Dangerous escrita por Carolina Moreira


Capítulo 15
A Eternidade


Notas iniciais do capítulo

Bom gente é isso, o último capitulo. Nas notas finais eu me despeço, boa leitura e espero que realmente gostem.



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Capitulo 15 - A eternidade

Lira, que sempre fizera as coisas sem pensar, sem parar pra raciocinar suas futuras ações, e sempre viveu muito intensamente corria sem ter mais ar nos pulmões, as forças que ela já não tinham haviam voltado com a coragem. Chegou ao jardim e se lembrou do que havia acontecido com Samantha, e que os gastos das poucas energias que tinha, foram em vão. Ela não poderia aguentar mais, aquilo era a gota d’agua. Pareciam que nuvens pretas se formavam no céu acima de Lira, ela não aguentou seu peso e seus joelhos cederam, batendo com força no chão. Ainda ajoelhada ela começou a soltar todos os gritos que estavam presos em sua garganta por tanto tempo, começou a gritar com tanta força que achava que suas cordas vocais fossem explodir, mas caso ocorresse isso não lhe importaria.

Na cozinha, longe dos ouvidos de Lira seu celular apitava com uma nova mensagem de seu pai, dizendo que traria Brendan para ver a menina e que passaria a noite com ela. Mas isso nem se quer passaria aos conhecimentos de Lira. E mesmo que passasse talvez não pudesse mudar nada. Ele queria avisar também que a clinica psiquiátrica chegaria amanhã ao amanhecer, mas sua mãe pediu que não informasse a menina se não ela sumiria no mundo.

Lira se sentia tão sozinha como se ela fosse a única alma viva no mundo. Parecia que ela tinha bombas nucleares em volta dela, e se alguém chegasse perto elas explodiriam. Havia se passado apenas um dia, mas pra ela pareciam semanas, meses, anos que ela não ouvia a voz de outra pessoa a não ser a dela e a de Clove.

Lagrimas começaram a cair dos olhos de Lira e lembranças embaralhadas começaram a vir em sua cabeça. Ela gritando para os ares na clareira enquanto Naomi ficava olhando sem entender no chão. Ela beijando Naomi no banheiro ao invés de Clove, antes de Kylie vomitar. Clove dizendo que ela merecia queimar no colo do diabo. Clove no reflexo do espelho enquanto ela se arrumava de manhã. Ela acordando sozinha na floresta em cima de um monte de folhas, sem a família Farnsworth que ela havia feito parte semanas antes. Ela apresentando Clove na festa para Naomi e James enquanto eles se olhavam confusos, afinal, não havia nenhuma Clove ali. Ela se deitando sozinha na cama e se tocando com as próprias mãos enquanto achava que eram as de Clove.

Lira parou olhou para as árvores atrás da cerca do seu quintal, elas lhe levariam para floresta, e como ela queria ter forças para conseguir chegar lá. Ela continuou olhando perplexa sem nem piscar os olhos, se dando conta da loucura que ela era.

– Você é um perigo Lira – o som daquela voz calorosa tintinou nos ouvidos de Lira. O único problema, é que ela mesma era quem estava falando. Agora ela se dava conta de quantas escolhas erradas havia feito em sua vida, no que transformou aquela bela menina numa enorme catástrofe, como ela se estragava mais e mais todos os dias de sua vida. Como ela não era real, como ela era o branco, sem vida, desejando sempre ser outro alguém ao invés dela mesmo. Desejando sempre ser quem ela nunca fora e nunca seria. Desejando ser como Clove, que no final nunca existira – sim Lira, eu sou você.

Lira conseguiu sentir a respiração de Clove em seu pescoço evirou o rosto, ela não conseguiria se levantar por completo, ela continuaria de joelhos, mas não rezaria. Dizem que quando nos ajoelhamos temos de rezar, mas pra quem rezaríamos? Deus nunca amou Lira, Deus nunca deu a Lira oque ela sempre quis e nem fez de Lira uma Clove.

– Você Lira, é a menina magrela, esguia sem curvas, sem nenhum atrativo – Clove começou a rondar Lira com voz de desdém – psicótica, louca, real e solitária. Evasiva, e cheia de problemas. Você nem ao menos consegue aceitar quem realmente é, imperfeita – riu se ajoelhando na frente de Lira que estava se sentindo detonada, como uma granada que se explodiu e não tem mais nenhum uso – Lira, quem é você na verdade? – Clove olhava agora diretamente nos olhos cansados de Lira que permanecia com a mesma cara pálida de sempre – Agora eu sou oque você sempre quis ser, surreal, selvagem, ousada e angelical, cheia de iniciativas, bonita e curvilínea, você sempre quis ser desejada não é? - Clove agora sorria torto – O meu único problema é ser perfeita demais para ser real, o meu único problema é ser você.

Pode parecer complicado, mas era a verdade, Lira sempre quis ser a menina de olhos vermelhos, mas nunca poderia, ela era apenas a Lira. Clove sempre quis ser a Clove, mas nunca poderia, ela era apenas a Lira.

Um passarinho azul estava perto delas duas, bicando o chão procurando por comida provavelmente. Clove se abaixou e pegou uma pedra e sem dó nem piedade acertou a cabeça do passarinho parecendo raivosa, o animal não teve chances de vida, algumas penas voaram depois de Clove tirou a pedra de cima do animal, que já morto estava destroçado e sangrando.

– Vou te fazer aquela mesma proposta que lhe fiz na colina, aquela proposta que acabará com teu sofrimento, assim como o sofrimento do pássaro que frustrado estava passando fome – disse se levantando e segurando o queixo de Lira para cima para poder olhar seus olhos verdes vivos – quer vir comigo para eternidade? Assim você poderá ser eu e eu também, seremos uma única alma Lira, uma única Clove – Agora na frente de Lira não existia mais a figura da menina com os cabelos negros e perfeitos, apenas uma figura exata da menina que estava de joelhos no chão, com cabelos cor de fogo e bagunçados – tudo esta acontecendo na sua cabeça Lira – disse olhando com pena para a menina - você me criou para fazer as coisas que sozinha, nunca teve coragem o suficiente para fazer e então jogava a carga pra mim. Você é a fraca da Lira não é? – disse balançando a cabeça – a covarde - agora com voz autoritária ela olhava com nojo pra menina – vamos, me dê a mão – ela continuava a segura o queixo de Lira, mas agora estendia a outra mão para que ela pudesse ser segurada – vamos, acaba logo com isso. Anda. Venha queimar no fogo do inferno. Venha ser eu na eternidade.

Lira sentiu-se levantar e dar a mão para a imaginária Clove, que sorria agradecida por ela aceitar a proposta. Contudo, do mesmo jeito que aquele sorriso rápido apareceu ele se foi, Lira viu ela mesma fechar a cara e cerrar os dentes furiosa, assim como fizera com o pássaro, agarrou seu pescoço e começou a apertara-lo. Lira não conseguia gritar, não conseguia fazer mais nada, ela sentiu os olhos pesarem e o joelho bater novamente no chão do gramado. Sentiu-se ficar mais gélida e sentiu os batimentos começarem a diminuir. Sentiu os pulmões ficarem vazios e as mãos de Clove saírem de seu pescoço, folgando um pouco. Conseguiu abrir os olhos e se sentiu sozinha pela última vez. Viu apenas o céu azul e os olhos de Clove vermelhos se formando nas nuvens róseas do fim da tarde. Sem sorrir, se encaminhou para seu destino.

– Serei finalmente a perfeição – conseguiu dizer sussurrando, antes de fechar os olhos e viver a eternidade. Ela seria perfeita como sempre quisera, estaria livre de tudo e todos, e longe de todos seus problemas poderia ser quem ela sempre quis. A perfeição. Clove.

*

Lira se foi pra sempre. Seus amigos sofreram e choraram sua morte, ela poderia não sentir, mas ela era no fundo amada por aqueles que próximos à ela estavam. Naomi viveu uma vida pacata e sem graça. Brendan cresceu traumatizado. Seu pai ficou do lado de Janet até seu ultimo suspiro. A mãe se sentiu livre e aliviada depois da morte da filha depois de 17 anos vivenciando do lado de quem ela não conseguia nem suportar. Vergan seguiu infeliz sua vida, se culpando por não ter sido o bastante. Tudo isso por culpa de Lira. Que se sentia fraca demais para continuar.

O rosto de Lira foi estampado na capa de todos os jornais, telejornais e revistas durante semanas. ‘‘A garota suicida.’’ ‘‘Bellmont, catástrofe ou psiquismo?’’ ‘‘Adolescente se enforca no quintal.’’ ‘‘ Sem motivos, menina se suicida.’’ ‘‘Jovem se mata após receber ligação de termino de namoro.’’ A mídia soltava mentiras intermináveis tentando solucionar oque se passava na cabeça de Lira. Mas, se nem ela própria se entendia, quem poderia entender? Ninguém nunca soube o motivo real do que aconteceu com Lira, afinal, ela nunca sentiu tamanha confiança em ninguém para contar oque realmente acontecia com ela.

Mas agora já foi, agora ela se foi. E não me venha com essas de que ela está em um lugar melhor. Mesmo que o estejamos vivendo o inferno, a vida de Lira estava destinada a ser assim. Pelo menos ela não precisava mais se preocupar com sua magreza e nem com a metade de seus problemas, não veria seus cabelos ruivos no espelho nem seus olhos verdes amazona piscando. Era isso. Lira agora era apenas uma memória. E memórias são eternas.


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Notas finais do capítulo

Enfim gente, obrigada, de coração por todos os favoritos, recomendações, comentários, por todos esses leitores presentes de Deus, vocês foram muito bondosos comigo e com minha história, sempre com mente aberta e dando palpites, obrigada por cada elogio e por cada critica, de verdade, são as criticas que constroem um autor. Espero, de verdade, que vocês tenham apreciado esse meu pequeno trabalho, e que continuem mostrando a história pra alguns amigos e tudo mais. Bom gente, é assim que eu me despeço, e prometo voltar a escrever outras histórias. Obrigada.