Dangerous escrita por Carolina Moreira


Capítulo 10
Sendo uma onda sonora


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei pra postar, e peço desculpas. Mas espero que gostem desse capítulo.



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Capitulo 10 – Sendo uma onda sonora

Voltando pra casa, sentia a noite cair em suas costas e as pernas ficarem moles a cada passo que dava, Clove como sempre estava ali, logo atrás da garota, como se fosse uma sombra. Colocou os pés no quintal e viu Brendan se pendurar na janela dando aquele sorriso maravilhoso que só ele tinha. Girou a maçaneta e entrou, foi procurar o pai para avisar que Clove dormiria na casa, mas não o avistou. Viu a porta da cozinha fechada e ouviu uma voz ao telefone:

– Ela voltou com aquelas ilusões doutor, ela está me deixado louco, acho melhor interna-la – dizia com precisão na voz, tamanha precisão não poderia vir de sua mãe, que afinal até pra dar três passos pisava em seus próprios pés e não tinha precisão o bastante pra se levantar. A voz era grossa e bastante angustiada, como se fosse difícil estar falando com a pessoa do outro lado da linha – o senhor sabe que quando pequena ela imaginava pessoas, eu não sei, como dizemos? Amigos imaginários, e jurava que eles eram de pele e osso – mas toda criança faz isso, não faz? Oque há de mal nisso? – Sim eu sei doutor, mas sempre foi assim, ela sempre teve essas ilusões, senhor sabe que já passamos maus bocados por isso, ela tem uma tendência suicida, prefiro chorar com ela presa se reabilitando do que morta em um caixão – dizia a voz com tom choroso e melancólico - está voltando novamente, hoje a tarde uma menina moça, amiga dela, veio me relatar de uma tal de menina, supostamente grandes amigas que cuidou dela durante as três semanas que sumiu, eu não sei, uma tal de Cloe, Clotte, eu não entendi, mas estou muito preocupado doutor, recentemente ela perdeu a cachorrinha e isso é só mais um trauma depois da morte do avô, o senhor sabe que eu zelo pela minha filha Lira...

Clove empurrou a porta e empurrou Lira pra dentro, encorajando-a.

– Oi pai – falou Lira com cabisbaixa – minha amiga vai dormir aqui.

O homem assustado devia provavelmente estar se perguntando o quanto da conversa Lira teria, de queixo caído, deixou que a pessoa do outro lado da linha continuasse falando sem parar enquanto ele olhava com olhos surpresos pra menina ruiva parada perto da porta.

– D-depois-s eu t-te ligo D-d-o-orotte – mentiu o pai – oi minha filha, chegou tarde hoje não? – dizia ele com a voz baixa, tentando parecer animado e manter a calma.

Balançou a cabeça afirmando e deu-lhe as costas, saiu da cozinha e quando estava subindo as escadas ouviu o homem dizer que queria conversar com ela. Lira como sempre, fingiu que não ouviu e continuou a subir os degraus. Enfiou-se na banheira e deitou a cabeça na borda, deixou tudo de baixo da água tentando se manter o mais quente possível. Clove já tinha tomado banho e estava esperando por Lira em seu quarto. Lira se permitiu lavar seus cortes e limpa-los para não infecionar, ela não queria mais chorar. Então não chorou. Limpou-os com água e sabão e os enfaixou de novo. Colocou seu moletom três vezes maior que ela e foi para quarto.

Clove estava sentada no meio da cama, passando as mãos sobre o lençol, estava só de calcinha e sutiã, coincidentemente o mesmo do devaneio de Lira onde elas transavam, os cabelos lisos estavam fazendo com que seu rosto ficasse mais bonito e modelado, uma mecha caia nobre a face e ela não se apressou a coloca-la de volta em seu lugar. Lira olhou de cima a baixo, depois foi até a cama e se cobriu.

– Tem mais pijamas na segunda gaveta na segunda porta do armário – falou Lira um pouco perturbada. Tentou fechar os olhos, mas não conseguiu, estava sentindo a respiração de Clove acentuada em seu pescoço. Clove por debaixo das cobertas colocou a mão na coxa magra de Lira.

– Não preciso de pijama – falou com voz rouca e baixa, muito sensual. Ela massageava a perna de Lira, subia e descia a mão delicadamente fazendo a pele ficar ardente. Lira estava só de calcinha, e ficou muito arrependida por não pegar a calça do moletom depois do banho. Ela estava tão cheia de tudo, não queria fazer sexo com ela e depois se arrepender – você fica tão sexy de cabelo molhado – disse Clove ainda continuando com a massagem safada. Logo a mão da menina foi descendo até a virilha de Lira, que pegou a mão da garota e jogou para o outro lado – menina má – sussurrou Clove que agora estava mordiscando sua orelha. Clove não desistia, foi novamente massageando. Lira se virou e olhou no fundo daqueles olhos que continuavam calorosos como da primeira vez. Clove sorria maliciosamente para ela. Vagarosamente Lira afastou uma perna da outra. Clove levantou um pouco da coberta e espiou, depois olhou nos olhos da garota e piscou duas vezes, mordeu o lábio e aprofundou o toque de suas mãos. Lira fechou os olhos, esperando que aquilo não doesse. Clove começou brincando em volta da cavidade de Lira, toques que ao sentir de Lira eram os melhores. Colocou suavemente a calcinha de Lira par o lado e começou a massagear seu clitóris, ia colocando dois de seus dedos para dentro.

– Chega – disse Lira puxando a mão da menina, voltando a calcinha para o lugar e virando-se de lado – eu quero dormir, boa noite.

Lira fitou o chão por alguns instantes, pensando no que diria se ela retrucasse lhe oferecendo sexo. Não, ela não faria sexo com Clove. Fechou os olhos que custaram a pesar, mas depois de um tempo adormeceram, tranquilas.

Lira sentiu o sol passar entre as frestas da janela. Terça-feira. Ela tinha que se arrumar e ir pra escola. Começou a pensar sobre tudo oque tinha acontecido no dia de ontem e finalmente se lembrou de que Clove estava dormindo profundamente ao seu lado. Se virou e ficou surpresa ao ver que no lugar onde a menina deveria estar só havia um travesseiro. Se sentou confusa em sua cama. Passou a mão nos cabelos. Aquilo deveria ter sido só mais um sonho. Pegou um prendedor na cabeceira e prendeu seus cabelos armados. Botou uma calça jeans e desceu as escadas. Todos estavam tomando café da manha. Foi até a cozinha e deu um beijo na cabeça de Brendan. Sua mãe parecia mais jovem, forte, vivaz, bem alimentada e pode-se dizer que até bonita. Seu pai estava de pé, pegando torradas na torradeira e tomando seu café com açúcar. Ela pegou uma maça e jogou no bolso da frente da mala. Sabia que a fruta apodreceria lá, mas seus pais tem que pensar que ela come o bastante pra se manter em pé, mesmo não comendo. Chegando à escola ainda sentia os olhares caindo nela, com menos intensidade, mais sentia. Algumas vezes podia até ouvir seu nome na boca dos outros. Sentou-se com Vergan no almoço. Naomi não tinha ido pra escola e nem James, Kylie foi, mas ficou até a segunda aula, estava com dor de cabeça. Não a culpo, deve estar com uma ressaca pesada. Vergan como sempre fora gentil e animador. Se Lira quisesse se matar só pensaria em Vergan e Brendan. Na quinta aula, de português, Lira começou a pensar.

Será que Clove havia dormido na sua cama naquela noite? Será que ela devia procura-la debaixo das amoreiras? Será que seu pai acha que ela é uma louca que precisa de hospício?

O sinal bateu e ela foi pra casa. Pensou em bater na porta de Naomi e ver se a menina estava bem, mas se lembrou do como ela beijou Clove na festa. Vadias. Chegando em casa o almoço estava posto na mesa, há quanto tempo ela não havia se alimentado? Sentou a mesa e viu Brendan sorrir enquanto sua mãe fazia cocegas em sua barriga. Aquela cena nunca fora vista por seus olhos. Seu pai estava pegando o pirex com macarrão e colocando na mesa. Se serviu com uma porção pequena, deu duas garfadas e se cansou de mastigar, enjoando do gosto pegou seu prato e pôs na pia.

– Só isso filha? – ouviu uma voz doce á suas costas. Era sua mãe, que nunca havia chamado a menina de filha. Não que ela se lembrasse pelo menos.

– Sim Janet – respondeu a menina saindo do cômodo. Subiu as escadas e se jogou na cama. Ela havia chamado Lira de... Filha? Aquilo era possível? Quer dizer... Ela não chamava a menina assim desde que a menina se dava por gente.

Passou horas pensando em suas questões sem respostas, questões que não eram de hoje, eram sim de muito, mais muito tempo atrás.

Eram seis da tarde, Lira estava entediada, havia passado horas em seu computador, vendo filmes, desenhando, fazendo de tudo pra manter sua cabeça ocupada. Fazendo de tudo pra manter seus problemas longe dela. Mas tudo oque ela costuma fazer numa tarde era isso, já havia feito tudo. Agora ela estava deitada no chão contando repetidamente os dedos das mãos, mesmo já sabendo que lá tinham 10. Se levantou bruscamente fazendo a cabeça girar e foi até a cômoda, colocou seu velho e tão querido CD de Tony Bennet, na música oito ela começou a ouvir Body and Soul com participação especial de outra cantora que ela gostava muito. Amy Winehouse. Fechou os olhos e começou a fazer movimentos leves com as mãos e braços, rapidamente começou a andar e saltitar pelo quarto, girando múltiplas vezes a cabeça, ela estava sentindo a música, sendo sua própria onda sonora, ela estava vivendo aquele momento. Pra lá e pra cá, um passo aqui e outro lá, até que ela trombou com o pé da cama e caiu. Começou a rir, como ela era tonta... Ela ria como nunca, ria sozinha e quase que sem motivos, ela só ria... A risada entrava em seus ouvidos a fazendo sentir o quão bom era aquele som. Há quanto tempo ela não soltava uma risada daquela? Começou a gargalhar sem parar, era como um ataque de riso. Depois de um tempo a risada foi diminuído, mas ela ainda sentia aquela vontade única corrompendo sua garganta. Olhou a canela que agora estava roxa e começou a rir novamente. Mas brevemente, logo parando pra continuar ouvir a musica. Cansada daquilo, se levantou e desligou o rádio. Jogou-se na cama, e sorriu para o teto.

Depois de um tempo foi chamada para o jantar, desceu saltitante as escadas e se sentou na mesa, encheu o prato com pães, purê, molho e arroz e se empanturrou até a garganta. Sentindo-se já inchada se levantou, pela primeira vez em ano ela havia repetido o prato de comida. Foi para o quintal pra colocar ração pra cachorra, adentrou-se na lavanderia e antes de acender a luz falou:

– Ei menina, como vai você? – ao acender a luz o vazio se enterrou no peito. Sam não estava lá. Saiu da lavanderia e procurou o cachorro aqui e acolá, como louca começou a chorar desesperada, procurou na parte da frente da casa, foi até a rua de baixo, voltou na lavanderia. Nada da Sam. Sentou-se no quintal devastada, soluçando de chorar.

– SAMANTHA? – gritou esperando por uma resposta, inutilmente. Se levantou, olhou novamente na lavanderia, o cobertorzinho da cadela não estava ali também, entrou correndo na casa, com a cara já inchada por causa do choro, achou seu pai lavando os pratos – Pai! Corre! Me ajuda! – Ela arfava, faltavam-lhe ar nos pulmões, faltavam-lhe palavras na boca – Sam! Ela não esta em lugar nenhum... Ela... Ela... Eu procurei em todos os lugares...

O pai olhou para os pés, sem palavras.

– Pai é serio, me ajuda! Eu não consigo encontrar a Sam – o homem largou os pratos na pia e abraçou a menina. Lira então se lembrou, desolada se soltou do abraço do pai.

– Querida, a Sam se foi – ele dizia tentando acalma-la, a menina estava indo pra traz, assustada, olhando para todos os lados com a cabeça latejando e os olhos alarmados.

– Mentira! – gritou – Seu Canalha mentiroso! – Lira pegou uma faca suja com molho e foi pra cima do pai, a fúria estava dentro dela, ela podia ouvir a risada de Clove nos ouvidos, ela podia ouvir alguém em sua cabeça dizendo pra mata-lo, ela ouvia alguém dizendo pra acerta-lo em cheio, dizendo que ele estava mentindo, que ele era uma pessoa que não se podia confiar, ela sentia a pressão – Mentiroso! – Gritou novamente, pegou a faca com as duas mãos, olhou nos olhos daquele patife surreal enfincando a faca no braço do pai.

O homem urrava de dor, Lira jogou a faca no chão. Ela havia ficado louca? Oque ela acabara de fazer? Ela correu para seu quarto e se trancou no banheiro da suíte. Logo a policia viria pra sua casa. Logo eles a jogaria numa cela, julgada á prisão perpetua, para morrer ali sem nunca mais ver a luz do dia. Ela se agachou no canto do lado da pia o mais longe possível da porta, abraçou os joelhos e começou a chorar lágrimas pesarosas.


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Notas finais do capítulo

Eai? gostaram? Alguns, os mais espertos na verdade, vão começar a sacar a confusão do outro cap. Por favor sintam-se livres para comentar, favoritar, recomendar, criticar e divulgar a fic. Obrigada.