Os dias se passaram mais depressa do que eu imaginava. Após  meu feito, posso dizer que conquistei uma certa... popularidade. Apareci em algumas capas de jornal, brevemente, dando rápidas entrevistas. Minha vida não voltou ao normal. Na realidade, eu duvidava um pouco que ela um dia havia sido normal. 

Mas, apesar de tudo, consegui voltar para casa sem ser acusada, raptada, presa por nada. Percebi que para a minha família nada mudara, o que era ótimo, mas eu ainda me sentia culpada por deixá-los sozinhos sem notícias durante tanto tempo. 

Minha amizade com Carly não voltou ao normal, na verdade, com nenhum dos meus antigos amigos voltara ao normal. Eles me olhavam estranhamente, não apenas eles, mas os vizinhos também, todos considerando-me uma aberração. Eu apenas ignorava.

Abby conversava um pouco comigo e, raramente, eu deixava com que ela assumisse o controle do meu corpo. Ela dizia logo depois que se sentia mal quando fazia isso, como se vivesse a vida de outra pessoa propositalmente. Entendi de cara a indireta. Mas agora estávamos mais amigas e eu conseguia ver o quanto ela gostava de ficar com a família.

Daniel e Mia continuaram comigo durante alguns dias, só que eles precisariam voltar, mesmo que tivessem prometido sempre entrar em contato comigo. Minha relação com Daniel ainda era difícil, mas chegamos ao acordo de que antes de decidirmos sobre nós, precisaríamos decidir sobre nossas vidas, separadamente. 

O dia em que eles foram embora foi quase que  o pior da minha vida. Eu sabia que iria sentir uma dor enorme no peito, afinal, eles haviam sido a minha família durante algumas semanas. Mia derramou lágrimas silenciosamente, algumas vezes escondida. Daniel parecia neutro, mas sua expressão indicava que ele também não queria partir. 

Afastei-me deles e fui para o meu quarto, aproximando-me da janela para ver se observar a paisagem lá fora fosse ajudar. Não ajudou. Mas não demorou muito também para Daniel bater na porta do quarto e entrar logo em seguida.

Dei um sorriso triste para ele e o abracei. Eu sentiria sua falta, mas agora não era o momento para isso. Ele retribuiu o abraço e ficamos durante pouco tempo em silêncio, antes que ele dissesse:

- Eu vou tentar te visitar. Nós dois vamos.   - ele falou, incluindo a irmã nisso.

- Idem. - limitei-me a dizer. Então, ainda sem me afastar dele, perguntei baixinho - Será que, talvez, um dia iremos descobrir o que aconteceu conosco? 

Daniel hesitou um por um breve momento antes de responder:

- Talvez um dia.