Seputenbaa-san escrita por TaediBear


Capítulo 1
Seputenbaa-san


Notas iniciais do capítulo

ENTÃO! Essa fic é dedicada a Gokkun, Kaaryu e Moyashi, porque elas são tão fofas quanto meus personagens são mais gays que uma árvore cheia de macacos com óxido nitroso na cabeça.
De qualquer forma, esse é um presente de natal adiantado para elas. Espero que todos gostem.
Se possível, ouçam Seputenbaa-san enquanto leem *-*'
As traduções das frases em inglês e em japonês estão nas notas finais.
Boa leitura!



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Hiroshi já estava cansado de brincar sozinho naquele parque. As mãos sujas de areia construíam um castelo, onde ele imaginava morar uma princesa, um príncipe e um dragão. Até mesmo fazia os rugidos da fera para tentar se distrair. Contudo, não conseguia esquecer-se de que estava sozinho. Suspirou. Os dedos afundaram na areia, e ele jogou tudo o que conseguira pegar contra a construção.

- Ataque inimigo – exclamou e começou a fazer os ruídos de guerra com a boca.

Ele estava sempre sozinho, construindo e destruindo seus próprios castelos de areia. O último ataque inimigo derrubou a torre, em que morava o dragão, e o menino jogou-se sobre a terra. Mudara-se para uma cidade nova, onde não conhecia ninguém, e os pais viviam ocupados com o trabalho para brincar com ele.

Hiroshi estava sozinho, brincando em uma caixa de areia, ainda que já tivesse catorze anos. Gostava daquele lugar, da sensação da areia contra sua pele, de sujeira em suas roupas, da infância que não teve. Seus pais também não o deixavam brincar no parque, quando era menor. Era um lugar sujo, cheio de perigos, eles repetiam. O garoto decidira aproveitar sua infância na adolescência.

Ainda ficou, durante um longo tempo, mirando o céu do pôr do sol; os tons misturados de roxo, laranja, amarelo e vermelho a encantar-lhe os olhos escuros. Nem mesmo ouviu o barulho de passos e só percebeu a presença de mais alguém no parque quando uma sombra encobriu-lhe a face. Levantou seu tronco rapidamente.

Ao seu lado, estava um menino, que, provavelmente, ainda estava no primário. Não usava uniforme de escola, mas uma regata alaranjada e uma bermuda creme, além de sandálias nos pés. Seu cabelo era ruivo, os olhos, verdes e as bochechas, repletas de sardas. Sorriu, e Hiroshi viu os dentes mais brancos que já tivera o prazer de mirar.

- Hello! – o menino disse. – I’m from England, and mom said I could come here to play – ele sentou-se sobre a areia, em frente a Hiroshi. – Are you japanese?

Hiroshi estava confuso. Inglês não era sua matéria favorita. Em verdade, odiava-a. Não compreendia como os americanos conseguiam fazer aqueles sons todos. Preferia a fonética japonesa: simples e clara. Então, apenas balançou a cabeça positivamente. O menino pareceu entender que o garoto não falava inglês, mas, na verdade, apenas não ligou para o silêncio súbito. Ele começou a juntar terra com as mãos. Montava um castelo de areia. Hiroshi sorriu para o menino e começou a ajudá-lo. Juntos eles construíram um castelo enorme, com quatro torres. O dragão ficava na central, para impedir os ataques inimigos, as outras eram dos príncipes e princesas. O menino fez um barulho de fera com a boca e, logo, Hiroshi fez o mesmo. Eles corriam em volta do castelo, rugindo alto. O menino pegou areia e jogou com o castelo.

- The enemies are attacking! – gritou.

Hiroshi pegou a areia e jogou contra a construção, exclamando a mesma frase em japonês. Em poucos minutos, o castelo desabou e a única torre em pé era a do dragão. Então, ele, de fato, protegera sua torre. O estrangeiro desabou na areia e riu, seguido por Hiroshi, que continuou em pé.

- Mom said we would be on Japan during September – ele comentou.

O garoto jogou a cabeça para o lado.

- Seputenbaa? – indagou, fazendo o menino rir alto. Sendo a última palavra da frase, ele tentou reproduzir seu som.

- You’re strange! What’s your name?

Hiroshi conhecia a palavra “name”, então sorriu e respondeu:

- Hiroshi.

- Nice to meet you. Mine’s Chris. Wanna be my friend?

Mais uma vez, não entendera palavra alguma, já que o menino falava muito rápido. Então, simplesmente balançou a cabeça para cima e para baixo. O menino abrira, novamente, o mais belo sorriso que o japonês já havia visto. Ele sentiu seu coração reagir àquela beleza. Depois de se despedir, o menino foi embora, dizendo algo, como “see you tomorrow, Hiroshi!”.

O garoto não distinguira, entre as palavras que Chris dissera, seu nome. Mas, logo, decidiu consigo mesmo que o chamaria de Seputenbaa-san.

No dia seguinte, em seu caminho para casa da escola, Hiroshi passou pelo parque, em que brincava sozinho. Seus olhos encontraram o menino ruivo, e ele sorriu. Chris lançou-lhe seu belo sorriso, e eles voltaram a construir castelos de areia. Diferente do dia anterior, porém, eles também brincaram nos balanços, na gangorra e no escorregador. Em verdade, Hiroshi apenas o acompanhava. Ele não cabia mais naqueles brinquedos pequenos.

Durante todo o mês de setembro, eles brincaram juntos naquele parque. Hiroshi fez seu primeiro amigo na cidade nova, e Chris fez o mesmo, em um país totalmente novo. Eles encontraram-se, todos os dias, no parque. Apenas o inglês falava o nome do garoto. Mas, em sua mente, Hiroshi chamava o menino de Seputenbaa-san. Ele seria para o japonês, sempre, o menino de setembro.

De alguma forma, o garoto havia gostado da companhia de Chris. Ele estava sempre alegre e sorridente. Ainda que entendesse poucas palavras que ele falava, Hiroshi divertia-se todas as tardes. Porque ele era seu primeiro amigo em um lugar que não conhecia, era quem foi conversar com ele quando estava sozinho, era quem vivia com ele em uma infância deslocada.

O mês passou muito rápido. Divertiam-se, como nunca haviam se divertido. Chris sorria lindamente todos os dias, e Hiroshi encantava-se com seu sorriso cada vez mais. No entanto, quando outubro chegou, Hiroshi correu ao parque, a fim de encontrar-se com seu menino de setembro.

Ele não estava lá.

Setembro havia acabado, e o menino retornara à Inglaterra. Hiroshi sentou-se na caixa de areia e viu os requícios de seu castelo de areia, feito no dia anterior. Chris montara cinco torres daquela vez, e, na central, ele desenhara um guerreiro com uma espada. Embaixo, estava escrito: hiroshi. O japonês pôs sua cabeça contra os joelhos e deixou que as lágrimas os molhassem. De alguma forma, Hiroshi criara um sentimento demasiadamente forte pelo garoto, ainda que ele fosse deveras mais novo que o japonês.

Adeus, Seputenbaa-san.

Durante os meses que se seguiram, Hiroshi estudou o máximo que pôde de inglês. Ele dedicou-se à disciplina e tornou-a sua favorita. Começou a se interessar pelos fonemas, pelas palavras, pelas letras romanas. Tentou lembrar todas as palavras que ouvira Chris dizer quando estava com ele. Então, começou a traduzi-las.

Não entendia por que havia demorado tanto a pegar um dicionário de inglês e traduzir as frases. Não entendia como pôde demorar tanto para tentar conversar com seu menino de setembro. Simplesmente não entendia por que, depois que Seputenbaa-san partira, tentava aprender tanto sobre ele e sua língua. Ele apenas achava que precisava saber. Algo dentro dele fazia com que ele quisesse conhecer tudo sobre seu menino de setembro.

Descobriu, em seus estudos, que tinha nove anos e estava no primeiro ano do primário; estudava em um internato na Inglaterra, pois seus pais eram divorciados e sua mãe era muito ocupada para cuidar dele; a mãe dele tinha parentes japoneses, mas esse era o último mês em iriam visitá-los – apenas não sabia o porquê; e tinha poucos amigos na Inglaterra. Seu nome era Chris. Mas, para Hiroshi, seria sempre Seputenbaa-san, o menino de setembro.

 Durante todos os anos em que não se viram, o garoto não deixou de pensar em Chris. Todos os segundos, todos os minutos, todas as horas, todos os dias, todas as semanas, todos os meses, todos os anos. Hiroshi entrou para o colegial. Conheceu outras pessoas de sua cidade e recusou todos os pedidos de namoro. Ele dizia que amava outra pessoa e, não importava o quão longe ela estivesse, seria fiel ao seu sentimento.

Melhorou seu inglês e era elogiado pelos professores. Suas notas eram ótimas e estava, sempre, entre os primeiros da turma. Era admirado pelos colegas de classe. Estudava quando chegava à sua e, de vez em quando, saía com seus amigos. Estudou fonética. Aprendeu os símbolos e suas pronúncias. Mas, quando chegava à palavra september, ele simplesmente não conseguia pronunciar.

Era seputenbaa e sempre seria.

Chegou ao terceiro e se dedicou ainda mais aos estudos para conseguir passar na universidade que almejava. Estudou línguas e todas as matérias de seu curso e, ao final do ano, passou em Letras. Estudou japonês, inglês, linguística e todas as outras matérias referentes às palavras e aos sons. Entendeu cada palavra que os estrangeiros que vinham fazer palestras em sua universidade diziam.

A vida de Hiroshi mudou completamente, pois conhecera um menino inglês em setembro. Nunca se esqueceria daqueles olhos verdes, daqueles cabelos ruivos, daquele sorriso cativante, daquelas sardas, daquela risada. Dedicar-se-ia, sempre, ao seu garoto de setembro.

Passaram-se mais cinco anos. Hiroshi se formara na universidade e tentava uma vaga para mestrado. Tinha especialização na língua inglesa, em especial na língua inglesa britânica. Divertia-se com o sotaque levemente afetado dos ingleses.

Era um frio dia de dezembro quando, afinal, havia conseguido sua tão esperada vaga. Ele puxou seu cachecol para cobrir seu nariz, enquanto observava a fumaça deixar suas narinas. Esfregou suas mãos a fim de aquecê-las. Estava voltando para casa pelo mesmo caminho de quando ainda tinha catorze. Estava com vinte e dois anos. Dedicou nove anos de sua vida ao menino de setembro, a exata idade dele quando se encontraram pela primeira vez.

Sorriu consigo mesmo. Hiroshi era, simplesmente, um bobo apaixonado. E ainda gostava de uma mor impossível. Chris morava na Inglaterra, a milhares de quilômetros do Japão, e não sabia onde ficava a escola do garoto. Suspirou. Dedicou-se a um amor impossível, mas estava mais feliz que nunca.

Quando chegou ao parque em que, um dia, brincara com Chris, um ligeiro sorriso esboçou-se em seus olhos. Ele viu a si mesmo e o inglês brincando naquela caixa de areia coberta de neve. Seus pés o levaram ao balanço em que Chris sentou-se. Estava frio, mas ele aguentaria o clima do parque o tempo que fosse necessário para reviver suas memórias.

Pôs sua mão coberta pela luva sobre o assento e tremeu. Não teria coragem de se sentar ali, ou congelaria. Deu mais uma olhada à volta e fechou os olhos. Talvez estivesse na hora de deixar o passado para trás. Chris nem mesmo sabia que o japonês gostava dele. Como poderia dedicar-se a um sentimento impossível?

Ora, era o simples fato de que aquilo era deveras forte, fazia seu coração doer e, ao mesmo tempo, sua mente se sentir bem. Seus pensamentos eram recheados de amor e paixão, de saudades e carinho.

Konna futari wo tsunagu no wa kitto nandemo nai SEPUTENBAA” cantarolou uma música com um sorriso.

Enquanto sua mente se confundia ainda mais, seus pés o levaram à saída do parque. Havia um homem ali. Levantou seus olhos a fim de cumprimentá-lo e ser educado. Mas travou ao ver o rosto.

Não era um homem, mas um garoto. Um garoto que, naquele momento, deveria estar com dezessete anos. Um garoto ruivo, com sardas nas bochechas. Um garoto de olhos verdes. Um garoto que crescera tanto a ponto de superá-lo na estatura. Um garoto com o sorriso mais belo do mundo. O garoto de setembro.

- Chris...

- Hiroshi, você ainda se lembra de mim?

O japonês sentiu as lágrimas alcançarem seus olhos e levou uma das mãos à boca. O que ele fazia ali? Por que fora àquele parque mais uma vez? Como ainda se lembrava de Hiroshi?

Chris aproximou-se do mais velho e o envolveu com seus braços, em um carinho quente. O japonês jogou seus braços no corpo do garoto e chorou em seu peito. Então, era aquilo que chamavam de pura felicidade? De puro amor?

- Eu tive que voltar – Chris apertou ainda mais Hiroshi ao seu corpo. – Que sorte a minha em encontrá-lo aqui.

Hiroshi mexeu a cabeça, concordando, sua face a esfregar-se contra o casaco macio de Chris, que apenas levou uma de suas mãos ao cabelo escuro do japonês e acariciou-se. Seus lábios desceram e beijaram-lhe o topo da cabeça. Ele estava deveras mais alto que Hiroshi e só tinha dezessete anos.

- I love you, Hiroshi.

Os punhos do mais velho fecharam-se contra as roupas de Chris, amassando-as levemente.

- I love you too, Seputenbaa-san – sua voz saiu abafada pelo corpo do garoto, mas ele pôde se ouvido claramente.

Então, continuaram a abraçar-se no frio torturante do inverno, trocando calor entre si, deixando que os sentimentos fluíssem entre eles, como telepatia. Hiroshi retirou sua face do peito de Chris e mirou seu rosto. Ele sempre fora tão bonito?

Beijaram-se. Um simples beijo que mostrava tudo o que eles contiveram por nove anos. Tudo o que eles guardaram por todo aquele tempo. Tudo o que eles pensaram quando estavam distantes um do outro. Um beijo feito de saudade, de amor, de carinho, de paixão.

Um beijo com marcas de setembro.


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Notas finais do capítulo

Traduções:
Im from England, and mom said I could come here to play. Are you Japanese? Sou da Inglaterra, e mamãe disse que eu podia vir brincar aqui. Você é japonês?
The enemies are attacking! Os inimigos estão atacando!
Mom said we would be on Japan during September Mamãe disse que ficaríamos no Japão durante setembro.
Youre strange! Whats your name? Você é estranho! Qual é o seu nome?
Nice to meet you. Mines Chris. Wanna be my friend? - Prazer em conhecê-lo. O meu é Chris. Quer ser meu amigo?
See you tomorrow, Hiroshi! Até amanhã, Hiroshi!
Konna futari wo tsunagu no wa kitto nandemo nai SEPUTENBAA - Essa coisa que nos une provavelmente deve ser setembro.
Então, o que acharam? Espero que tenham gostado.
E ouçam Seputenbaa-san!
Takoyaki ~ OH SEPUTENBAA