Era uma manhã fria. Uma normal manhã fria. Todos corriam para seus empregos e outros para as escolas. Mas poucos acreditavam que algo diferente aconteceria.

Ercnard Sieghart, um garoto de dezesseis anos, que odeia ser chamado pelo primeiro nome, andava por uma certa rua a caminho de sua escola. Ele era um jovem bonito de cabelos negros, bagunçados e olhos prateados. Ele parecia indiferente com tudo a sua volta, emanando uma aura atrativa para quem o visse. Ele vestia seu uniforme escolar, que era uma blusa social branca, um paletó escolar preto, com detalhes em branco e com um símbolo escolar em seu peito. O resto do uniforme era simples: uma calça preta sem detalhes e um sapato preto comum.

Mas, talvez, Sieghart tenha se arrependido de passar por ali. Quando ele virou a esquina, ele logo notou um vento estranho. Era mais forte que o normal e teve que fazer o moreno proteger seus olhos para não entrar nenhum cisco ou qualquer outra coisa. Quando o garoto olhou para cima, logo no topo daquele prédio, ele notou uma presença. Quando encarou direito, viu uma jovem sentada no telhado do prédio de três andares. Ela vestia um uniforme escolar que era familiar para ele. Era o uniforme escolar feminino da mesma escola que ele.

O uniforme feminino não era muito diferente. Uma blusa social, um paletó preto com detalhes em branco, uma saia de pregas preta, uma meia que vai até o joelho e um sapato preto.

Os cabelos da jovem balançavam com o vento. Eles eram curtos e azuis. Bem azuis. Já os olhos da jovem eram diferentes. Do lado direito o olho tinha uma cor azul e do outro lado, uma cor de vermelho... Que lembrava sangue.

Lá de cima, ela encarava o garoto. Ela apoiava o queixo em cima de seus braços que se apoiavam em seus joelhos. Ela encarava o moreno indiferente. Mas foi aí que Sieghart notou que ela não era “normal”.

– Ahh... Logo cedo não. – murmurou o moreno.

O garoto seguiu a rua deserta a caminho de sua escola, com um tanto de pressa. Já a garota no prédio até se levantou parecendo um tanto surpresa.

– ... Ele... Me enxerga? – ela disse um tanto confusa, assistindo ele virar a esquina.

O garoto chegou em segurança na escola. Ele suspirou aliviado notando que não havia sido seguido pela garota que havia visto em cima do prédio e logo seguiu para dentro da escola. Lá ele era cumprimentado por todos que o viam, o que o fazia ficar um pouco mais calmo. Conseguiu até rir das piadas bobas que os garotos faziam, ou das garotas tímidas que vinham cumprimentá-lo.

Realmente, ele era um garoto popular. Essa era a vida essencial para ele. Ser alguém que chame a atenção “positivamente”. Não que ele quisesse ser bom... Ele queria ser alguém não considerado “estranho”.

O professor entrou na sala, um tanto destrambelhado. Era um velho magro e quase sem vida. Ele disse um bom dia desanimador, mas logo fitou Sieghart.

– Sieghart! Tire os fones de ouvido! – o professor gritou ganhando vida.

– Ahh velho chato. Me deixe em paz. – ele disse fingindo estar mal-humorado, enquanto tirava algumas risadas dos alunos.

– Vamos lá! Ou senão vou ter que te mandar para a diretoria! – o professor falou irritado.

– Faça isso então. Vou adorar tomar café com a diretora. Ela já até se acostumou comigo lá dentro. – o moreno disse sério agora, fazendo mais alunos rirem de suas piadas.

– Ora, seu...! – mas logo o professor se conteve e voltou a passar a matéria. Ele mesmo sabia que não dava em nada. Sieghart era o aluno problema. Não tinha mais jeito.

O moreno suspirou decepcionado. Queria discutir mais com o professor. Ele gostava mesmo de chamar a atenção.

– Ei, Ercnard! – um garoto dos cabelos laranjas e olhos verdes, chamou a atenção do moreno, que rapidamente se virou para ele, irritado.

– Já disse para me chamar de Sieghart, Ryan! – Sieghart respondeu furioso.

– Ok, ok... Mas você ouviu falar dos boatos? – logo Ryan ficou mais empolgado.

– Que boatos? – o moreno perguntou.

– Parece que uma mina do primeiro ano aqui da escola... Morreu sabia?! – Ryan disse ainda animado.

Sieghart rapidamente se ajeitou na cadeira, um tanto assustado com o assunto.

– S-Sério? – ele disse sério.

– Sim! Eu não sei dos detalhes. É um boato que tá pela escola. – Ryan completou agora já se desinteressando pelo assunto – Sei lá... Fiquei pensando se o espirito dela não rondaria pela escola.

Sieghart engoliu em seco aquela conversa. Quando Ryan terminou, rapidamente notou que Sieghart estava agindo estranho quanto ao assunto.

– Ei, cara... Você tá pálido! – Ryan disse um tanto preocupado.

– Relaxa... Não é nada... – o moreno disfarçou.

Passada as aulas, Sieghart fez outro caminho para voltar a sua casa. Ele sabia que passar por onde viu aquela garota dos cabelos curtos não seria bom.

E quando Sieghart chegou a sua casa, ele suspirou aliviado. Era uma casa normal, tradicional as que tem no Japão.

– Estou em casa! – ele disse na entrada retirando seus sapatos. Logo ele foi recebido por uma voz masculina um tanto alegre.

– Bem-vindo de volta! – logo um senhor de cabelos brancos, barba e olhos prateados apareceu ali.

– Tudo bem, vô? – Sieghart logo entrou mais adentro de sua casa após tirar os sapatos.

O senhor era avô de Sieghart. Ele se chamava Ren Sieghart. Mas não é como se todos gravassem seu nome.

– Tudo sim. – o senhor respondeu sorridente – Está com fome?

– Morrendo. – o jovem respondeu com um sorriso.

O senhor seguiu para a cozinha, enquanto Sieghart jogava seu material na cadeira e ligava a TV na sala, onde ficava ao lado da cozinha.

– Como foi na aula? – o senhor gritou para que Sieghart o ouvisse da sala.

– ... Eu vi mais um espirito. – Sieghart disse um tanto indiferente.

Logo o moreno ouviu um barulho de talher cair no chão. Rapidamente, seu avô entrou na sala um tanto surpreso.

– Uma alma? De quem? – o senhor perguntou interessado.

– Sei lá... Parece ser uma garota da minha escola. – Sieghart disse indiferente.

– É sério? Não vai exorcizá-la? – Ren perguntou preocupado.

– Até parece! – Sieghart disse agora um tanto irritado.

– ... Sieg... Você sabe... Alguns membros da nossa família tem o dom de ver pessoas mortas... Que não vão para o céu... Por que algo os impede. E só quem vê esses espíritos podem exorcizá-los. Isso é... Guiá-los para onde o destino os leva. Você já fez isso com algumas almas. – o senhor disse seriamente.

– Eu não gosto de fazer isso. Me dá arrepios essas coisas. E eu gosto de ser normal, tá? – Sieghart respondeu irritado.

– E você é normal... Só que você tem um dom especial... Eu não nasci com essa herança da família. Ultimamente quase ninguém da nossa família tem nascido... Mas você nasceu. Porque não usa seu dom para o bem? – o senhor falou tristemente.

– Porque não quero. – Sieghart deu sua palavra final.

– ... Mas ela não é colega sua? Pelo menos ajude uma colega a achar seu destino... – Ren falou ainda triste.

Sieghart ficou alguns segundos em silêncio, mas logo respondeu ao senhor.

– Eu nem a conheço. Pra mim tanto faz. – o moreno logo mudou de canal, demonstrando o seu desinteresse.

Ren rapidamente entendeu o recado. Ele se retirou da sala um tanto pensativo, enquanto Sieghart aumentava o volume da televisão.

– ... Não é como se eu tivesse desejado nascer com um fardo desses. – Sieghart murmurou a si mesmo irritado – É um saco ter que ver pessoas mortas todos os dias pelas ruas... Além de ser estranho.

Mas mal sabia o moreno, que enquanto ele via sua televisão em paz, algo o assistia.