Nunca encarei o fim do mundo como sendo algo trágico. Não sou religiosa e nem acredito em Deus. Para mim a morte é algo natural, vem com o tempo, sorrateira, e acaba com tudo e com todos aos poucos. Fim do mundo? Ha! Se todo mundo vai morrer um dia, qual é o problema disso? Ainda mais se todos morrerem juntos, o que impede os que ficam de lamentar as perdas sofridas. O único lado negativo do fim do mundo para mim é que eu teria desperdiçado esse ano me preparando e me estressando por causa de um vestibular que na realidade não significa nada, pois eu passando ou não nessa prova não iria para nenhuma universidade ano que vem exatamente por não existir o ano que vem. Deveria ter lido mais fanfics, acabado de escrever a minha fic, ter jogado mais no computador, ter baixado mais animes, lido mais mangás, aproveitado mais o meu tempo.

            Era assim que eu via as coisas.

            Mas eu estava enganada.

            Fui dormir hoje às 2:30 da manhã. Fiquei tentando entrar em um de meus jogos (Grand Chase) de 23:45 de ontem até 2:25 de hoje. Em vão. Minha internet só me deixa jogar nesse horário, de meia noite às nove da manhã. Mas como não sou só eu aqui em casa, combinei com minha irmã que a internet é minha de meia noite até 4:30 e dela desse horário em diante. Mas mesmo assim o jogo não entrou.

            Eu dormi, não sem antes não deixar meu anime carregando no Anitube. Dormi ainda com o notebook na cama. Acordei por volta de 5:00 e arrumei minha cama. Voltei a dormir e fiquei assim até 11:45, quando eu ouvi minha mãe perguntando para minha irmã se a porta da casa estava aberta. E ela disse que sim.

            Acordei num pulo. E se a minha cachorrinha tivesse saído de casa sem querer? O que eu faria sem ela? Apalpei minha cama, ainda de olhos fechados. Ela não estava lá. Levantei-me e perguntei pela minha cachorra. Minha irmã disse que não sabia onde ela estava. Quase enfartei, até que ela se lembrou de que a Hanna estava no pet shop. Ufa! Tudo bem, posso seguir minha vida adiante.

            Peguei o notebook e fui assistir os episódios que eu tinha deixado carregando. Ouvi minha mãe me chamar. Ela reclamou por eu não ter dado bom dia à ela, indo direto pro computador. Me desculpei. E voltei para os meus vídeos. Ela disse que iria sair. Me deu um beijo e foi.

            Tudo bem.

            Voltei a assistir o episódio, mas este não carregou por completo, travou na melhor parte. Droga! Tentei botar para carregar novamente, mas apareceu aquela tão temida mensagem que o Anitube apresenta: Acesso Negado.

            Pronto! Meu dia que começou não conseguindo jogar e vai acabar com eu não conseguindo ver meus animes! É o fim do mundo mesmo!

            Doce ilusão.

            Se meu dia tivesse acabado ali e não acontecessem os próximos eventos, eu ficaria muito feliz.

            Me levantei, cansada de tentar botar o vídeo para carregar. Fui até a cozinha, mas nada lá me agradava para comer, afinal eu não sabia se procurava algo para almoçar ou para comer no café da manhã. Voltei para o meu quarto e vi. Meu aquário.

            Meu peixe, Arion, estava estranho. Estava mais escuro que o normal. Cheguei perto dele e chamei-o.

            — Arion? Arion? — Dei uma batidinha no vidro. Isso sempre funcionava. Ele viria para cima de mim, nadando naquele jeitinho lindo dele, pulando na água, dando praticamente mortais no ar.

            Mas ele não se mexeu. Franzi as sobrancelhas enquanto sentia um temor apoderar-se de mim. mexi a água com o indicador. Nada. O desespero foi tomando conta de mim. Segurei uma plaquinha que ficava dentro do aquário dele que dizia "NÃO BATA NO VIDRO" e mexi mais a água. Não... Não pode ser. Ele está dormindo, só isso. Ele não pode ter... Ele... Não! Eu dei a comida dele todos os dias! Eu limpei o aquário dele! Coloquei o anti-cloro, sempre as três benditas gotas! Por que... Por que ele não se mexe?!?

            — ARION!!

            Meu Arion... Ganhei-o de aniversário de uma grande amiga minha. Mas ela não me deu ele no dia do meu aniversário, foi um pouco depois. Não sei quando.

            Agora que paro para pensar, percebi que não sei em que dia ele nasceu, ao contrário de minha cadela, que nasceu no dia 7 de março de 2008. Não. Não sei quando ele nasceu.

            Apenas sei quando ele morreu. Dia 12/12/12.