Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 6
Capítulo 6 - Névoa


Notas iniciais do capítulo

"Because maybe
You're gonna be the one that saves me
And after all
You're my wonderwall"
Wonderwall- Oasis



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Luna morava perto de minha casa antiga, isso significava que ela estava distante da nova. Levou cerca de incontáveis meia hora até que ela chegasse.
Eu estava deitada de bruços no felpudo tapede da sala, me martirizando pelo "quase ocorrido", quando o interfone tocou e Abby veio correndo.
–- A Luna chegou!- ela passou reto por mim e foi direto para ao interfone apertar o botão - Abriu?
–- Sim, Florzinha! Estou entrando!
Assim que entrou, Luna deparou-se com o requinte da nova decoração.
–- Uau! Me sinto em uma daquelas casas de novela, ou coisa assim.- ela disse, antes de se deparar comigo -Porém, nada é mais assustador do que ver sua amiga jogada no chão beijando o tapete.
–- Por favor, não fale em beijos.- eu disse, levantando do chão.
–- Ok...Nossa, que chuva! Você deve ter um bom motivo pra ter me chamado aqui e eu pressinto que não é saudade. - ela disse. Peguei seu casaco em silêncio e guardei-o no armário. Segui em direção ao espaçoso sofá da sala, sendo seguida por Luna.
–- E aí, o que achou da casa?- eu disse. Sabia que, assim como eu, esse estilo não fazia o gosto dela.
–- Bela casa, mas sei que não é sobre isso que você quer conversar.
Ok, essa era a hora.
–- Hoje de manhã percebi que Abby estava com febre, levei-a ao hospital...
–- É mesmo! Você me falou sobre isso do hospital pelo telefone, mas não perguntei o que havia acontecido! Como ela está? - disse Luna com tom de urgência.
–- Ela está bem melhor agora, eu quem não estou.
–- Eu imagino, tudo tem sido muito difícil...- Luna disse, antes que eu a interrompesse.
–- Não é por isso. Quero dizer, essas coisas também, mas hoje enquanto levava Abby ao hospital, começou a chover e então de repente ele apareceu. Eu pensei em negar a carona, mas estava chovendo muito e eu estava com ela. - As palavras saíam apressadas.
–- O Enzo apareceu e lhe ofereceu carona. Hmm, prossiga.- disse Luna assentindo.
–- Isso! Então, eu aceitei e ele nos levou ao hospital. Ele foi super gentil todo o tempo. Se não fosse por ele, provavelmente nós teriamos ido na chuva até o hospital e Abby ainda não teria sido atendida.
–- Isso foi bom, então! O que há de tão terrível?
–- É que... Enquanto aguardavamos a alta da Abby nós fomos conversando e quando me dei por mim estávamos nos olhando nos olhos. Eu tentei desviar, é sério! Você sabe, eu não sou uma dessas garotas que não prestam! Eu nunca faria isso com o Andrew! Eu... eu não sei o que deu em mim! Como eu pude...- percebi que meu tom de voz havia se elevado demais.
–- Mel? Mellany?- disse Luna, tentando frear meu surto - Mellany Lake Vidalgo!
–- Você deve estar me achando uma depravada ou coisa assim...
–- Eu te conheço desde os nossos 7 anos. Fazem 10 anos, você acha que uma atitude sua ia mudar o que eu penso de você há 10 anos?!- as palavras dela me acalmaram, essa só podia ser a melhor amiga do universo.-- Continue, com calma. Vocês se beijaram?- ela perguntou, erguendo uma sobrancelha.
–- Não. Ele se afastou de mim.
–- Ele? Ele se afastou de você?
–- Sim, foi super estranho. Ele me envolveu de uma forma tão...E então, ele se afastou. Simples assim.
–- Acho que ele mesmo viu o que estava prestes a fazer e não quis seguir adiante. Assim como você, ele devia estar envolto pela situação. Mel, você passou por duas perdas grandes nos últimos dois anos e mesmo assim aguentou firme. Agora o seu pai surge das cinzas. Depois de o que? Oito anos?
–- Onze.- corrigi.
–- Pois é, você está longe dos seus amigos. De mim, do Andrew. É normal que se sinta só, isso tudo abriu brechas pra o que aconteceu. Ninguém pode julgar você. O que importa é que nada chegou a acontecer de fato.
–- Mas, e se tivesse acontecido? Se ele não tivesse se afastado, eu teria deixado?- esse pensamento me torturava.
–- Eu sei que você não deixaria. Mas, caso tivesse acontecido, você só teria sido pega de guarda baixa. Você, uma garota deprimida, tendo que enfrentar várias coisas, conhece um cara que é praticamente um príncipe. Bonitão, charmoso e o melhor de tudo: gentil. Se eu não tivesse o Daniel e não sentisse o que sinto em relação a esse cara, até eu abaixaria a minha guarda pra ele!
–- Luna!
Ambas gargalhamos. Era tão bom tê-la por perto.
–- Mas é sério, eu não gosto dele. Ele pode até ser um cara muito bacana com você, pode ter cuidado de Abby, mas...- de repente seu tom ficou sério- Tem algo nele que me arrepia os cabelos da nuca.
–- Misticamente falando?- brinquei.
–- Seriamente falando. - ela respondeu, tentando ser o mais séria possível.
–- Sabe que você não combina com essa cara, né?
–- Eu sei! Não sei como vou poder educar meus filhos, se toda vez que fico séria as pessoas riem! - ela riu – Você não acha estranho uma pessoa que nunca tinha te visto antes, primeiro te presentear e depois ser tão prestativo? O que você tem a fazer é se afastar desse cara. Simples.
–- Ok, é isso que vou fazer.- espero.
–- Você sente uma energia diferente nessa casa?
–- No momento, só sinto meu estômago.- eu ri - Vamos almoçar?
–- Qual o menu de hoje?- Luna perguntou.
–- O que você for cozinhar.- gargalhamos, mas ela sabia que era á serio. Meus dotes culinários sempre foram nulos. – Tem um restaurante aqui perto, podemos pedir algo.
–- Tudo bem.

Depois de ligar e pedir nosso almoço, comemos e Luna se foi. Perguntei se gostaria de dormir em casa naquele dia, mas ela disse que não poderia pois tinha marcado de entrar-se com Daniel naquela mesma noite. Após despedir-me dela, decidi que a melhor coisa a se fazer, depois de um dia tão estressante, seria tomar um banho. Abby estava assistindo TV em seu quarto. Ela nunca tivera medo de ficar sozinha, mas achei melhor avisá-la.
–- Abby? - eu disse, encostada no batente da porta de seu quarto, tentando captar sua atenção da TV- Estou indo tomar banho, quer ficar no banheiro comigo?
–- Não, você demora muito.- ela disse, despreocupadamente.
Pensei que talvez, após aquela conversa com Abby no hospital, eu quem deveria estar exagerando.

Fui para o meu banheiro. Era estranho ter um banheiro só pra mim. Toda aquela individualidade, eu realmente quis tanto isso um dia? As coisas rotineiras pareciam cada vez mais solitárias de se fazer. Tirei as roupas e deixei-as no chão. Coloquei o celular em cima da pilha de roupas, ao lado da banheira e deixei a playlist rodando no volume máximo. Deitada na banheira, enquanto pensava em tudo que acontecera, começou a tocar Wonderwall do Oasis. “Perfeito, ótima música pra esquecer um momento daqueles.”- pensei irônica. Afundei-me na banheira até ficar completamente submersa. “Preciso ver o Andy, sinto falta dele. Mas como vou encará-lo depois disso?”;
Quando fiz um movimento para levantar e recuperar o ar, vi que não conseguia. Uma força estranha me empurrava para baixo. Seria alguém? Não, eu não sentia nada tocar minha pele, era como se estivesse sendo pressionada pelo ar. Abri os olhos e acima de mim só havia uma densa névoa branca. Desesperada, tentando sair da água, comecei a me debater. Quanto mais tentava gritar por ajuda, mais engolia água. Ouvi um estrondo no banheiro, o que estava acontecendo? Foi então que bati com a cabeça no fundo da banheira e desmaiei. Somente me recordo de ser retirada de lá por alguém, que me enrolou em uma toalha e me deixou deitada no chão do banheiro. Ainda tonta, lembro-me de ouvir tia Amanda ligando para a emergência.

–- Ela deve ter caído e batido a cabeça, há sangue na água e no chão!
Depois disso, fechei os olhos novamente.


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Notas finais do capítulo

Capítulo tenso! Espero que gostem. Beijos - Beatriz ♥