Take Me Anywhere Away From Here escrita por viktor


Capítulo 2
Segundo dia


Notas iniciais do capítulo

Bom, ai está um novo dia na arena, espero que gostem e não fiquem muito brabos comigo haha.



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Ontem à noite pude contar dez tiros, só há mais quatorze pessoas vivas. O garoto do primeiro distrito e sua parceira, o garoto do dois cujo parceira Vanessa havia matado, a garota do quatro, a eletricista do cinco e seu parceiro, ambos os lenhadores do sete, o garoto do oito, eu e Vanessa, o garoto do dez e o do onze. O resto, o resto estava morto, até a garota que correra para trás havia morrido. A cena do corpo do peixeiro vai ficar em minha mente para sempre, do modo com que puxei a faca de seu pescoço sem me importar com sua vida. Estou sonolento, mas tento me manter acordado acontece que meus olhos pesam e eu me perco em meio ao sono em pleno dia.

– HENLY! – gritou Vanessa e eu abri os olhos de imediato, me agarrando ao tronco para não cair.

– Henly, um nome bonito, quantos anos você tem mesmo garoto, doze? – diz um garoto musculoso, segurando os cabelos de Vanessa, sua lança está jogada no chão, era o carreirista do segundo distrito.

– Ele tem treze, Pablo, treze aninhos. – a garota ruiva do primeiro distrito responde a pergunta do carreirista.

– Só treze? – ele indagou e riu em seguida – Esse eu mato com as mãos nas costas.

– Não toquem nele! – protestou Vanessa, tentando se desvencilhar do carreirista que segurava com força seus cabelos.

– Cale a boca vadia – diz a garota ruiva, Safira seu nome, ela me fuzilava com os olhos e tinha um arco e flechas em mãos – Eu vou matar esse pirralho.

Bastou apenas uma simples frase para que meu corpo todo entrasse em choque e eu me levantasse do galho, agarrando minhas mãos no tronco e subindo, uma flecha passa raspando pelo meu braço, o cortando e eu urro de dor, fazendo a garota rir embaixo de mim.

– HENLY! NÃO! – grita Vanessa e me viro no exato momento que sou chamado, tempo suficiente para vê-la ter a cabeça decapitada e então o canhão soa.

- Venha cá, sua cabeça vai ficar tão linda junto à dela, brotinho – debochavam os carreiristas e talvez a coisa mais desumana que eles poderiam fazer era tentar jogar a cabeça da garota até mim, e eles tentaram.

 Não tenho a mesma sorte que tive assim que Safira tentara me acertar com a flecha, a mira do garoto é melhor e sinto a cabeça de minha parceira morta tocar em minhas costas.

– AH! –, grito e no impulso solto minhas mãos do galho, me desequilibrando.

Não era algo muito inteligente o que eu havia feito, havia me soltado no susto o que me fez cair, eu teria morrido, me espatifado no chão e se sobrevivesse à queda os carreiristas cuidariam da outra parte do trabalho. Mas ao que parecia, a sorte estava ao meu favor. Bati com a barriga contra um galho e em um simples ato dominado pelo medo agarrei-me a ele com as pernas e os braços. Eu chorava, soluçava de tanto chorar. Podia sentir a cabeça da garota tocando minhas costas ainda.

– Desça dai, seu merdinha! –, Pablo parecia rugir como um leão feroz, estava começando a ficar irritado comigo e não era bom irritar um carreirista.

– Uma hora ele vai descer, se acalme, é só um garoto magricelo –, disse Safira parecendo não estar muito preocupada.

Ela estava certa, eu era só um garoto magricelo que por sorte não havia sido morto no dia anterior porque Vanessa havia me salvado. Oh, Vanessa, eu não queria que ela tivesse morrido assim. Não queria que sua pequena irmã de quem ela tanto falava tivesse visto aquela cena horrenda.

– Suba e pegue ele! –, falou o carreirista olhando para a garota ao seu lado.

– Eu? Suba você –, ela retrucou e o garoto pegou uma faca do cinto disposto entorno de sua cintura apontando para a garota.

– Suba Safira –, ele disse, os olhos azuis e penetrantes dele eram amedrontadores.

Eu acompanhava a cena dos dois carreiristas brigando abaixo de mim sem mover um musculo, não sabia se o galho em que me apoiava era resistente o suficiente para que eu pudesse ficar por ali.

– Ei, ei, abaixe isso cara, qual o problema? –, não reconheço a nova voz no ambiente, preciso olhar para baixo com dificuldade para reconhecer Triton.

Como se já não estivesse bom o suficiente estar preso em uma árvore depois de ver a pessoa que salvara minha vida ser morta e sua cabeça atirada em mim como uma bola de futebol, agora havia um circulo de carreiristas ansiando pela minha morte, como urubus envolta da carcaça.

– O garoto, matamos a parceira e ele é o próximo –, disse Safira pegando seu arco. 

– Deixe ele, vamos, os lenhadores foram pra aquele lado, esse ai os animais comem –, disse Triton e saiu andando.

– Animais? –, indagou Pablo confuso, e admito, eu também estava confuso.

Como assim, animais? Quer dizer que não contentes com o fato de precisarmos matar uns aos outros nós também poderíamos servir de comida para outros animais? Entusiasmante, só que não.  Não consigo ouvir a explicação para aquilo, já que os carreiristas se afastam e eu só tenho tempo suficiente para ouvir os passos se afastando e me ajeitar no galho, antes de ver o primeiro animal dos muitos que eu sabia que veria.

Uma cobra verde rastejava no galho ao lado do meu, não parecia ser venenosa, eu tenho um conhecimento bom sobre cobras. Durante o verão, nos dias mais quentes, as cobras costumavam rastejar para as plantações de grãos. E eu costumava trabalhar lá. Não tenho idade para isso, mas mesmo assim eu trabalhava.

Minha mãe morreu de hemorragia durante meu parto e nada sei sobre meu pai, morava com Berny, mãe de minha mãe e bem, ela me criou sozinho. O mínimo que eu podia fazer era ajudar garantindo nosso sustento. Nunca fui desses garotos que desdenham das poucas coisas que tem, vou morrer aqui dentro, mas vou morrer agradecido por casa segundo de vida que eu tive fora daqui, como uma pessoa e não um animal acuado.

Mas a quem eu quero enganar? Sou um animal acuado.

Fico olhando para a cobra não peçonhenta que se rasteja próximo de mim, ela não é venenosa, mas sua mordida não doeria menos do que a de uma cobra venenosa. Seria até mesmo pior, em minha opinião, uma cobra com veneno me morderia e eu morreria em torno de meia-hora. Aquela se me mordesse provavelmente eu pegaria uma infecção. Teria febre, alucinaria, sofreria sentindo meu corpo padecer. E eu não quero isso.

Mas eu quero comida. Meu estômago ronca de fome e sei que preciso fazer algo quanto a isso.

Olho para a cobra, posso tentar mata-la e depois a comer, mas ela pode ser forte. Cobras são fortes, e eu, bem, eu sou eu.

Desisto da ideia, não vou me engalfinhar com uma cobra para depois mata-la, não me vejo lutando com animal nenhum para conseguir comida, então isso me leva a pensar: o que eu vou comer?

Desço da árvore contra minha vontade, demorei tanto tempo pensando que os carreiristas devem estar longe daqui, minha demora não deve ter agradado aos gamemakers.

O corpo de Vanessa continua ali estirado, e então a ficha cai, Vanessa está morta e eu não fiz nada para ajudar ela. As lágrimas escorrem por meu rosto e caminho até seu corpo, não quero profanar o corpo dela, então desisto da ideia de pegar sua mochila. Pego a lança de Vanessa e escondo, escondo por debaixo da terra e das folhas. O cheiro de putrefação vindo do corpo dela começa a me dar ânsia. O sol é forte o suficiente para agilizar esse processo. Vejo urubus nos galhos das árvores, isso é um aviso, um aviso sutil para eu ir embora.

Corro, corro muito, na diagonal, não quero topar com um carreirista ou nem mesmo com outro tributo. Estou desarmado, afinal, não sei nem ao menos arremessar a faca que havia pego do corpo do garoto do quarto distrito. Continuo correndo, até que caio, o cansaço é maior e eu caio de joelhos.

– Não... –, gemo tentando voltar a andar, mas não consigo, estou exausto, não bebi água ainda tentando racionar e nem ao menos comi alguma coisa.

Um tiro de canhão. Olho para cima e então me lembro, só vou saber quem é a vítima mais tarde, quando a noite cair e a baixada do dia for mostrada no céu.

Odiava aquilo, mas era bem útil, tenho uma memoria boa, boa o suficiente para recordar o nome dos vinte e três outros tributos. Não é hora para pensar naquilo, me rastejo, meus pulmões parecem faltar o ar e por um golpe do azar eu estou na parte aberta da copa de arvores. O sol está me cozinhando.

Penso que vou morrer, mas então algo cai perto do meu pé.

Não, não é um patrocínio, quem patrocinaria alguém como eu? Ninguém, mas é algo que – para mim – é melhor do que patrocínio. É uma fruta, uma fruta estranha, mas quando olho para cima vejo que estou exatamente embaixo de uma árvore carregada de frutas do conde.

Não existem essas frutas no distrito nove, mas tive tempo suficiente para ler uma enciclopédia de frutas e coisas comestíveis que eu teria que comer em ultimo caso quando estava no Centro de Treinamento. Enquanto todos os outros treinavam armas, inclusive Vanessa, eu estava lá, sentado, lendo um livro grosso, mas que agora eu agradecia mais do que nunca por tê-lo lido.

Me sento e pego a fruta, não estou realmente pensando em quão burro eu sou por estar sentado no chão no meio da arena pensando em comer com carreiristas furiosos e animais que me engoliriam inteiro. Estou com fome e não demoro a cravar a faca no meio da fruta para abri-la. Pego os gomos e os enfio na boca, mastigando de modo apressado. É doce, é bom.

Não entendo essa arena, há árvores de tudo que é tipo, não posso chamar de selva, nem de floresta, não posso chamar de nada e isso é horrível. Não sei onde estou e não sei como essa arena pode me trazer vantagem. Sinto vontade de chorar de novo, mas continuo comendo e assim que termino de satisfazer minha fome sinto uma extrema sede.

A fruta era muito doce, doce o suficiente para me encher de sede o que não era algo bom, mas pelo menos eu tinha algo. Um galão cheio de água dentro de minha mochila. A abro e tiro o galão, dando pequenos e exatos dois goles, o suficiente para refrescar minha garganta.

É hora de dormir, e preciso achar uma árvore boa para ser minha cama esta noite.


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Notas finais do capítulo

Saudades comentários ):



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