*Voz de Criança* ' A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu ... Receio que não possa explicar Dona Lagarta, porque é justamente ai que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas, mas não posso explicar a mim mesma.'

Peguei um taxi pro supermercado, cheguei lá e nem tava muito lotado, entrei com o ipod no ouvido e no máximo, não queria pensar no cartão que derrepente fez minha bolsa pesar uma tonelada, sai cantarolando 'Just dance' passeando pelas gôndolas das besteiras , peguei cheetoos, ruflles, refrigerantes, steaks de frango, danones, chocolates, ssiim, essas eram as minhas compras, eu disse que não me alimentava bem...

E pra desencargo de consciência eu passei na sessão de saladas prontas e peguei dois potes de salada, e a comida do meu gato, na passagem passei pelo de guloseimas, tava patetando como sempre e não vi nada na minha frente, tava dedilhando as jujubas e afins...

Quando esbarrei num carrinho, foi o baque e não o barulho que me fez olhar pra frente, ELE TAVA LÁ DENOVO!
Arregalei os olhos e pisquei nervosamente, não podia ser,ou eu estava fantasiando ainda traumatizada ou eu era cagada, definitivamente!
-DESCULPA - foi o máximo que eu consegui falar... Depois de ter ficado mais vermelha do que a camisa dele.
- tudo bem, eu gostei disso - ele riu . - parece que somos destinados a pagar micom - ele disse se aproximando de mim.
- é - que estupidez mas foi a única coisa que saiu da minha boca vendo ele chegar tão perto de mim.
- meu nome é Bill - ele estendeu a mão pra mim.
- A. a.a.alice - eu consegui dizer e peguei na mão dele, por deus eu tinha que parar com aquilo, eu nem era fã do cara. E ele riu, eu devia ter cara de palhaça, ou tá com cara de perturbada..
- creio que seja nossa sina ficar se esbarrando, assustando um ao outro, dessa vez foi sua vez de me assustar - ele falou se divertindo.
- é parece que é - eu ri de nervoso fiquei feliz de ter conseguido formar uma frase.
- prefere os amargos, os ao leite ou os com cookies? - ele me perguntou olhando pros chocolates e não me olhando.
- sinceramente, eu levaria um de cada - eu disse sem pensar, mas foi a verdade, - sendo chocolate .. Eu completei.
- gostei - ele falou mais pra si do que pra mim, pegando um de cada, e me olhando da cabeça aos pés com aqueles olhinhos escuros e cheio de segredos.
Aquilo me constrangeu, mas não consegui me mexer do lugar, continuei a pegar os chocolates e colocar no carrinho.
- se você fosse levar alguma coisa daqui pro seu irmão, o que você levaria? - ele me perguntou...
- levaria o que ele mais gosta – fiz cara de 'dãã' , e ele riu.
- é, tem razão - encheu o braço com o que pode carregar de jujubas do meu lado e o braço dele encostou no meu.
Meu instinto me fez puxar o braço pra dar passagem pra ele, e ele apenas me olhou pelo canto de olho e soltou o que seria um riso interno. E me apressei pra puxar o carrinho e sair da frente dele quando eu vi os seguranças na esquina da godolona... Ao me ver fazer isso, ele olhou pra onde eu olhava e falou sério.
- odeio quando eles pensam que eu não consigo fazer nada sozinho! - mais pra si do que pra mim novamente.
- deve ser chato mesmo - eu respondi passando pro outro lado dele. E ele me olhou nos olhos.. Aquilo me congelou..
-eu acho que você sabe quem eu sou, não sabe? - ele me perguntou levantando a sobrancelha, como se esperasse que eu puxasse uma câmera e começasse a gritar atrás dele, siim, ele tava preparado pra correr..
- eu acho que já te vi em algum lugar, fora no Mc, talvez numa capa de revista, talvez ! - olhei pra ele analisando com medo dele sair correndo da minha frente, mas ele riu, e assentiu com a cabeça.
Com a mesma intensidade que eu olhei pra ele, ele me olhava.. Até que foi a vez do meu telefone tocar, e nos assustar... '99 LuftBallons' tocou , e ele olhou pra mim incrédulo.
- desculpa, até! - me despedi dele com um pesar sem tamanho, parando no canto da gôndola pra atender o celular.
Era meu irmão pra avisar que meu pai tinha depositado uns trocados na minha conta pra mandar uns perfumes pra ele dar de presente, amaldiçoei o quanto pude aquela ligação, mas não olhei pra trás... Mas segui andando em direção ao caixa, mas antes que pudesse começar a tirar as compras do carrinho, eu o vi parado logo atrás de mim..
-desculpa de novo! - ele falou.
- siim?? - Finjii desinteresse, como se houvesse algum em mim!
- sei que eu não deveria, mas posso ... - ele parou..
-pode? - Eu perguntei..
- posso te chamar pra tomar um café comigo? - ele falou num fôlego só.
Aquilo tinha me pegou desprevenida, EU QUERIA dizer SIIM, CLARO, COMO NAO? Na hora, mas como me controlar diante daquela situação...??
-eerh. Olhaa, eu.. euu.. - não conseguia terminar, EU não PODERIA DIZER NÃO!
- pode ser só um ovomaltine, só pra compensar aquele que ... Derramou - completou ele educadamente pra não me constranger.
Eu fiquei parada olhando dos seguranças pra ele e vice versa, até que ele entendeu aonde eu queria chegar, e falou
- eles nunca me acompanham, ficam de fora, e ai, pode ser??- ele me olhou sério.
Não tinha como dizer não, EU NÃO QUERIA DIZER NÃO..
- tá, tudo bem! - eu respondi finalmente, e vi que ele assim como eu respirou fundo!
- quando? - eu perguntei mais rápida do que ele..
- quando você quiser - ele devolveu mais rápido ainda pra mim.
Olhei meio confusa pra ele, e ele me sorriu.. Como ele era lindo! Balancei a cabeça pra tirar aquele pensamento de lá, e respondi...
- Boom, éérh, eu te ligo - falei batendo na bolsa... Vendo ele olhar confuso, falei :
- o cartão, lembra? O do Mc?? - ofereci um sorriso pra ele.
- ooh siim, sim.. - ele disse piscando olhando pra mim, como se tivesse feito algo que tivesse encantado, fiquei assustada comigo mesma.
-boom, então até outro dia - estendi a Mão pra ele, e ele pegou...
Não tive como não sentir aquela eletricidade que eu não sabia explicar da Mão dele pra minha, eu acho que ele também sentiu, porque ele puxou tão rapidamente quanto eu.
Rimos nervosamente, eu virei para a caixa e paguei minhas compras..
- até Bill! - acenei pra ele..
- a.aa.até - ele respondeu pra mim, me olhando com aqueles olhos cheios de perguntas,..
Eu tinha que olhar mais uma vez, só mais uma vez pra ele, na porta fotoelétrica, eu olhei, ele continuava a me olhar, mandei um sorriso, e ele me respondeu com um tão lindo quanto ele.

Entrei no primeiro taxi que eu vi na minha frente, aquilo era demais pra minha cabeça, eu tinha dado de cara com ele de novo, ele tinha falado comigo.. Sério, essa seria à hora de ter aquela crise de gritos histéricos, mas por um milagre eu consegui colocar minhas idéias no lugar, só tinha uma pessoa pra quem falar, e esperar alguma ajuda em troca.. LUISA!