“Lá está ela, mais uma vez. Olhando além da janela, em outra direção, como se estivesse procurando por alguém. A paisagem passa rápido por seus olhos, aqueles velhos pensamentos logo se perdem entre as árvores e montanhas.”

Perguntei para a Ana se ela poderia me emprestar algum livro, pois amo ler (que novidade! Só que não). E então ela me emprestou esse. Depois dos quize – quando tudo começou a mudar, Bruna Vieira. Contos e crônicas.

Nunca dei chance alguma para ele, deixei-o jogado por meu quarto. Até hoje cedo. Realmente a solidão tomava conta, eu precisava ler algo. Depois de lê-lo e começar a admirar a autora, foi esse trecho que ficou.

Lá estava ela. Novamente. Olhava para o além.

– Aninha? – perguntei ao me aproximar da grade da varanda, naqual ela estava encostada. Olhei para seu rosto e percebi que de seus olhos escorriam lágrimas. – O que houve?

– Nada... – ela virou o rosto. Era isso o que me fazia tão parecida com a Ana. Dificilmente contávamos nossos sentimentos para alguém – eu escrevia – ou chorávamos em frente a alguma pessoa. Sempre fui fechada com meus sentimentos, sentia medo das risadas ou do “depois”.

– Pode confiar em mim... – foi aí que ela virou-se para mim e me abraçou forte. Deixou-se levar pelas lárgrimas como se não houvesse amanhã. Eu sentia que, mesmo que eu fosse apaixonada por palavras, um abraço valia muito mais do que apenas frases.

Era difícil vê-la chorar e por um momento percebi que as lágrimas também estavam escorrendo por minha bochecha.

– Hey, por que chora? – ela perguntou afastando seu rosto e se disfazendo do abraço.

– Não gosto de ver quem amo chorando, eu sinto algo ruim – sorri. – O que fez você chorar?

– Depois de amanhã você irá embora...

– Sério? Você tá chorando por isso?

– É! Não gosto de ver quem eu amo indo embora – ela olhou para o chão e eu a abracei novamente. – E, além disso, creio que você sabe muito bem, eu sinto falta dele...

– Ed?

– Sim...

– Aninha... você realmente gosta dele, né?

– Você não faz ideia! Yas, sabe o que é ser apaixonada por seu ídolo? Sabe o que é achar que seu sonho nunca vai se realizar e aí, de repente, ele se concretizar? Mas aí... eu tenho que voltar pra essa droga de país! – ela voltou a chorar.

– Ei, não fica assim! Você sabe muito bem que o Ed sempre vai te amar, não sabe? Caramba, eu nunca vi vocês juntos, mas pelo que os meninos dizem... vocês são perfeitos um para o outro!

– Mas, mas... e a distância?

– É o que menos importa! Acho que, novamente pelas palavrs dos meninos, ele seria capaz de viajar o mundo por você.

– Awn! Ia ser tão fofo e mágico! – ri de sua face sonhadora. Disse para ela que iria dar um retoque nos últimos capítulos do meu segundo livro e ela disse que iria descançar um pouco.

Segui para meu quarto e peguei o notebook. Depois de ele iniciar a primeira página que abriu foi a do MSN. Entrei, depois de tudo, fazia tempo que não entrava. Quase não tenho tempo para tomar banho imagina MSN!

Holly está online.

A janelinha subiu e então eu resolvi dar um olá.

MSN On:

Yasmin: Oi!

Holly: oi

Yasmin: Quanto tempo! Sabe, eu gostaria de receber uma ligação ou, quem sabe, um sms seu. Mas você não dá noticias. Sumiu de vez!

Holly: hm... não tenho tempo pra isso.

Yasmin: Não tem tempo para a melhor amiga?

Holly: hahahahahaha!

Yasmin: Qual a graça?

Holly: Yasminzinha, sempre tão igênua. Vamos ver se você entende. Nossa “amizade” é uma grande fraude. Você não merece a amizade de uma grande modelo como eu.

Yasmin: O quê? Holly, o que você tá dizendo?

Holly: Além disso, com minha nova carreira como cantora, eu estou indo aos ares. Você acha que vou querer aparecer na mídia com uma “amiguinha” sem fama como você? Hahaha! Você só escreve. Eu canto, sou linda, bonita, maravilhosa, sexy... e, se quiser, pode comprar meu novo CD. Nele eu conto como fiquei triste pelo Ed ter me traído com essazinha da Ana Júlia ;(

Yasmin: Como é que é? Nossa amizade é uma fraude? E como assim essazinha? Ah, por favor, né, Holly? Dê-se a respeito! “Essazinha” aí, pelo visto, é muito melhor que você! E foi você que traiu o Ed, foi você!

Holly: É querida, você foi usada de escada. Ah, lembra quando fomos àquela premiação que você ganhou de mim como modelo? Hahahahahaha! Você tinha razão! Eu merecia ter ganhado, mas, infelizmente, te acharam mais bonita. Quanto mau gosto, não? E sobre sua amiguinha... awn! Duas fracassadas na vida.

Yasmin: Holly... você tá querendo dizer que esse tempo todo em que fomos amigas, foi tudo mentira? Foi tudo um modo de VOCÊ subir na vida? Eu lhe daria o prêmio de maior mentirosa do século por sua atuação ridícula. Que cara de pau, Holly! E limpa essa boca para falar da Ana Júlia! Ela sempre vai ser, de longe, muito melhor do que você.

Holly: Nossa, Yasmin! Você vai mesmo falar com sua melhor amiga assim? :( Hahaha! E, além disso, quem tá perdendo é o Ed. Mal sabe ele que, pode-se dizer, tem muitos que me acham a última coca-cola do deserto.

Yasmin: Você pode já ter sido minha melhor amiga, mas agora não é ninguém menos ninguém mais que uma pirua imbecil. Vamos fazer você refletir! Em uma das crônicas da Paula Pimenta, ela diz que um cara muito bonito começou a namorar uma menina normal, que não era nenhuma MODELO, que não era nenhum pouco famosa ou popular, apenas uma garota qualquer, bonita, mas não de parar o trânsito. O rapaz, no começo, escondia o que sentia pela moça, até que um dia ele leu um poema de Shaskepeare que fez com que ele acordasse para a vida e percebesse que não queria nenhuma MODELO convencida de si e sim uma garota normal, real, bonita por dentro e não apenas uma carapuça que não serve. E bom, ela era bonita para ele e isso bastava. Entendeu Holly? Você é uma vadia de meia tingela, enquanto a Ana Júlia é a pessoa mais bela (por dentro e por fora) que eu e o Ed já conhecemos.

Holly: hm

Yasmin: Sabe, você ainda vai ter muitos que vão comer na palma da sua mão por causa da sua beleza, mas lembre-se: nunca nenhum deles vai te levar a sério. Pois você é apenas a carapuça. O que você tem por dentro de si é apenas um vazio, um deserto, um nada. E você nunca vai conseguir ser feliz se não tiver dinheiro e fama envolvidos. Mas, se você acha que isso trás felicidade verdadeira, tira o cavalinho da chuva. Talvez você nunca tenha o seu “felizes para sempre”, Holly. Reflita.

Yasmin está offline.

MSN off.

Uma sensação nova percorria minhas veias. Deixava-me leve, eu poderia voar, eu poderia sorrir a vontade. Era alivio. Parecia que eu merecia esse fim há tempos. Era difícil aceitar que alguém me usou como esacada ou me chamou de fracassada, mas, pensando pelo meu lado, a única qu parece ser isso (fracassada) é a própria Holly.

Não pela sua conta bancária ou por sua fama, mas sim por seu coração.

Eu não su fracassada no amor. Não sou fracassada no meu emprego. Não sou fracassada nas minhas amizades – já que Holly não faz mais parte deste grupo. Eu não sou fracassada, pois meu coração alegra-se com muito mais do que apenas dinheiro.

Eu não apenas existia, eu vivia.