O LIMITE escrita por Carlos Eduardo


Capítulo 3
II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/305378/chapter/3

5 de Março de 2008

Enfim, as férias acabavam naquele dia cinco de março de 2008. Eu tivera uma carga enorme de escrita da qual pude dar conta com um prazer inigualável. As férias entre 2007 e 2008 foram de muita inspiração e eu saía daquelas divagações com muito orgulho de como as vivi. Havia criado bastante, e trabalhei em diversos roteiros naqueles três meses pós-segundo ano.

Que orgulho de ser um escritor atarefado.

Meus pais e eu fomos juntos comprar meus materiais para o ‘terceirão’. Está certo que não era exatamente o que eu queria fazer naquele último fim de semana antes da quarta-feira em que se iniciava meu último ano letivo, mas até que foi divertido. Meu pai falando que eu já podia ser preso (meu aniversário é em fevereiro), minha mãe provocando, dizendo que era minha última chance de gostar de uma moça bonita e jovem de dezesseis anos sem ir para a cadeia por isso... Falando a verdade, foi hilário. Nunca os tinha visto tão feliz.

E nunca mais os vi felizes daquele jeito.

Era o primeiro dia de aula. O mais inesperadamente comum primeiro dia de aula pelo qual algum estudante poderia pedir. Não tinha ninguém com novidades intensas sobre as férias, o mundo não girava em torno das mesmas garotas imbecis da escola e a comida estava até sensivelmente melhor, quase desafiando sua própria capacidade de agradar o paladar alheio. Lembro que cheguei até a me perguntar se a qualidade havia de fato melhorado ou se eu havia, por acaso, me esquecido de como eram boas as refeições que os funcionários do colégio preparavam.

Provavelmente devido à sensação única de novidade, as aulas transcorreram velozmente. Admito não ter prestado muita atenção nas apresentações dos professores e nas introduções de suas respectivas matérias; estava ocupado demais contando aos amigos mais próximos tudo que tinha para contar sobre minha série de livros (finalmente terminada) e ouvindo atentamente tudo que eles tinham para me dizer. Beatriz viajara a Paris e Victor iria se alistar para o exército. Os planos para o terceiro ano, o fim da escola, a entrada na faculdade, tudo isso era o assunto do momento; deixava de ser, pelo menos uma vez na vida, sobre como não-sei-quem bebeu na festa de janeiro ou de como não-sei-quem-mais comeu a garota mais vadia do colégio.

Perdoe-me os palavrões. É provável que no decorrer desta narrativa diversas expressões não muito educadas sejam empregadas aqui ao falar sobre certos assuntos. Espero não desagradar, mas, infelizmente, às vezes não me controlo. Nunca fui muito religioso, principalmente a ponto de segurar meu linguajar pelo bem-estar dos ouvidos de outro alguém, portanto haverá momentos aqui em que xingarei mesmo, contarei cruamente mesmo e não hesitarei em dizer a verdade – quero ser da maior fidelidade com quem meu leitor. Quero ser verídico.

Quero ser real.

No decorrer daquele cinco de março de 2008 nada de estratosférico vinha para me derrubar. A galáxia inteira estava nos trinques, ajustada especialmente para mim e parecia, pela primeira vez em muito tempo, um começo com o pé direito. Jamais poderia pensar que, a um singelo e único olhar para a direita, numa daquelas respiradas que a gente dá quando fala, tentando se lembrar dos detalhes de um personagem ou escutando uma história que já conhece, eu iria observar uma das pessoas mais ao mesmo tempo fascinantes e perturbadoras da história da minha vida.

Mas foi exatamente aí que eu conheci Enzo.

Seria melhor se Enzo nunca tivesse nascido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O LIMITE" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.