O Paraíso No Inferno escrita por BaaM13


Capítulo 1
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Alex sofre uma grande mudança em sua vida. Tudo que ela conhece deve ser deixado para trás, porque só assim ela pode viver. Afastada dos pais e amigos ela se vê perdida em uma nova cidade, uma nova vida. Tudo está ruim e tende a piorar, mas ela consegue sobreviver.



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Em uma manhã de outono, na Itália, fui acordada pela minha mãe que estava exasperada.

– Hum? – murmurei querendo dormir um pouco mais.

– Filha, querida, precisamos ir... o taxi está aqui – ela gaguejou. O que ela queria dizer com aquilo? – a mala... casaco... livros... tudo, não, ainda falta... – ela falava consigo mesma agora. Levantei a cabeça afim de ver o que estava acontecendo quando me deparei com meu quarto totalmente vazio. O armario, a comoda, o abajur, o sofá, a estante de livros e os meus antigos brinquedos não estavam mais lá.

– Mãe... – senti um desespero crescer dentro de mim – o que..?

– Estamos sem tempo – minha mãe disse puxando meu braço para eu levantasse da cama – precisamos ir... – ela dizia desesperada.

– O que está acont...

– Não se preocupe, está tudo bem... Só coloque essa roupa agora – ela me entregou um vestido bege que não combinava com minha pele, devido a sua palidez, mas comecei a me vestir mesmo assim – seu pai está nos esperando lá embaixo.

Eu não estava entendendo o que havia acontecido. Mas como uma boa filha, obedeci minha mãe sem questionar. Aparentemente só meu quarto estava vazio, o que significava aquilo?

Desci as escadas acompanhando o ritmo rápido da minha mãe. Lá em baixo encontrei meu pai coçando a cabeça. Sem pontas de dúvida, algo estava completamente errado.

– Pai, o que está acontecendo? – minha voz estava cheia de preocupação.

– Uma injustiça, isso sim que está acontecendo! – ele estava suando frio. Sua aparencia parecia de alguem que não dormia á dias e havia tomado muito café. – o que aqueles italianos pensam que são? Fazer isso com a gente... mas que... – meu pai não terminou a frase.

– fazer o que? – perguntei pela milésima vez esperando obter resposta. Mas é lógico que não.

– Entre no taxi, seu pai vai te acompanhar filha, boa sorte, adeus. – minha mãe disse para mim com lagrimas nos olhos. Para onde eu ia? Porque ela estava se despedindo? O que estava acontecendo?

– Mãe... ? – disse com um nó na garganta.

– Voce vai ficar bem na sua nova casa... – parei de ouvir o que ela dizia quando foi pronunciada a frase “nova casa”. Que diabos significava aquilo? Tentei me concentrar em suas palavras – ... eles são bem legais, são boa gente, vão cuidar de você... e nós, bem, vamos ficar aqui, mas vamos lidar bem com esses pequenos problemas quanto á nossa religião... – religião? Então arregalei os olhos quando percebi do que se tratava: perseguição aos judeus... e eu sou judia. Não contive as lágrimas. Abracei minha mãe tendo consciência de que essa seria a ultima vez que a veria.

– vou ficar aqui – disse entre soluços.

– Não, querida, o certo é ir... eles não vão revelar a ninguém sobre sua religião, pagamos uma boa quantia para isso – a voz de minha mãe estava falhando. Então o plano deles era tentar fazer com que eu não morresse. E funcionaria, porque éramos uma das famílias mais ricas da cidade, então a quantia paga deveria ser imensa. Mas não queria sobreviver enquanto eles corriam risco de vida. Era muito injusto.

– Mamãe, me escute, por favor... – implorei.

– Filha vá... ainda poderemos nos comunicar por cartas, você sabe... – ela falou e então saiu sem suportar a decisão que ela e papai tomaram. Pude ouvir seus soluços vindo da cozinha. Estava tão chocada que parei de chorar. Apenas segui meu pai até o taxi.

– vou te acompanhar filha, é uma longa viagem até a Inglaterra – Inglaterra? Inglaterra? Eu iria para Inglaterra? Esse era o sonho de toda garota de 18 anos, mas nas minhas circunstancias isso era um pesadelo.

No táxi até o aeroporto a viagem foi silenciosa. Meu pai estava estranhamente quieto, essa era a dica de que ele estava sofrendo. sem pensar duas vezes eu o abracei. Não conseguia entender o que eu sentia exatamente. Eu não tinha mais um lar e não tinha nenhum amigo comigo. Estava deixando tudo que amava para viver em um local desconhecido, com pessoas desconhecidas que eu nem sabia se iriam gostar de mim. Eu preferia ficar em casa, com a grande chance de ser pega e morta, do que longe dos meus pais e de todos que amava. Mas como sempre a decisão não era minha.

A viagem foi longa. No avião fiquei sozinha e meu pai já havia voltado para casa. A única coisa que ajudou a me distrair um pouco foi um livro. Mesmo assim as lágrimas me acompanharam a viagem inteira.

Quando cheguei à Inglaterra, mais especificamente em Londres, comecei a caminhar até a casa da minha nova família com um pequeno mapa desenhado pela minha mãe para me guiar. Nessas circunstancias em que eu estava não consegui curtir as ruas e paisagens de Londres. O céu estava com nuvens e a temperatura colaborava, não era quente nem tão frio. Era o tipo de clima que eu gostava. O vento passava por mim, bagunçando meus cabelos e mostrando que a chuva ia chegar a qualquer momento. As ruas desertas nessa hora do dia me permitiam derramar as lagrimas que teimavam em cair. Afinal, ninguém iria me ver.

Quando cheguei á nova casa, já estava mais calma e preparada psicologicamente para conhecer novas pessoas. A única coisa que estragava este meu disfarce bem preparado eram os olhos avermelhados e um pouco inchados. A minha nova casa era grande, de três andares. A pintura branca e as flores nas janelas diferenciavam a casa das outras da rua, que eram de tijolos. A porta era de vidro e tinha uma cortina no lado de dentro para impedir que todos vissem como era a casa por dentro. Então me preparei para bater na porta. A campainha que toquei era um pequeno sino, e seu som ecoou na rua deserta.

Fui recebida por uma mulher baixa e gorda segundos depois. Seu sorriso amigável me deixou mais tranquila. Ela usava uma saia comprida rosa claro com uma blusa perolada. O colar de jóias no pescoço indicava sua classe social.

– Olá – disse a mulher alegremente – você deve ser Alex – ela apertou minha mão.

– Olá, sim, sou eu... e o seu nome... – perguntei sem graça, eu não fazia ideia de quem ela era.

– Oh, claro, sou Meredith – ela sorriu.

– Prazer – disse.

– Oh, deixe-me ajudá – la com as malas – ela falou pegando duas das quatro.

– Muito obrigada.

Entrei na casa e quase derrubei as malas no chão quando vi a decoração. Explendido seria grosseria, não tinha palavras para descrever como era linda aquela casa.

– Gostou? – perguntou Meredith colocando as malas perto de uma bancada cheia de flores – eu e meu marido que fizemos – ela disse – demorou, mas, bom... ficou bem bonito...

– é lindo – disse por fim. No fundo da sala de entrada, que era ampla, havia uma escada que subia em forma de caracol, bem discreta. Os quadros nas paredes indicavam que não foram quaisquer pintores. Pude reconhecer Van Gogh, Picasso e da Vinci. Os outros certamente eram incríveis também. A mesa de centro era certamente de alguns séculos passados, talvez Idade Média, mas estava bem preservado. Os vasos de enfeites eram dos mais diversos lugares, Grécia, Egito, China, Japão... O tapete que jazia no centro do cômodo era liso, sem muitas cores, porem era da mais alta qualidade. Eu estava sem palavras.

– um pequeno hobbie que nós temos... – ouvi uma voz masculina dizer. Virei meu rosto e vi um homem alto e gordo também, ele tinha um sorriso no rosto e veio me cumprimentar – ... ter móveis que são novos é chato, o interessante é ter aqueles que contam uma história – ele continuou contando – esse por exemplo – ele apontou a mesa de centro – é de 1300 aproximadamente, veio aqui da Inglaterra, ele estava em um castelo enfeitando a terceira sala de jantar do rei. – o homem sorriu.

– Antes de ela saber tudo sobre os móveis é importante ela saber seu nome também, querido – Meridith disse.

– Sim! Sou Paul, prazer Alex – ele estendeu sua mão grande e grossa. Apertei e sorri para ele.

– Agora vou mostrar seu quarto, querida – Meridith falou pegando as malas novamente e indo em direção a escada.

No andar de cima pude ver que havia quatro comodos. Um era a biblioteca que deveria conter um milhão de livros, o do lado esquerdo era uma sala de “estar” segundo Meridith e os outros dois eram quartos de dormir.

– Este – Meridith apontou para o direito – é seu, e o do lado é de nosso filho Sam – ela falou e entrou no meu quarto – espero que vocês sejam bem amigos, voce vai gostar dele, palavra de mulher! – ela riu.

Meu quarto era grande. Uma cama de casal estava no meio e de cada lado havia um abajur. O tapete era rosa claro. As paredes eram brancas e havia um quadro grande de uma paisagem florida. O armario na parede era de madeira escura e velha e com varias divisões, quando abri pude ver roupas.

– De quem são essas roupas Meridith? – perguntei educadamente.

– Ué, são suas Alex... Considere como um presentinho nosso... E por favor, chame-me de Mer.

– Não precisava Merid... Mer – corrigi-me.

– Ah, pare de falar besteira – ela balançou a cabeça – enfim... vou te deixar sozinha para que tome um banho se quiser, arrumar as coisas e depois iremos jantar – minha barriga roncou depois que ela falou em comida. Então me dei conta que não havia comido o dia inteiro.

– Onde fica o banheiro? -perguntei querendo me apressar.

– Aqui – ela apontou para uma porta escondida no canto do quarto – fica bem no fundo para que ninguem indesejavel entre – Mer disse.

– Obrigada.

Meridith me deixou sozinha e então pude arrumar tudo. Enquanto arrumava meus livros comecei a me lembrar de meus pais novamente. E como antes as lagrimas vieram. Tentei me acalmar no banho e funcionou um pouco. Mas isso não afastava os pensamentos de minha cabeça, as perguntas não respondidas, o desejo de voltar pra casa e o principal, proteger meus pais de qualquer coisa que puder machucá-los.

Quando desci para jantar o cheiro de frango me deixou mais esfomeada. O casal estava sentado na mesa grande e seu filho, Sam, não estava.

O jantar foi bem agradável. Conversei com eles e gostei muito de como eram. Eles tambem pareceram gostar de mim. Nossas conversas eram básicas e nenhum deles perguntaram sobre meus pais, provavelmente tentando me acalmar. Conversamos sobre o que eu gostava, minhas comidas favoritas, o que eu gostava de fazer, se eu estudava ainda, e coisas básicas. Logo após a sobremesa decidi ir para o quarto dormir. Afinal aquele tinha sido um dia exaustivo.

Apesar de tudo que havia ocorrido não tive pesadelos. Dormi num sono profundo e quieto.

Fui acordada no meio da noite com um barulho de algo caindo no chão. Sentei na cama sobressaltada e a luz acendeu mostrando botas no chão e as costas nuas de um homem entrando no meu banheiro, e como era jovem, obviamente não era Paul. Assustada, peguei a primeira coisa que estava ao meu alcance – um cabide – e andei cautelosamente pelo quarto em direção a porta do banheiro que estava fechada. A porta naturalmente estava trancada, mas como já tinha algumas técnicas na manga consegui abri-la com o gancho do cabide.

Dentro do banheiro espaçoso pude me ver no espelho em um acena ridícula: uma garota com uma camisola e com um cabide na mão, sem contar o cabelo embaraçado e espetado para todos os lados. Conclui que eu parecia uma louca e isso poderia assustar quem estivesse lá.

Devagar andei até o box fechado e pude ouvir uma voz cantarolando uma musica de Robert Johnson. Me assustei de repente com algo roçando no meu braço, pude ver que era uma camiseta do exército inglês pendurada e me acalmei. Porém congelei quando ouvi o chuveiro sendo desligado. Antes que o homem que estivesse lá dentro pudesse fazer qualquer coisa eu abri a porta do box e dei um grito, em seguida joguei o cabide na pessoa e cobri meu rosto com as mãos.

– AH!! – ouvi o homem gritar – qual é seu problema? – ele perguntou irritado. Abri os olhos e ele pegou a toalha cobrindo agilmente seu corpo. Fiquei sem palavras, o correto seria eu pedir desculpas, mas simplesmente não consegui, então sai correndo para meu quarto e me enfiei de baixo das cobertas.

Não dormi obviamente. Fiquei esperando pelo homem sair do banheiro. Depois de cinco minutos pude vê-lo saindo vestido com seu pijama e as roupas do exercito na mão.

Não pude ignorar o fato de ele ser extremamente musculoso. Seu cabelo estava desajeitado e molhado, era negro como a noite e um pouco comprido. Seus olhos azuis eram intensos e divertidos. seus lábios eram rosados e convidativos, combinava com sua pele branca. Ele era um pouco alto e muito bonito.

– hmm... – ele murmurou sem graça – acho que nos conhecemos de uma forma bem ruim – ele declarou e eu concordei sem tirar os olhos de seu rosto – sou Sam... e você deve ser Alex, correto? – ele estendeu a mão larga e eu a segurei sem conseguir soltar, até que ele se distanciou de mim.

– Desculpe – consegui dizer por fim.

– Sem problemas – ele falou um pouco irritado – bom, vou indo dormir, desculpa vir até seu quarto, até hoje de manhã ele costumava ser meu... – Sam disse com uma voz acusadora, como se fosse culpa minha que aquele quarto estava comigo e não com ele! Não dei boa noite para ele e me deitei esperando que ele apagasse as luzes.

Demorei até conseguir dormir.



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