse falar qualquer outra coisa já estava sendo arrastada por Cato para o final do beco, tentando ao máximo não abrir a boca, pois sabia que se fizesse isso acabaria gritando palavrões.

Eles chegaram até o fim do beco, e Clove se adiantou a encostar-se à parede, o mais possível de distância entre eles nesse espaço pequeno.

― O que você estava fazendo? – ele perguntou depois de um breve silêncio, nunca deixando de encará-la nos olhos. Algumas vezes, passando o olho rapidamente no corpo dela. – Eu queria falar com você faz tempo, na Academia. Mas você não estava lá. Por quê?

Por que eu estava te evitando, pensou.

Clove soltou uma risada amarga.

― Me afastando. – falou dando de ombros. – Como você mesmo disse, é melhor nos afastarmos.

Ele percebeu a amargura e o sarcasmo na fala dela, parecendo ficar desconfortável com isso.

― Eu achei melhor assim. – admitiu. – Eu vou me voluntariar, você sabe disso. E nós estávamos tendo...

― Não estávamos tendo nada. – ela cortou, franzindo o cenho e deixando uma expressão indesejável de surpresa tomar conta do rosto por um segundo. – Nada.

Ele arqueou as sobrancelhas, agora ele que parecia surpreendido.

― Nada mesmo? – Cato perguntou dando um passo à frente, e por um segundo Clove pensou que ao vê-lo erguer uma das mãos ele iria colocá-la em direção ao seu rosto, para acariciar sua bochecha esquerda, como ele costumava a fazer. Mas ele simplesmente colocou a mão para retirar uma mecha de cabelo loiro do rosto, fazendo-a a sentir um pouco idiota e a odiá-lo mais um pouquinho. – Os abraços, beijos e tudo o mais foram nada para você?

De repente, ela sentiu a necessidade de socá-lo em algum lugar – não que ela já não tenha feito isso, pois socar Cato não era nenhuma novidade para ela – mas simplesmente desistiu ao ver a expressão em seus olhos. Neles, não estavam mais o típico sarcasmo, fúria ou zombaria que costumaria ver, e sim algo que a surpreendeu mais do que tudo: angústia, e... decepção?

Ela olhou-o desolada, perdida.

Pela primeira vez na vida, Clove não sabia o que fazer.

― Suponha... – ele continuou, impedindo-a de falar qualquer coisa. Pensou por alguns segundos, passou a língua rapidamente no lábio e continuou: – Suponha que eu senti sua falta, que eu me importei quando você foi embora... e suponha que eu tenha passado todas as noites assustado.

Clove prendeu a respiração, como se tivesse recebido um soco, pois nunca viu Cato assumir que podia ou conseguia ficar assustado. Em alguns momentos, ela se esquecia que ele também era realmente humano, e que todo mundo tinha algum medo. Ela mesma tinha seus medos, mas deixava-os para si própria, falando a todos de peito erguido de que o medo não fazia parte de seu vocabulário.

― Pois meus olhos estavam gritando por uma visão sua, Clove.

Os lábios dela começaram a ter um leve tremor, mandando ao cérebro a mensagem de que não aguentaria ficar ali por mais tempo.

― Eu não sei do que está falando. – falou sacudindo a cabeça levemente, piscando mais uma vez. – Eu não quero ouvir mais nada e... – Ela deu um passo para frente, no escuro, em uma tentativa de não ter mais que aguentar esse tipo de situação e ir para um lugar em que ficasse em paz, mas acabou tropeçando em algo. Clove tentou se apoiar em uma das paredes, mas Cato já estava lá. Se moveu tão rapidamente quanto só ele mesmo conseguia, envolvendo-a na cintura e indo para frente até as costas dela atingirem a parede novamente, fazendo seus braços a abraçarem e seus lábios se tocarem.

O simples toque entre as bocas fizeram ambos delirarem, beijando-se como se não houvesse o amanhã e que tudo isso não passava de um grande erro, mas mesmo assim um erro que valia a pena.

O cérebro de Clove gritava para ela sair dali, empurrá-lo, correr e treinar mais um pouco, pois essa seria a atitude sensata. Mas nenhuma outra parte do corpo dela se preocupava com o que era e não era sensato.

Ele ergueu-a mais um pouco, e ela colocou as pernas entre a cintura dele, prendendo-a e aproximando ainda mais seus corpos.

Os dedos começaram a deslizar sobre o ombro dele, oscilando entre leve acaricias a apertos fortes, algumas vezes arranhadas de leve pela adrenalina do momento. Os beijos começaram a ficar mais intensos a medida do tempo também, os corpos se encostando em todas as partes, como peças de um quebra-cabeça.

Ela separou os lábios do dele por um momento, encarando-o estupefata.

― O quê... Isso não faz nenhum sentido. – ela falou fechando os olhos por um momento, deixando sua testa encostar na dele, ainda com os olhos fechados. Suspirou lentamente e ela pode ouvir a respiração acelerada de Cato. – Amanhã é a Colheita, e nós... você vai...

― Esquece isso. – ele sussurrou deixando o dedo indicador acariciar toda parte do rosto dela, depois levou a boca até seu pescoço.

Sem querer, Clove soltou um gemido e apertou os olhos ao sentir novamente o choque percorrer seu corpo. Ela afastou um pouco o pescoço, fazendo Cato levantar a cabeça e olhá-la curioso.

― Por que isso? – perguntou e depois suspirou. – Por quê?

Ele piscou os olhos incrivelmente azuis.

― Porque eu te amo.

Clove não aguentava mais. Colocou os braços em volta do corpo dele, e o puxou mais para perto possível, beijando com mais intensidade do que antes. Tudo estava a dominando: a chuva caindo mais forte do que nunca, molhando-os mais ainda; as mãos de Cato deslizando livremente por seu corpo, tocando suavemente o tecido molhado e agora totalmente transparente da calça e blusa preta.

Ela também começou a explorar mais; a tocá-lo em sua barriga, deslizando e acariciando seu abdômen, até tocar em uma das cicatrizes de Cato; essa era das menores que ele tinha, com certeza, mas não deixava de ser marca das lutas e treinos que ele passou. Clove também tinha as suas, algumas eram miúdas, outras bem grandes, mas no Distrito 2, você teria que se acostumar com isso de qualquer jeito. Aqui, cicatrizes são marcas de que você luta, de que você não é um fraco. Não há alternativa.

Ele não pareceu se incomodar ao vê-la tocando na cicatriz, mas mesmo assim ela tirou as mãos dali, começando a passar a mão em seu pescoço deslizando até um pouco mais abaixo do quadril dele. De repente, ela parou de beijá-lo.

Cato olhou para ela meio grogue pelos beijos sem nenhuma pausa, mas ainda com os olhos atentos, um pouco surpresos.

― O que houve? – ele perguntou em um tom de voz suave. – Se você não quiser, eu não vou te forçar a nada que você não quer...

― Não é isso. – ela respondeu. – É... apenas esse lugar.

Ele piscou, surpreso. Depois olhando melhor onde estavam, em um beco sujo e escuro, completamente molhados, ele começou a rir e Clove acompanhou logo depois, com o pensamento de que provavelmente estariam ficando loucos.

― Eu tenho um lugar na Academia para a gente. – ela sussurrou, selando os lábios nos dele, mas não o beijando realmente. – Você quer ir?

Ele riu mais uma vez, tão suave e bom de ouvir que a fez abrir um sorriso bobo.

― E porque eu não iria? Porque, afinal – ele falou vagamente rouco dando um beijo na testa dela. – eu sou nada sem você.



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Notas finais do capítulo

Espero que não tenha ficado muito ruim