-Liz, Liz! Droga, acorda garota! – em vão. Ela simplesmente desmaiou. Sabia que era arriscado, mas liguei pra Annabeth, pedindo pra nos buscar com a carruagem. – Annabeth!

-Leo, você é louco????

-Escuta, di immortalles! O Mi... quer dizer, o Chifrudo apareceu aqui! A Liz desmaiou! Dá pra buscar a gente??!!

-O quê?? Percy vai pirar!

-Eu estou pirando!!!

-O.K., chego aí em 2min, coloca ela em algum lugar e pega as coisas dela!

-Eu não vou pegar roupa de menina, Annabeth!!!!!

-QUE SEJA ENTÃO SÓ FIQUE PARADO!!!!!!!!!

***

Eu acordei num lugar estranho. Meu olhar demorou para entrar em foco, e quando percebi, um garoto de cabelos negros e olhos verdes (como eu, aliás, éramos praticamente iguais) acariciava minha testa, sentado na beirada da cama. Uma garota loura estava encostada na parede, conversando com Angélica. O que ela fazia ali? E haviam dois garotos do outro lado do... quarto? Isso, do quarto em que eu estava. Era pequeno, e azul-marinho, que é aquele esverdeado. Isso me alegrou.

Então veio uma dor de cabeça daquelas e tudo o que eu disse foi:

-Ai.

O garoto de olhos verdes me ajudou a sentar na cama, e perguntou se eu estava bem.

-Considerando o fato que um monstro da Mitologia Grega me atacou, estou bem. Por quanto tempo eu apaguei?

-Dois dias. – a loura e Angélica responderam.

-Por dois dias... – então eu senti um enjoou muito forte, pulei da cama com a mão na boca e corri pro banheiro. Eu comecei a vomitar, e mal conseguia ficar em pé, mas senti alguém segurar minha cintura e apoiar minha testa. Deve ter sido uma cena horrível pra pessoa. Depois eu limpei a boca e voltei pra cama. Percebi que quem havia me apoiado era o tal garoto. Ele me sentou na beirada da cama e se sentou ao meu lado. Me entregou um copo com um canudinho.

-Tome. Beba. Vai te fazer se sentir melhor.

Eu bebi, e percebi que parecia leite com chocolate supergelado, como eu gostava. Imediatamente me senti melhor.

-Como se sente? – ele perguntou, sorrindo e recolocando o copo em cima do criado-mudo.

-Como se pudesse jogar Nancy Bobofit a cem metros de distância. – imitei a fala de Percy em “O Ladrão de Raios”.

O garoto e a loura arregalaram os olhos.

-Bem... vocês tem de me explicar algumas coisas.

-Certo. Mas se cubra.

-Hã? – eu olhei para as minhas roupas, e percebi que estava vestindo só uma calcinha e camiseta (lê-se: camiseta justa) brancas.

-Santo Poseidon! – como eu disse em português, ninguém entendeu, a não ser o outro garoto, que eu percebi ser Leo. Voltei pra debaixo dos lençóis.

-Bem, como você entende de Mitologia, vai ser mais fácil explicar. – a garota loura começou.

-Aham, sei. Estou no Acampamento-Meio Sangue, e meu diretor é um centauro? Não vou cair nessa. – eu falei ironicamente. Mas todos arregalaram os olhos.

-Espera. Não pode ser verdade. – então olhei pra cada uma das pessoas a minha volta, reconhecendo sua aparência. Olhei para o garoto do meu lado. – Percy. – ele ficou de boca aberta. Me virei para a loura. – Annabeth. – ela só franziu a testa. Olhei pro Leo. – Garoto dos Reparos. – ele gritou “EI!”. Olhei pro terceiro menino, que era super pálido. – Nico. Meu Deus. Quer dizer, deuses. Ah, santo Sr.D.! – enterrei a cabeça nas mãos.

-Hã, bem... você que deveria fazer as perguntas mas... como sabe nossos nomes? E sobre o Acampamento? – Percy perguntou.

-Me passa minha mochila. – ele me passou.

Comecei a vasculhar dentro dela, até encontrar o que eu queria:14 livros, todos sobre um mesmo assunto.

-Vocês. Toma. – passei para Percy “O Ladrão de Raios”. Ele olhou o livro, sorriu, e passou para Annabeth. Fomos passando os livros até que cada um ficou com um: Percy com “O Filho de Netuno”, Annabeth com “A Batalha do Labirinto”, Angélica com “A Marca de Atena”, Nico com “A Casa de Hades” e Leo com “O Herói Perdido”.

-Então... você leu os livros? – eu assenti. – Eu disse que era uma boa ideia, Annabeth! – Percy comemorou.

-Você fez o Tio Rick escrever os livros pra avisar aos semideuses. – concluí. Todos assentiram. – Demais. Vou tentar não pirar e não pedir autógrafos de todo mundo, O.K.? – eles riram. – Mas vou avisando. Vocês vão ter que me aguentar falando suas falas e coisas que aconteceram sobre vocês!! – eles gargalharam.

-Certo. Que bom que você aceitou tão bem. – Nico falou.

-Não duvide de mim, Ghost Boy. Coisas estranhas acontecem com semideuses.

-Beleza. Não duvido. Você mete medo.

-O quê? Mas eu sou tão fofa! – falei infantilmente.

-Quer saber por que está aqui ou não? – Percy chamou minha atenção.

-Quero.

-Primeiro, desculpe: nós demos uma espiada em você quando era criança!

-Ô dó! Vou morrer! Não me importo, continue.

-Segundo, é o seguinte: você é filha de uma Nereida... ah, pra encurtar, sua mãe foi a 50ª Nereida. Se lembra das histórias?

Eu fiquei estática por um momento. Sim, eu me lembrava das histórias de mamãe. Eu mal podia acreditar. Mas eu pensei “Que se foda, meu mundo está desmoronando mesmo” e aceitei o fato.

-Meu pai? – perguntei.

-Nosso pai. – ele respondeu.

-... ma-maninho?? TÁ DE BRINCADEIRA NÉ CABEÇA DE ALGA!!!!!!! – ele se assustou achando que eu estava brava ou algo assim. Mas na verdade eu estava muito feliz. Eu o peguei, o abracei bem forte e dei um beijo na bochecha dele. Acho que ele estava feliz por ter ganhado uma irmã, porque também me abraçou.

-Espera você tá falando sério, né? – perguntei preocupada, me afastando. Mas ele só sorriu e me abraçou de novo.

-Que bom que você está bem.

***

Depois disso, eu me troquei e coloquei minhas coisas (minha mochila, com meus livros e minhas roupas [sim, a mochila era enorme]) no Chalé 3. Eu havia me acostumado com a ideia de que tudo o que eu amava realmente existia, mas mesmo assim era difícil segurar a alegria. Cumprimentei Travis e Connor Stoll, Will Solance, Clarisse la Rue, Piper McLean, Jason Grace, Hazel Lavesque, Frank Zhang... eram tantos os meus heróis! Isso sem contar que Annabeth, Leo, Nico e Percy (PERCY! LEO! OMG!) estavam me guiando pelo tour. Eu não precisava, mas gostei mesmo assim.

-Ainda não entendo como você se acostumou com a ideia tão rápidamente. Eu ainda acho que é um sonho. – Angélica comentou. Falando nisso, descobri que ela era filha de Hécate. Fazia sentido.

-Eu não sei, é que... Ah, sei lá! Faz sentido pra mim. Tudo o que aconteceu comigo, e, além disso, eu tenho essa habilidade de me adaptar à situação. – eu respondi.

Percy me ajudou a escolher os meus horários, que acabou ficando igual ao dele. Perguntei se ele não ficaria chateado, ou se eu estava sendo muito grudenta. Ele riu e respondeu que gostava da minha companhia, e que era até bom ficarmos juntos porque haviam muitos garotos de olho em mim no Acampamento. Eu ri dessa última parte.

E esse foi meu primeiro dia no Acampamento. Não achamos uma espada pra mim, mas eu tinha uma ideia em mente. Ofereci comida aos deuses e cantei junto à fogueira. Claro, não fui lá embaixo. Cantei junto aos meus amigos: Percy, Angélica, Leo, Annabeth e Nico.

Sim, o Ghost Boy cantou.

Sim, foi estranho.

Deu até medo...