Capítulo 7 – Running Wild

- Você está me dizendo que saiu da Frota Estelar?

Amanda abriu e fechou a boca por duas vezes, tentando pensar em algo mais para dizer, mas estava surpresa demais para fazê-lo.

- Eu acredito que foi isso que eu disse, Mãe. – veio a resposta fria de Spock.

- Mas... por quê, Spock? Tantos anos servindo, e você nunca teve sequer uma queixa, especialmente após servir com James Ki...

- Foi uma decisão pessoal, Mãe. Peço que a respeite.

- Se você acha que vai escapar me dizendo para não se meter na sua vida, você está muito errado! – Amanda disse, irritada. Spock achava que poderia fazê-la ouvir tal notícia para depois mandar ela não se meter em sua vida?

Spock pareceu considerar suas palavras por alguns segundos, para então responder:

- Após longa reflexão, eu decidi que meu melhor curso de ação seria deixar a Frota Estelar, pois eu gostaria de tentar aplicar-me aos ensinamentos do Kolinahr.

Se antes Amanda estava surpresa, agora ela estava chocada.

- Kolinahr? Mas... por que agora, Spock? Por que você quer suprimir todas as suas emoções depois de tantos anos?

- Como eu disse, foi uma decisão pessoal e peço que a respeite, Mãe.  – Spock disse, sua voz novamente livre de qualquer emoção.

- Eu respeito, Spock – Amanda suspirou – eu sempre vou respeitar as decisões que você tomar. Eu só gostaria de entender o porquê, e por que agora.

Spock permaneceu em silêncio por muito tempo, e Amanda achou que ele não iria realmente lhe falar nada, até ele responder:

- Após conviver por tanto anos com humanos, vi-me confrontado com emoções com as quais não sei controlar ou corresponder completamente, o que é inaceitável para mim. Eu espero que, aplicando-me ao Kolinahr, não tenha mais dificuldade nesse curso de ação.

- Isso tem a ver com James Kirk, não tem Spock? – veio a pergunta gentil de Amanda.

Silêncio.

- Spock, eu não tentarei persuadi-lo do contrário, eu apenas gostaria de entender o que você está pensando. – Amanda tentou novamente.

- Embora não tenha sido a única razão – Spock começou hesitante – devo admitir que sim, James Kirk é uma das razões pela qual eu tomei essa decisão.

- O que aconteceu entre vocês para fazer você tomar uma decisão tão séria como o Kolinahr, Spock?

Amanda observou Spock parecer inconfortável, mas por fim, ele decidiu falar:

- Como vejo que será impossível retê-la de fazer questionamentos, Mãe, acredito oferecer-lhe uma explicação é a melhor maneira para encerrá-los. Quando estávamos próximos de encerrar nossa missão de cinco anos, Jim confessou-me que ele possuía certas... emoções por mim. Durante nossos anos servindo juntos, eu penso que talvez possa tê-lo encorajado a nutrir tais sentimentos, com palavras e ações, fato que profundamente me envergonha. Eu não posso retribuir os sentimentos que ele nutre por mim, Mãe, e permanecer por perto me pareceu inaceitável.

Amanda tentou processar tudo o que Spock disse em segundos, mas tinha algo em seu discurso que simplesmente não se encaixava:

- Spock, se você não pode retribuir os sentimentos dele, então por que você quer aplicar-se ao Kolinahr e se destituir de todas as suas emoções?

Amanda imaginou se era impressão sua ou Spock realmente parecia um pouco mais verde quando respondeu:

- Embora eu deva confessar que eu nutra certa... afeição por ele, não seria correto, Mãe. Um arranjo entre nós seria insatisfatório e insuficiente para ambos, então conclui que o único caminho lógico a seguir era me libertar dessas emoções, mas lhe asseguro que não é o meu único motivo.

Amanda encarou-o por alguns momentos, tentando acreditar que aquela era a mesma pessoa que há poucos anos atrás, havia admitido que a amava.

- Nunca pensei que diria isso um dia, mas sua lógica não soa muito bem para mim, Spock. O que realmente me parece é que você sente muito mais do que certas afeições, e está com medo – sim, medo, não me olhe com essa cara – de enfrentar essas emoções, por isso prefere eliminá-las.

- Mãe, eu lhe asseguro...

- Spock, não – Amanda interrompeu – eu não vou tentar fazer com que você mude de ideia. Como eu disse, eu sempre te respeitei, você é adulto e responsável pelas suas escolhas. Eu apenas gostaria que uma vez na vida você pudesse se sentir bem consigo mesmo.

- Se sentir “bem” é um estado relativo, conforme observei durante esses anos, Mãe.

- Sim, é – Amanda sorriu tristemente – mas como eu disse, é apenas um desejo. A vida é sua e são suas escolhas a fazer. Eu apenas acho que você vai se arrepender, mas... é algo que você precisará descobrir sozinho.

Com essas palavras, Amanda virou-se e voltou para dentro de casa, se sentindo triste, velha e cansada demais para dizer qualquer outra coisa.