Savior escrita por Constantin Rousseau


Capítulo 1
First




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Mais um pesadelo. Apenas mais um. É uma tênue lembrança da temporada no Inferno. Os gritos, não apenas das pessoas que torturou, mas também os seus. A dor, que rasgava seu âmago, que o destroçava até que restassem apenas pedaços. Era uma sensação ruim que se alastrava feito erva daninha, que o enojava, o obrigava a levantar da cama no meio da madrugada, apenas para bagunçar os fios dourados do próprio cabelo, sentando-se perto da janela, espiando a noite lá fora.

Luzes coloridas, para todos os lados. Enfeites e músicas natalinas, tudo muito brilhante, muito vivo. No céu escuro, as estrelas, iluminando vagamente o alvoroço das casas, o conforto das famílias. E então, os grandes orbes turmalinos voltaram-se para o quarto barato de hotel, de forma desanimada. Não havia luzes. Não havia felicidade. Era só mais uma memória vaga, que seria corrompida pelo primeiro sorriso irônico que brotasse em seus lábios obscenos. Era só mais um quarto qualquer, de um lugar qualquer.

Sem nome. Sem identidade.

Vazio.

Os olhos se voltaram para o mundo além do batente, fitando as construções que se erguiam além do horizonte. Suspirou, levantando-se e indo até o frigobar. O primeiro gole da bebida desceu queimando, exatamente como desejava. Tanto tempo se passara, desde a última vez em que conseguira usar o álcool para afogar as mágoas! Agora, as feridas eram imunes àquilo. Elas ardiam, e os pontos que cuidadosamente fizera começavam a ser arrancados descuidadamente pelas pessoas que mais amava naquele maldito mundo.

Seu pai. Seu melhor amigo. Seu irmão.

E ele, que sempre decepcionava as pessoas que prezava! E ele, que errava, que sempre se fodia, e que não conseguia nunca salvar ninguém! Era ele o culpado por toda aquela dor! Ele, Dean Winchester, o cara que não significava nada para ninguém, que não valia nada para ninguém! Se ao menos pudesse sentir uma última vez, ouvir uma última vez...

Um abraço. Um beijo. Um “Eu te amo”. Era pedir demais? Não precisava nem mesmo ser verdadeiro. Nunca precisaria. Seu coração, que tanto se partira, começava a se acostumar à solidão, à dor de perder todos que lhe eram próximos... Mas, inevitavelmente, ele não conseguia desistir. Insistia, porque havia sempre a esperança. A maldita esperança, que o obrigava a esperar, que o obrigava a desejar desesperadamente que retornassem.

Fitando a neve branca e fofinha do outro lado do vidro, ele pôde se comparar a ela. Ao menor contato com o calor, começava a derreter. Sobrevivia apenas no frio, no escuro, e as pessoas gostavam de brincar com ela. Ele não podia conviver com a alegria, porque, a cada vez que seu coração se permitia aquecer um pouco e amenizar a dor, toda aquela porcaria caía sobre ele como se mostrasse que a felicidade não era algo que merecia.

Dean Winchester não era digno do amor.

Dean Winchester não era digno de nada.

Braços fortes o envolveram, e, pela primeira vez em muito, muito tempo, ele se permitiu relaxar ao contato, e ser lentamente conduzido, até estar com a testa pressionada à janela fria, as mãos espalmadas contra a borda de madeira. Delicadamente, sentiu a pressão contra sua cintura, os lábios carinhosos afagando a curva no pescoço, na região mais sensível, que o fez estremecer levemente.

Uma mordida no lóbulo da orelha, mais um calafrio. Permitiu-se ser praticamente arrastado dali, até cair sobre o colchão macio, sentindo o peito pressionado contra suas costas, as mãos tocando sua pele em leves afagos que, aos poucos, amenizaram a dor.

Era uma sensação boa, estar seguro em meio às carícias, aos beijos delicados em seu ombro. E era errado, tanto quanto fazia com que se sentisse melhor. Era errado porque o fazia se sentir protegido, quando deveria ser o guardião. Era errado, porque demonstrava sua fraqueza, seu maldito ponto frágil. Era errado, porque dava a entender que era ele quem deveria perdoar. Era inútil, porque fazia parecer que tudo não passava de um conto de fadas.

Acordaria, sozinho. Solitário. Inegavelmente perdido. Como aconteceu em todas as vezes nas quais foi abandonado, tanto pelo pai, quanto pelos outros.

Mas, pela primeira vez na vida, não se importava com o quão doentio aquilo soava.

— Volte para a cama Dean.


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Notas finais do capítulo

1/5.



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