O Primeiro Massacre Quaternário escrita por J Roger


Capítulo 2
Festa de Jantar




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– Accalia e Irish Dragon são os tributos do Distrito 1!

Essa foi a última frase lógica que Accalia ouviu depois que seu nome e de seu irmão foram tirados daquelas duas enormes bolas de vidro. Depois dela foram só gritos, assobios e tudo mais que multidões sabem fazer de melhor e mais barulhento.

A Colheita era um dia de festa no Distrito 1. O sorteio dos nomes era o grande evento social do ano e o distrito dos artigos de luxo ficava imerso em expectativa. As maiores famílias do Distrito preparavam festas e banquestes enormes para o caso de um de seus herdeiros serem escolhidos para os Jogos. Grande parte dessa expectativa se valia do fato que os jovens eram preparados desde bebês para os Jogos Vorazes. No Distrito 1, a Legião era responsável por ensinar tudo o que os lutadores devem saber sobre armas. Como fabricá-las, como manejá-las, como guardá-las e por fim, como usá-las para matar alguém. Não existe arma que os legionários não saibam manejar, ou terreno no qual não saibam lutar. Por isso são chamados pelos outros distritos de Carreiristas, começam desde muito jovens e se tornam praticamente imbatíveis. Quase sempre venciam os Jogos.

Ela desceu do palanque erguido especialmente para o Dia da Colheita na ponta Norte da ágora central do Distrito e foi recebida pelo par de monstruosos braços do mestre de armas.

– Finalmente uma legionária de peso...

O resto se misturou aos parabéns vindos de todos os lados possíveis, que, a medida que ela avançava na multidão, se transformavam em gritos disformes. Quando finalmente saiu, viu o pai de pé na frente da cadeira que ele ocupara até alguns momentos antes. Seu rosto sempre sério e altivo tomou uma forma grotesca, algo próximo a um sorriso. Talvez o mais próximo que Alex Dragon já chegara a alcançar. Seus olhos brilhavam como se tivessem acabado de sair da forja.

– Minha filha! Sei que trará honra enorme à família Dragon!

Accalia abaixou a cabeça em sinal de confirmação, mas manteve o olhar na altura do dele. Accalia Dragon era uma jovem de 16 anos, com cabelos curtos e negros como carvão. Era uma bela moça, mas seus olhos, dourados da família Dragon, davam a seu rosto uma ideia de ferocidade.

Irish chegou depois de alguns segundos, e ela deu um passo para o lado para deixá-lo conversar com o pai. Respondeu vagamente à algumas felicitações enquanto vasculhava a platéia em busca dos cabelos avermelhados de sua mãe. Sentiu uma mão tocar seu ombro, virou-se rapidamente, vendo a figura de Robert.

– Ela não está aqui. - Ele disse. Não precisou explicar. A senhora Dragon não tinha gostado da seleção dos tributos.

Robert olhou para a garota, apertando seu ombro para chegar mais perto. Ele era alto e forte, como todos os homens do distrito, mas tinha alguma coisa especial... cheiro de coentro. Ele era um dos únicos homens que ela conhecia que sabiam cozinhar. E ele era o melhor amigo de seus pais, havia sido praticamente criado com eles. Tanto Robert quanto Accalia sabiam que dois filhos nos Jogos Vorazes era para Alex o maior orgulho possível, já para a senhora Dragon, a maior desgraça possível. Aquilo ainda renderia uma bela briga. Ele desviou o olhar e viu Irish sendo assediado por uma multidão de homens. Homens fortes como ursos. Foi resgatá-lo antes que ele perdesse um braço para o entusiasmo deles.

Uma vez resgatado, Irish veio até a irmã e passou o braço pelos seus ombros.

– É isso irmãzinha.

Ela deu um soco nele e ouviu uma risada limpa saindo daqueles lábios, mostrando os dentes maravilhosamente brancos. Ele era um homem bonito, com certeza... Mas beleza não costumava vencer os Jogos. Percebendo que alguma coisa parecia errada, ela saiu de baixo de seus braços e se posicionou de frente para ele.

– É isso irmãozinho.



O jantar daquela noite foi digno de um banquete na famosa Mansão Dragon. Das grandes famílias do Distrito 1, os Dragon eram os mais antigos, os mais ricos, de mais posses e luxos.

O hall de entrada tinha duas escadas que lembravam duas asas cujas pontas se encontravam no segundo andar, descrevendo um círculo perfeito. No espaço entre elas havia um enorme dragão de rubis cor de sangue, com dois olhos de ouro líquido, confinados em duas bolinhas de cristal. A família Dragon tinha esse nome por causa de seus famosos olhos dourados.

Subindo pelas escadas até o segundo andar havia um sala enorme, com uma mesa no centro igualmente enorme. Essa mesa estava coberta de comida de uma ponta a outra. Nas cadeiras se sentavam manequins ambulantes, pendurados de jóias até os dedos dos pés. As pessoas passavam o ano inteiro fazendo, selecionando e polindo as jóias mais belas para o Dia da Colheita. O resultado era uma multidão tão brilhante que era difícil encarar.

Accalia tinha escolhido um vestido feito de tiras de couro e seda vermelha, uma variação da armadura que tinha crescido usando. Se sentia mais confortável assim do que com aqueles vestidos pequenos e colantes. Sem falar em protegida. Não seria a primeira vez que um tributo é assassinado durante o jantar no distrito. Passou os dedos nos curtos cabelos e olhou para o enorme espelho a sua frente.Tinha um corpo simétrico, bonito de se olhar, fruto de uma vida inteira de treinamentos exaustivos em todos os sentidos possíveis.

Ir para os Jogos era o sonho de uma vida. Para os jovens do Distrito 1, diferente dos outros, os Jogos Vorazes eram uma oportunidade não de se conseguir uma vida melhor, mas de honra e fama imensuráveis. Os vencedores dos jogos são heróis eternos. Têm estátuas espalhadas por todos os cantos, monumentos em sua memória. Vencer os jogos para eles significa imortalidade. E esse era o seu destino. Nunca houve dúvida. Já Irish... ele era um excelente arqueiro, sem dúvida, se jogasse um lenço a 500 metros de distância dele, em tempos de vento, ou pregasse um alvo em um beija flor ele seria capaz de acertá-los sem fazer muito esforço. Mas ele não tinha o material dos Deuses. Ele não tinha sido feito para um legionário, um Carreirista. Mas agora não tinha volta. Eram Tributos, e só um deles voltaria, se voltasse.

Com cuidado para não ser acertada por uma das taças de vinho que dançavam nas mãos dos convidados já irrecuperavelmente bêbados, Accalia procurou o caminho para fora do salão, entrando no emaranhado de corredores que levavam aos diversos quartos. Não tinha visto a mãe naquele dia e já estava começando a se preocupar com ela. Finalmente chegou ao corredor que conduzia para o quarto dos pais. A mansão Dragon era um labirinto atapetado, somente com muitos anos de prática se andava nele sem se perder. O som de uma porta se batendo percorreu o corredor, e, mecanicamente, Accalia se escondeu em um quarto, vendo seu pai passar raivoso na sua frente. Esperou até que ele fosse e seguiu devagar para o quarto deles. Robert estava lá, e Irish também, eles pareciam tensos. Quando a viu, Robert fez um sinal para que ela se aproximasse.

– Sua mãe quer ver você, Accalia.

Deu uma olhada para os dois uma última vez e entrou no quarto escuro. A cama estava vazia, mas haviam algumas velas acesas na cabeceira. Olhando para o lado viu, na penumbra completa, sua mãe enrolada em um cobertor velho. Ela não parecia nada com a senhora elegante que encenava ser nas diversas reuniões do Distrito. Na verdade, Accalia nunca a tinha visto tão desarrumada.

– Minha filha!

Ela correu para a garota, abraçando-a de um modo que pode sentir seus ossos contra os dela, ela parecia não comer nada a um bom tempo. Colocou o rosto nos ombros da filha e desabou em lágrimas.

– Oh meu bebê... Minha filhinha linda... Minha criança...

Accalia abraçou-a de volta e por mais alguns estantes continuaram assim, ela murmurando e a filha quieta, com os braços ao redor dela. Quando ela se soltou, começou a andar de um lado para o outro do quarto, com os braços na cintura, fungando como uma criança. Impaciente, Accalia foi até ela, segurou seus braços de um modo gentil, mas firme e disse:

– Mãe, está tudo bem, vai ficar tudo bem.

– Eu sei que vai... Ninguém nunca derrotou você, minha filha... Você é uma das melhores legionárias que já treinaram nesse distrito... Se alguém vai vencer esses jogos vai ser você, querida... Eu temo... Temo por seu irmão... Não posso suportar perder seu irmão...

Accalia sentiu a raiva crescendo dentro dela. Irish tinha sempre sido o preferido... O filho homem... O herdeiro... Ela tivera que conquistar tudo! E ainda assim ela não suportaria perdê-lo...

– O que quer que eu faça, minha mãe?

Ela olhou para filha com seus grandes olhos azuis. Azuis, não dourados. Accalia sabia que ela não era uma Dragon, e nunca seria.

– Proteja seu irmão na arena. Não deixe que ele se machuque. Não deixe que o matem. Jure... JURE.

Estavam frente a frente, a mãe segurando a filha com uma força que ela nunca havia pensado que teria. Esse juramento seria uma sentença de morte, Irish seria nada mais que um fardo, e Accalia sabia disso. Mas ela também sabia que aquela mulher na sua frente, aquela mulher magra e chorosa era sua mãe, e ela não a soltaria até que desse sua palavra...

– Eu juro.


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Notas finais do capítulo

Não gosto da mãe dos Dragon.
Accalia Dragon seria, num filme dessa fic, Olivia Wilde como Quorra em "Tron - O Legado", caso queiram ter uma ideia.
Irish Dragon pode ser descrito tanto com a aparência de Niall Horan, da banda One Direction, porém com cabelos pretos.



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