Nosso Pequeno Amuleto escrita por Loly Vieira


Capítulo 6
Se alguma coisa der errado, comece a nadar.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303710/chapter/6

Emily estava empolgada tagarelando sobre seu encontro. Algo como restaurante. Praia. Gostoso. Primo.

Nós caminhávamos pra sala e de tempos em tempos a garota parava. Falava sobre mais algum detalhe do encontro e então eu a puxava pelo punho para que continuássemos.

-E o cheiro dele... – ela sorriu, parando novamente. Soltei um suspiro. Imaginei a cena de Emily dando uma fungada no pescoço do cara e o olhando com aquela cara de idiota logo em seguida, ela não faria isso, mas seria cômico. – É viciante.  

Meu Deus! Como as pessoas apaixonadas eram idiotas. Quem, em sã consciência, se vicia no cheiro da outra pessoa?

Eu não respondi. Apenas a puxei novamente para que voltássemos a andar e ela soltou mais um suspiro.

-Te lembro da camisinha? Não quero ser titia antes do tempo. – Alfinetei.

-Te lembro ou devo pensar que enfermeiros tem sempre algum preservativo no bolso?

Foi minha vez de parar no corredor. As pessoas já tinham desistido de andar atrás de nós mas eu tive que cobrir sua boca com as mãos e corar enquanto grunhia um ‘Cala a boca’.

-Toquei na ferida?

-Não tem ferida nenhuma.

-Lógico que não, o enfermeiro cuidou de todas. – A encarei feio e ela riu debochada.

-Cadê o papo do vício pelo cheiro do seu primo gostoso?

-Tá tentando desviar o assunto, Íris?

-Não tem nenhum assunto para ser desviado. – Rebati.

-Então porque está cochichando?

-Por que... – sussurrei. Limpei a garganta e então respondi com a voz um pouco mais alta. – Você sabe por quê.

-Porque não é normal os enfermeiros terem o celular das alunas.

-Nós só trocamos os celulares porque ele não queria que o enchesse na enfermaria para perguntar das crianças. Só isso.

-Só. – Falou debochada. – Como se você não desejasse dar uns pegas no enfermeiro.

-Ele tem uma filha, Emily! – guinchei.

-E não tem aliança. Você já viu a esposa dele em algum lugar?

-Não posso nem pensar no assunto – balancei a cabeça. – Temos muitas razões pelas quais ele não pensaria em mim desse jeito.

-Primeira... – Ela estendeu o primeiro dedo.

-Primeira, ele tem uma filha pequena. Isso significa algum vínculo com a progenitora.

-Talvez não. – Interrompeu.

-Segunda, ele é o filho do diretor e está trabalhando no colégio. Relacionamento funcionário e aluno seria violado.E venhamos e convenhamos que o diretor já está no meu pé e deixou bem claro que se eu aprontasse mais uma ele não iria deixar barato. – Continuei. – Terceira e a minha favorita: Estamos falando de mim. Ninguém que não esteja bêbado vai se interessar por mim.

-Aposto que você já pensou vocês dois até casando. – Emi ignorou minha lista fantástica.

-Lógico... – que sim. – Que não, Emily. Onde você pensa que estou com a cabeça?

-Você quer mesmo que eu diga? – rolei os olhos. – Acho que vale apena você se arriscar. Porque está aí o Daniel, você ficou calada e outra pegou. – Disse com o tom mais sério. – Se joga, se você boiar é lucro.

-E se eu afundar?

-Deixa de drama que você sabe muito bem nadar, Íris.

~*~

-Try to tell you no but my body keeps on telling you yes – Cantei a plenos pulmões. Nada melhor que cantar no banheiro pra deixar os problemas de lado. Apalpei a mão numa procura cega do sabonete. – I'll be waking up in the morning probably hating myself.

Estava tão compenetrada em One More Night que demorei algum tempo para notar que meu celular berrava do outro lado do boxe uma música totalmente diferente. Saí apressada enrolando uma toalha pelo meu corpo rapidamente.

-Alô? – coloquei no viva-voz.

-Alô, Ís? – a voz infantil me fez quase escorregar no chão molhado do banheiro. – Adivinha quem é? – ela tentou imitar uma voz mais grossa. Soando algo como Barney.

-Líl?

-Acertou! – e soltou uma gargalhada contagiante.

Ignorei os pingos que escorriam do meu cabelo e prolonguei o assunto.

-Como você e o Nick estão?

-Tamos óótimos – a imaginei segurando o telefone com as duas mãozinhas. – Adorei o chocolate que você deu. O John queria ficar com os dois, mas daí eu dei um tapa na cabeça dele com o carro do Mate.

-Seu pai que me ligou?

-Ah, não. – ela pareceu cochichar quando recomeçou a falar. – Eu peguei o celular do papai e procurei seu nome na agenda. – GÊNIA!

-Mesmo? – por um motivo estranho também sussurrei. – Ele não está por perto?

-Não, ele tá conversando com a chata da Megan. – Soltei uma gargalhada estrondosa, quase literalmente caindo no banheiro. Eu adorava saber que a Lílian também não simpatizava com a mulher que usava dois números a menos.

-Porque você não gosta dela? – era muito feio arrancar informações de uma criança.

-Porque ela é chata, ué.

Soltei outra risada e a garotinha do outro lado da linha me acompanhou.

-O Nick está com você?

-Está sim, você quer falar com ele?

-Claro. – então ouvi uma leve movimentação do outro lado da linha, supus que eu e Nick estávamos quase a sós. Momento perfeito. -Nick, preciso saber se você também está do meu lado na campanha contra a ruiva abóbora de Hallowen. – Cochichei. Pronto, pirei de vez. Mãe, me interna porque eu estou conversando com um coelho de pelúcia.

-Lílian?

Mais movimentação do outro lado da linha. Aparentemente eu tinha caído no chão. Digo... O celular.

-O que eu falei sobre mexer no meu celular, Lílian? – Fiquei indecisa entre desligar e ficar ouvindo o desenrolar. E se a Líl precisasse de defesa? – Com quem você está falando?

-A Ís! E ela tava conversando com o Nick até que você interrompeu – fez birra. Prendi o riso.

-Não fale assim comigo, Lílian.

Eita.

-Alô? David? – ele não ouviu.– DAVID!

-Íris?

-A Líl não me ligou. Eu é que liguei. – menti. – Ela deve ter ficado curiosa quando ouviu o celular tocando.

-E o que você queria dizer?

É, Íris, o que você queria dizer?

-Hã... – RACIOCÍNIA CÉREBRO.

-Eu quero falar com ela, me devolve o telefone.

-Qual é a palavra mágica?

-Por favorzinho.

Ouvi a risada dele e então a voz infantil voltou a falar.

-Você pode ir me visitar amanhã né? Papai te busca. Ele tem um carro. – Se jogar. Era experimentar, certo? E daí que fosse errado? Nas entrelinhas poderia até ser o mais certo. 

-Por mim tudo bem, Líl. – respondi ainda meio indecisa.

-Ela disse que tudo bem, papai. – a ouvi dizer de maneira animada com o som abafado. Imaginei Lílian colocando suas mãozinhas cobrindo o celular.

-Hey Líl – a chamei.

-Hum?

-Somos ótimas cúmplices. Vamos trabalhar nisso, garota. Podemos conquistar muitas coisas.

Entre elas o seu pai.

-Tipo a loja de brinquedos Spencers?

-Todas elas.

Ouvi um gritinho ansioso.

-Amanhã o papai te pega. A gente conversa mais sobre isso. – falou, voltando a cochichar. – Tchau, Ís.

-Espera! – E não fui eu que disse isso. – Íris?

-Oi?

-Não quero nem saber o que você disse a minha filha.

-Papo de garota.

-Ok. Te dou uma carona assim que o sinal bater. Esteja no estacionamento dos funcionários.

E o telefone ficou mudo. Mordi os lábios. Estava tão animada que usei isso demais para pegar outra toalha para os cabelos. E adivinha? Escorreguei em cheio no piso do banheiro.

ENFERMEIRO!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Minha internet morreu.
Eu me desesperei.
Minha avó me socorreu.
E a internet de lá eu roubei.
Minha terra não tem internet, para a Louise postar.
Agora vivo na varanda para o sinal o pc pegar.
Tá aí o resumo do que me aconteceu, acho justo minhas leitoras começarem a campanha 'PAI DA LOLY, DÁ UM JEITO NA NET DELA' e outra pros meus vizinhos 'GAROTA, SAI DA VARANDA'.
Pras minhas leitoras e COMENTADORAS vai meu sincero obrigada, já disse que eu tenho sorte de SÓ ter leitora gente boa? ♥ As magavilhosas: Luu Amorim, MissJulia, Marina e a Rosyangel.