Bruxas De Gotye escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Meu mais novo romace. Espero que gostem!!! :D



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O vento chacoalhava a copa das árvores, produzindo sua própria sinfonia. A tarde estava cinzenta, com a escassa claridade transpassando pelo véu das nuvens, impondo a nitidez dos caules úmidos e o verde dos pinheiros, todos eles arranjados como uma muralha ao redor da grande mansão Gotye.

Eram poucas as vezes em que o casarão parecia habitado; por mais que estivesse em perfeitas condições e cuidados, um aspecto lúgubre era impregnado nas paredes e na madeira escurecida do assoalho, desde a base até o telhado do segundo andar.

Horas separavam-na da cidade grande, reinando um silêncio natural quase petrificante. Três chevys pretos dirigiam pela estreita estrada de terra levantando poeira, até passarem pelo alto portão enferrujado aberto e estacionarem em frente a mansão. Não havia jardins ali, apenas uma fonte de água cristalina no meio do cascalho.

Quatro mulheres saíram vestidas de preto dos carros, num movimento gracioso. A mais jovem, cujos cabelos cor de ameixa caiam longos pelas costas, mencionou, erguendo o rosto:

- Até que Elise tinha bom gosto para moradias. Posso sentir seu espírito tétrico no ar.

- Nada mal para a América – resmungou a garota que tinha acabado de sair do carro, usando um vestido de cetim preto e de cabelos tão loiros que lembravam neve.

Elas caminharam desenvoltas até a escadaria de pedra na entrada. Pela grande porta de madeira escura e dobradiças de ferro saiu um casal de meia idade vestidos de preto, com o olhar cheio de escrúpulos.

- São as irmãs de Elise, não? – o senhor alto ajeitou os óculos e estendeu a mão para a primeira que cruzou seu caminho, uma mulher de largos cachos vermelhos – É um prazer finalmente conhecê-las, pena que em tão infelizes circunstâncias.

- Scarlett Campbell, senhor..

- Thomas, e Marise Feller.

Com um movimento delicado com a mão, ela apresentou suas outras irmãs mais novas: Lorenna e Valerie, as gêmeas, e Georgia, a caçula.

Marise indicou a todas para que entrassem, em um meio sorriso melancólico. O vestíbulo abria em uma escadaria circular de madeira e tapetes persas, e a esquerda a sala de estar. A presença delas imediatamente mudou toda a atmosfera, freando as conversas em um tom respeitoso e atraindo desviados olhares de curiosidade. Não à toa, pois as indagações em comum deitavam sobre o curioso fato de terem a pele mais clara que a neve, e os olhos escuros, levemente vermelhos nas íris. Pareciam incontáveis os familiares ali presentes, em sua totalidade humanos, e em certeza todos ignoraram as suspeitas sobre elas e pairou um gélido clima de respeito exagerado.

Scarlett iniciou uma conversa com o Sr. Feller no canto ao lado da lareira acesa, mais por educação do que por espontânea vontade.

- O resto dos nossos primos e amigos de Elise irão chegar em poucas horas – ela disse, com sua voz firme e madura, o sotaque genuinamente britânico.

- Não se preocupe, Srta. Campbell...

- Por favor, me chame de Scarlett.

- Sim, perdoe-me – Feller estava tendo todos os cuidados possíveis em momentos tão delicados.

A pequena governanta, com as mãos cruzadas sobre as pernas, observava cuidadosamente cada um dos rostos presentes na sala. Usando um longo casaco preto de abas largas, parecia mais baixa e corpulenta do que realmente era. Seu coração pesava ao pensar nas meninas que deixara tão cedo ao se mudar para os Estados Unidos.

Seus pensamentos foram interrompidos com o aproximação das três jovens na sala de jantar ao lado.

- Nana? – uma das duas meninas de cabelos loiros resplandecentes e olhos curiosos perguntou – É você?

A pequena governanta levantou da cadeira perplexa, mal conseguindo conter lágrimas de saudades.

- Lorenna? Valerie? – ela abraçou longamente ambas gêmeas ao mesmo tempo, e depois virou-se emocionada para a de cabelos negros – Georgia! Deuses! A última vez que vi estava em um berço!

Georgia abraçou-a, sendo levada pela educação do que por verdadeiras emoções. Afastando-se, Nana enxugou os olhos com seu lenço de bolso.

- Estão tão bonitas! E altas! – Nana era bem mais baixa que Lorenna e Valeria, as mais altas das irmãs. Analisou-as de baixo a cima. Diferentemente das demais pessoas presentes, escondidas dentro de roupas pretas formais, elas usavam meias-calças escuras transparentes e vestidos curtos. E altíssimos sapatos de salto. Elegantes porém nada discretas.

Georgia começou a se sentir entediada no meio da conversa, não entendia uma sequer menção aos fatos do passado, no qual Nana cuidou de suas irmãs mais velhas. Ouviu algo sobre os anos em que passara na América servindo a Elise e saiu sem avisar. Percorria silenciosamente toda a espaçosa sala de sofás de veludo antigos, abajures de vidro, assoalho ruidoso e janelas cujas cortinas cor de vinho finalmente haviam sido abertas.

Abria seu caminho por entre os humanos, cujas feições não representavam nada de importante e passavam inevitavelmente de soslaio pela sua visão. Quanto mais a presença das irmãs, e especialmente da mais nova, se alastrava pelo ambiente, a curiosidade repleta de um certo temor inicial iam sendo intensificados. A maioria ainda não perdia chances de lançar discretos olhares em direção as belas, porém misteriosas, mulheres. Esses olhares não eram despercebidos por nenhuma delas, especialmente por Georgia. “Mortais. Meros e simplórios mortais”, pensou.

Em cima da espaçosa e decorativa lareira acessa, haviam diversos porta-retratos com fotos de sua irmã Elise. Ela pegou o maior deles, a nítida foto do dia do casamento de Elise e Reed. “Com certeza eles apenas escolheram as fotos de humana de Elise,” pensou, lembrando-se que a preparação da cerimônia fúnebre estava nas mãos de Reed como marido, ou como pensava Georgia, recém-viuvo.

- Não te vi no casamento deles.

Subitamente uma voz segura e intensa destacou-se no meio das conversas paralelas da sala, uma voz próxima ao seu ouvido. Ela não se moveu nem se interessou em virar, ficou apenas olhando a fotografia.

- Isso porque não fui ao casamento.

- Posso saber porque?

Dessa vez Georgia repousou o porta-retratos e girou o rosto em direção a pessoa que a sombreava. No mesmo instante, ela conteve a surpresa em sua tez. Era um rapaz mais alto que ela, de finos cabelos escuros e brilhantes como petróleo liquido e olhos surpreendentemente claros e curiosos sorrindo para ela, segurando a pergunta no ar.

- Nosso vôo foi cancelado de última hora. – uma sobrancelha sua se ergueu, em tom aústero ela mentiu descaradamente.

- Pelo seu sotaque você não é americana.

- Não mesmo. – evitou comentar seu repudio por estadunidenses, mas um fio orgulhoso saiu de sua resposta mesmo assim. – Nasci e fui criada em Londres. Sou Georgia Campbell.

Ela não tinha estendido sua mão a ele, no entanto, o desenvolto rapaz pegou-a delicadamente e curvou-se para beijar sua mão.

- Leroy Black.

“Ele é diferente de todos os mortais, sua áurea se destaca,” pensou Georgia, porém seu sobrenome não a remetia a nenhuma família do submundo que conhecesse. Não sentia magia nem qualquer estímulo além do vindo de suas irmãs, e sua intuição nunca falhava. Ele é obrigatoriamente um humano. Mortal.

- E você é.....?

- O meio-irmão de Reed. – ele deixou o sorriso de lado e olhou diretamente para os olhos de Georgia - Não convivi muito com sua irmã Elise, Georgia, mas desejo-lhe minhas sinceras condolências.

Ele ainda segurava suavemente os dedos dela, ela percebera depois. Puxando sua mão de volta, ela agradeceu um tanto fria.

Scarlett virou seu olhar do outro lado da sala para ela, e Georgia sentiu-a chamando todas as irmãs. Pediu licença ao garoto, que não parecia ser mais velho do que ela, e vestia uma camiseta de linho preta dobrada no cotovelos.

- O Sr. Feller contou-me que o enterro será amanhã pela manhã, então acho melhor nos despedimos de Elise. – Scarlett anunciou baixo, com uma taça de vinho entre os dedos. Todas as quatro estavam ao redor do caixão de carvalho preto, elevado por um tripé, num canto da sala. O interior era forrado em seda branca, combinando com a pele pálida da cadáver. Pela forma como as irmãs lembravam, os cabelos ondulados e negros, os lábios finos, e os traços delicados do rosto de Elise ainda estavam preservados, porém apagados com a resoluta morte humana.

- Da forma humana de Elise, você quer dizer. – Valerie acrescentou, e logo foi repreendida visualmente por Scarlett.

- Não. Essa será a última vez que a veremos.

As jovens ao seu redor contraíram as sobrancelhas em dúvida, automaticamente se aproximando uma da outra como que para abafar um segredo. Scarlett notou essa esperada reação de suas irmãs mais novas, e tomou um gole do vinho.

- Não estamos no melhor lugar nem hora para esclarecermos as coisas. – ela mantia seu tom de voz normal e impassível, para não atrair mais atenção do que já havia obtido.

- A Família Real não aprovou a reencarnação de Elise? – Lorenna perguntou quase em um sussurro, sem conseguir refrear suas inquietações.

- Eles nunca aprovaram nada em Elise, em primeiro lugar. – Scarlett respondeu, mantendo sua postura impecável. – Desde o casamento até a renúncia de sua imortalidade. As consequências vieram de certo modo rápido para ela, de fato, de sua saúde de antes não restaram nem resquícios. A humanidade foi o fim para ela. 



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Notas finais do capítulo

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