Will You Remember? escrita por cmatta


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Demoro mas cês me perdoa, sei que tem uma galerinha que chegou até o capítulo 10 independente da minha frequência, e eu sou mt grata a vocês, viu? ♥ (mas se quiser mandar uma dm ou um comentário pra me animar ou me xingar, sempre bem vindo, hein? ohohoh)

Espero que você, que chegou até aqui, não se decepcione e que consiga se entreter um pouquinho com o drama dos meus meninos :3

ps: tive que cortar o capítulo no meio ou ia ficar muito grande, ugh ~



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Mais uma vez acordou de súbito, sem saber onde estava e sem entender porque seu coração palpitava tanto. Olhou em volta e percebeu que estava sentado no sofá da sala, imaginou se tivera adormecido ali mesmo. Passou as mãos trêmulas nos cabelos suados e xingou o vazio num tom completamente frustrado. Não entendia porque reagia assim a esses pesadelos – e se eram realmente, nenhuma das vezes se lembrava de sonhar qualquer coisa, só acordava de forma abrupta e sentia-se assustado sem muito motivo aparente.  

Quando finalmente conseguiu retomar o controle sobre seu corpo, Matthew se levantou e foi até a janela – para sua surpresa, ainda era noite. Suspirou e foi até o banheiro. Enquanto a água quente do chuveiro caía sobre sua cabeça, lembrou-se da cena no hospital.

 

“Acho que preciso lhe informar sobre o quadro de sua mãe”, e antes que Matthew verbalizasse uma resposta, o homem continuou: “Entrei em contato com o psiquiatra de Helen e achamos que é melhor interna-la, mas não podemos fazer isso sem consentimento da família”. O garoto olhou longamente por cima dos ombros, em direção à mãe adormecida na cama atrás de si, e sua atenção voltou à Dr. Taylor quando ele continuou: “Sei que não é uma coisa fácil, mas ela apresenta um alto risco a si mesma. Não temos dúvidas de que ela tentou—“ e antes que ele terminasse a frase, Matthew lhe interrompeu: “Eu sei” – quis evitar ter que ouvir aquilo vindo de um médico, era como se fosse muito pior ter tudo confirmado por alguém. Ficou mais algum tempo olhando a mãe dormindo enquanto parecia ponderar sobre. Por fim largou um pesado suspiro: “O que for melhor pra ela”.

 

 

Com o gorro sobre a cabeça tentando se esquentar, Matt lutava contra a corrente de ar frio enquanto andava até o encontro com Michael. A mochila leve nas costas não tinha mais do que umas folhas de papel e um maço de cigarros extra que pegara no quarto da mãe quando o seu acabou no fim dessa semana. Mesmo seu habitual videogame portátil ele largou numa gaveta do quarto; sentia-se culpado demais para se dar esse pequeno prazer. Quando viu o amigo esperando-o encostado em um poste, forçou um sorriso e chamou-o animado. Pegaram o ônibus que parecia uma alternativa mais quente do que andar no sereno dessa manhã.

Os últimos dias haviam passado de forma quase habitual. Com as provas finais daquele semestre chegando, Matthew e Mike se juntavam depois das aulas para rever a matéria; nos últimos encontros, Matt passara a chamar Neil, mesmo sabendo que ele não precisava – e ele ia em todos, com seu caderno de anotação quase impecável que fazia os outros dois rirem.

Naquela tarde não foi diferente. Quando tocou o sinal da última aula, juntaram seus materiais e rumaram os três até a biblioteca. Para Neil, essa época era a que toda a classe finalmente parecia lembrar que ele existia. Enquanto os três estudavam numa mesa grande perto de uma janela, com os diversos livros desde matemática à história clássica espalhados pela mesa, sempre aparecia alguém os interrompendo para perguntar a Neil sobre a matéria da próxima prova. Depois de atrapalhados por um grupo de garotas que pareciam não saber muita coisa, Michael fechou o grosso livro com força e se levantou.

— Matt, desculpa, eu tentei, mas não dá pra ficar com ele, não – disse apontando para Neil, que parou de escrever as coisas no caderno de uma das meninas – Vou pra casa – terminou enquanto arrumava o material em sua mochila.

O grupo de garotas encarava Michael em completo silêncio enquanto ele se retirava da biblioteca.

— Desculpa atrapalhar vocês – uma das meninas disse depois que Neil terminou de ajuda-las. E então se retiraram. Matthew ouviu-as comentar algo sobre Michael entre risos, mas não conseguiu entender direito o que era.

Neil abaixou o olhar e fechou o livro que usara com elas.

— Acho que acabamos aqui, né? 

— Acho que sim. Valeu.

— Ahm... pelo quê?

— Por ficar. Sei que você não precisa estudar, Neil – riu.

— De fato... – respondeu com a voz fraca.

— Hum? Que foi?

Ele respondeu balançando a cabeça em negativa; colocou a mochila com o caderno nos ombros e acenou como que dizendo que ia devolver os livros. Matt prontamente se levantou e pegou a maioria deles e, sorrindo, levou-os até o balcão ao lado da entrada.

Caminharam devagar e em silêncio até a saída do prédio, aonde podia ainda se ouvir gente passando de um lado ao outro por tarefas extracurriculares. Matthew notou Neil se arrastando com um ar cabisbaixo; largou um suspiro pesado e parou em frente a ele.  

— O que que ta rolando?

— Não vou fazer as provas, isso que eu quis dizer – respondeu com a voz calma. Sem resposta, continuou: – Meu médico quer que eu fique em casa.

— Ah, é isso? – Matt forçou uma risada – Sorte a sua, então!

Neil sorriu e empurrou de leve o braço de Matt para que ele saísse do caminho. O sorriso de Matthew murchou lentamente enquanto via Neil andando poucos passos à frente. “Se ele não pode sair, isso quer dizer que...” — Matt sacudiu a cabeça tentando afugentar os pensamentos ruins. Depois de atravessar o pátio do colégio, o ruivo acompanhou os passos do outro por mais uma quadra e então segurou-lhe a mão; instintivamente, Neil ergueu o olhar procurando os de Matt, que lhe beijou brevemente assim que o encontrou.

 

 

O som da televisão ecoava pelo quarto escuro, a única luz era a que a pequena fresta na janela permitia entrar. Os dois corpos delicadamente enroscados trocando carinhos entre as conversas que eventualmente apareciam. Matthew hesitou por um longo tempo, até começar a ceder a seu instinto. Aos poucos foi se posicionando sobre Neil, com todo o cuidado tentando não se apoiar completamente nele. Sua boca descendo pelo pescoço pálido, obtendo reações agradáveis que lhe fizeram sorrir. Então tomou-lhe os lábios de forma mais vivaz quando sentiu as mãos gélidas tocarem suas costas de forma tímida. O ar que se manteve com certa inocência até então se tornava mais lascivo a cada segundo. Matt desceu calmamente a mão até a calça de Neil e afastou seu rosto o suficiente para observa-lo.

— Posso?

Corado até as orelhas, ele respondeu com um aceno positivo enquanto tentava desviar o olhar por vergonha. O ruivo apenas soltou um riso e voltou a beija-lo enquanto abria-lhe a roupa. Começou a toca-lo devagar, voltando a fitar seu rosto rosado, mantinha ainda os olhos fechados, mas não deixava de reagir positivamente a cada toque. Então Matt intensificou o que fazia, sem tirar os olhos de Neil – queria pegar cada detalhe daquela expressão que só ele podia ver –, quando ele finalmente abriu os olhos e fixou-os nos verdes de Matt. Já não tão tímido, levou a própria mão até a calça do ruivo e pôs-se a abri-la com certa ansiedade – enquanto o outro apenas segurava um sorriso de escapar-lhe os lábios – e, sem desviar o olhar, tocou-o da mesma forma.

— Não posso te subestimar de forma alguma, hein, Collins? 

— Cala a boca – respondeu envergonhado, olhando brevemente para a parede.

Matt largou finalmente o sorriso que continha e voltou a beijar o garoto abaixo de si.

 

 

 

E como era esperado, nas semanas que se seguiram Neil parou de frequentar a escola. Os dias se tornaram corridos com a matéria que Matt não estudara em todo esse tempo; todas as tardes ele e Michael se reuniam – mas metade delas, distraíram-se com jogos, como era habitual da dupla. Quando o dia da última prova chegou ao fim, ambos declararam que era noite de jogatina para comemorar as férias que se aproximavam. Passaram na loja em que um de seus colegas trabalhava e compraram toda bebida barata e besteiras que a curta verba deles aguentasse pagar. Enfiaram as sacolas nas mochilas estrategicamente vazias e rumaram à casa dos Hunt.

Como era natural daquele apartamento, o ar era impregnado de nicotina e tabaco, e, ao abrir a porta, Michael sempre reclamava dos hábitos do amigo, mas dessa vez manteve-se em silêncio, lembrando que era algo muito mais intenso vindo da parte de Helen.

— Fecha aí – Matt disse enquanto começava a arrumar as compras.

Fechou a porta atrás de si e colocou sua mochila sobre a pequena mesa de jantar. Olhou em volta. Tudo estava estranhamente arrumado. Levou os olhos azuis em direção a Matthew colocando as garrafas na geladeira praticamente vazia.

— Normalmente a gente não passa a noite na sua casa... – disse vagamente.

— Hã? É, acho que não, né? – Sorriu enquanto pegava a mochila do amigo para terminar de arrumar o que compraram.

— Como tá sua mãe?

Matt parou por um segundo, hesitante. Mas continuou arrumando as coisas.

— Pega meu videogame lá no quarto, Mike – pediu enquanto amassava uma das sacolas.

Relutante, Michael o obedeceu. E se a sala já fedia, o quarto de Matt agora era puro cigarro. Parecia que tinha um aceso ali mesmo, de tão intenso; se perguntou há quanto tempo não vinha vê-lo, não se lembrava de ser assim. Ele espiou rapidamente o ruivo na cozinha, mas virou-se direto para a gaveta em que sabia que ele guardava seus jogos. Foi reto até a televisão da sala e começou a instalar os fios. Ouviu o amigo se sentar no sofá atrás de si.

— Matthew – chamou sério.  

— Diga, Michael. – Ficou tenso; por um segundo temeu ter que explicar tudo ao amigo.

— Um shot a cada morte – disse com orgulho nos olhos enquanto entregava um dos controles para o amigo.

O ruivo pôs-se a rir.

— Pois se prepare, Cook,

— Digo o mesmo, Hunt.

 

 

Algumas horas se passaram junto com diversos tiros, goles de bebida, caretas e alguns cigarros. Já não conseguiam fixar a mira do jogo sem começar a rir e errar tudo, o que claramente os fazia beber ainda mais, rir ainda mais e errar ainda mais. Finalmente Mike decidiu cortar o ciclo que parecia não ter mais fim.

— Declaro derrota – ele disse abanando uma bandeirinha branca imaginária.

— Bem sabia que não ia ser páreo pro meu talento, Cook – riu enquanto levava um cigarro pela metade à boca.

Embora tivesse rido por alguns segundos após o amigo terminar de falar, a expressão de Michael subitamente se fechou em um tom melancólico. Quando percebeu o amigo nota-lo, levantou-se prontamente dizendo que ia assar uma pizza congelada que compraram naquela tarde. Deu de costas para o ruivo que, sentado no chão, apreciava o fim de mais um cigarro antes de apaga-lo no cinzeiro na mesa de centro, lotado de bitucas. Mike seguiu para a cozinha em plano aberto após observar o amigo por alguns instantes, então pôs-se a fazer o que disse que iria. Voltou para a sala com uma cerveja em mãos e estendeu a garrafa em direção a Matt, que a aceitou automaticamente.

— Há quanto tempo você tá sozinho, Matt? – Perguntou sério; sua cabeça ligeiramente abaixada, mas os olhos azuis fixos no amigo.

Ele respondeu erguendo os ombros e entornando mais um gole da bebida gelada. O loiro estendeu a mão pedindo a garrafa. Matthew esticou o braço até o maço no meio da mesa a sua frente; rapidamente, Mike pegou-o primeiro e deixou o amigo sem entender muito bem.

— Cê responde, cê fuma – ele disse segurando o maço com força, encarando o amigo com a expressão inflexível.

Matthew riu, mas de uma forma diferente da natural.

— Sei lá. Umas semanas? Um mês? – abriu um sorriso amarelo – agora posso?

Cedeu. Entregou o maço para o amigo e virou um grande gole da bebida.

— Achei que depois que cê chorou feito uma criança na praça no outro dia, cê ia aguentar falar comigo direito – respondeu seco, encarando o amigo com o canto dos olhos enquanto ele acendia mais um.

Não vamos repetir aquilo, por favor... — pensou, enchendo o pulmão com a fumaça.

Michael virou mais um gole e levantou do chão. Largou a garrafa ao lado do amigo e deitou-se no sofá onde ele estava encostado, evitando assim qualquer contato visual com o amigo.

— Quando a gente era mais novo, eu tava fodido o tempo todo, lembra? – Falava com a voz um tanto nostálgica – E todas as vezes você parava tudo que tava fazendo pra tentar cuidar de mim – riu com certa vergonha dessas lembranças – Deixa eu cuidar de você agora, seu porra – terminou empurrando a cabeleira ruiva que parecia se recusar a olhá-lo.

Mas ele não conseguia esconder um sorriso que lhe desenhava os lábios. Apagou o cigarro no cinzeiro à frente e ficou algum tempo em silêncio. Finalmente virou-se para o sofá atrás de si, apoiando os braços cruzados sobre uma almofada e deitando a cabeça sobre eles.

— Ahm... – Vocalizou, chamando a atenção do amigo; a voz saindo meio abafada por seu braço. Pigarreou antes de continuar, relutante – É... Minha mãe tá num hospício e tal. E todo o dinheiro que a gente tem vai pras despesas dela lá. E a culpa é minha...

— Ah, vai se foder, Matt – interrompeu-o, erguendo a vista para encará-lo sério – Não vem com essa merda de culpa tua que tem nada a ver. Ela é doente. E você aguentou todo esse tempo a loucura dela. Então não começa com essa bosta.

Ele não entende... — pensou enquanto enfiava o rosto mais fundo entre seus braços. Sentiu seu peito apertar enquanto sua mente repetidamente pedia desculpas a todos que conhecia.

Michael percebeu a reação de Matt e beirou o pânico por não saber o que fazer. Sentou-se e levou sua mão até os fios ruivos desarrumados e suspirou.

— Relaxa, cara. Ela tá viva e recebendo tratamento, num tá? Se você não tivesse ajudado na hora, nem isso, né? – se perguntou se o que ele falava fazia algum sentido, mas torcia que conseguisse de alguma forma acalmar o amigo – E você vai lá pra casa quando quiser, hein? – Lembrou da névoa de tabaco no quarto de Matt e concluiu – Não sei se gosto da ideia de você sozinho assim...

— Não vou me matar, Mike – forçou um riso, ainda abafado – Tá de boa.

Não respondeu, ficou apenas em silêncio encarando o amigo encolhido nos pés do sofá. Até que Matt ergueu o olhar em sua direção.

— A pizza, Mike.

O loiro levantou apressado e deixou para trás Matt com um sorriso que lhe iluminava.


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