Will You Remember? escrita por cmatta


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

voltei, será? Tem alguém aqui ainda?

Finalmente concluí a treta dos amigão aqui uhul!!! o que será que Matt sonhou???



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Depois de se afastar da horda de alunos que se espalhavam pelas ruas que circundavam a escola, Matt apontou para uma praça num pedido mudo para que Mike o acompanhasse até um dos bancos velhos de madeira.  Quando se sentou, jogou a cabeça para trás e ficou observando o céu da tarde já escurecido. O vento frio que trazia o inverno já cortava a pele de uma forma mais dolorida.

— O que foi? – Mike perguntou finalmente.

— Então... – tentou começar, mas não sabia direito por onde. Endireitou-se na cadeira e começou a mexer um isqueiro azul entre os dedos – Primeiro, quero pedir desculpa. Sei que ajudei a piorar tudo e...

— Relaxa, a culpa foi minha – interrompeu o amigo antes que terminasse – Acho que exagerei – riu forçado – Vamo tentar esquecer isso, tá?

— Mike...

Michael só conseguiu forçar o sorriso que aparentasse ser o mais sincero que conseguisse. O ruivo já não correspondeu da mesma forma. Ele só acendeu o isqueiro e começou a brincar com a chama por alguns segundos enquanto parecia muito concentrado em alguma coisa. O sorriso deu uma murchada, mas ele não conseguiu falar nada, só ficou aguardando; sabia que ia vir mais coisa e torcia que fosse alguma bobagem.

— Eu acho que... – e fez uma pausa enquanto perdia o olhar no horizonte. Como que se bota para fora uma coisa dessas? – Minha mãe... tentou se matar semana passada.

E então por algum tempo só se ouviu o farfalhar das folhas secas rodopiando no chão pelo vento, uns carros que passavam na rua ao lado e um grupo de adolescentes que faziam seu caminho para casa. Sem saber exatamente qual reação deveria ter, Michael só conseguiu se sentir um merda. Egoísta pra caralho, pensou, ficando puto consigo mesmo. E então realizou que até esse sentimento era egoísta. Largou um suspiro pesado e lento tentando se colocar no lugar, o que chamou a atenção do amigo.

— E aí? Como ela tá?

— Hospital. Acordou ontem...

— E você não ia falar nada, né? – Não conseguiu esconder um pesar na voz.

Sem resposta. Matthew realmente não queria ter que contar a ninguém. Já não se sentia bem em ter apelado e ido até Leslie, não queria sobrecarregar mais ninguém com suas coisas. Mas seus devaneios foram interrompidos por um soco em seu braço. “Idiota” foi tudo o que ele disse. E Matt sorriu finalmente.

— Ela achou que eu era meu pai.

— Que?

— Quando acordou, ela ficou falando pro meu pai levar ela logo.

— Credo.

— É...

— E como você tá? – Perguntou com um olhar genuinamente preocupado.

Matt balançou os ombros.

— Normal – disse com o olhar distante e a voz hesitante.

Mas eles se conheciam o suficiente para saber quando o outro estava mentindo ou escondendo algo. Michael sabia o quanto o amigo absorvia da dor dos outros e que, apesar de passar maior parte do tempo rindo do mundo, ele era o que mais sentia tudo. Com as costas da mão, deu um tapinha no braço de Matt para lhe chamar a atenção.

— Ei – chamou enquanto esticava um braço – vem aqui.

Matt soltou uma risada nervosa antes de se render e abraça-lo. Afundou a cabeça no ombro dele, sentindo o cabelo loiro lhe fazendo cócegas no nariz. Sorriu brevemente, antes de finalmente quebrar. Quando tinha sido a última vez que chorara tanto assim? Não conseguia lembrar. E quando sentiu seu rosto molhado não conseguiu fazer nada além de rir. O riso começou lentamente a se transformar e tomar para si um dos sons mais doloridos que Michael já ouvira, o que fez seu peito se apertar. Ele tentava acalmá-lo, mas nada parecia funcionar realmente. Então deu-lhe aquele tempo, assim como ele sempre o dava.

— Desculpa por isso – disse com a voz abafada pelo ombro do amigo.

— De boa.

— Vou ficar aqui mais um pouco, tá?

— Tá – riu.

— Mike.

— Hum?

— Desculpa estragar a viagem... queria que tivesse sido boa pra todo mundo.

— Eu sei, tá tranquilo. A gente não ia lá há muito tempo, de qualquer forma. Pelo menos chegou perto dessa vez.

Matthew balançou a cabeça em afirmativa e levou sua mão para terminar de secar o rosto. Quando ia se afastar finalmente do amigo, ele lhe segurou contra si para que não saísse.

— Olha – começou, sua voz saindo meio fraca, como se o orgulho lhe impedisse de fazer isso – Eu... desculpa as coisas que eu falei. E por ser tão infantil com isso tudo, tá?

— Mike...

— Mas mantenho a parte de que não gosto de você se destruindo. – Sua voz saía séria e firme – E você faz o que quiser mesmo sobre aquilo, mas eu sei que não vai terminar bem. Em todo caso, se tá bom pra você agora, quando terminar eu vou tar aqui, ok? Então...

“Obrigado”, sussurrou enquanto lhe apertava um último abraço antes de se afastar. Deu um breve beijo no rosto de Michael e retornou com o sorriso habitual que lhe iluminava o rosto. “Idiota”, ele respondeu, mas com um sorriso aliviado. Melhor assim, pensou enquanto ouvia Matt começar a falar de algum jogo novo que queria poder comprar.

Parado em frente ao seu apartamento, Matthew ficou hesitante em abrir a porta. Passara praticamente a semana inteira na sala de espera gelada daquele hospital, só voltou para tomar banho e dormir algumas poucas horas. Seus últimos dias tinham sido preenchidos pela agonia de não saber o que estava acontecendo e a incerteza do dia seguinte. E agora que ele parecia ter tido um momento de alívio, lembrou que ela ter acordado não significava que aquilo tinha acabado. E ela não era a única que estava num estado de completa incerteza...

Trancou a porta atrás de si e percebeu que a casa estava completamente bagunçada desde o dia do incidente. Ele suspirou e começou a arrumar tudo, como uma forma de afastar as ideias que lhe vinham à mente. Mas nem todos os esforços o faziam esquecer do olhar de desespero de Helen pedindo que James a levasse para a morte. Ele sabia o quanto era difícil para a mãe. E ainda ter que ver a cara do culpado todos os dias..., pensou enquanto jogava as garrafas de bebida do chão da sala num saco plástico. Ele aceitava o temperamento atual da mãe como forma de castigo e não conseguia reclamar. Era o mínimo que ele podia fazer...

Quando terminou de tirar todo o lixo e esvaziar o cinzeiro da sala, ele se jogou no sofá, esgotado. Antes que pudesse se afundar nos sentimentos ruins, lembrou da tarde com Michael e abriu um sorriso fino. E sua lembrança foi atropelada pelo som do telefone tocando. Por um segundo não quis atender, temeu ser do hospital. Mas finalmente levantou e o fez.

— Ahm... Matt?

— Neil? – Surpreendeu-se. E então sua mente começou a pensar que talvez algo ruim tivesse acontecido... – Tá tudo bem?

— Hã? Tá sim, não é isso... É que... você não veio, achei que talvez tivesse acontecido alguma coisa...

Matthew riu aliviado e uma felicidadezinha tomou-lhe conta por ter o garoto se preocupando com ele.

— Desculpa, fui resolver algumas coisas. Tá meio tarde, mas posso dar uma passada aí, se não for problema pra você.  

Neil pareceu hesitar, talvez estivesse engolindo o que queria de verdade.

— Não precisa... – respondeu por fim – E sua mãe vai achar ruim você saindo já tarde assim, né? – Neil se forçava a achar desculpas para aceitar que ele não viria – E você ia voltar muito tarde, também...

Matt apenas riu divertido.

— Amanhã é sábado, Neil.

— Mas...

— Já vou sair, hein?

— Ei...

— Tchaaaaaaaau, Neeeeeeil!

E desligou o telefone com um grande sorriso no rosto. Caminhou até o banheiro já tirando o agasalho pesado que usava.

Enquanto Matthew subia a rua da casa dos Collins, o vento frio batia contra seu cabelo ainda molhado do banho, o que fazia o garoto estremecer um pouco. Tentava se cobrir bem com a touca do moletom que usava, mas era em vão, o vento fazia com que a touca sempre caísse. Suspirou de alívio quando finalmente viu a entrada da casa. Correu até a porta e tocou a campainha. Quando Neil a abriu, Matt tinha ambas as mãos em frente ao rosto tentando se aquecer.

— Falei que não precisava... você tá roxo, entra logo – disse num tom autoritário que Matt nunca tinha ouvido até então.

— Sim, senhor.

Assim que a porta foi fechada, tirou o capuz sobre a cabeça e tentou arrumar os fios úmidos com os dedos. Neil tocou-lhe o rosto e sua própria mão parecia quente perto do rosto do garoto, o que lhe fez transparecer certa preocupação.

— Vai acabar doente...

— Tudo bem – respondeu com um sorriso doce antes de se aproximar de Neil e lhe beijar a testa. – Onde tá o Simon?

— Com a Chloe. Vem – disse já puxando o ruivo pela mão – vou te fazer algo quente.

Matthew se sentou na cadeira do balcão que dividia a cozinha ao meio e observou Neil pegar as coisas para um chá. Ele não conseguia tirar do rosto o sorrisinho que espelhava a paz que ele sentia ali.  Depois que Neil colocou a chaleira no fogo, parou em frente ao ruivo, do outro lado do balcão. Abriu a boca com a intenção de falar alguma coisa, mas desistiu. E Matt percebeu.

— Que foi?

— Você... sumiu a semana toda... – disse com a voz tímida – Fiquei preocupado. – Terminou quase num sussurro, evitando olhar diretamente para Matt.

— Não foi nada – respondeu com a voz calma.

Antes que pudesse responder, a chaleira começou a apitar e Neil foi tirá-la do fogo. Matt se perguntou se ele devia contar sobre o ocorrido, mas não queria envolver Neil nesse drama todo. Ele não precisa de mais negatividade, pensou enfim.

 O menino voltou com duas canecas quentes, para alívio de Matt que não aguentava mais os dedos tão gelados que chegava a doer. Agarrou aquilo como se sua vida dependesse disso e aproximou o rosto do vapor que saía do líquido. Neil riu com a cara de bobo que Matt fazia enquanto sentia o calor contra sua pele.

Ficaram ali bebericando o chá em silêncio por um tempo, até que finalmente Matt parou de sentir seu corpo tremer de frio e conseguiu voltar a pensar em outras coisas além disso. Ele queria muito perguntar como Neil estava, mas tinha muito medo de tocar no assunto. A ideia de receber uma resposta ruim lhe assustava demais. Neil notou a expressão estranha no rosto de Matt e pousou a caneca sobre a pedra branca do balcão.

— Tá tudo bem mesmo?

— Tá sim, relaxa – respondeu forçando um grande sorriso.

Neil só abaixou o olhar e voltou a beber seu chá, sabendo que não era verdade.

O barulho da chuva forte batendo contra a casa quase abafava todo o som do filme de ficção cientifica que os dois garotos estavam assistindo na sala. Mas era um gênero que ambos se entusiasmavam demais e durante todo o filme criavam infinitas teorias sobre as tramas do enredo e quase gritavam de animação caso acertassem alguma coisa. O cômodo era constantemente iluminado por raios que cortavam o céu lá fora e Neil sempre parecia dar um pulinho sempre que um trovão ecoava muito alto. E em todas as vezes Matt lhe tocava suavemente a mão ou o braço, esperando que aquilo acalmasse o menino de alguma forma.

Um último trovão foi tão forte que estremeceu a casa inteira. Neil praticamente se encolheu sobre o sofá com o susto. As luzes piscaram algumas vezes antes de se apagarem de vez. Então tudo ficou num completo breu. O pouco que enxergavam vinha da única janela da sala que tinha sua cortina aberta. E o único som que ouviam era da chuva que parecia cada vez mais forte.

— Bom... – Matt disse com a voz que praticamente ecoou na sala toda – Parece que a gente nunca vai saber se o pessoal vai sair da nave, né?

Neil deu uma risada curta enquanto tentava controlar seu corpo para não começar a tremer. Começara a se sentir mal, só não queria preocupar a Matt. Mas seu esforço parecia não estar vingando. Sua concentração em se manter bem foi cortada com o garoto lhe puxando pelos ombros para se deitar e não conseguiu lutar muito contra isso. Sua ansiedade cessou quando se sentiu abraçado e finalmente se acalmou, relaxando o corpo que antes estava tenso, com medo de desmaiar ou algo assim.

— Tudo bem?

Neil sacudiu a cabeça positivamente e passou as mãos para as costas de Matt, aconchegando-se melhor. Ali ficaram quietos por alguns minutos, ouvindo a chuva. Matthew passava os dedos suavemente dentre os fios loiros de Neil, quando finalmente criou coragem de tocar no assunto que lhe afligira boa parte do dia.

— Neil.

— Hum?

— Como você tá?

Ele pareceu um pouco confuso. Eu já não respondi?

— Bem... – respondeu ainda incerto.

— Não... digo... todo o lance do hospital...

— Ah. Não mudou muita coisa... – sua voz saía meio triste – Sabe?

— Uhum... – As palavras de Michael de horas atrás voltaram. “Eu sei que não vai terminar bem”. Matt abraçou Neil com mais força. – Você trate de melhorar, então. – Mandou, sério.


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