Fugindo escrita por Wine


Capítulo 1
Fugindo




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Tá legal, sei que não deveria estar aqui. Sei que fazendo isso estou traindo meus amigos e todos aqueles que têm fé em mim. Mas, se eu não estivesse aqui, estaria traindo a mim mesma.

Enquanto esperava, a lua cheia iluminava o rio Hudson. Eram três horas da manhã. Desobedeci todas as regras do acampamento Meio-Sangue vindo até aqui. Saí escondido durante a noite, e talvez, se tudo ocorresse bem, não voltaria mais. Sabia o que Luke estava prestes a fazer e faria o possível e o impossível para impedi-lo.

–Annabeth. –Ele disse. Sua voz era a mesma, um pouco mais rouca, talvez.

Virei meu rosto para trás. Ensaiei mil vezes o que dizer nessa hora, mas não consegui dizer as mil coisas que deveria. Talvez fosse porque seu cabelo loiro estivesse mais claro e sua pele mais pálida que de costume. Ou talvez fosse simplesmente pelo fato de que por mais que ele fosse um traidor cruel, ele ainda era o garoto mais bonito do mundo para mim. Eu daria a vida para protegê-lo, mesmo depois de tudo que ele já fez.

Lu...Luke. – Tentei parecer firme e confiante, mas minha voz falhou. Senti que logo as lágrimas viriam.

Ele olhou para mim, como se estivesse me vendo pela primeira vez.

–Você cresceu. – Ele disse finalmente.

–Você não... não pode deixar Kronos entrar em seu corpo, Luke. – Pronto. As lágrimas chegaram. Onde está aquela Annabeth durona? Por que ela sempre desaparece quando Luke está por perto?

–Não... Não chore, Annabeth. – Ele disse e fez uma coisa que eu não esperava. Ele abraçou-me. Foi um abraço desajeitado. Acho que porque ele não sabia o que éramos. Amigos... Inimigos... Ou quem sabe até mais que amigos.

Uma voz dentro da minha cabeça disse “Percy não vai gostar nada disso”.

Ah, por favor. Percy? Quem se importa?! Se ele ligasse para mim, porque estaria andando com a ruiva mortal? E Luke...

Bem, Luke sempre foi meu herói.

–Por favor, não chore. – Ele ficava murmurando enquanto me abraçava.

Mas era impossível não chorar. Sei que foi uma atitude burra e retardada, mas simplesmente não conseguia parar. Era como se ele nunca tivesse traído o Olimpo para juntar-se aos Titans. Era como se eu ainda fosse a garotinha de sete anos e ele o meu protetor.

Ficamos assim por aproximadamente cinco minutos, sem dizer uma única palavra. Até que Luke ficou estranho. Ele não se mexia e não respirava. Era como se alguma coisa estivesse o assustando. Ele tremia e me abraçava cada vez mais forte.

–Luke?

–Temos... Temos que sair daqui. – Ele disse. Sua voz era de puro medo.

–O que? Ir para onde? – Perguntei confusa.

–Para um lugar seguro. Venha comigo, Annabeth. Ele vai matar nós dois se não sairmos daqui. – Ele disse, levantando-se.

Luke dissera tudo com tanto medo que me deu um calafrio. Então, como um choque elétrico, a raiva percorreu o meu corpo.

–Ir com você? – Gritei. – Por que eu deveria? Como vou saber que não é outro de seus truques, Luke? Por que eu deveria confiar em você?

–Annabeth, fale baixo. – Ele implorou, olhando ao seu redor como se estivéssemos sendo observados. – Você não deveria confiar em mim. – Ele disse as palavras como se elas lhe causassem uma dor insuportável. – Mas, eu mudei. Não quero mais ser aliado de Kronos. Sei que já causei muita dor e sofrimento, mas, por favor, vamos fugir, Annabeth. Como nos velhos tempos. Quando éramos só eu, você e Thalia.

–Não. – Eu disse, minha voz estava mais controlada agora.

–Annabeth, por quê? – Ele disse, segurando meus ombros, forçando-me a olhar em seus olhos.

–Porque o tempo não volta atrás, Luke. Thalia agora é uma caçadora de Ártemis, por sua causa. E você é só mais um traidor. – Disse e desviei os olhos.

–Annabeth, por favor. – Ele disse me chacoalhando um pouco. – O tempo não volta atrás, você tem razão. Thalia pode me odiar e ser uma caçadora de Ártemis. Mas, você não me odeia, não é? Você não deixou de me amar em todos esses anos.

Não respondi. Meus olhos estavam ardendo de tanto chorar. A verdade era que eu sempre amei Luke. Todos os dias, desde que o conheci. Todos sabiam disso, até mesmo ele. Olhei em seus olhos, e para a minha surpresa, ele olhava nos meus também. Era como se uma espécie de entendimento estivesse acontecendo entre nós.

–Eu também, Annabeth. Sempre te amei. – Ele disse em uma voz suave. Então, sua expressão apavorada voltou. - Mas, temos que sair daqui.

–Vamos sair daqui. – Concordei.

Não era o lógico a ser feito, mas era o que meu coração mandava.

Ele segurou minha mão e disparamos entre as ruas de Manhattan. Mesmo de madrugada, havia bastante movimento na rua. Corremos de mãos dadas por um longo tempo, até que me cansei e perguntei:

–Onde estamos indo, Luke?

–Para longe de Nova York. – Ele disse.

–Não é melhor pegarmos um taxi? Nova York é muito grande, não vamos conseguir sair daqui hoje.

–Não se preocupe, Annabeth. – Ele disse. – Nós já estamos próximos do transporte.

Continuamos correndo, até chegar a uma rua deserta e silenciosa. Lá tinha uma antiga fabrica de automóveis que havia sido fechada e transformada em um ferro velho.

–Venha. – Luke disse e juntos pulamos o muro do ferro velho. Depois, ele voltou a segurar minha mão e começamos a andar.

O ferro velho estava mais escuro que as ruas, por isso não consegui ver direito onde estávamos indo, mas parecia que Luke sabia exatamente que caminho fazer. Ele não hesitava nem por um segundo.

–Chegamos. – Ele disse, mas não soltou minha mão.

–O que viemos fazer aqui? – perguntei.

–Pegar o meu carro. – Ele disse.

Seguindo o olhar de Luke, eu vi o carro e não pude evitar arfar. Um BMW conversível vermelho.

–Este... Este é o seu carro? – Perguntei.

–É – ele concordou e um sorriso tomou conta de seu rosto. – Legal, não?

–Como você comprou esse carro? – Perguntei.

Ele fez uma careta.

–Depois eu explico. Agora, vamos entrar no carro e sair do estado o mais rápido possível.

–Luke, o que está acontecendo? – perguntei.

–Vamos entrar no carro – ele disse, curto e grosso. – No caminho eu explico.

Entrei no carro. Era esportivo, confortável e, com toda certeza, bem caro.

Luke entrou logo depois de mim, no banco do motorista.

–É melhor você colocar o cinto de segurança. – Ele disse com um sorriso torto.

Passei o cinto de segurança por meu corpo até finalmente encaixá-lo. Ele era surpreendentemente mais macio que todos os outros cintos dos carros que andara antes. Relembrando das palavras de Luke, esse carro realmente era legal.

–Pronta? – Ele perguntou.

Assenti. Luke pisou no acelerador com tanta força que o carro saiu em alta velocidade pelo ferro velho, passando por todo tipo de sucata que se possa imaginar. Olhei para o velocímetro, estávamos a 140 km/h e o portão de saída logo a nossa frente. Fechei meus olhos, rezando para os deuses, pedindo que tudo terminasse bem. Arrombamos o portão, que fez um som tão alto ao ser aberto que provavelmente acordou o bairro inteiro.

Wooooouu! – Luke gritou em comemoração a nossa grande e triunfante saída do ferro velho.

Não pude deixar de sorrir. Luke estava comigo, nós estávamos felizes e andando em alta velocidade pelas ruas de Manhattan. O vento batia em meu cabelo. Nada poderia estragar esse momento.

Não era nada inteligente o que eu estava fazendo. Afinal, eu nem sabia para onde estava indo e nem por que estava indo. Eu levava apenas uma pequena mochila com alguns artigos de toalete, oitenta dólares, meu celular e, é claro, meu boné da invisibilidade. Em meu bolso guardava minha faca de bronze celestial.

Já estava quase amanhecendo quando Luke parou o carro em um posto de estrada que estava vazio.

–Eu vou encher o tanque. – Ele anunciou. – Você pode comprar algo para nós comermos durante a viagem na loja de conveniência enquanto isso.

–Claro, eu compro. – Eu disse. – Você tem dinheiro para a gasolina?

–Tenho. – Ele disse. Não perguntei de onde ele estava tirando tanto dinheiro, porque estava com medo da resposta.

Saí do carro e fui para a loja de conveniência. Comprei algumas barras de cereais, algumas bolachas, salgadinhos, garrafas de água e algumas latas de coca-cola. Quando estava saindo da loja procurei por Luke. Ele não estava por ali, mas o carro estava. Guardei as compras no carro e fui procurá-lo.

Não foi difícil encontrá-lo. Afinal, tinha dois cães infernais o atacando.

Corri para ajudá-lo. Saquei a minha faca de bronze e matei um dos cães, transformando-o em poeira. Luke matou o outro com sua espada. Ele era o melhor lutador de esgrima do acampamento, não teve dificuldade em vencê-lo.

–Sinto muito por isso. – Ele disse para mim quando nossos inimigos desapareceram.

–Sente muito? Luke, isso não foi sua culpa! Todos os meios sangues são atacados por monstros diariamente. Não precisa desculpar-se.

Ele parecia arrasado. Foi então que percebi o quão cansado ele estava. Ele estava com olheiras profundas. Devia fazer muito tempo desde a última vez que ele dormira. Luke se sentou no chão, uma expressão sombria estampada em seu rosto.

–Luke – eu disse -, eu não sei para onde você está me levando, e nem por quê. Mas, eu quero saber. Eu quero saber o que está acontecendo. Quero saber por que você deixou de trabalhar para os Titans. Quero saber por que me mandou uma mensagem para encontrá-lo no rio Hudson.

–Não posso lhe contar. – Ele disse.

–Por que não?

–Porque, provavelmente, se eu contasse você ficaria com muito medo e me abandonaria.

Não acreditava que ele estava dizendo aquilo. Nada poderia me assustar a ponto de deixar Luke. Nem mesmo o monstro mais apavorante das profundezas do Tartaro.

–Você acha que eu o abandonaria, Luke?

Ele assentiu com a cabeça.

–Você está enganado. – Eu disse.

Ficamos um minuto em silencio, até que ele finalmente disse:

–Talvez você não me abandone. – Ele disse. – Quer ouvir a história toda?

Assenti ansiosa. Eu estava louca para saber o que Luke andou fazendo e como ele deixou os Titans. Mas, ao mesmo tempo, estava com medo da resposta.

Olhando para as olheiras profundas e escuras que estampavam o rosto de Luke, algo se revirou em meu estômago. Eu daria tudo para não vê-lo sofrer daquele jeito.

Luke Castellan era a pessoa mais problemática que eu conhecia. Ele era um traidor, ambicioso, egoísta e extremamente ganancioso. Mas ele também era meu porto seguro. Por isso, eu tinha certeza de que nunca iria abandoná-lo.



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Notas finais do capítulo

Bom, como eu mencionei nas notas, essa fic foi escrita em 2009 e por algum milagre eu a encontrei no meu computador. Espero que tenham gostado e, só para deixar claro, hoje eu escrevo muito melhor do que há três anos, ok? Então não se preocupem se essa fic estiver um lixo, rs.


http://www.youtube.com/watch?v=GH662G4j66g&feature=youtu.be