Lost Memory escrita por Dri Viana


Capítulo 6
Chapter Six




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Jully e Matt tomavam café pra irem à escola, quando a porta da cozinha que dava acesso para os fundos da casa foi aberta e alguém de ótimo humor entrou brincando, sem imaginar que o clima da casa não estava para brincadeira.

— Que cara de velório são essas crianças?

Os dois olharam imediatamente para a pessoa que se pronunciou e exclamaram juntos:

— Tia Shirley!

Shirley é uma mulher na faixa dos quarenta e oito anos, que trabalha na casa Grissom desde que Jully tinha seis meses. A mulher se encontrava de férias, retornava hoje para o trabalho na casa dos Grissom's.

De ótimo humor, sensível e cuidadosa ao extremo, Shirley tinha criado um carinho enorme pelas pessoas que ali moram, principalmente as crianças. Considera os Grissom's como sua segunda família e eles, a consideravam como parte da família deles. Ela conhecia cada um daquela família muito bem, já que trabalhava ali há mais de quatorze anos.

Matt ao ver Shirley pulou de sua cadeira e correu até ela lhe abraçando. A mulher o pegou no colo e antes que pudesse pronunciar algo, o garotinho contou o que tinha acontecido com seu pai.

— Tia Shirley, o papai não lembra mais da gente. A mamãe disse que ele perdeu a memória.

Sua vozinha soou triste ao falar aquilo.

— O quê? Como assim?

A mulher olhou para Jully que os observava com uma expressão tão triste quanto a do irmão menor.

— Jully isso é verdade, querida?

Ela quis ter certeza do que tinha ouvido certo. Não que Matt pudesse ter mentido, mas crianças têm mentes fantasiosas. Só que Jully confirmou a notícia triste dada pelo irmão.

— Mas como isso aconteceu? O pai de vocês sofreu algum acidente?

Ela se aproximou da mesa onde Jully tomava café e se sentou em uma cadeira vazia ao lado da adolescente tendo Matt em seu colo.

— Não, tia. O que houve foi que...

Enquanto Jully começava a relatar como seu pai havia perdido a memória, Sara se encontrava em seu quarto, terminando de se arrumar para poder ir ao laboratório falar com Ecklie.

Ao terminar, ela parou diante do espelho e as olheiras eram visíveis, pois mal havia conseguido dormir direito com o que tinha acontecido. O máximo que conseguiu foi só cochilar, mas um tempo depois acordava ao ver o lado esquerdo da cama vazio. Por várias vezes de madrugada, ela quis levantar-se da cama e ir ao quarto em que seu marido dormia para deitar-se aconchegada ao corpo quente dele como tantas vezes gostava de dormir quando a insônia e a preocupação lhe assolavam, porém, a lembrança de que Grissom havia se esquecido dela lhe impedia de ir até ele.

Dormir sozinha naquela cama enorme, tendo o cheiro inconfundível de seu marido nos lençóis foi um martírio gigantesco para a esposa!

Para tentar disfarçar as olheiras, a mulher fez uma maquiagem que aparentemente escondeu bem os sinais claros de que não havia dormido quase nada. Foi até o banheiro pegar seu relógio de pulso que tinha deixado ontem sobre a pia quando foi tomar seu banho. Retornou ao quarto para dar-se uma última olhada no espelho e também, para colocar seus brincos delicados e pequenos que Grissom havia lhe dado. Só então pegou sua bolsa e saiu do quarto. Antes, porém, de descer à cozinha, resolveu ir ao quarto de hóspedes na esperança de saber se seu marido, quem sabe, não havia recuperado a memória tão rapidamente como a perdeu.

Chegando à porta, ela deu duas leves batidas, mas não ouviu resposta. Então devagar abriu a porta e encontrou Grissom ainda dormindo. Por alguns bons minutos ficou observando o marido enquanto ele dormia. Parecia o mesmo Grissom de sempre dormindo tão tranquilo e sereno, que era até difícil de acreditar no que havia lhe acontecido ontem.

Sem fazer barulho para não acordar o amado, Sara saiu do quarto. Em segundos já chegava à cozinha e encontrava seus filhos com Shirley, que assim que viu sua patroa foi até ela.

— Jully acabou de me contar o que aconteceu com o doutor Grissom. Como à senhora está com tudo isso?

Antes de responder a pergunta, Sara pediu aos filhos que subissem para escovar os dentes e pegarem suas coisas, que a van logo chegaria para buscá-los. Os dois subiram, deixando as duas mulheres sozinhas ali.

— Ai, Shirley!

Ela deu um suspiro alto. 24 horas haviam se passado e mesmo assim o que aconteceu ainda lhe parecia um pesadelo.

— Eu estou desmoronando por dentro.

Ela confessou, segurando as lágrimas para não chorar.

— É uma situação complicada que eu nunca imaginei passar na minha vida.

— E o patrão onde está?

— Dormindo no quarto de hóspedes.

— No quarto de hóspedes, por quê?

A mulher franziu a testa estranhando aquilo, pois em anos que conhece seus patrões, ela jamais ouviu Sara contar que eles dormiram separados senão fosse por conta do trabalho de Grissom. Mesmo se brigassem feio, ainda assim, nenhum deles dormia no quarto de hóspedes. Aquela estávamos a primeira vez que ouvia da sua patroa aquilo.

— Ele disse ontem que não se sentiria a vontade dormindo comigo.

Ao contar isso, Sara deixou escapar uma lágrima que logo tratou de enxugar.

— Sinto muito!

Shirley imaginou o quão duro devia ter sido para sua patroa ouvir aquilo, sendo ela uma mulher tão apaixonada pelo marido como era.

— Você não faz idéia da dor que eu sente ontem quando ele disse isso.

Shirley olhava compadecida para Sara por ver a dor e a tristeza que sua patroa demonstrava.

— Ele olha pra mim com indiferença, como se eu fosse uma estranha.

— Mas infelizmente agora, a senhora é isso pra ele.

Sua cabeça sabia disto, mas seu coração não conseguia entender. Amava demais seu marido e ver que ele não demonstrava mais através de seus lindos olhos azuis aquele mesmo amor de antes, lhe rasgava o peito causando uma dor imensurável.

— Eu não sei se vou ter forças o suficiente pra aguentar essa situação por muito tempo, Shirley.

— Vai sim!... Por mais difícil que seja, a senhora tem que ser forte. Se faltar força busque nos seus filhos e ainda assim, se precisar de mais força ainda, pode contar comigo que vou estar aqui pra lhe ajudar.

De maneira carinhosa, Shirley envolveu as mãos de Sara nas suas.

— A senhora sabe o quanto gosto de todos vocês e no que for preciso eu vou ajudar. Pode ter certeza disso!

Sara a olhou agradecida por suas palavras. Shirley sempre lhe dizia as palavras certas no momento certo e não foi diferente dessa vez.

— Obrigada!

Ela agradeceu dando um leve aperto na mão de Shirley.

— Que bom que já voltou!

— E acho que voltei no momento certo.

— Também acho!

— Vai ver como dará tudo certo e logo o patrão vai estar com a memória dele de volta. Tenha fé e acredite nisso!

 

—-§--

Sara chegou ao laboratório e encontrou Judy na recepção.

— Sara! Como esta?

Perguntou com amabilidade e gentileza a recepcionista.

— Mais ou menos, Judy.

A recepcionista percebeu o semblante e a voz triste da ex-perita. Se fossem mais íntimas lhe questionaria a razão de estar assim, mas apesar dos anos que conviveram ali enquanto Sara trabalhava no laboratório, ainda assim, não criaram tanta intimidade que desse margem suficiente para a baixinha recepcionista tentar saber mais da mulher de Grissom.

— Eu liguei ontem e marquei com Ecklie de vir hoje aqui pra conversar com ele.

— Ah, sim. Ele está na sala dele, pode ir lá já que conhece o caminho. Inclusive Ecklei está lhe esperando.

— Obrigada!

Sara seguiu pelos corredores daquele laboratório onde trabalhou durante oito anos. Algumas pessoas do diunor que estavam trabalhando e lhe conheciam, acenaram para ela que retribuía os acenos. Havia muitas lembranças boas daquele lugar. Foram bons tempos vividos ali.

Chegou à sala de Ecklie e bateu a porta. Esperou até ouvir lá de dentro a autorização para que entrasse.

— Sara!

Conrad levantou-se para cumprimentá-la.

É certo que nunca tiveram um bom relacionamento por terem opiniões diferentes e também por conta de Sara várias vezes bater de frente com autoritasmo de Conrad. Mas ambos aprenderam a se respeitar e terem um bom convívio depois que ela virou a esposa Grissom. Desde então as coisas passaram a ser diferentes. Atualmente, tinham um ótimo relacionamento, tanto que o diretor do laboratório costumava frequentar à casa dos Grissom quando haviam comemorações na casa do casal.

— Fazia um tempo que não aparecia por aqui.

— Pois é. E lamento que o motivo que me traga aqui não seja muito bom.

— Sente-se!

Ele lhe indicou uma das cadeiras vazias que haviam diante de sua mesa.

— O que houve? Pelo telefone estava bem séria e aqui está mais ainda.

Quando ele soubesse o motivo daquela seriedade total lhe entenderia.

— O assunto que tenho pra tratar com você é bem sério e grave.

— Sou todo ouvidos! - ele se recostou em sua cadeira e a encarou com total atenção.

De maneira objetiva e clara, Sara relatou a Ecklie detalhadamente o que tinha acontecido com Grissom ontem. O homem foi ouvindo a tudo calado e sem fazer interrupções. Mal podia acreditar que algo como aquilo estivesse acontecendo com o supervisor. Era até uma história meio inacreditável, só que era a verdade, nua e crua.

Assim que Sara acabou de lhe contar tudo, Conrad demonstrava total confusão além de estar estarrecido com o que ouviu.

— Sara, eu não sei nem o que dizer. - Estava sendo difícil digerir aquela situação toda. — Você sabe que às vezes Grissom e eu temos nossas divergências, mas se precisar de alguma coisa posso tentar ajudar.

— Obrigada. Mas agora tudo o que preciso que faça por ele é lhe adiantar as férias. O Grissom não tem condições alguma de exercer suas funções de chefe. Ele não se lembra de absolutamente nada do trabalho dele, Ecklie.

— Tudo bem, vou fazer isso e vou dar mais quinze dias de férias, assim ele ficará com quarenta e cinco dias. Acha que ele vai se recuperar nesse tempo? Uma perde de memória não é algo que se resolva tão facilmente, Sara.

Ela sabia, mas tinha esperanças de que o quadro de saúde de seu marido se resolvesse tão rapidamente quanto começou.

— Eu estou torcendo que assim como ele perdeu a memória repentinamente, possa recuperá-la da mesma forma.

— Seria bom levá-lo à um médico, não acha?

— É o que pretendo fazer.

Por mais alguns minutos eles acertaram as férias do supervisor e após isso, Sara saiu com tudo acertado. Aproveitou e deu uma passada na sala de seu marido para recolher alguns pertences dele que estavam ali e logo em seguida, saiu do laboratório, porém resolver não ir direto para sua casa. Precisava de um momento a sós para espairecer e tentar pôr as coisas de sua cabeça em ordem. Assim, ela deu uma passada em um lugar que era especial para ela e seu marido.

Enquanto isso na casa Grissom...

O supervisor que já havia acordado, saiu do quarto onde tinha dormido e foi em direção ao que ele conhecia como sendo o de Sara. Chegando lá bateu na porta e como não ouviu resposta arriscou-se em entrar no cômodo assim mesmo, porem só encontrou o vazio por ali. Ficou um tanto desapontado com isso. Se virou para sair dali, mas se deparou com a figura de uma mulher desconhecida.

— Quem é você?

Ela pode comprovar que seu patrão de fato estava desmemoriado, já que não lhe reconheceu. Tratou de se apresentar para ele.

— Sou a Shirley, doutor Grissom. Trabalho aqui na sua casa há anos.

— Ah, sim!... Desculpe não lembrar quem seja, mas é que perdi a memória e não lembro mais de nada e nem ninguém.

— As crianças e a dona Sara me contaram sobre isso.

Ele assentiu meio sem jeito e depois mais sem jeito ainda, perguntou por Sara, já que não a encontrou ali no quarto.

— A senhora saiu. Foi até o laboratório onde o senhor trabalha pra falar com seu chefe sobre o que lhe aconteceu.

— Faz tempo que ela foi?

— Um pouco.

— E as crianças?

— Na escola.

— Hum...

— O senhor precisa de alguma coisa?

— Você sabe... Onde ficam as minhas roupas?... Quero tomar um banho e trocar essa roupa por outra.

Shirley lhe explicou exatamente onde ficava o quê. Em seguida avisou que ele podia tomar banho ali no banheiro do quarto, que ela iria arrumar primeiro o quarto dos filhos dele e depois quando ele acabasse viria arrumar o quarto que estava.

O homem assentiu e viu a mulher lhe deixar a sós no cômodo. Ele se sentia um completo estranho ali. Aquele quarto, o banheiro, tudo era desconhecido e novo para ele. Sentia receio de tocar em qualquer coisa que fizesse parte daquele lugar, como se não fosse nada seu ali, quando na verdade era tudo seu. Aquela era sua casa, sua e sua. Nela, ele viva com SUA família. Não queria nem pensar como seria se não lembrasse mais daquelas pessoas que moravam com ele. Não queria fazê-las sofrer.

 

—--§---

No instante em que descia de seu carro em frente de casa, Sara viu a van escolar também estacionar e dela descer seus filhos. Os dois vieram em sua direção e nem de longe eram aqueles sorridentes e alegres que costumavam ser.

— Oi, meus amores!

Ela abraçou e beijou cada um deles.

— Como foram na escola?

Sempre fazia questão de saber dos dois como tinha sido o dia deles e Grissom era a mesma coisa antes Dr perder a memória.

Enquanto entravam em casa eles foram lhe contando sem um pingo de ânimo como tinha sido. Jully teve uma prova e Matt fez trabalhos de pintura. Chegaram à cozinha e Shirley terminava de pôr a mesa do almoço, Sara mandou os filhos subirem e lavarem as mãos para almoçar. Assim que eles deixaram-na sozinha com Shirley, a morena questionou-a sobre Grissom. A outra mulher contou que o supervisor tomou um banho, desceu para comer algo e depois voltou para o quarto de hóspedes onde passou a manhã toda trancado.

Na hora do almoço, Sara subiu e foi chamar Grissom para comer com eles, a princípio ele rechaçou o convite alegando que não estava com fome, mas depois de muito ela insistir, conseguiu convencê-lo a se juntar a família para o almoço. Durante a refeição o silêncio predominou, vire-mexe o supervisor olhava para os filhos que o olhavam querendo dizer algo só que não conseguiam. Após o almoço, Grissom pediu licença e subiu para o único lugar que se sentia seguro ali, o quarto de hóspedes.

 

—--§---

As cinco a campainha da casa tocou e quando Shirley abriu a porta se deparou com os amigos de seus patrões. Sara havia lhe avisado mais cedo da vinda deles. A empregada deu passagem ao grupo para que entrassem na casa. Enquanto eles se acomodavam no sofá, ela os avisou que ia chamar a Sara que estava no quarto de Matt lhe ensinando a lição da escola.

A morena quando desceu as escadas encontrou todos ali com expressões confusas e preocupadas. Cumprimentou a cada um dos amigos e pediu a Shirley que trouxesse um café para eles.

— Sara o que houve? Me deixou preocupada com o telefonema de ontem.

Catherine era visivelmente a mais preocupada, como se já estivesse pressentindo a gravidade do assunto.

— Foi algo sério, que requer mesmo preocupação.

— Desse jeito está nos assustando, Sara.

Nick se remexeu inquieto ao lado de Greg. Não estava gostando nada daquela seriedade toda que via na feição de sua ex-colega de trabalho.

— Onde está o Gil?

— No quarto, Jim!

Shirley chegou trazendo a bandeja com os cafés. Serviu cada um dos visitantes e depois se retirou para cuidar de seus afazeres.

— É sobre o chefinho que quer falar conosco, Sara?

— Sim, Greg. Aconteceu uma coisa com o Grissom e ele vai precisar de toda ajuda possível.

— O que aconteceu com ele, Sara?

Warrick perguntou impaciente. Tinha Grissom como um pai e assim como os outros, ele estava visivelmente preocupado com o amigo/chefe.

Sara respirou fundo antes de dar-lhes a notícia bomba.

— O Gil perdeu a memória!!


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Notas finais do capítulo

Espero os comentários de vcs.
Bjs e ate o proximo!