E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Mais um essa semana só pra agilizar a parada. E porque eu não tenho mais nada escrito, então até que eu o faça, vai ter um tempinho sem atualização. Enfim. Está meio confuso, mas eu apenas me dei conta de que quando a autora narra, também há uma confusão bem evidente. Então eu cheguei a conclusão de que, com a Clove, essa confusão deveria ser maior. E é claro, há também o fator surpresa: Eu não sei escrever ação, rsrs.



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– Pelo poço de manutenção.

Quando voltamos para junto dos outros, Castor e Pollux estão tendo de tirar o equipamento, porque este não passa pelo acesso que eu atesto ser estreito demais. Eles os jogam no closet, porque Messalla não sabe como escondê-las melhor por aqui. Isso acaba com o espírito de não deixar pistas, mas é o que há.

É mais estreito do que eu imaginava. No segundo apartamento, encontramos a porta de serviço. Cato dá um empurrão na tampa do tubo, certo de que seria realmente muito difícil abri-lo e eu não posso evitar rir de toda essa força desmotivada. Mesmo que eu apenas encostasse minhas mãos, encontraríamos logo a escadaria com degraus de borracha.

Franzindo meu nariz, me afasto e espero os outros descerem. Ninguém fica mais nervoso que Pollux, agarrado ao pulso do irmão.

– Meu irmão trabalhou aqui embaixo depois que virou Avox – explica. – Levamos cinco anos e muito dinheiro para conseguir levá-lo de volta à superfície. Não viu a luz do sol uma única vez esse tempo todo.

Mordo os lábios e olho para os lados, tamborilando os dedos pelo braço. Estou desconcertada, claro, como todos os outros, por esse silêncio.

– Bom, então você acabou de virar o nosso ativo mais precioso.

É engraçado, porque é o Peeta telessequestrado que sabe o que dizer. Engraçado e promissor.

Eu não me preocupo em saber pra onde vamos, porque mesmo que eu o fizesse, seria inútil. Eu não poderia voltar de qualquer modo. Só me atento para os casulos ativos, para as ratazanas gigantes e para meu cansaço que descubro ser inédito. Nem na arena eu atingi esse recorde de fadiga.

Force seus pés a se movimentarem e mantenha seus olhos abertos.

Sustos ocasionais me despertam, mas eles são passageiros demais pra serem úteis. Cato puxa meu cabelo às vezes, mas é irritante e também rápido demais.

Finalmente, depois de seis horas de viagem, Everdeen sugere uma pausa. Pollux arranja uma sala pequena que me parece ser de controle, cheia de monitores e manivelas. Temos só quatro horas, mas Jackson cuida de um esquema de guarda. Eu pego o penúltimo tempo e desabo num canto antes de poder perguntar o de Cato. Mas não é agora, porque ele provavelmente ignorou todos os olhares estranhos do esquadrão e está dormindo como se estivesse numa cama, me abraçando ridiculamente. É ridiculo, mas confortável e seguro o suficiente pra que eu o abrace de volta.

Eu estou prestes a gritar com a pessoa que me acordou sete segundos depois, mas um tempo de reflexão me faz perceber que dormi duas horas. Me desvencilho de Cato e de todos esses corpos desacordados.

– É o seu turno, agora – Finnick diz, me entregando uma lata.

– Obrigada – respondo.

– Pollux não consegue dormir. Não deixe que ele faça nenhuma besteira.

– Não vou.

De fato, depois de comer, meu único passatempo é conversar com ele, se é que podemos considerar isso uma conversa. Bom, ele não fala. Às vezes sorri, porque eu estou ensinando pra ele minha nova habilidade de jogar as facas pro alto sem me furar. Eu prevejo seus erros e sei quando ele vai se machucar, de modo que apanho as lâminas antes que haja resquícios de sangue marcando o lugar.

Mais tarde, Jackson acorda e passa um tempo conosco. Então finalmente chama Katniss e eu volto a dormir, lançando um aceno débil com a mão para Pollux.

Passam-se só dois segudos agora e eles estão me acordando de novo. Me sento lentamente e abro a mochila para uma verificação até que todo mundo fica em silêncio. Fecho o zíper apressadamente e passo a olhar ao redor, esperando qualquer coisa para me preocupar.

Depois de uns segundos, sei que isso faz mais do me preocupar. Me aterroriza. Faz meu corpo subitamente perder calor.

Há qualquer coisa sussurrando o nome de Katniss.

– Bestante – concluo. – Nós temos que sair daqui agora.

É quando Peeta se junta ao coro. Everdeen posiciona o arco contra sua cabeça até se dar conta de que ele também só quer que ela fuja.

– Katniss! Katniss! Vá embora daqui!

– Por quê? De onde vem esse som? – ela se dá ao luxo de questionar.

– Não sei. Só sei que o propósito dele é matar você. Corra! Saia daqui agora! Vá embora!

Ela sugere uma separação.

– Nenhum de nós sozinho tem chance com essas coisas, Everdeen – contesto, impaciente. – Eles vão matar qualquer ser humano que farejarem e não podemos fazer nada. Já estamos aqui mesmo.

– Não vou sair de perto de você – o Caçador diz heroicamente. Reviro os olhos e tenho tempo para caminhar até Cato e dizer com voz de tédio:

– Oh, Cato, também não saia de perto de mim.

– Não vou. Se puder se controlar, não faça isso também.

Nós mantemos os passos apertados, mas não corremos, sobre as ordens de Pollux, nos guiando pelo labirinto malcheiroso.

Eu penso sobre como serão esses bestantes. Feitos sobre medida para Katniss, o que será que eles vão representar? Cato agarra meu pulso e puxa para seu lado, continuando a fitar a frente.

– Fique junto, Clove. Eles estão perto.

– Nada de morrer – sussurro.

– Nada de morrer.

Nós estamos mais ou menos no começo de um quarto quarteirão quando os gritos que são a trilha sonora dos pesadelos de todo mundo começam a ecoar. Desesperados. Selvagens, mas indiscutivelmente humanos.

– Avox – Peeta fala. – Esse era o som que Darius fazia quando era torturado.

– Os bestantes devem tê-los encontrado – Cressida deduz, um pouco obviamente demais.

– Então não estão apenas atrás de Katniss – Legg 1 completa.

– Vão matar todo mundo – só um sussurro é o suficiente para que todos se virem pra mim. –

– Ela está certa. Não vão parar até chegar nela – o Caçador estranhamente me apóia.

Katniss faz outra tentativa de propor uma separação, mas todos gritamos com ela até eu a empurrar e começarmos a correr. Próximos à escada que leva mais pra baixo, ela fica nauseada. Jackson nos manda colocar as máscaras, mas ninguém a obedece. Everdeen está vomitando tudo. Mas é por conta do cheiro de rosas. Do cheiro do presidente Snow.

Estamos de frente para a Transferência e ela começa a agir, destruindo o ninho de ratos devoradores de carne. Uma coisa chamada Moedor de Carne nos força a segui-la cuidadosamente. Ou, bem, teremos nossa carne moída.

Tento acompanhar o plano de Katniss, que envolve dar um jeito de destruir o moedor de carne, mas sou obrigada a parar quando o último do grupo, Messalla, é preso por um feixe de luz dourado que sai do teto. Eu não sei o que é isso, mas sei que sua pele está derretendo. Tento dar sentido a essa nova armadilha.

– Não dá para ajudá-lo!

Peeta começa a nos empurrar pra frente.

– Você vai morrer! – Cato berra, agarrando meu braço e me fazendo correr. E esse arroio de balas me desperta. Reboco voando na minha cara, também. Pacificadores vindo em nossa direção me fazem reagir instantaneamente, pegando meu revólver e atirando desenfreada, mas impecavelmente. Mais uma morte. Duas, três, quatro. Pessoas do 2, pessoas da Capital. A contagem continua até aparentemente arranjarmos aliados para acabarem com eles.

Seres reptilianos se lançam contra os corpos vivos ou mortos, abrindo suas bocas e arrancando cabeças vorazmente.

Numa tentiva de escapar, Katniss ativa o Moedor de Carne. Os seus dentes engolem o ladrilho até tudo ser poeira. Eu posso entender uma conversa entre Jackson e Legg 1.

– Não! Vocês não podem ficar, não vai adiantar! – dou meia volta, berrando e estendendo a mão. – Venham logo!

– Continue, soldado – Jackson dispensa.

– Não! – rujo de novo.

– Vai, Clove.

– Não!

Puxo meu revólver e disparo até ser lançada pra trás, mas Cato me empurra pra trás de si e termina o que eu comecei, logo tornando a me empurrar pra frente. Deixamos Jackson e Legg 1 e seguimos os outros para o esgoto principal, por um poço estreito e perigoso que paira sobre ele. Finalmente Pollux aponta para o poço que é nossa saída.

Everdeen se dá conta dá falta de Jackson e Legg 1 e tenta voltar, mas a param. Gale desaba a ponte com uma de suas flechas, mas as criaturas se arrastam pelo esgoto. Agora eles mastigam a si mesmos, coléricos.

Mas continuam, de modo que pego as armas a meu alcance e me lanço nessa tarefa árdua que é tentar destruí-los. Eles me destroem mais, na verdade. Me arranhando e tentando me tragar o tempo todo.

– Você vai voltar pra casa, Clove – isso é um grito direcionado a mim. Logo depois de afastar um bestante que machucou meu braço, Cato o emite. Eu demoro a entender, mas ele não demora nenhum pouco a me empurrar para a escada.

– O que você está...? – ele parece desesperado. Me dou conta. Cressida, Peeta e Katniss já foram. Gale vai logo atrás. Me parece que quem há para subir à superfície já o fez.

– Sobe agora, Clove! Anda, vai! Corre!

– Não! Eu não vou subir sozinha!

– Corre, idiota, sobe!

É realmente desesperador tentar me agarrar a ele e ser forçada contra uma escada.

– Não! Eu não vou! – rujo, me forçando contra. Mas ele entrega meu braço a Gale.

– Leva ela.

– Me solta! – berro, quando o Caçador começa a me puxar junto com ele.

Cato está me pedindo licença pra morrer. Me sacudo de novo e quase consigo cair.

– Vai. Você tem que salvar a Katniss, eu fico – tento ser racional, me dirigindo a Gale.

– Eu fiz uma promessa.

– Eu também! Uma promessa conjunta, eu disse que nós não íamos morrer. Você disse que ia ficar comigo! Seu traidor nojento! – grito de novo. Finalmente consigo capturar sua atenção. Parecem ser eternos os segundos em que ele me fita e quase não tenho consciência dos rugidos dos bestantes e da mão de ferro de Gale.

Até que um dos monstros arranha profundamente o braço de Cato, aproveitando a distração. E ele cai. Gritando. Consigo me livrar finalmente de Gale e abro fogo com todas as minhas forças contra o bestante. Quando estou prestes a descer, o cara do 12 torna a me puxar, pelo cabelo dessa vez.

– Você não pode me impedir de salvar ele! É o meu esposo!

– Eu posso te impedir de se matar.

– Eu arranco seus dois pés daqui.

– Experimenta.

Mas arrancar pés dá trabalho e exige um tempo do qual não disponho.

– Finnick! – berro, continuando a me debater. – O Cato! Traz ele pra mim!

Finnick está se defendendo de uma mutação que feriu seu braço, mas ele me escuta. Eu o vi sendo salvo por Cato de uma estocada mortal. Eu não estou certa disso, mas eu o ouço mandando me ignorar, dizendo para Finnick que não o ajude.

Eu costumava achar que o pior da minha vida já tinha passado. Pensava que o máximo de medo que uma pessoa podia sentir advinha da sua própria morte. Tresh era a minha pior sensação.

Mas as coisas mudaram. Agora minha pior sensação é o Cato. Caído, prestes a ser devorado por bestantes. Minha pior sensação é a mão de Gale. Me mantendo presa para ver o que há de pior no mundo.

Você sobe – Gale ordena, me puxando.

– Você me deve isso, 4 – falo. – Ele te salvou. Você tem que salvar ele.

Finnick Odair não pensa muito. Graças ao que for, ele age. Gale afrouxa o aperto suspirando, e, com a ajuda de Finnick, arrasto apressadamente seu corpo pelas superfícies, desviando de bestantes, tapando meus ouvidos para seus protestos dolorosos. Me ajoelho ao seu lado enquanto Katniss destrói a plataforma em que estávamos segundos atrás. Me curvo sobre ele quando os restos de mutações e humanos caem sobre nós como chuva. Todos os outros morreram.

Não sei o que fazer. É um ferimento profundo o suficiente e sai sangue demais. Só o que eu sei é que Cato tem que ficar vivo.

– A gente não pode parar aqui – alguém diz.

– Vamos fechar isso e ver no que dá – Everdeen ordena, aparecendo com um curativo. Deito sua cabeça no meu colo e seco as lágrimas na minha bochecha.

– Quer que eu faça isso? Gale tem um ferimento no pescoço – falo, estendo as mãos.

– Você não vai querer ver – ela decide, fazendo ela mesma. Cato grita algumas vezes e eu quero gritar junto com ele, mas peço que ele pare. O tempo todo lanço olhares de gratidão na direção de Finnick. Enquanto Katniss se dedica a tentar acalmar Peeta, eu acaricio o cabelo de Cato, emitindo ruídos de tranquilização. Isso dói tanto.

Somos quase os últimos a subirmos as escadas que dão na área de serviço de alguém. Ouço um disparo lá em cima e me viro para Finnick, logo abaixo.

– Obrigada. Eu nunca vou poder pagar o que você fez. Agora eu tenho uma dívida eterna com você. Não hesite em cobrar, Odair.

Ele anui com a cabeça, sorrindo leve, quase imperceptivelmente.

– Não vou. Annie também lhe é grata.

Finalmente chegamos à superfície. É um apartamento e o cadáver de uma mulher jaz no soalho. Falo pra Cato se deitar no sofá e começo a andar na direção dos outros em busca de qualquer informação acerca do que vai ser daqui pra frente.

– Clove – o outro braço de Cato está bom o suficiente para agarrar o meu. – Se eu morrer, você volta pro 13.

– Não. Você não vai querer morrer, Cato. Porque se fizer isso, eu não volto pro 13 – isso é uma ameaça e é provavelmente desapropriado dizê-las para alguém ferido que está cogitando sobre a morte. Mas é um modo seguro e firme.

– Morrer não é uma escolha.

– Foi pra você. É pra traidores, normalmente.

– Não me chame de traidor, garota – ele rosna, fechando os olhos para aparentemente evitar sentir ainda mais raiva.

– É o que você é, Cato. Você conspirou com o Gale pra me trair.

– E você é uma cadela ingrata.

– Eu não pedi nada. Eu nunca preci...

– Nós vamos ter de sair daqui – Finnick me interrompe.


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Notas finais do capítulo

Outro fim broxante, me perdoem. Até mais ver.



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