Dangerous escrita por Carolina Moreira


Capítulo 6
Zona de Conflito


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem este capitulo. Boa Leitura.



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Capitulo 6 - Zona de Conflito

Raposa estava olhando para os lábios irresistivelmente avermelhados de Naomi, elas bebiam, e riam sem motivos, contavam lembranças bobas e se divertiam com isso. Lira já tinha tomado alguns goles, estava corajosa com a garrafa na mão. Decidiu colocar a pinga de lado e se trocar, no fundo ela queria incentivar Naomi a ficar apenas com roupas intimas.

Lira queria sentir alguma coisa, e Clove tinha incentivado a fazer isso, só agora se lembrava de Clove, afinal de contas, oque aquele beijo tinha significado? Ela havia gostado? Ela estava feliz por ter beijado alguém? mesmo que tivesse beijado uma menina? Mesmo que isso não fosse certo? Ela se sentia bem em estar sendo desejada pelo menos uma vez na vida? Se Clove a desejava, Naomi poderia também deseja-la?

Tirou o moletom verde que estava usando, a cor favorita de Lira era verde, porque tinha diversos tons e qualquer um deles combinava com sua pele e constratava seus olhos. Seu sutiã era vermelho vinho, mas estava meio escuro, a única luz que tinha na casa da arvore era um lampião velho que acenderam por improviso. Tirou também sua calça jeans justa e ficou apenas com sua lingerie, estava tentando ser sedutora e agira normalmente do mesmo jeito, porque se ela acabasse sendo rejeitada por Naomi pelo menos não faria papel de idiota. Naomi olhava de esguio as curvas magras de Lira, ela parecia estar interessada em tirar suas roupas também.

– Calor não? - perguntou Naomi maliciosamente. Na verdade não, não estava quente, estava no mínimo frio, a brisa gelada batia na pele desnuda de Lira. Assim que Naomi começou a tirar sua camiseta leve e deixar seu sutiã preto a mostra, sutiã que sustentava seus peitos não muito grades, e não muito pequenos, mas redondamente perfeitos, seu celular começou a tocar. James - Alô? - atendeu a menina loira - oi meu amor - falou Naomi indo para parte externa da casa da arvore e fechando a porta.

Lira se sentou acabada, colocou sua camisola de seda, uma que ganhara de sua tia alguns anos atrás e nunca tinha sido usada. James tinha sempre que foder com tudo? Ela nunca tinha estado tão certa de que queria demonstrar seu amor por Naomi, e então o namorado traíra dela decide acabar com tudo.

– Lira, se veste - disse a menina abrindo a porta com olhos arregalados - a gente vai ter que ir pro hospital, tem como seu pai levar a gente? A mãe do James esta quase morrendo.

E lá estava indo a noite que Lira tanto esperou por anos. E estava indo pelo ralo a única chance que Lira teria de conversar com Naomi sobre seus desejos, sobre sua sexualidade. E agora ela voltaria a ser a idiota da Lira, que guarda sentimentos, que usufrui de seu sofrimento e que tem seus segredos escondidos no fundo da alma.

Em questão de minutos eles estavam no hospital, a mãe de James estava mesmo em estado terminal, não teriam chances de ela viver, e sinceramente? Não parecia que James dava a mínima para isso, não parecia que James dava a mínima pra nada. Ele estava sentado na poltrona perto dum vidro enorme, de onde dava pra ver a mãe internada, os médicos não sabiam direito o que ela tinha, achavam que era morte súbita, acontecia do nada. James fumava loucamente, embora não dissesse estava totalmente nervoso, e não queria transparecer isso, mas com tantas caixas de cigarros vazias que ele deixava pra traz era quase impossível não perceber. O garoto não tinha pai, ele e a mãe fumavam o dia inteiro, ela não tinha emprego, moravam de aluguel, aluguel que só Deus sabe como é pago. James não tem outra família, provavelmente se a mãe morrer vai montar um bordel na própria casa e virar cafetão, ou sabe-se lá oque mais um menino sem futuro e viciado em drogas pode virar.

Naomi estava na recepção, conversando com a moça para ver oque podiam fazer com a mão do infiel namorado, do lado de James estava apenas Lira, quieta no canto, com amargura quase vasando pelos olhos. Ela estava odiando James.

– E então, decidiu levar minha menina pro seu brejo? - Dizia de modo perturbador, Lira não entendia oque ele queria dizer com brejo, mas com certeza estava insinuando alguma coisa. Lira não respondeu, continuou guardando todo o ódio pra si própria, não ia deixar que ninguém desfrutasse das suas magoas - Me responde - insistiu James - ou você não escutou? Estava levando minha namorada para o seu brejo? Acha que eu não vejo o modo que você a olha? O modo como seus olhos vidram nos decotes que ela usa? Ou como adora vê-la de vestido colado e saia?

– E você? Comeu a amazônica hoje? - perguntou mencionando a menina negra do refeitório, Lira não tinha nenhum tipo de preconceito, até se sentia atraída por pessoas de peles escuras, mas ela não sabia o nome da menina então teve de substituir por qualquer coisa que não fosse estupida - satisfez sua infidelidade?

O garoto não respondeu se conteve na cadeira, não negou o ato, assim como Lira também não o fez, apenas largou a pergunta no ar. James se levantou e foi até Lira, se abaixou e sussurrou perto de seu ouvido.

– Sapata - apenas uma palavra, e assim ele se levantou e se juntou a Naomi.

O rosto de Lira se tornava obscuro, ela podia sentir cada parte de seu corpo rígido, podia sentir seus pelos eriçados e podia sentir a vontade de esmurrar a cara de James, mas como sempre guardou tudo pra si, armazenando todas as informações nos devidos lugares, decidindo oque faria pra conseguir entender tudo oque se passava na sua cabeça, ela estava mais do que cansada de estar sempre por fora de tudo, mas nunca fazia nada para estar por dentro. Ela estava cansada de não ser nada pra ninguém, de sentir medo de ser quem ela realmente é, e de não poder se expressar, ela se sentia oprimida, e embora tivesse amigos ao seu redor, ela se sentia sozinha, mal compreendida, mal amada. E é incrível como uma palavra que é recebida aos tímpanos de Lira a faz remoer todos seus mais amargos pensamentos, sentimentos.

Ela estava sentada na cadeira, imóvel, vestindo um casaco de pele e botas, seus cabelos como sempre bagunçados, suas sardas não estavam contrastadas, e por fora ela parecia comum, feições normais, nada além de um rosto evasivo e sem expressões estava sendo aparentado, mas por dentro ela era uma zona em conflito.

E não é como se ela pudesse chegar a alguém e contar o que estava se passado, é muito mais complicado, anos atrás ela havia se prometido não confiar em ninguém, uma decisão tomada principalmente por causa da confiança que depositava no pai e que foi desperdiçada, essa decisão sempre lhe acarretou problemas, mas também a livrou de muitos outros, e mesmo que não seguisse nem suas próprias regras ou promessas, essa ela fazia questão de respeitar essa, por que fazia bem pra ela. O que ela mais queria agora era gritar, gritar todos seus sentimentos, opressões, apenas sair e gritar, e pedir para que o ar ouvisse pedir para que o vento a compreendesse, pedir para que a brisa levasse suas preces para que qualquer pessoa ouvisse, ela queria ter alguém em quem confiar, mas não tinha, não queria confiar em ninguém, pois ao confiar ela depositaria muita esperança, esperança de que a pessoa a ajudasse, de que a aconselhasse, de que a ouvisse, de que a entendesse, mas não é bem assim, depositar toda essa confiança em alguém pode ser um erro, essa pessoa pode falhar e piorar tudo. Não é como se alguém se preocupasse com oque ela sentia. A única pessoa em quem ela depositava toda essa fé, confiança, esperança e podemos até dizer amor, é em Pauline, o problema é que Pauline sempre a conforta e deixa-a a vontade, mas Lira nunca fala de seus problemas, elas nunca falam sobre problemas, apenas coisas boas, Lira tinha certeza de que Pauline poderia entendê-la e instrui-la. Mas Pauline estava muito longe para ouvi-la, Pauline estava à quadras desse hospital e ela não podia deixar a carga toda nas costas de Naomi, a carga de James, a carga da mãe de James, toda essa preocupação. Contudo, Lira precisava de conforto, precisava de ajuda, embora amasse Naomi, amasse a menina daquele jeito, Lira era quem precisava de mais apoio no momento. Ninguém nunca ligou para Lira, se ela deixasse de se importar uma única vez com os outros talvez fizesse a coisa certa.

Levantou-se da cadeira e percorreu todo o corredor, passou por Naomi que perguntou em voz alta onde ela estava indo, e se o pai dela ia esperar por ela mais tarde. Lira segurou a língua, queria mesmo era mandar Naomi para o inferno, ela não estava se preocupando com onde Lira estava indo, se ela estava bem ou se ia se matar, só estava preocupada em se voltaria pra sua casa sã e salva no fim do dia, só estava ligando pra si mesma.

Lira levantou a mão e fez um gesto obsceno, que fez James rir e deixou Naomi confusa e sem resposta, a menina de cabelo de ferrugem entrou no elevador e saiu pelos fundos do hospital, saiu em disparada na rua, estava chovendo, provavelmente por causa do calor intenso que fazia durante o dia, ela correu, depois de duas quadras tomou um tropicão, sempre muito descuidada e desastrada, no meio da rua começou a chorar, havia um rasgo em sua calça, a calça era fina, tinha colocado com pressa por baixo do casaco, provavelmente seu joelho também estava sangrando, ela não se levantou, pelo contrario se deitou no meio da rua, abriu os braços e deixou que a água lavasse seu ferimento nas pernas, ela chorava todas as suas dores, sentia a água escoar as lagrimas, sentia os pingos de chuva baterem em seu rosto, sentia cada fragmento de seus pensamentos se embaralhando mais e mais. Após alguns minutos se sentou e conseguiu ver a luz de um farol se aproximando, deu tempo de se jogar nas moitas que barravam a rua, ela se levantou e seguiu andando até a casa de Pauline, era tarde, mas ela sabia que a velha não se negaria a lhe confortar numa cadeira, colocar um curativo na perna e lhe servir um chá, quem sabe até não comeria alguns biscoitos de damasco?


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Notas finais do capítulo

meio pequeno, mas faz parte e é importante, espero que tenha gostado.