Try escrita por Juhhjulevisck


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303696/chapter/1

Rachel estava mais do que feliz de ter saído correndo de casa durante a ceia de Natal. Era horrível ter que ser simpática com seus pais e fingir que estava tendo o melhor momento de sua vida sendo que eles mal se importavam com ela. Então decidiu sair, mesmo em meio à neve e ventos cortantes. Era melhor do que ficar lá.

Mas, apesar de tudo, ela estava um pouquinho arrependida. Não havia absolutamente ninguém na rua e ela estava ficando quase paranoica, olhando constantemente para os lados à procura de algum assassino psicótico que quisesse mata-la. Deu graças aos deuses que trouxera consigo uma faca. Em casos de emergência ela poderia pelo menos proteger-se.

O conforto que conseguira com o pensamento de que não estava totalmente indefesa esvaiu-se completamente quando se convenceu de que alguém a estava seguindo. Tinha certeza que vira aquela figura caminhando atrás dela há umas boas cinco quadras. E ela estava no Brooklyn.

Escondeu-se atrás de uma árvore e prendeu a respiração. Tirou a faca de dentro do casaco e prestou atenção nos passos do desconhecido, assim, quando ele chegasse perto, ela poderia perguntar o que diabos ele, ou ela, queria. Quando julgou que a pessoa estava perto o suficiente, saiu de seu “esconderijo”, apontando sua faca para o seu perseguidor.

— Por que você está me seguindo? O que você quer comigo? — ela perguntou irritada. Sua voz saiu mais controlada do que imaginava e sentiu-se orgulhosa disso. O seguidor, que ela reconheceu ser um menino provavelmente uns dois ou três anos mais novo do que ela, ergueu os braços em gesto de rendição. Rachel não conseguia muito bem como ele era, mas sentiu pena de ter ameaçado um garoto mais jovem que ela.

— Eu não... — ele ficou em silêncio por um momento e em seguida disse surpreso: — Rachel? O que diabos você está fazendo aqui?

Rachel reconheceu aquela voz irritada. Nico di Angelo. Guardou a faca, um pouco envergonhada do que acabara de fazer

— Nico? — ela parecia igualmente surpresa. De todos os lugares em que esperava encontrar o filho de Hades, o Brooklyn, em plena véspera de Natal estava certamente fora de sua lista. — Ora, eu é que pergunto o que você está fazendo aqui. Oh, meus deuses, você estava me perseguindo!

Nico caminhou para mais perto dela, e agora ela conseguia ver claramente seu rosto. Ele parecia confuso.

— Eu não estava te perseguindo, Rachel — um silêncio constrangedor recaiu sobre os dois. Rachel deu graças aos deuses de a luz ali ser pouca, caso contrário Nico a veria com as bochechas mais vermelhas que o seu cabelo. — Enfim, seus pais não são super ricos e tal? Quer dizer, você não deveria estar numa ceia de Natal milionária agora?

Deveria — Rachel respondeu. — Mas eu estava entediada. Ainda estou, mas estar entediada aqui é melhor do que estar entediada lá.

— Entendo. Eu deveria estar em uma também. Mas, nah, festas natalinas no Mundo Inferior são muito bizarras até para mim. — Rachel riu ao ouvir aquilo. Natal no Submundo? Por essa ela não esperava.

— E como são essas festas? Tipo, Hades pendura esqueletos com chapeuzinhos de Papai Noel em todo lugar? — Nico franziu a testa quando ouviu aquilo, como se não gostasse nada do que ouvia.

— É exatamente isso que ele faz e é assustador, ok.

Rachel calou-se. Outra coisa que ela provavelmente jamais deveria ter dito. Não sabia o que dizer e começou a mexer no cabelo, a enrolar algumas mechas nos dedos e olhar para qualquer lugar que não fosse para Nico. Ele parecia prestes a ir embora quando ela teve uma brilhante ideia.

— Hey — ela chamou e então olhou para ele animada. — Você quer ter uma festa de Natal comigo?

— O quê? — Nico perguntou incrédulo. Estava realmente ouvindo aquilo?

— Você quer ter uma festa de Natal comigo? — ela repetiu a pergunta irritada. — Entendeu ou quer que eu desenhe?

— Não, não, eu entendi da primeira vez. Só não acreditei no que estava ouvindo. De qualquer maneira, onde você espera que vamos ter uma festa de Natal? — ele olhou ao redor deles. — Está tudo deserto, Rachel.

— Nós podemos invadir — ela disse simplesmente, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Nico estava cada vez mais surpreso com a garota. — Olhe, eu fico muito tempo no Acampamento e alguns filhos de Hermes me ensinaram uma coisa ou outra, ok. Acontece. Agora, você está dentro ou não?

Nico estava pensando seriamente em simplesmente ir embora, mas sentiu que passar o Natal com Rachel não era algo tão terrível assim. Na pior das circunstâncias ele terminaria a noite com a polícia o seguindo. Deu de ombros e disse:

— Por que não? — Rachel sorriu e fez um sinal com a cabeça para que ele a seguisse. Foram até uma lanchonete que parecia mais ou menos aceitável e decidiram que seria ali mesmo. Rachel tirou um grampo do cabelo e começou a usá-lo na fechadura. Nico não sabia se deveria estar surpreso ou não quando a porta se abriu, mas de qualquer maneira não estava.

O aroma fraco de café misturado com um leve toque de álcool e frituras imediatamente invadiu suas narinas. Fecharam as portas e em seguida procuraram por algum interruptor que pudesse dá-los luz. Rachel foi a primeira a acha-los. Só então Nico conseguiu ver claramente o rosto da garota. Parecia tão feliz com o pensamento de ter um Natal que o filho de Hades ficou feliz por dar aquela oportunidade a ela.

— Então, o que vamos comer? — Nico perguntou e olhou em volta, procurando por algo. Não encontrou muita coisa; apenas pacotes de salgadinhos e balcões vazios. Rachel pareceu um pouco decepcionada, mas falou que já que não tinham muitas opções, comeriam os salgadinhos mesmo, e sumiu para algum lugar além do balcão. Nico ergueu a sobrancelha, confuso, mas pegou alguns pacotes e se sentou em uma mesa perto da janela.

Alguns momentos depois, a ruiva voltou com duas garrafas em uma mão e dois copos na outra e seguiu na sua direção. Colocou tudo sobre a mesa e só então Nico viu que se tratava de sidra.

— Você quer me embebedar ou o quê? — ele perguntou e Rachel apenas deu de ombros.

— É melhor do que só salgadinhos, pare de ser tão conservador. — Ela estendeu uma garrafa a Nico e ficou com a outra, que abriu em seguida. Despejou uma boa quantidade de líquido no seu copo e tomou tudo em quase um gole.

— Wow, você parece estar bem acostumada com essas coisas — Nico comentou e recebeu um olhar assassino em resposta. Colocou um pouco da bebida no seu próprio copo e tomou um gole. Era gostoso, até. Tomou outro gole, desta vez mais longo.

— Eu não sou a única, pelo visto — Rachel disse sorrindo.

— Eu nunca tinha bebido isso. É maravilhoso — ele disse em resposta. Notou, então, que a ruiva usava um moletom azul acinzentado com a estampa de uma baleia e as palavras “Não matem as baleias!” escritas em letras garrafais.

— Por que raios você ia se importar pelas baleias? — ele perguntou, enchendo novamente o copo que havia esvaziado. Ela olhou para baixo, como se não se lembrasse de estar vestindo nada relacionado àquilo.

— Eu simpatizo com as baleias, só isso.

— Entendo por que. Você realmente precisa de uma dieta, sabe — Nico comentou tomando outro gole. Rachel pareceu realmente ofendida e lhe deu um forte tapa no braço.

Aquilo deixou ambos mais confortáveis. Começaram a falar baboseiras que jamais falariam em outra situação; aventuras, situações engraçadas... Em pouco tempo, estavam rindo como se fossem amigos há muito tempo.

Os fogos que marcavam a passagem do dia 24 para o 25 haviam cessado fazia um bom tempo quando o assunto cessou – assim como uma garrafa e meia de sidra tinha evaporado. Apesar disso, nenhum dos dois parecia muito bêbado. Apenas estavam um pouco tontos. Caíram novamente em um silêncio desconfortável.

— Obrigada, Nico — Rachel disse após um tempo. — Foi uma festa de Natal realmente legal. Eu agradeço por você ter concordado em “festejar” comigo, sabe.

— Ah, não foi nada — ele respondeu ao agradecimento. — A ideia foi sua, de qualquer maneira, eu só comi salgadinhos e bebi um monte de sidra.

— Eu estou falando sério. Obrigada. Eu jamais teria tido lá em casa. Você é um cara muito legal, ok?

Nico sorriu. Também se sentia agradecido por aquela festa de Natal improvisada. Também achava que Rachel era uma pessoa muito legal. Apenas achava uma pena que os dois não pudessem passar mais tempo juntos; afinal, ela precisava passar mais da metade de seu tempo tendo uma vida normal numa escola para garotas enquanto ele passava o seu tempo vagueando pelo Mundo Inferior.

— Você é bem legal também — ele disse enfim, arrancando um sorriso desconfortável de Rachel.

— Então... — Rachel desconversou, olhando para a rua. — Parece que a nossa festa está acabando — ela parecia bastante chateada por aquilo.

— É, é uma pena — Nico notou que estava bem mais triste do que imaginava em relação àquilo. Realmente gostara da ideia de ter Rachel como amiga. Ela era uma pessoa realmente interessante de se conversar. Ter que simplesmente deixar isso de lado porque suas vidas jamais permitiriam uma amizade daquelas devido às divergências da vida era algo ruim de se imaginar.

— Nico, depois, você sabe, de hoje... nós podemos ser amigos, não podemos?

— Rachel, não é assim tão fácil. Quero diz...

— Eu sei, Nico. Eu sei, ok. Mas nós podemos tentar, não podemos?

Nico sorriu. Tentar. Poderia funcionar. Tentar. Ele nunca realmente tentara nada na sua vida. Estava disposto a fazê-lo uma primeira vez.

— É, podemos. Rachel, eu realmente preciso ir agora... — ele disse se levantando. — Sinto muito.

— Não, tudo bem. Até logo, amigo — ela disse, sentindo-se estranha assim que o fez. Nunca tivera ninguém que pudesse considerar como amigo, e era estranho dizer isso em voz alta. Esperou que Nico não fosse gostar do que ouvira, mas ele não parecia de maneira alguma triste.

— Até logo — ele disse e então caminhou para longe dela. Antes de ir, virou-se novamente — Ah, a propósito. Feliz Natal, Rach. — Então, finalmente, ele se foi. Esperou vê-lo caminhando na rua ou algo do tipo, e ficou realmente surpresa quando viu que ele simplesmente se dissolvera nas sombras.

Ela ficou ali por um bom tempo depois, avaliando o seu Natal, com meia garrafa de sidra para contar história.

E com uma pessoa a quem poderia agora chamar de amigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :)